26 dezembro 2025

Enio Lins opina

No Planalto e na Casa Branca, Papai Noel veste vermelho
Enio Lins  

“BRASIL DRIBLA TARIFAÇO de Trump, diversifica mercados e mantém fôlego exportador” foi a manchete principal da versão digital do insuspeito Estadão, sesquicentenário jornal e o mais conservador dos veículos de comunicação do Brasil. Ao título segue o seguinte bigode: “Estudo da Funcex mostra que até novembro, dos 30 setores que exportam para os Estados Unidos, 11 ampliaram as vendas para o país, o que ajudou a atenuar a queda dos demais”. Matéria publicada anteontem, 22 de dezembro.

MÁRCIA DE CHIARA assina a reportagem, cujo primeiro parágrafo analisa que “Apesar do tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump, as exportações brasileiras resistiram melhor do que o esperado, alcançando o maior valor em dez anos para o período. O desempenho foi sustentado pela diversificação de mercados e pelo bom desempenho de setores mais especializados, o que limitou o impacto negativo sobre a balança comercial e reduziu a dependência do mercado americano”.

“DE JANEIRO A NOVEMBRO, as exportações brasileiras para o mundo somaram US$ 317,18 bilhões, com avanço de 1,8% em relação a 2024 e atingiram a maior marca em dez anos para o período. Os efeitos negativos do tarifaço foram atenuados pela diversificação das vendas externas para outros destinos, na Ásia e América do Sul, e também pelo fato de uma parte dos setores que têm negócios com o mercado americano continuar aumentando os embarques para o país, apesar da sobretaxa”.

GRANDE ÊXITO É esse resultado, considerando as perspectivas catastróficas alevantadas quando das inopinadas medidas adotadas pelo governo americano. Os prejuízos previstos tinham sua razão de ser temidos, afinal a parceria comercial com os Estados Unidos não é apenas uma tradição, mas uma base real, incontornável, para bons negócios brasileiros, dado a pujança do mercado estadunidense (com ou sem crise lá) e a ululante proximidade geográfica, vantagem logística que não pode ser ignorada. Não existem razões políticas nem ideológicas que justifiquem iniciativas de esfriamento ou distanciamento dos fluxos comerciais entre brasileiros e norte-americanos. A postura inicial de Donald Trump era, de fato, para ser entendida como um prejuízo inexplicável, e potencialmente terrível, para a economia brasileira (e pa ra a economia americana também, mas isso é problema deles). Com esses resultados positivos auferidos antes da revogação da maioria dos itens do tarifaço, o Brasil pode comemorar duplo sucesso.

SUCESSO DUPLO nos campos da política internacional e da economia. Prevaleceu a larga experiência diplomática do Itamaraty no trato com Washington, a maturidade do presidente Lula, evitando arroubos infantis que tantos esperavam (na situação e na oposição) e a desenvoltura de alguns dos principais exportadores brasileiros que agiram em duo com o governo federal buscando saídas negociadas, recusando confrontos sonhados pelos provocadores de lá e de cá. Internamente, as principais forças econômicas brasileiras reorganizaram-se com eficiência para buscar novos mercados e ampliar o volume de negócios com compradores de maior apetite, como China e Índia. A conclusão, sem “euforismos” (diria um personagem do folclore político alagoano), é que o Brasil sobrevive bem mesmo sem a tradicional parceria comercial com os Estados Unidos.

VITÓRIA INCONTESTÁVEL para Lula, para a diplomacia brasileira e para a economia (de lá e de cá). Mas Papai Noel não presenteou o presidente do Brasil com o reconhecimento desse êxito tremendo pelas elites que lhe detestam. Um risco permanente para o País, pois parcelas das demais camadas sociais mantêm-se contaminadas por esse despeito (ódio, às vezes) e anunciam, pelas pesquisas, que despejarão, pelo menos uns 30% de votos em qualquer nulidade miliciana, de matiz golpista, que se apresente como antilula. Que coisa, não é?

MAS HOJE É DIA DE FESTA, dia de presentear, dia de farra (em perfeita harmonia com as tradições genuinamente pagãs da data): Boas festas para você que lê essas linhas, muita paz, saúde, sucesso - e pés calçados numa legítima havaianas. 

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Leia também: Da ficha de leitura manuscrita às redes digitais https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/minha-opiniao_13.html

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