01 fevereiro 2017

Tudo pelo lucro

Futebol, negócio e paixão
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

Ora, amigos – diria Nelson Rodrigues -, é “óbvio ululante” que o futebol hoje é um grande negócio!
Sim, além de um negócio que movimenta trilhões, em transações suspeitas ou não, há muito trata a paixão espontânea dos torcedores apenas como variável mercadológica.
No capitalismo, tudo termina virando mercadoria – como ensina Marx em “O Capital” -, inclusive a paixão de cada um pelo seu clube favorito.
Assim, esse grande negócio se enquadra nas condições impostas pela globalização como hoje se apresenta.
E é disso que se trata na polêmica gerada pela mudança de escudo da Juventus, de Turim. O que me leva a associar a minha insatisfação quanto à profusão de logomarcas nas camisas dos nossos times.
Tenho o hábito de trazer para o neto Pedro camisas de times de expressão em lugares que visito, em viagens dentro e fora do país. Em Belém, por exemplo, rodei muito para encontrar uma do Clube do Remo com apenas dois anúncios publicitários se superpondo ao escudo. Do Payssandu não encontrei uma sequer.
O mesmo me ocorreu em Santiago do Chile, onde a muito custo achei uma camisa do Colo Colo e em Lisboa, meio que esquecida num canto em loja de shopping, uma “camisola” do Bemfica parcialmente livre de propaganda.
O chamado marketing esportivo impõe a muitas logomarcas nas camisas, calções e até meiões, fontes de renda extra para os clubes convertidos em empresas, ou quase.
Creio que pela primeira vez em que tomei conhecimento desse expediente foi através de reportagem da extinta Manchete Esportiva, que exibia fotos de um dos times da França – o Lion, se não me engano – com a logomarca das canetas Bic. Um espanto, na ocasião: como se permitia que o sagrado uniforme do nosso time poderia ser maculado com propaganda comercial!
O fato é que com o correr dos anos e com conversão do futebol num poderoso segmento da economia do entretenimento, vale tudo para recuperar os milhões investidos.
Vale até mudar o escudo do time, para amoldá-lo à moderna comunicação visual. Como faz agora, pela nona ou décima vez, a Juventus, da Itália.
Com uma novidade, sob protestos de boa parte dos torcedores, que se sentem lesados por não terem sido consultados: no lugar do escudo, um logo formado por duas letras “j”.
Argumentam os insatisfeitos que as cores e o escudo do time são símbolos sagrados, que tocam fundo no imaginário da multidão de adeptos e, portanto, devem ser venerados, jamais corrompidos.
Mas prevalece a decisão do grupo empresarial proprietário do time.
E daqui da província, sinto-me solidário com os revoltados torcedores da “juve”, embora não alimente nenhuma simpatia pelo time do Turim.
Afinal, se a globalização em termos de redistribuição de unidades produtivas e do fluxo de informações e de capitais é fato inexorável, que pelo menos se respeite a emoção de quem gosta de ver a bola rolar no que antigamente se chamava “tapete verde”, hoje dito solo da arena multiuso...

Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

Nenhum comentário: