
Angina de peito
Se metade do meu coração está aqui, doutor,
A outra metade está na China,
No exército que desce em direcção ao Rio Amarelo.
E depois, todas a manhãs, doutor,
O meu coração é fuzilado na Grécia.
E depois, quando os prisioneiros mergulham no sono,
quando a calma regressa à enfermaria,
O meu coração parte, doutor,
todas as noites
parte para uma casa
velha de madeira em Tchamlidja.
E depois, já faz dez anos, doutor,
que nada tenho nas mãos para oferecer ao meu pobre povo,
só uma maçã,
uma maçã vermelha:o meu coração.
É por isso, doutor,
e não por causa da arteriosclerose, da nicotina, da prisão,
que tenho esta angina de peito.
Olho a noite por entre as grades
e apesar de todas as paredes que me pesam no peito,
O meu coração bate ao ritmo da estrela mais longínqua.
(Enviado pela amiga Selenia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário