Com suspensão do piso salarial, enfermagem
pode paralisar
Entidades
representativas expressam indignação da categoria com ataques e terrorismo nos
hospitais, e medida cautelar do STF
Cezar Xavier, Vermelho www.vermelho.org.br
A medida cautelar deferida, no domingo (04),
pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, em
suspender o piso salarial nacional da enfermagem, promulgado no início de
agosto, causou indignação geral nas categorias e levou as entidades da
enfermagem brasileira a marcar uma reunião hoje para definir estratégias de
resistência. Nesta segunda (5), a entidades nacionais reunirão os sindicatos,
em caráter de urgência, para articular a possibilidade de uma paralisação
geral.
A presidenta da Federação Nacional dos Enfermeiros (FNE), Shirley
Morales, criticou como “injustificável” a decisão judicial por ignorar todo
o extenso debate no Congresso Nacional no qual as entidades conseguiram
comprovar que não há grande impacto financeiro para implementar o piso.
O ministro deu 60 dias para que estados, municípios, entidades do setor
privado, Conselho Nacional de Saúde e entidades representativas dos
trabalhadores expliquem o impacto econômico da nova legislação.
“O que o ministro questiona já foi colocado e apresentado durante a
votação do piso. Respeitamos o poder judiciário, porém ele não pode se sobrepor
aos demais poderes que já fizeram suas deliberações. Pedimos para entrar como
Amigos da Corte na AdiN (Ação Direta por Inconstitucionalidade). Também em
reunião vamos deliberar se haverá paralisação geral em todo Brasil”, declarou
Shirley.
Outro argumento, é que, além de tudo que o Congresso fez, incluindo a
Emenda Constitucional, para não haver dubiedade, a Procuradoria Geral da
República e a Advocacia Geral da União, assim como a Câmara e o Senado se
manifestaram pela constitucionalidade do piso salarial. Agora o Ministério
Público vai entrar contra as instituições hospitalares que já se manifestaram
com o pagamento do piso.
Ela diz que a decisão, mesmo que temporária, prejudica os trabalhadores
e trabalhadoras que tanto defenderam a vida. “Essa decisão acaba favorecendo o
pleito do empresariado que mais lucrou na pandemia”.
Pelo entendimento de Barroso, o piso em R$ 4.750 para enfermeiros (as)
poderia causar prejuízos à população. De certo, a decisão não pesou as mortes
dos profissionais da enfermagem que não se furtaram de estar na linha de frente
com um piso aquém do merecido.
Terrorismo hospitalar
A enfermagem sequer teve tempo teve para celebrar a conquista do piso.
Em apenas um mês os profissionais sofreram diversos ataques à seus direitos.
Com a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) pela Confederação Nacional da
Saúde, Hospitais, Estabelecimentos e Serviços (CNSaúde), a enfermagem
brasileira precisou mais uma vez provar sua importância, através das ações das
entidades de classe.
Solange Caetano, secretária geral do Sindicato do Enfermeiros do
Estado de São Paulo, criticou o clima de terrorismo empresarial, tanto com a
categoria, quanto com a população de usuários. Os empresários falam em falência
de hospitais e demissão em massa.
“Eles não conseguem demitir em massa, porque precisam garantir a
assistência. Há uma portaria com regras da Anvisa com quantidade mínima de
trabalhadores. Há uma resolução do Conselho Federal de Enfermagem com a
dimensão do pessoal que tem que manter”, explica ela ao Portal Vermelho.
Quanto a quebradeira de hospitais, Solange diz que o impacto do piso é
de 12% a 13% do total da folha de pagamentos anual. Para ela, “os empresários
tentam apavorar a população e colocá-la contra os trabalhadores”.
“É uma forma de pressionar o governo. Pressionam a sociedade e a
sociedade pressiona o governo para subsidiar os hospitais e liberar verbas”,
criticou.
Outra medida que tem indignado a categoria é a tentativa de alguns
empresários aumentar a carga horária dos profissionais. Ela citou o caso da
Santa Casa de Barretos que aumentou a jornada de trabalho para justificar o
aumento do piso. Na sexta-feira (2), o Sindicato conseguiu liminar contra esta
medida.
“A jornada tem que ser remunerada proporcionalmente, de baixo pra cima.
Senão, não é piso. O salário não pode ser menor que o piso, independente da
jornada de trabalho”, afirmou.
Outro problema gerado por esta Adin prejudica ainda mais os hospitais,
pois, diante de uma eventual derrota, vão ter que pagar retroativamente, com
juros e correções, incluindo reflexos em direitos trabalhistas. “O passivo
trabalhista vai ser muito maior do que acertar com o trabalhador agora”,
lamentou.
A sindicalista relata que são cerca de 200 denúncias diárias de salários
não pagos. O sindicato vai aguardar até o quinto dia útil, conforme solicitado
pela justiça, para as providências sobre as denúncias que devem chegar. O
Sindicato pede para cada enfermeiro (a) mandar holerite como prova do não
pagamento.
Leia também: A influência do general Inflação https://bit.ly/3Oa6IAz
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