02 fevereiro 2017

Ousadia tática

Batalha pontual de enorme relevância
Luciano Siqueira, no portal Vermelho e no Blog do Renato 

- Por que envolver o PCdoB na eleição das mesas da Câmara e do Senado, se na complexa conjuntura atual não passam de um detalhe?, pergunta-me um companheiro de muitas lutas e comprovada lealdade.
- Justamente porque não se trata de um simples "detalhe", respondo. 
- Em que podem ajudar Rodrigo Maia e Eunício Oliveira, se ambos são governistas?, ele insiste.
- O essencial, nesse caso, não é se são governistas ou não. Na atual correlação de forças, em ambas as Casas, impossível ter um candidato à presidência oriundo da oposição com chances de vencer. 
E sigo argumentando que o cumprimento do Regimento e o respeito ao exercício da oposição são indispensáveis precisamente neste momento tão adverso. Entre Rodrigo e Eunício e candidatos do "centrão", inspirados nas concepções e práticas de Eduardo Cunha, há uma diferença enorme.
Aliás, João Amazonas sempre nos advertia que em política não se pode colocar sinal de igualdade entre entidades ou personalidades distintas, ainda que do mesmo campo político. Sob pena se nos rendermos a uma compreensão esquemática e mecanicista da luta política, de consequências nefastas.
O fato irrecusável é que as representações de esquerda e progressistas na Câmara e no Senado hoje estão reduzidas a uma aguerrida, mas frágil minoria.
Simplesmente "marcar posição" e protestar nos microfones leva a nada - ou, talvez, a agravar mais ainda a possibilidade de se travar no parlamento, com alguma chance pelo menos de obstrução, a batalha contra as reformas antipopulares e demais proposições regressivas de conquistas e de direitos e lesivas à soberania do país, encetadas por Temer e seu bando.
A posição do PCdoB sobre a eleição das Mesas das duas Casas legislativas é clara: “trata-se de uma batalha importante que a resistência democrática trava, num quadro político de defensiva estratégica e tática, sob uma relação de forças amplamente favorável ao campo conservador.”
São batalhas pontuais, que se inserem no quadro geral da resistência, na qual se impõe a tarefa de “agregar amplas forças sociais, políticas, econômicas, e uni-las numa Ampla Frente Democrática, para o combate sem tréguas o governo golpista.”
Passo ao amigo o texto da nota da direção nacional do PCdoB sobre o assunto. Ele volta à carga, agora sublinhando passagens e considerando meus argumentos. E observa, com perspicácia, que enfim compreende que os comunistas, calejados ao longo da História, de há muito aprenderam a travar a batalha em todas as trincheiras, conforme se apresentam.
- Lembra da eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral criado pela ditadura militar para se perpetuar?
- Lembro, sim.
- Pois não vacilamos – e o objetiva tinha uma dimensão crucial - em derrotar a ditadura mesmo em eleições indiretas porque na ocasião foi a trincheira que se apresentou viável, uma vez inviabilizado o pleito direto.
Grupos à “esquerda” então nos atacaram duramente. É que o primarismo político jamais entenderá isso – mesmo que se beneficie dos resultados depois.

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