Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Tal como nos dias de folia, a imaginação é livre e cada um
sonha com o que bem entender. Desde que, passada a euforia, ponha os pés no
chão e encare a realidade como de fato ela é.
As forças que promoveram o golpe parlamentar-judiciário-midiático
que afastou definitivamente a presidenta Dilma tentaram vender à nação a
fantasia de que, vencido esse trauma constitucional, o país entraria numa fase
de crescimento e de normalidade institucional.
Sequer um sonho de três dias que durou apenas o carnaval,
como diz o frevo canção.
Desde então, continuamos envoltos num imbróglio institucional
que põe em conflito interminável os chamados Três Poderes da República e
seguimos mergulhados na recessão, que tende a se agravar em razão do rumo dado
pela equipe econômica do senhor Temer.
Como bem assinala João Scsú, em artigo recente, quando da eclosão
da crise global em 2008, com epicentro nos EUA e fortes repercussões sobre as
economias periféricas, como a do Brasil, aqui os impactos duraram um ano ou um
pouco mais, pois “o presidente Lula uniu o país, trabalhadores e empresários,
incentivando a manutenção da produção e do consumo”.
Diz ele, sobre o atual momento: “O Brasil definha dentro de um processo prolongado e
que se prolongará. A crise que vivemos não é resultado de um tropeção, mas sim
de um mergulho consciente em um abismo sem fundo. A sorte é que temos
paraquedas: benefícios da Previdência Social, Bolsa Família, seguro-desemprego
e direitos trabalhistas. Mas nossos paraquedas estão sendo perfurados e a
resistência à crise econômica tende a diminuir.
Isso contrasta com o noticiário – agora distorcido para “justificar” a
receita de Meirelles e equipe, cópia do que deu errado na zona do euro, na
Europa. Colunistas dos jornalões escrevem e reverberam no rádio na TV a falsa
impressão de que estamos indo bem, “agora que nos livramos do governo petista”.
Enquanto isso, na vida real, o governo não investe – fator indispensável
em qualquer país em desenvolvimento -, enredado na miríade do ajuste fiscal; o
empresariado também não investe porque não entra na conversa dos seus porta
vozes midiáticos e não vê perspectiva, o consumo cai, o desemprego cresce e a
crise nos estados afeta a renda dos funcionários públicos e a qualidade dos
serviços essenciais.
Demais, já não cola a conversa de que tudo é fruto nefasto dos governos
Lula-Dilma. A população não engole essa cantilena.
Então, chegada a quarta-feira ingrata, se acirrará o conflito entre o
governo que quer fazer reformas para desmontar o Estado e fragilizar as
políticas sociais compensatórias versus a maioria dos brasileiros que, ainda
que temporariamente atônita, tende a reagir em defesa de conquistas e direitos
que lhe aliviaram as condições de vida nos governos Lula e no primeiro governo
Dilma.
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