Germano
Coelho, guerreiro do bem
Luciano Siqueira
Tristeza pela morte do amigo e
companheiro de luta professor Germano Coelho.
Ao longo da vida - desde o
início dos anos sessenta, quando Miguel Arraes era prefeito do Recife e Germano
foi co-fundador e presidente do Movimento de Cultura Popular-MCP, aos anos
recentes -, de Germano guardo na memória situações, diálogos e expectativas
comuns.
Talvez mais ainda do que os
dois mandatos de prefeito de Olinda e de sua rica trajetória de professor
universitário, o MCP seja uma espécie de chave a partir da qual se pode ter a
dimensão de sua presença na cena política pernambucana.
Ele próprio resgata essa rica
experiência de sentido libertário no livro “História do Movimento de Cultura
Popular”, onde aborda as escolas primárias nos bairros periféricos do Recife,
as escolas radiofônicas para alfabetização de adultos, a educação sanitária, as
primeiras experiências com o método de Alfabetização de Adultos proposto por Paulo
Freire, o Teatro de Cultura Popular, os festivais de cinema e os laboratórios
de teatro, a Galeria de Arte do Recife, o programa “Praças de cultura”, a valorização
dos folguedos populares, os fóruns estudantis de cultura popular.
Com o golpe militar de 1964 o
MCP foi ocupado por forças policiais e em seguida extinto.
Do MCP fui voluntário, ainda
adolescente, levado pelas mãos do meu tio Paulo Rosas, amigo de Germano a vida
inteira. No Sítio da Trindade e nas Praças de Cultura, onde comparecia aos fins
de semana conduzido pela então jovem pedagoga Silke Weber – como a Praça do
Salgueiro, na Iputinga – tudo para mim era descoberta e enlevo.
Vi e ouvi muito.
Um ambiente instigante,
frequentado por Paulo Freire, Paulo Rosas, Luis Mendonça, e alguns mais jovens
como a advogada Mercia Albuquerque e o ator Jose Wilker.
Depois, já sob o regime
militar, no Clube Oswaldo Cruz de Ciências Naturais, que reunia colegas do
curso médio, pretendentes a cientistas (o único que assim se fez foi Celso
Pinto, hoje destacado físico, professor e pesquisador da Universidade Federal
de Pernambuco), organizamos uma semana de debates numa das salas do Colégio Eucarístico,
e Germano estre entre os palestrantes. Já quase ao final de sua fala, as luzes
se apagaram, gerando certa apreensão: seria a repressão policial? Então,
vislumbrando um fio de claridade vinda do corredor, ele proclamou:
- Enquanto houver uma réstia de
luz seguiremos lutando pela democracia!
Sob entusiastas aplausos juvenis
o debate seguiu, até que ao final a iluminação foi restabelecida.
Em outros momentos, percorrendo
caminhos próximos na luta política, que se cruzaram muitas vezes, sobretudo na
resistência à ditadura militar, beneficiei-me de encontros com Germano sempre
voltados para a luta comum. Ele era um obcecado defensor da educação pública, gratuita,
universal e de qualidade e da cultura como meio de expressão e de formação da
consciência política do povo. Também sempre empolgado com a História e a
tradição libertária de Olinda.
Mirando a formação de jovens
prestes a ingressar no mercado de trabalho criou com amigos o CIEE-Centro de Integração
Empresa-Escola, que perdura até hoje cumprindo papel social relevante.
Quando do meu último mandato de
deputado estadual, por iniciativa de Germano fui homenageado com uma estatueta
e um diploma alusivo à minha contribuição – que considero modesta – para o
estreitamento das relações do CIEE com a Prefeitura do Recife.
Inevitável pensar que gerações
que marcaram a luta pela Liberdade e pela Democracia vão se findando quando se
vai um lutador como Germano. Gente que faz falta neste instante em que a sociedade
brasileira se vê alvo de uma violenta tentativa de regressão civilizatória.
Mas de Germano ficam as ideias
e o exemplo. E assim ele estará sempre presente em nossas trincheiras de luta,
inspirando novas gerações de combatentes.
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