18 abril 2020

Futebol, tempo e técnica


O melhor Brasil de todos os tempos

Qual terá sido a melhor seleção brasileira entre as que conquistaram o penta?

Juca Kfouri, Folha de S. Paulo

Recordar é viver e a pandemia tem levado os fãs de futebol a viajar pelo passado com jogos que fizeram história.
Olhar para trás leva não apenas aos times, mas, também, às pessoas.
Sempre me lembro de uma conversa com o saudoso Clóvis Rossi, durante a deliciosa cobertura da Copa do Mundo de 1998, na França.
Exigente como sempre foi, Rossi zangou comigo por eu ter elogiado o jogo entre Brasil e Holanda, 1 a 1 em 120 minutos, 4 a 2 para os brasileiros nos pênaltis, com o chamado golden goal na prorrogação, ou morte súbita para os necrófilos tão em moda no momento no Palácio da Alvorada.
Mas foi mesmo um jogo de matar do coração e ainda bem que a ideia do gol de ouro não prevaleceu, porque o futebol não é um jogo de vida ou de morte, é muito mais do que isso, já dizia o filósofo escocês, Bill Shankly.
Em meio à bronca, Rossi argumentou que não cabia comparar nem o Brasil do passado, nem a Holanda, com os dois times daquela noite, no estádio do Velódromo, em Marselha.
Lembro-me de tê-lo acusado não de saudosismo, como invariavelmente acontece quando alguém lembra de tempos mais remotos, e sim de ter dito que nossas memórias de juventude, e principalmente as de quando crianças, são sempre imbatíveis.
Ele me olhou com doçura, como se tivesse voltado à infância, e fez que concordou.
Tudo isso para dizer que minha seleção mais querida é a de 1958, na Suécia.
E antes que o PVC diga, com toda a razão, que eu tinha apenas oito anos e que nem sequer vi os jogos, apenas escutei, à época, nas vozes radiofônicas de Pedro Luiz e Edson Leite, poderia mentir e dizer que vi porque estão todos à disposição na internet.
Não mentirei, porque, inteiro, vi apenas o jogo final.
De todo modo, um time que tinha Didi, eleito melhor jogador da Copa, Mané Garrincha endiabrado e o reizinho Pelé, compôs a melhor seleção nacional de todos os tempos.
Bem sei que a de 1970, a do tri no México, é considerada pela Fifa ainda superior e respeito, porque era um esquadrão fabuloso mesmo, com Carlos Alberto Torres, Gerson, Tostão, Rivellino e o Rei Pelé, maduro.
Nem assim, pode me bater, pode me prender, eu mudo de opinião.
Depois dessas duas seleções, fico com a de 1962, no Chile, quase a mesma da Suécia, embora, é claro, quatro anos mais velha, sem Pelé, com Mané ainda melhor e igualmente com os geniais Djalma e Nilton Santos, além de Gylmar.
"Ah, mas você gosta mesmo é de ganhar, só cita as campeãs, ou é saudosista mesmo, pois são lembranças dos oito, 12 e 20 anos", dirão as raras leitoras e raros leitores.
Na, na, ni, na, não!
Porque, bem crescidinho, quanto mais revejo as seleções do tetra e do penta —as de 1994, de Romário, e 2002, dos Ronaldos e Rivaldo—, mais gosto da de 1982, que não chegou nem às semifinais.

É claro que ver jogos sabendo o resultado reduz a emoção e permite aguçar o senso crítico, analisar falhas táticas aqui ou ali, lamentar ausências, mexidas infelizes dos técnicos e tudo o mais.
Mesmo assim, verdadeiros bailarinos como Leandro, Júnior, Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico proporcionaram tantos momentos esteticamente lúdicos, e eficazes, que, cá entre nós, os caríssimos campeões nos Estados Unidos e na Ásia não passaram nem perto.
Venceram, é verdade verdadeira, e não vou dizer que aos vencedores as batatas.
Bastam as palmas calorosas. Em pé.

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