12 fevereiro 2017

Futebol como hoje é

Cresce o número de estratégias modernas, dependentes do físico
Tostão, na Folha de S. Paulo
A Primeira Liga já morreu e nunca deveria ter existido. Ela foi criada para atrapalhar o calendário, aumentar ainda mais o enorme número de jogos durante o ano, para poucos faturarem e para iludir os que, como eu, acreditavam que ela seria o embrião de uma forte liga nacional, de oposição à CBF.
Assim como acontece em todas as áreas, existe, no futebol, uma prática de delimitar o conhecimento por épocas, com datas de início e de fim, como se conceitos e estratégias diferentes não pudessem existir juntos. A rígida divisão atual é a de rotular os treinadores e a maneira de jogar em modernas ou obsoletas. Pior, quem ganha é chamado de moderno, e quem perde, de obsoleto.
Estratégias modernas não significam, obrigatoriamente, que sejam eficientes. Há pontos negativos, que podem ser aproveitados pelos adversários. Diminuir os espaços entre os setores e entre o jogador mais recuado e o mais adiantado é uma busca dos treinadores modernos. É o futebol compacto. Isso facilita a aproximação e a troca de passes e dificulta que o outro time faça o mesmo.
Porém, se os zagueiros se adiantarem demais, aumentam os espaços nas costas. O goleiro tem de saber jogar bem fora do gol, outra necessidade moderna. Muitos não sabem. Se os zagueiros marcarem atrás, longe dos armadores, sobram muitos espaços entre eles, para o adversário jogar. Se os zagueiros e os armadores recuarem muito, aumentam os espaços para o adversário ficar com a bola, trocar passes e pressionar. Não há nenhuma solução ideal. O resultado vai depender de inúmeros fatores.
Outras estratégias muito usadas hoje são as de trocar passes desde a saída de bola do goleiro e alternar a marcação por pressão com a mais recuada. Os adversários do Barcelona, mesmo os pequenos, descobriram que, em vez de recuar e bloquear os espaços próximos à área, é melhor pressionar na saída de bola. Com isso, o Barcelona tem perdido muitas bolas em sua intermediária e sofrido mais gols.
Muitas equipes fracassaram com o mesmo sistema tático que faz sucesso no Chelsea. O time, quando perde a bola e não consegue pressionar, volta e marca com nove jogadores à frente da área, para contra-atacar, com velocidade e organização. O pequeno Leicester, campeão inglês da temporada passada, usa hoje o mesmo sistema tático do título, igual ao do Chelsea, e luta para não ser rebaixado.
Cada dia mais aumenta a intensidade do jogo, a capacidade de atacar e de defender com muitos jogadores, sem descanso, durante a partida. É uma das virtudes do Campeonato Inglês. Nem sempre funciona. Às vezes, confundem intensidade com correria desorganizada, com afobação e pressa para chegar ao gol.
Para onde caminha o futebol? Não sei. Há muitas variáveis. Os avanços técnicos são cada vez mais dependentes do preparo físico, dos superatletas. Sou otimista porque sempre haverá craques, transgressores, inventivos, lúcidos para tomar decisões corretas e capazes de, em uma fração de segundos, mapear e calcular todos os movimentos e a velocidade dos companheiros, dos adversários e da bola, como se tivessem megacomputadores no corpo.
Charles Chaplin, no filme "Tempos Modernos", disse: "Não sois máquinas, homens é que sois". Algum modernista ou modernoso diria: "Não sois homens, máquinas é que sois"

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