21 fevereiro 2025

Palavra de poeta Renato Sq.

Entre o hai-kai e a poesia minimalista
Luciano Siqueira* 

Eis o que nos oferta Renato Siqueira ao emergir de mergulhos na alma e ao proclamar em público inquietações, dores, dúvidas, desejos: um misto de hai-kai e poesia minimalista.

A palavra curta, direta. Às vezes óbvia, na maior parte das vezes surpreendente.

Um verso simples, objetivo, curto — que ora afaga, ora inquieta.

Invariavelmente, a simplicidade e o uso contido da linguagem. Como uma espécie de resistência tímida a se revelar por inteiro. 

Entretanto, ousadia em experimentar um gênero poético que se introduziu em nossa literatura por mãos consagradas, como Carlos Nejar, os irmãos Haroldo e Augusto de Campos e Paulo Leminski, antecedidos por Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Murilo Mendes, Oswald de Andrade.

A mesma simplicidade preserva quando se arrisca no poema minimalista, provavelmente inspirado em autores como a indiana-canadense Rupi Kaur; os norte-americanos Ezra Pound e Anne Sexton; o irlandês Samuel Beckett e o sueco Tomas Tranströmer. Ou em gente do primeiro time da poesia brasileira: Arnaldo Antunes, Alice Ruiz, Hilda Hilst e clássicos como Adélia Prado, Carlos Drummond de Andrade e Manuel de Barros. 

O verso contido — como um choro discretamente compartilhado:

então pode ser 
que você me veja 
com seus olhos 
com outros olhos 
com os olhos dos outros 
com meus olhos 
ou nem me veja
 
Ou como grito:

amor
com
corda
no pescoço 
não é
amor
concorda?

Ou ainda:
 
não viveu direito
quem passou pela vida
com apenas um coração

E quando ousa:

é dela um olhar oculto e esquivo 
que não permite que lhe vejam
mas que a faz tudo ver e registrar 
é dela correr desesperadamente 
para longe e assim se aproximar 
tanto mais daquilo que a faz esquivar 
é dela não se permitir gostar 
para não sofrer e assim sofrer 
por não se permitir gostar 
 
é dela não dividir o tempo 
com ninguém e assim ter 
todo o tempo do mundo para chorar

Tal como a citada Rupi Kaur, Renato antes se revela no Instagram e agora se compromete em livro. Gesto que carrega em si forte simbologia: a comunicação digital instantânea, superficial e fragmentária não dispensa, antes reclama o diálogo "presencial", olhos nos olhos — a transição da postagem imediata e pontual à forma livro, perene e definitiva.

*Texto de apresentação - Renato Sq. ”Apenas uma possibilidade”.  Artêra editorial, Curitiba-PR, 2024.

Você pode adquirir pelo do site da Editora Appris, Amazon, ou pelas livrarias 'Curitiba', 'Martins Fontes', 'Livraria da Vila', 'Livraria da Travessa' e 'Livraria Leitura' ou ainda diretamente com o autor instagram.com/renatosq.escritor

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Leia: Os clarins de Momo se aproximam https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/minha-opiniao_24.html  

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