Em zigue-zague e sem
rumo
Luciano Siqueira
Não
foi exatamente um recuo, nem uma mudança de rumo. O quarto pronunciamento do
presidente Jair Bolsonaro em cadeia de TV e rádio, a propósito da pandemia do
coronavírus, na essência o manteve onde sempre esteve: na contramão da ciência
e do bom senso, isolado e sem rumo.
Ou
melhor: no rumo do autoisolamento político e do enfraquecimento de sua própria
autoridade no exercício do cargo.
O
presidente troca os termos “gripezinha” e “resfriado” por “problema sério”, mas
insiste numa falsa dicotomia entre defender a vida das pessoas e tentar
preservar as atividades econômicas e a empregabilidade face o tsunami da
COVID-19.
Para
reafirmar, ainda que de modo algo acanhado, sua posição contrária ao isolamento
social, deturpou uma fala do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, usando como reforço de sua
esdrúxula tese do “isolamento vertical”.
Desmoralizante o
presidente de uma nação do porte do Brasil ser desmentido logo em seguida pela
OMS.
Entrementes, há
sucessivos registros jornalísticos acerca de divisões no núcleo do governo,
alguns ministros contrários às intenções do presidente, outros em desalento face
o crescente vazio de poder, a ponto da Folha de S. Paulo mencionar que
Bolsonaro teria chorado em meio a um diálogo tenso com alguns interlocutores,
dizendo-se semi-abandonado por alguns dos seus principais auxiliares.
Não há perspectiva de
alteração substantiva no desempenho do governo em face de pandemia. Mesmo que
tenha, com palavras tímidas, falado em união com governadores e prefeitos,
estes seguirão articulados entre si e exigindo do governo central as medidas e
os recursos cabíveis.
E neste início de
abril espera-se o agravamento da pandemia em território brasileiro, um teste sem
precedentes para o sistema de saúde.
Na base da sociedade,
objetivamente o afastamento do governo e da figura do presidente dá lugar à
percepção gradativa da necessidade de uma ampla convergência de ideias e
vontades destinada a salvar o país da catástrofe sanitária, social e econômica.
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