Laterais brasileiros eram referências para
os europeus
Roberto Carlos e Cafu foram por mais de dez anos os
melhores do mundo na posição
Tostão,
na Folha de S. Paulo
O argentino Sorín, que brilhou no
Cruzeiro, veio jogar no Brasil, segundo ele, para conhecer os
segredos de haver tantos ótimos laterais. Na época, os laterais europeus eram
apenas defensores, enquanto os do Brasil eram muito mais ofensivos.
Por causa dessa maneira de jogar, surgiram, no Brasil, os
volantes apenas marcadores, brucutus, um de cada lado, que faziam a cobertura
dos laterais. Depois, colocaram mais um volante pelo meio, para proteger a
zaga. A saída de bola da defesa para o ataque era feita pelos laterais ou pelos
chutões da defesa, o que predomina até hoje.
Na Europa, ocorreu o contrário. Os laterais marcavam, e os
jogadores do meio-campo organizavam as jogadas, trocavam passes e avançavam.
Por isso, há hoje mais excelentes meio-campistas na Europa do que no Brasil.
Os europeus contrataram vários laterais brasileiros, mas os
colocavam para atuar na linha do meio-campo, como meias pelos lados. Roberto
Carlos, antes de se tornar, no Real Madrid, o
melhor lateral-esquerdo do mundo, atuava de meia pela Inter de Milão. Não
funcionava.
Roberto Carlos precisava de espaço para correr. Em uma fração de
segundos, chegava da intermediária defensiva à ofensiva, antes do adversário,
para cruzar forte ou finalizar. Na Inter, recebia a bola no pé, mas não sabia
driblar nem tabelar. Já outros grandes laterais brasileiros, como Daniel Alves,
Marcelo e Júnior, do Flamengo, possuem extrema habilidade e criatividade.
Roberto Carlos e Cafu foram,
por mais de dez anos, os melhores laterais do mundo, porque, além de muita
força física, eram excelentes na marcação e no apoio.
Nilton Santos, a Enciclopédia do Futebol, campeão do mundo em
1958 e em 1962, era a síntese das virtudes de todos os outros grandes laterais
brasileiros de todos os tempos.
Com o tempo, os europeus passaram a formar e a contratar
laterais que marcavam e atacavam. Hoje, existem muitos que fazem isso bem, como
os dois laterais do Liverpool. Mais importante ainda é alternar, em um mesmo
jogo, o avanço e a marcação dos meio-campistas e dos laterais. Todos marcam e
todos atacam. O Flamengo faz isso muito bem. Os técnicos brasileiros deveriam
aproveitar o confinamento para estudar, discutir e aprender.
Reconhecimento
O Brasil, na Copa de 1970, fez um planejamento técnico, tático e
físico excepcional, revolucionário para a época. Começou nas eliminatórias, em
1969. Ficamos 21 dias em Bogotá, na altitude, antes de estrear contra a
Colômbia. Nesse período, vi, pela TV, no hotel, o homem pisar na lua pela
primeira vez. O tempo de 21 dias é o ideal para se adaptar à altitude, para
aumentar a produção de hemoglobina, que vai carregar o oxigênio até as células.
Em 1970, antes da Copa, ficamos também 21 dias em Guanajuato, bela, histórica e
alta cidade mexicana.
Toda a programação, desde as eliminatórias, foi feita por um
grupo de especialistas, comandada pelo professor Lamartine Pereira da Costa,
oficial da Marinha brasileira, que já tinha realizado a programação da seleção
brasileira de vôlei na Olimpíada de 1968, também no México. Era a época da
ditadura. Ele foi escolhido pelo esquerdista e comunista João Saldanha somente
por causa da competência técnica.
Naquele período, não havia a radicalização de hoje, em que as
pessoas pensam e agem apenas de acordo com o lado do qual fazem parte.
Zagallo e Parreira nunca reconheceram a importância de Saldanha
na preparação do time brasileiro.
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