Crise mundial chega ao oitavo ano e não dá sinais de diminuir
No portal Vermelho, por Joana Rozowykwiat
A crise mundial foi debatida no seminário Crise Mundial do Capitalismo e
Desafios do Desenvolvimento Brasileiro, promovido nesta segunda-feira (26) pela
Fundação Maurício Grabois, em São Paulo
Na abertura do seminário Crise Mundial do Capitalismo e Desafios do
Desenvolvimento Brasileiro, a deputada Luciana Santos, presidenta nacional do
PCdoB, ressaltou os aspectos internos e externos da crise e apontou medidas
para que o país volte a crescer.
O evento, promovido pela Fundação Maurício Grabois, contou, na primeira
mesa de debates, com as presenças dos economistas Luiz Gonzaga Belluzzo e
Agenor Silva Junior. Eles analisaram as tendências da situação econômica
mundial.
Ao abrir o seminário, Luciana Santos ressaltou que a crise mundial chega
a seu oitavo ano, atingindo em grande medida os países em desenvolvimento e
desenvolvidos, agravando a desigualdade social e elevando as taxas de
desemprego. “Dados da OIT prognosticam que nos próximos quatro anos o mundo
terá 11 milhões de desempregados a mais. Assim, em 2019, 219 milhões de
trabalhadores não terão emprego”, citou.
Segundo ela, o núcleo do problema está na lógica financeira, rentista,
que segue no comando dos Estados nacionais da maioria dos países, sobretudo do
centro capitalista. “De ‘posse’ desses Estados, aplica políticas para
salvaguardar os ganhos fabulosos dos conglomerados financeiros e jogar o ônus
da crise sobre os ombros dos povos, dos trabalhadores”, disse Luciana.
Ao tratar dos aspectos internos da crise, a parlamentar destacou o
impacto das investigações da Operação Lava Jato na economia e criticou a tática
da oposição para instaurar a instabilidade, apostando no “quanto pior, melhor”,
gerando “forte clima de tensão e dificultando a adoção de medidas que possam
contribuir com o enfrentamento da crise”. Para ela, a oposição “busca criar um
ambiente hostil a qualquer investidor, fortalecendo o ambiente de volatilidade,
incerteza institucional, como meio de criar um ambiente de caos”.
A dirigente comunista reconheceu a existência de erros na condução da
política econômica, a exemplo da manutenção de elevadas taxas de juros. E
defendeu que os problemas na economia e na política decorrem também do fato de
o país não ter conseguido avançar em reformas estruturantes. Ao mencionar
vários dados relativos à economia, Luciana lamentou o fato de que, pela
primeira vez, a participação da indústria no PIB estará aquém dos dois dígitos
– aproximadamente 9% em 2015.
A dirigente do PCdoB lembrou que desde o início da crise, o Brasil
utilizou variadas medidas anticíclicas para proteger o emprego e a renda, mas,
sem as reformas estruturais, avaliou, elas não dão conta desta missão.
Luciana defendeu que é preciso discutir o conteúdo do ajuste promovido
pelo governo, nesse cenário de crise. “Em primeiro lugar, o ajuste deve ser
temporário, e, em segundo, ele deve estar dirigido ao andar de cima, a quem tem
gordura, a quem pode pagar pela crise, ou seja, os bancos, o mercado
financeiro, setores que somente têm aumentado os ganhos”, disse.
A deputada enumerou uma série de medidas defendidas pelo PCdoB, como a
tributação das grandes fortunas e heranças, a realização de uma reforma
tributária progressiva e a redução da taxa de juros. Segundo ela, é preciso
falar do pós-ajuste, para criar um outro clima, e investir na retomada do
crescimento, entre elas, em uma política industrial, avançar no programa de
exportação brasileiro e mudar a política de metas fiscais estabelecendo bandas
a serem cumpridas em um período maior.
Tendências da crise mundial do
capitalismo - Na primeira
mesa de debates do seminário, o consultor financeiro Agenor Silva Junior fez
uma intervenção sobre desenvolvimento e crise na era da hegemonia das finanças.
Segundo ele, o crescimento do mercado financeiro e de capitais, nos últimos
anos, acentua a hegemonia do capital financeiro sobre o desenvolvimento
econômico e político.
“O mercado de capitais cresceu significativamente nos últimos anos.
Estimativas indicam seu tamanho em cerca de US$300 trilhões, se considerarmos
os depósitos bancários (CDB etc), dívidas públicas e privadas e mercado
acionário, não se considerando os mercados de derivativos”, citou, ressaltando
que este valor representa hoje mais de quatro vezes o PIB mundial.
Mostrando vários gráficos, o economista destacou que movimentos nos
mercados de capitais afetam todo o ciclo do capital produtivo. “Empresas sem
acesso ao mercado de capitais sofrem restrições ao investimento; economias
nacionais estão submissas aos movimentos dos mercados globais; instituições
“multilaterais” e as Agências de Risco, embora desmoralizadas do ponto de vista
de suas previsões, ainda jogam papel central nos fluxos de capitais”, enumerou.
Luiz Gonzaga Belluzzo, segundo expositor da mesa, destacou no atual
cenário o fenômeno de novas tecnologias, a divisão internacional do trabalho
intraempresas, a dispersão espacial da produção e a centralização do controle
pela finança. Nesse ambiente, avalia, a relação de trabalho capitalista começa
a desaparecer e o trabalho perde cada vez mais importância na geração de valor.
Isso, sinalizou, levará o capital a se confrontar consigo mesmo. Segundo ele, a
economia capitalista chegará então a um impasse.
De acordo com Belluzzo, a rede da economia global está concentrada em
147 instituições, sendo que, destas, são mais ou menos 30 instituições
financeiras, que através de propriedade cruzada e de participação nas várias
empresas produtivas, têm o controle desse sistema. Segundo ele, há um conflito
latente entre essa configuração financeira produtiva e a preservação da
soberania dos Estados nacionais.
O economista então falou sobre o Acordo de Associação Transpacífico
(TPP), recentemente firmado por 12 países. “O TTP foi apresentado pela imprensa
brasileira como sendo algo formidável de que o Brasil ficou de fora. Mas o TTP
é o seguinte: aplica-se sobretudo à propriedade intelectual e investimento. Não
é um tratado de livre comércio. Trata-se de fato de uma tentativa que reflete
essa reconfiguração da economia global, no sentido de se desvencilhar das
regulações nacionais. Você cria a possibilidade de uma empresa localizada em
Nebraska, submetida à legislação daquele estado dos EUA para controlar por
exemplo a emissão de poluentes, poder recorrer a uma corte arbitral fora dos
Estados Unidos, para que aquela controvérsia seja dirimida”, criticou.
Isso já ocorreu, lembrou ele, com a indústria dos cigarros no Uruguai
que não pode, devido a uma legislação semelhante, impor a obrigação dos maços
de cigarro trazerem alertas sanitários contra o uso do fumo. Isso, alertou
Belluzzo, para proteger os lucros previstos, e que correriam riscos, se aquela
legislação fosse seguida.
Na segunda mesa do seminário, os economistas Lécio Morais e Eduardo
Magnani discutiram os desafios do crescimento no Brasil. O presidente da
Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, e diretor de Estudos e Pesquisas
da entidade, Aloísio Sérgio Barroso, coordenaram os debates.
Leia mais sobre temas
da atualidade: http://migre.me/kMGFD
Nenhum comentário:
Postar um comentário