21 abril 2020

Fatores de risco


Um domingo tenso para a democracia
Edilson Silva

Bolsonaro estava há uns 10 dias na defensiva, isolado, com Mandetta em alta, sem controle do governo. Astuto, foi então pra rua todos os dias pra desmoralizar o ministro da Saúde. Se transformou no garoto propaganda do fim do isolamento social. Conseguiu, e Mandetta praticamente se demitiu ao dizer um basta em pleno Fantástico, domingo passado.

Ao demitir Mandetta, Bolsonaro impôs sua vontade e carregou sua “caneta” de tinta. Neste mesmo período, numa articulação com comunicadores de massa, como o Datena, fez um operativo pra colocar seu governo como o “dono” do auxílio emergencial, com o ministro Ônix Lorenzonni com uma super exposição e disputando palmo a palmo a paternidade do auxílio contra governadores e prefeitos e contra o Congresso. Parece que conseguiu, pois a percepção que se tem é que foi o próprio Presidente que conseguiu e está doando estes recursos para o povo.

Ao demitir Mandetta e não ver repercussão relevante, e ao conseguir mover politicamente seu governo na direção ofensiva de amenizar o problema econômico de milhões de famílias, sentiu-se fortalecido para avançar em sua estratégia: foi às ruas neste domingo apoiar manifestações contra a democracia e que pediam o AI-5. Foi grave, um ensaio para uma ditadura.

A ação deste domingo ocorreu em vários capitais, foi articulada, mas sem alarde, pra não gerar as resistências prévias como as anteriores. Mais um ensaio pra testar reações, me parece. No momento que escrevo esta avaliação os presidentes do Senado, da Câmara, ministros do STF, governadores, autoridades republicanas estão debruçados sobre o que fazer com este ato grave.

É fato que as manifestações foram minúsculas. Mas neste momento não se sabe exatamente como está o arranjo interno das muitas forças que atuam no interior do governo, sobretudo os generais. É certo que Bolsonaro se rearticulou rapidamente e retomou protagonismo na gestão política do governo. Já mostrou que não perde sem lutar e que tem disposição kamikaze.

Outro fato é que até a Globo sentiu o impacto. Na reportagem desta noite no Fantástico fez questão de isolar Bolsonaro, colocando declarações de um amplíssimo espectro político: presidentes da Câmara e Senado, ministros do STF, governadores de todos os matizes (Dória, Dino, Camilo...), pres da OAB.

A conjuntura está acelerada. Nós, republicanos, sensatos, progressistas, do “alto” de nosso isolamento social temos que intensificar nossa militância digital e isolar digitalmente o bolsonarismo junto à opinião pública, ao mesmo tempo que perceber que é momento de ampla frente política em defesa da democracia, da ciência, da civilização, momento de salvação nacional. O quadro é grave.

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