O time de guardiães
Primeiros passos de Bolsonaro parecem
planejados para preocupar militares
Janio de
Freitas, Folha de S. Paulo
Os
primeiros passos do governo, e do próprio Jair Bolsonaro, parecem planejados
para preocupar os militares. O descritério da entrega de cargos na problemática
Educação e nas complexas
Relações Exteriores, por exemplo, não precisaria ser acompanhado
pelo coro de desvarios, vindos de vários ministros, para indicar o perigo à
frente.
Já
esses dias iniciais desacreditam muito o propalado sistema de contenção de
desvarios operado pelos 11 militares do governo.
O
problema prático é o alto risco de embates internos, com potencial de crises.
Em sentido mais amplo, o que está em jogo para os militares, se a contenção
falha, é o comprometimento das Forças Armadas como responsáveis pelo governo
desnorteado.
Por
intermédio de generais reformados, o Exército aceitou esse risco, curvando-se
outra vez à ilusão primária de salvador da pátria.
Não
teria como negar sua responsabilidade, tanto na identificação que permitiu a um
oficial excluído, sem credencial alguma para tal crédito, como na participação
associada à condição de militares.
Na
formação dessas linhas cruzadas, Marinha e Aeronáutica mantiveram-se à
distância, entregues a um profissionalismo exemplar. Talvez jamais tenha havido
aqui outro período de tão correta conduta militar como a dessas duas
instituições, nos últimos tempos.
Por
isso a generalização da palavra militares, em assuntos políticos atuais, é uma
utilidade imprecisa e injusta. Militares da Marinha e da Aeronáutica não estão
nos jogos da política. Não deixam de ser incógnitas, porém, na eventualidade de
um insucesso governamental que pesaria, por certo, no conceito das Forças
Armadas em geral. Mais uma vez.
Militares
que entrem na política têm que ser políticos. Sempre existiram. A dubiedade
nunca levou a bom resultado. É esta, no entanto, a propensão visível nos
desvarios que já escandalizam. Inaugurados, por sinal, pelo próprio Bolsonaro:
sua primeira medida na Educação foi de cunho religioso e antiescolar, liberando
para faltas os alunos que invoquem motivo religioso.
CELESTIAL - Na trapalhada sobre
impostos, cuja alteração Bolsonaro divulgou, ou não sabia o que é
IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), ou não sabia o que assinou. Ou os
dois desconhecimentos.
Mas
ficou o mistério: de onde ele tirou a ideia de que assinara as duas alterações,
e ainda explicou a razão de ambas?
O
secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, disse que nada
há a respeito das alterações. Onyx Lorenzoni o confirmou.
Bem, pode ter vindo diretamente do céu.
SEM REMÉDIO - Passadas apenas
48 horas da rescisão cubana
com o Mais Médicos, o governo Temer informou e Bolsonaro reafirmou
já haver inscritos para 80% das substituições. Das vagas de 8.332 médicos
cubanos, só 5.846 substitutos se apresentaram até agora (Folha, 4.jan). Quase um terço das vagas continua
em aberto.
O
que as “autoridades” e assemelhados mentem no Brasil não os condena, jamais.
Condena a imprensa.
Os
médicos cubanos, argumentou o humanitário Bolsonaro, eram
escravizados. A julgar por suas bagagens de volta —tantas tevês
enormes, computadores, equipamentos de som, roupas, tralhas a granel, expostas
nos jornais como coisa normal—, aqui é melhor ser escravo. O salário mínimo
agora “corrigido”, para 2019, aumenta pouco mais de R$ 1 por dia.
Não
é correção, é humilhação.
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