Temer soterrou o Ministério da Ciência
e agora ataca a ciência
Janio de
Freritas, Folha de S. Paulo
1 - Estar
atualizado, no Brasil de hoje, é saudar o retrocesso. A rigor, nossos
inovadores fazem mais do que retrocessos, querem ir, e vão, além de estágios
degenerados do passado. Depois da "reforma do ensino" por medida
provisória, uma e outra produzidas em cavernas não identificadas, o ataque
volta-se contra a ciência e os cientistas.
Foram longas
batalhas para criar e depois dar alguma organicidade ao Ministério da Ciência e
Tecnologia. Temer & associados, no entanto, depressa o soterraram sob um
tal Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, uma
salada de funções bastantes para impedir que qualquer uma seja cumprida.
Há pouco,
deram seguimento à sua missão: a Academia Brasileira de Ciência, a Sociedade
Brasileira de Biofísica, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, e
outras entidades científicas, denunciam o comprometedor rebaixamento, na
hierarquia do novo "ministério", de numerosos conselhos, agências e
comissões destinados a alicerçar as atividades científicas.
Afastar mais
as instituições de ciência e a cúpula da administração impede a criação de uma
política de meios e metas para a atividade científica, como parte de um
(inexistente) projeto nacional. Além desse impedimento final, já o fluxo dos recursos primordiais
está obstruído, com entidades apenas capazes de mal se manter, e vai piorar sob
a compressão do pretendido "teto" de gastos.
2 - Desde o
final da apuração, Marcelo Crivella tem repetido que "o Rio se manifestou
contra o aborto, a descriminalização das drogas e a discussão de gêneros"
[sexuais]. É a sua maneira de dar por iniciado o retrocesso, a título de cantar
um êxito que já foi chamado até de "avalanche!" na imprensa
importante do Rio. Mas falta fundamento tanto às suas afirmações, como aos
comentários impressionados com seu êxito e o que significaria.
A
colaboração do PMDB a Crivella deveu-se, na verdade, à falta de alternativa de
Eduardo Paes para o seu candidato inviável. Houve ainda a colaboração de
Freixo, decorrente de sua insuficiência para o desafio a que se propôs. E, se
alguém quiser discutir esses dois fatores, o terceiro é definitivo.
Como a soma
de abstenções, votos brancos e nulos totalizou 46,93% dos eleitores, índice
brutal e nada surpreendente para o desalento com os candidatos, Crivella e
Freixo disputaram 53,07% do eleitorado. Metade, na prática dos eleitores. E
Crivella foi votado só por pouco mais de metade daquela metade, ou 59,37% dos
53,07% votantes.
Logo,
Crivella foi eleito por 31,5% do eleitorado carioca total. Dizer que o Rio se
manifestou em tal ou qual sentido, na eleição em que esteve tão restringido nas
possibilidades de escolha, não é só o início imediato de um programa de governo
escamoteado na campanha. É, sobretudo, uma falácia. Como gesto inaugural, quase
doloroso.
Já a vitória
do PSDB foi maior do que o indicado pela aritmética das urnas e dos
comentários. Não em termos eleitorais ou geográficos, mas políticos e
ideológicos. Os êxitos do PPS e de parte do PSB fortalecem também o PSDB, do
qual são como reboques.
Mas a tão
cantada vitória peessedebista para a Prefeitura de Porto Alegre, a primeira,
tem pouco ou nada a ver com o partido. Basta observar que o eleitorado de Porto
Alegre elegeu apenas um vereador do PSDB. Mesmo elegendo o prefeito — evidente
rejeição ao partido, por mais que lhe atribuam grande avanço gaúcho.
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