25 dezembro 2025

Dica de leitura: Mia Couto

"O mapeador de ausências" 
Notas sobre o aspecto formal da obra e estilístico do autor
Lis Fonseca em seu blog  

Para mim, é impossível ler um Mia Couto e não ser tocada profundamente em algum momento pela simples construção de uma passagem. Temos vários exemplos na literatura das prosas poéticas, mas o que me impressiona no estilo desse autor é a originalidade dessas formações e como elas impactam quem lê. “O peito abraçado pelos ombros” é mais que uma frase, mais que palavras, é uma imagem grandiosa, tão poderosa, que diz tantas coisas!

Além disso, nesta obra em específico, o autor convoca a variedade de discursos para compô-la: são relatórios, cartas, transcrições, diários, lembranças, e tudo é executado de forma tão confiante, tão certeira, que é fácil e confortável de acreditar que são relatórios, cartas, transcrições, diários, lembranças reais. É um bônus para quem escreve poder também estudar essa estrutura e aprender.

Outro aspecto interessante dessa obra é a preservação do português em que foi escrita. Para mim, a experiência foi bastante positiva. Nos últimos meses, li mais autoras e autores de língua portuguesa do que em toda a minha vida, e principalmente os contemporâneos, e tudo me parece tão mais bonito! Tão mais compreensível! Talvez também por estar aprendendo outra língua (espanhol), tenho pensado muito sobre o que se perde da obra em uma tradução, ainda que seja a melhor tradução – e acabo tentando fugir ao pensamento porque me dá desespero. Tenho muito respeito por essa valorização da linguagem pátria, é uma forma muito bonita de expressar o amor ao que se é.

Por fim, achei deliciosamente delicado também que a maioria das epígrafes sejam de poesias ou frases de Adriano Santiago.  Estamos acostumadas a ler debaixo desses trechos o nome de escritoras e escritores de grandeza indiscutível; descobrir Adriano Santiago ali e apreciar suas palavras me causou a vontade de que ele fosse mais do que ficção.

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Leia também: "Lembrança alada", poema de Mia Couto https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/palavra-de-poeta_71.html

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