Avenida Norte Miguel Arraes
A história se desenvolve em espiral – também num plano local, por assim dizer. No início dos anos sessenta, o prefeito do Recife, Miguel Arraes, construiu a Avenida Norte, importante via de ligação entre o centro da cidade com os bairros periféricos. Agora, quase cinqüenta anos depois, em solenidade que contou com as presenças do atual governador Eduardo Campos, seu neto, e da viúva Madalena, o prefeito João Paulo sanciona a lei que denomina o antigo e estratégico logradouro Avenida Norte Miguel Arraes.
Junto com a homenagem, a obra de requalificação visando adequar a avenida às novas demandas de uma cidade em permanente crescimento.
Arraes foi companheiro e amigo do PCdoB. Com ele, desde que retornou do exílio, em 1979, até sua morte, em agosto de 2005, convivemos durante quase dezessete anos. Uma relação militante pautada pelo respeito mútuo e por uma grande amizade. Incontáveis vezes discutimos problemas de Pernambuco e do país em prolongadas conversas no segundo andar do Palácio do Campo das Princesas, nas duas últimas vezes em que governou o estado, na sua residência de Casa Forte ou em seu escritório particular. Não raro nos apresentava recortes de jornais e trechos de livros para enriquecer seus argumentos. Na convergência, a maioria das vezes, ou na divergência – que não foram raras -, conversar com o ex-governador sempre foi um bom, saudável e prazeroso aprendizado. Sobretudo quando o tema era a defesa da soberania nacional, sobre o qual Arraes e os comunistas guardavam sólida unidade.
Não gostava de dar entrevistas. E quando perguntado acerca do que sofrera no regime militar – governador deposto, preso e exilado -, invariavelmente se negava a examinar o assunto pelo ângulo estritamente pessoal. “Importa muito mais o que sofreu o povo do que sofremos nós os militantes”, dizia em tom algo solene, em contraste com o seu jeito de sertanejo tímido.
Na mesma linha, recusava-se a trazer para si mesmo as honras de conquistas obtidas pelo povo, este sim o verdadeiro protagonista da História. Assim, certamente se sentiria incomodado diante da homenagem que recebeu ontem. Mas, quem sabe, no íntimo, reconheceria a importância de se denominar Miguel Arraes à avenida por onde transitam centenas de milhares de recifenses todos os dias: o reconhecimento a quem soube como poucos captar o sentimento e os anseios do povo trabalhador da cidade.
Um comentário:
Luiz Arraes:
Meu pai mantinha distância respeitosa e cerimoniosa com os poderosos.Sabia manter esta distância sem se negar ao diálogo;sempre necessário na arte da política,onde foi um mestre.
A diferença dele de outros se faz a meu ver pelo fato dele olhar e fazer olhar o homem do povo de igual para igual.Sabia ouvi-lo e sabia se fazer entender.
Meu pai era um homem simples.Simples e bom.
Não era afeito à homenagens,como muitos disseram.
As homenagens,no entanto,agora que ele se foi,não pode recair sobre a opinião de e sim pelo legado que ele
e o julgamento da história.
Muitos acharam não apropriado a escolha de seu nome para completar o nome já consagrado da Av.Norte.
Os símbolos são o que são.
Nós da família ficamos muito felizes com esta escolha.
Muitos disseram que esta homenagem "não pegaria".
Pouco importa.Esta avenida iniciada por Pelópidas e concluída por meu pai,Miguel Arraes-é a ele que estou me referindo-,é o símbolo do fim do apartheid urbanístico que isolava as populações dos morros da zona norte dos outros bairros e do centro do Recife.
O importante é ele estar presente em nossas lembranças,em nosas preces e no coração do povo sofrido deste estado.
É com muita emoção que agradeço ao vice prefeito,Luciano Siqueira,por ter batalhado por esta escolha.Agradeço ainda o prefeito João Paulo por ter compreendido esta homenagem e tê-la transformada em realidade.
Luciano,amigo,sem palavras.
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