Dom Helder e a taxa
Selic
Luciano Siqueira,
no Blog de Jamildo/portal ne10
Que tem a ver uma coisa com a outra?, você há de perguntar
diante do título dessas breves linhas.
Tem tudo, respondo, num aspecto particular.
Vejamos.
Num dado período da ditadura militar, sendo Dom Helder Câmara,
Arcebispo de Olinda e Recife, corajoso oponente do regime e, por isso mesmo,
cotado para receber o Prêmio Nobel da Paz, a rígida censura determinou a proibição
explícita de que sequer seu nome fosse mencionado no noticiário.
E assim ocorreu. Jornais, emissoras de rádio, revistas, canais
de TV cumpriram, disciplinadamente, a determinação.
Agora, em relação à SELIC (Sistema Especial de Liquidação e
Custódia), mecanismo usado
pelo governo, via Banco Central, para controle da emissão, compra e venda de
títulos, dá-se o mesmo – desta vez por imposição das forças do mercado financeiro,
que ditam as regras e a conduta no governo Temer. Salvo a informação do valor
da taxa Selic do momento.
A Taxa Selic é
produto do cálculo da taxa média ponderada dos juros praticados pelas
instituições financeiras. Ou seja, indica o valor da usura – essa coisa
horrenda e monstruosa que paira sobre as contas públicas e a capacidade de reinvestimento
da economia.
No Brasil, são
praticadas taxas de juros das mais altas do mundo.
Tudo a ver com a sangria da poupança pública: desde 2003 até hoje, contabiliza-se
uma transferência de R$ 3 trilhões (em valores atualizados) aos bancos
privados!
Entretanto, toda a “culpa” do desequilíbrio fiscal é posta nos gastos
com políticas públicas inclusivas, e nenhuma palavra é dita sobre a política de
juros.
Autocensura explícita!
Ontem, num jantar comemorativo dos 70 anos do sistema Sesc-Senac, ouvi
de um bem situado empresário pernambucano do setor industrial a constatação de
que os investimentos produtivos estão travados e vão continuar assim, enquanto
perdurarem o arrocho fiscal encetado pelo governo e as pornográficas taxas de
juros.
Pior: com a recessão profunda, que segue sem perspectivas de solução em
curto prazo, substanciais investimentos em capital fixo – maquinário, sobretudo
– e na manutenção de mão de obra especializada irão para o espaço.
Numa retomada futura, a desvantagem da indústria nacional será terrível,
precisando recompor forças produtivas defasadas.
Mas a população não pode tomar consciência disso, segundo o roteiro
governamental. Daí a mídia monopolizada e comprometida com o conluio governo-sistema
financeiro praticamente ocultar o fator política de juros da equação da crise econômica.
Tal como se fazia com Dom Helder, sob a rigorosa censura dos militares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário