28 outubro 2015

Crise econômica requer solução política

Outro "cerco ao monetário". Já é isso?

Elias Jabbour, no Blog do Renato
Seria interessante nesta altura dos acontecimentos uma derrocada do ministro Levy e a implementação de uma agenda centrada na reversão do aperto monetário? O que é mais importante hoje, retomar o crescimento ou aplacar a inflação? Nenhuma destas questões tem resposta na economia. A resposta é política e Joaquim Levy, gostem ou não, é parte de um governo sob fogo cerrado. A queda de Levy seria uma tragédia que pode levar o governo à lona. Ser radical não é o que parece ser e sim ir à raiz das coisas, mas também ter capacidade de visão de conjunto. É essa uma das diferenças entre ser de esquerda e ser esquerdista, sendo a última variável chave em qualquer cálculo político do campo conservador. O economicismo é conservador, por excelência.
Particularmente não gosto de aperto monetário, altas taxas de juros, grandes superávits primários ou coisas do tipo. Mas as regras do jogo são claras há mais de 20 anos pela via de uma ordem institucional que prevê ajustes fiscais cíclicos e duras punições para quem sai do script. As punições são mais duras quando se intenta em compensar o monetário pelo fiscal, seguido pelo cerco ao próprio “monetário” ensaiado a partir de 2012. Conforme previsto para qualquer um com algum conhecimento em Economia Política, a resposta do “cerco ao monetário” combinado com pleno emprego foi a greve de investimentos por parte de um empresariado de dupla face (industrial e financeiro) combinada com o banditismo dos oligopsônios/monopsônios ajustando preços da cesta básica, sempre para cima. O crescimento desejado não veio e a duplicidade institucional (Plano Real x Nova Matriz Macroeconômica) atingiu em cheio o sistema de formação de preços. A inflação pode derrubar Dilma da mesma forma que derrubou João Goulart.
Por mais que gestos de repúdio à atual política monetária guardem ótimas intenções, o que mais o inferno quer hoje é uma cesta completa deste tipo de intenções. Pedir a cabeça do ministro quando se percebe que é isso o que mais deseja a oposição é um ato de irresponsabilidade política imperdoável. Acreditar que a retomada do crescimento, dentro das institucionalidades do 1994/1999, vai ocorrer de forma rápida e límpida pela queda abrupta de juros é prova de, no mínimo, uma ingenuidade nada impressionante. A chance de o governo respirar está na retomada de um espaço fiscal mínimo que só pode ocorrer quando a inflação atingir o centro da meta. O jogo é esse, pois somente assim o aperto monetário poderá ser afrouxado e os gastos do governo poderá retomar alguma trajetória de alta.
Não se trata do prospecto de um conservador e sim de alguém que está refletindo a partir de condições institucionais dadas e consolidadas e que tem clareza da distância entre suas vontades e percepção da incapacidade destas vontades pautar o movimento de rotação do planeta. Uma forma de vaticinar que a principalidade da luta política hoje não está na política monetária. Está longe disso. No imediato a sobrevivência desta rica experiência política de um governo popular e democrático reside na manutenção deste governo e na recuperação, urgente, de um espaço fiscal e de um ambiente mínimo de debate não sobre variáveis de macrodinâmica. E sim, sobre os pressupostos institucionais que sustentam os ciclos de ajuste que nos atormentarão até o “fim dos tempos” com direito a um governo ultraconservador e com força política suficiente para reverter as conquistas da Constituinte de 1988. Ou mesmo a retomada suicida de outro “cerco ao monetário” com as mesmas consequências das observadas hoje.
O golpismo, historicamente, e em todo canto do mundo alimenta-se – num primeiro momento – nos acertos do campo político popular. Uma resposta à perda de controle sobre os trabalhadores em decorrência do pleno emprego (Kalecki). No segundo momento o combustível ao golpismo encontra-se em nossos próprios erros. Erros decorrentes do completo desconhecimento das formas de funcionamento das leis econômicas, da separação entre economia e política, da não percepção do movimento e caráter das classes dominantes, do voluntarismo imediatista, de pareceres e abaixo-assinados de acadêmicos ditos progressistas, da superestimação de nossa força e do binômio encerrado no desprezo à história e da negação de variáveis estratégicas (redundando num sectarismo movimentista). Incrível como todos estes elementos estão presentes na atual quadra histórica de nosso país!
Não faço aqui nenhum apelo de caráter puramente político. Trata-se de um apelo à inteligência das pessoas. A dialética desconhecida e a velocidade com que as peças no jogo de xadrez se movimentam nos obriga a variações táticas diárias, na busca – por exemplo – de uma queda da taxa de juros com vistas a formação de um espaço fiscal urgente e alguma paz no Congresso Nacional. Traduzindo assim certa intimidade entre política e economia.
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