24 fevereiro 2025

Thiago Modenesi opina

A atualidade do pensamento marxista na educação brasileira do século XXI
O pensamento marxista mantém relevância na educação ao propor que a escola seja espaço de reflexão e não de reprodução passiva
Thiago Modenesi/Vermelho  


A educação no Brasil do século XXI permanece um campo de intensos debates, nos quais o pensamento marxista segue influente, especialmente na crítica às estruturas sociais e na defesa de uma formação de tipo emancipatória. Herdeiro da tradição crítica de Paulo Freire, cuja obra Pedagogia do Oprimido (1968) ressaltou o papel da educação como ferramenta de libertação, o marxismo oferece lentes para analisar desigualdades e propor práticas pedagógicas engajadas e segue profundamente atual. 

A obra de Freire, que foi marcada pela conscientização e diálogo, incorpora elementos marxistas ao destacar como a educação tradicional reproduz hierarquias de classe. Sua ênfase na “leitura do mundo” antes da “leitura da palavra” inspira educadores a conectarem conteúdos escolares às realidades sociais dos estudantes, questionando opressões estruturais.

Esse legado persiste em projetos pedagógicos que vinculam ensino a movimentos sociais, como escolas do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), onde a educação é instrumento de luta por reforma agrária e justiça social.  Freire entendia a educação como algo transformador, crítico, democrático, libertador e dialético, rompendo com a educação de tipo bancária, em que o estudante recebia o “depósito” pronto da educação do professor.

No século XXI, a educação brasileira enfrenta a expansão de políticas neoliberais, como privatização, meritocracia e redução de investimentos públicos — tendências que o marxismo critica como mecanismos de exclusão, este processo perdeu força em certa medida com a eleição do presidente Lula para um terceiro mandato, mas ainda se faz presente na sociedade, em particular em estados em que os governos são hegemonizados pela extrema-direita, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

A estratificação educacional, onde escolas públicas periféricas carecem de recursos enquanto elites acessam o ensino privado, exemplifica a reprodução de desigualdades, tema central na análise marxista. Propostas como o Escola Sem Partido, que busca restringir discussões políticas em sala, são vistas como reações a perspectivas críticas, evidenciando tensões entre projetos educacionais conservadores e abordagens marxistas, algo que ganhou escala dos anos 2000 até o presente. 

A influência marxista dialoga com as disciplinas de Sociologia e Filosofia, obrigatórias no Ensino Médio brasileiro desde 2008, estas incentivam os estudantes a debaterem exploração trabalhista, racismo, classes sociais e gênero. Professores engajados na pedagogia crítica atuam como mediadores de processos formativos que transcendem a preparação para o mercado, focando na formação cidadã e na capacidade de transformação social. 

Acusações de “doutrinação” se tornara frequentes contra abordagens marxistas, argumentando-se que “politizam” a educação. Ora, algo completamente descabido: toda educação é política, a análise da sociedade e suas contradições é parte do processo educacional, refletir de maneira crítica sobre ele é necessário, e isso não é algo de largada enquadrado como “direita” ou “esquerda”, mas sim uma ferramenta que os estudantes têm para entenderem o mundo em que vivem com profundidade. Omitir críticas às injustiças reforça o status quo. A formação crítica, nessa visão, não é adestramento ideológico, mas capacitação para analisar contradições sociais. 

O pensamento marxista mantém relevância na educação brasileira ao propor que a escola seja espaço de reflexão e não de reprodução passiva. Em um país marcado por profundas desigualdades, sua contribuição reside em desafiar educadores e estudantes a enxergarem a educação como prática de liberdade — um projeto inacabado, mas urgente, para construção de uma sociedade mais justa, democrática, plural e humana.

Leia: Desigualdades regionais no tempo presente https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/meu-artigo-no-portal-grabois-3.html 

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