18 março 2009

No Vermelho e no Blog de Jamildo*

Um “ato inaugural”
Luciano Siqueira

Salvo engano, a referência é feita numa crônica de Luis Fernando Veríssimo. O colonizador inglês impunha ao povo indiano, dentre inúmeros e odiosos constrangimentos, a proibição de que tocasse no sal que o país produzia. Gandhi, no intuito de marcar a possibilidade de subverter a ordem e desenvolver a luta pela independência, foi até uma salina e diante da multidão que o acompanhava pôs uma pitada de sal na boca. Um gesto singelo e ao mesmo tempo corajoso e desafiador; considerado historicamente o “ato inaugural” do movimento nacional libertário adiante vitorioso.

Guardadas as diferenças anos luz de distância, desde a quinta-feira passada, aniversário do Recife, ao lado de militantes e amigos distribuo nos cruzamentos de ruas e avenidas movimentadas um panfleto contendo endereços e telefones do gabinete e do escritório político, o site, o e-mail e um apelo à população para que acompanhe o meu mandato de vereador, verifique a prestação de contas, avalie criticamente a ação parlamentar, opine e faça sugestões.

Um ato simples e que ao mesmo tempo provoca nas pessoas uma reação de surpresa e de acatamento. De agradável surpresa, embora o bom senso sugira que o procedimento deveria ser rotineiro entre tantos os que exercem funções públicas conferidas pelo voto popular.

O acatamento atencioso e muitas vezes entusiasta reflete o interesse que a idéia desperta – a possibilidade de fiscalizar o desempenho do parlamentar e de influenciar de algum modo suas posições e iniciativas.

Trata-se, no caso, de um compromisso assumido na campanha – o de realizar um mandato transparente e submetido ao crivo da população da cidade, fornecendo a todo e qualquer cidadão ou cidadã, independentemente de partido político ou preferência eleitoral, canais de comunicação por onde possa interagir com o vereador.

“Nunca vi isso”, dizem alguns. “Todos deveriam proceder desse modo”, comentam outros. “Parabéns pela coragem”, há quem diga, como se nos dias que correm, em nosso país, o contato direto com a população em período não-eleitoral implicasse ousadia e risco.

E não faltam os que aproveitam a oportunidade para ali mesmo apontar problemas e sugerir soluções.

Que todos devam agir exatamente do mesmo modo é discutível. Provavelmente há outras maneiras de exercer o mandato parlamentar de modo transparente e democrático. Porém, sem nenhuma presunção, bem que a modesta porém sincera iniciativa poderia se converter em “ato inaugural” de uma nova conduta de muitos (pelas formas que julguem mais adequadas). Ganhariam todos: os detentores de cargos eletivos e os eleitores, que assim se ajudariam mutuamente no aprimoramento da prática democrática.
* Texto publicado excepcionalmente nos dois sites simultaneamente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vi você distribuindo panfletos em Dois Irmãos e fiquei satisfeita de ver que ainda há políticos dispostos a dialogor com as pessoas nas ruas sem temor e com sinceridade, pois é isso que eu vi, parabéns.
Maria Luiza Santos