"O mapeador de ausências"
Notas
sobre o aspecto formal da obra e estilístico do autor
Lis Fonseca em seu blog
Para mim, é impossível ler um Mia
Couto e não ser tocada profundamente em algum momento pela simples construção
de uma passagem. Temos vários exemplos na literatura das prosas poéticas, mas o
que me impressiona no estilo desse autor é a originalidade dessas formações e
como elas impactam quem lê. “O peito abraçado pelos ombros” é mais que uma
frase, mais que palavras, é uma imagem grandiosa, tão poderosa, que diz tantas
coisas!
Além disso, nesta obra em
específico, o autor convoca a variedade de discursos para compô-la: são
relatórios, cartas, transcrições, diários, lembranças, e tudo é executado de
forma tão confiante, tão certeira, que é fácil e confortável de acreditar que
são relatórios, cartas, transcrições, diários, lembranças reais. É um bônus
para quem escreve poder também estudar essa estrutura e aprender.
Outro aspecto interessante dessa
obra é a preservação do português em que foi escrita. Para mim, a experiência
foi bastante positiva. Nos últimos meses, li mais autoras e autores de língua
portuguesa do que em toda a minha vida, e principalmente os contemporâneos, e
tudo me parece tão mais bonito! Tão mais compreensível! Talvez também por estar
aprendendo outra língua (espanhol), tenho pensado muito sobre o que se perde da
obra em uma tradução, ainda que seja a melhor tradução – e acabo tentando fugir
ao pensamento porque me dá desespero. Tenho muito respeito por essa valorização
da linguagem pátria, é uma forma muito bonita de expressar o amor ao que se é.
Por fim, achei deliciosamente
delicado também que a maioria das epígrafes sejam de poesias ou frases de
Adriano Santiago. Estamos acostumadas a ler debaixo desses trechos o nome
de escritoras e escritores de grandeza indiscutível; descobrir Adriano Santiago
ali e apreciar suas palavras me causou a vontade de que ele fosse mais do que
ficção.
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Leia também: "Lembrança alada", poema
de Mia Couto https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/palavra-de-poeta_71.html

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