Toda vitória agora será grande
Luciano Siqueira
Ora, na luta política há vitórias ou derrotas de diferentes dimensões. Óbvio.
Porém se as consideramos no contexto, há como relativizar resultados.
Tanto é assim, por exemplo, que o estrategista Josef Stalin chegou a escrever
(‘A estratégia e a tática dos comunistas russos’) que uma orientação tática não
se pode avaliar tão somente por seus resultados imediatos. Há que considerá-la
no evolver da cena política.
Daí, derrotas parciais momentâneas frequentemente guardarem no seu âmago
elementos de uma vitória posterior consistente. Pois a Terra não é plana e o
mundo gira...
O resultado do último pleito presidencial no Brasil, que alçou ao governo o
energúmeno ex-capitão Jair Messias Bolsonaro, representou uma derrota
estratégica para as forças do campo democrático e popular. Consolidou a
interrupção do ciclo progressista (com o golpe contra Dilma) e deu início a um
novo ciclo político no país, essencialmente retrógrado, que evolui numa correlação
de forças muito complexa.
As eleições municipais do próximo dia 15 acontecerão no âmbito desse ciclo,
influenciadas pelo desequilíbrio de forças ainda desfavorável aos que se batem
pela democracia e pelos interesses fundamentais da nação e do povo, ainda que
na maioria das capitais e cidades de grande e médio porte candidaturas
consideradas bolsonaristas de raiz estejam em franca desvantagem.
Entretanto, a queda tendencial do bolsonarismo explícito não quer dizer ainda
que haja um reencontro das maiorias com os partidos de esquerda e de
centro-esquerda. Os principais beneficiários do voto dos que se desiludem com o
presidente fascistóide e seu ideário é o centro conservador, em alguns casos
candidatos da direita “civilizada”.
Além disso, mais do que a natureza fragmentária do pleito municipal,
candidaturas de centro-esquerda e mesmo de esquerda com ampla potencialidade se
veem prejudicadas pela diáspora nacional persistente.
Líderes da dimensão do ex-presidente Lula e outros não trabalharam pela unidade
onde cabia, deixando prevalecerem interesses exclusivistas imediatos.
Completando o cenário adverso, as limitações decorrentes da pandemia do novo
coronavírus, que atingiram fortemente a pré-campanha, e agora limites
extremados adotados por TREs, como em Pernambuco, enfraquecem a mobilização
popular indispensável às candidaturas progressistas.
Conforme descreveu em artigo no Vermelho Walter Sorrentino https://bit.ly/3euI9Nu , o desenho da disputa
em plano nacional não autoriza expectativas muito otimistas.
Por isso, nesse contexto, toda vitória que se obtiver em capitais, cidades
grandes e médias e cidades-polo do interior deverão ser consideradas “grandes”.
Fortins de resistência estarão constituídos para a luta que segue.
Veja: Situação especial reclama novas formas e
caminhos https://bit.ly/3m5Yjk2
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