Inquisição
moderna
Luciano Siqueira
É relativamente frequente
– infelizmente – altos cargos na gestão pública serem ocupados por
personalidades incompetentes e boquirrotas.
Quando isso acontece,
muitas vezes se diz que o Fulano ou Fulana está ali dizendo muita bobagem e
metendo os pés pelas mãos, porém conta com uma equipe competente que faz as
coisas acontecerem.
Não é uma boa fórmula, mas
ocorre.
No novo ciclo político brasileiro
que emergiu das urnas de outubro, e que pretende se marcar por uma espécie de
moderna Inquisição – se é que algo tão obscurantista e antidemocrático pode
receber a alcunha de moderno -, em várias áreas do governo central são
incompetentes o chefe e sua equipe.
O
insuspeito jornal Folha de S. Paulo denunciou ontem, em editorial, que o
ministro da Educação, o colombiano naturalizado brasileiro Ricardo Vélez
Rodríguez, escolhe auxiliares sem experiência de gestão e adota o
revanchismo ideológico.
À
semelhança do chanceler Ernesto Araujo – anota a Folha -, o titular da
Educação dá ênfase exagerada ao embate ideológico e diz quase nada sobre os
planos do governo para o ensino público.
Parece
delirar ao reafirmar a todo instante o compromisso de combater, “com denodo”,
o “marxismo cultural hoje presente em instituições de educação básica e
superior”.
Tal como
o seu colega do Itamaraty, promete enfrentar a “onda globalista”, da qual faria
parte a “ideologia de gênero” e cujos objetivos incluiriam solapar “a família,
a igreja, a escola, o Estado e a pátria”.
Na
esteira desse discurso, evidente que pode surgir nas estruturas educacionais
públicas o denuncismo e a perseguição próprios dos regimes ditatoriais.
Mas a
equipe que poderia cuidar do “deixa disso” e arrostar os desafios da pasta?
Quase ninguém com experiência qualificada na área.
Três
ocupantes de secretariais setoriais, são ex-alunos de Rodriguez na Universidade
Federal de Juiz de Fora, sem qualquer experiência de gestão.
Nessa
linha e com o beneplácito do capitão presidente, o MEC começa a viver uma
página triste de sua história, com gente sem eira nem beira com a
responsabilidade de encarar enormes desafios, tendo à frente um improvisado
Torquemada.
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