24 novembro 2016

Radicalidade e amplitude

Distintos, mas não contraditórios
Luciano Siqueira, no portal Vermelho e no Blog do Renato

Tanto quanto a escolha das palavras, do tom e do gesto – essas expressões concentradas da linguagem humana -, na luta política a ênfase na análise da situação concreta e no que há de mais importante e urgente a fazer tem peso determinante.
No Brasil de hoje, pós impeachment, sob a avalanche neoliberal e corrupta de Michel Temer e seu grupo, resistir é o gesto primário e decisivo.
Resistir demarcando campos, expressando o desconforto e as aspirações da maioria dos brasileiros.
E apontando saídas.
No contraponto ao que está estabelecido – a absurda agenda regressiva -, cabe como pano de fundo inspirador a ideia força de um novo projeto nacional de desenvolvimento – abortada pelo golpe ainda nos nascedouro -, imprescindível como perspectiva estratégica.
Entretanto, ainda sob o impacto da derrota, as forças que se colocam em defesa da democracia e do desenvolvimento econômico soberano e inclusivo e dos interesses fundamentais dos que vivem do trabalho reagem como podem. Ainda sem uma articulação mais consistente, a despeito do anunciado desejo de conformação de uma frente ampla, nas diversas modalidades que têm vindo à tona.
Tudo bem. É assim mesmo. Nunca se viu forças tão amplas (e contraditórias entre si) se reagruparem com nitidez de propósitos e desenho organizativo “no dia seguinte” à derrota.
Há um tempo de maturação.
Importa que a resistência vem crescendo, mediada pelo debate que se amplia e por manifestações populares de resistência - a exemplo da ocupação de escolas e Universidades pela juventude estudantil e da greve recém-deflagrada por professores de Universidades públicas federais em praticamente todas as unidades da Federação .
Nesse contexto, há dois pontos distintos mas não contraditórios: a demarcação de campos claramente em favor dos trabalhadores e do povo e da democracia, que tem naturalmente um quê de radicalização; e os esforços no sentido de explorar contradições e possíveis dissidências nas hostes governistas.
Vale dizer: mobilizar o povo pela base, conquistar descortino e solidez na reaglutinação de forças; e reconquistar parcelas do “centro” político perdidas no desenrolar da derrocada do governo Dilma.
Em artigo recente (“O Brasil diante de um grande impasse” http://migre.me/vzwOY), Renato Rabelo sugere uma repactuação política no campo oposicionista “centrada na prioridade à produção e ao trabalho, sobretudo, na era capitalista neoliberal e voltada para defesa do Estado democrático de direito, retomada do desenvolvimento econômico e resistência para barrar a perda de direitos”, tendo como força motriz a crescente resistência dos movimentos sociais.
É por aí.

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