10 março 2009

Saga feminina

Homenageadas num dia, no outro...
Inamara Melo

A cada passagem do Dia Internacional da Mulher, costumo me deter nas notícias e comemorações alusivas à data. A observação até alguns anos atrás me rendia um grande desprazer diante das “múltiplas homenagens”. Mulheres recebendo flores ou placas por sua atuação. Lojas aproveitando para fazer promoções e salões de beleza oferecendo cortes de cabelo gratuitamente. Sem falar nas poesias que alguns desenterravam para elevar a divindade feminina, e que em geral repetiam as palavras de Victor Hugo no século 19: “o homem é o cérebro; a mulher o coração, o amor”. Tentavam descaracterizar o 8 de março transformando-o em uma espécie de Dia das Mães. E as manifestações feministas lá, num cantinho de página de jornal...`

É inegável que muita coisa mudou. Em nenhum outro momento da história se realizou tanto esforço para produzir informação a respeito da situação da mulher na sociedade. Neste 8 de março foi possível ver matérias que servem de retrato da nossa luta. Reportagens inteiras a comprovar os avanços das últimas décadas. Ou o quanto ainda precisamos avançar.

Pois bem. O movimento social conseguiu indicar o caminho. Só não parece ter força o bastante para pautar a mídia de maneira definitiva. Temo que, passada a data comemorativa, nos deixemos voltar à rotina das mulheres espancadas, violentadas e mortas por seus parceiros, prevalecendo nas notícias o enquadramento conservador do problema. Repetem-se os casos e não se discutem as soluções – Que providências serão adotadas pelo poder público? Os serviços do Estado estão funcionando para atender à vítima e não deixar o agressor impune?

Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNDU), nenhum país no mundo oferece oportunidades iguais para homens e mulheres. Na América Latina, 25 a 50% das mulheres sofrem com a violência doméstica. No Brasil, uma mulher é agredida ou morta a cada quatro minutos.

Um dia que os meios de comunicação dedicam seu olhar para nós não apaga o fato de que a sociedade está longe de encerrar a luta de classes, de gênero e de raça, levando esses mediadores da realidade por reproduzir os valores sociais vigentes. E que é preciso continuar escrevendo todos os dias a história combativa das mulheres.

2 comentários:

Anônimo disse...

É isso mesmo, é preciso ir além da data comemorativa e olhar para o nosso cotidiano onde é necessário lutar sempre popis só assim essa realidade pode mudar.
Maria Alice

Anônimo disse...

Quantas vozes femininas precisamos para ver enfim a mulher valorizada e respeitada? Gostei do artigo. Parabéns, vereador.
Maria Eunice Vaz