No Vermelho, por Eduardo Bomfim:
Ao ler o livro de Maria Maia sobre a produção artística, cultural, de Heitor Villa Lobos, percebe-se que o grande impulso motivador desse iluminado e singular brasileiro foi a busca intensa, apaixonada, na tentativa de captar a alma nacional.
Para tanto, percorreu os grandes sertões e as veredas de Guimarães Rosa, as outras áridas terras de homens e ambientes retratadas nos romances de Graciliano Ramos, nas poesias de João Cabral de Melo, e o exuberante mundo da Amazônia brasileira.
Andou por cidades e povoados, ouviu os sons de pássaros distintos e escondidos, conversou, em rodas noturnas, com as mulheres e os homens em várias latitudes e modos de cultura nacional, ouviu histórias, temores místicos e reais. Já sabia igualmente, em demasia, do espírito das cidades grandes. O que ele queria era compreender o conjunto e a generalidade que conformava a identidade nacional.
Seu itinerário, na época, foi o inverso de muitos artistas que foram estudar o Brasil na França ou na Inglaterra. Sua obra despertou admiração em muitos e inveja em outros tantos. De tal maneira que foi acusado de esboçar o exótico, deturpando o espírito civilizado, eurocêntrico. Hoje a produção de Villa Lobos é estudo obrigatório nas principais universidades européias e nos Estados Unidos da América.
Um dos grandes lutadores contra o fascismo, personagem lúcido, marxista, formulador da luta política concreta, Dimitrov, lançou à época, um apelo apaixonado aos trabalhadores e democratas, “para vincularem suas lutas às tradições passadas de seu povo, para rejeitarem o niilismo nacional e recuperarem criticamente o que há de precioso no passado histórico da nação”, frente às hordas nazistas e assemelhadas.
Assim, não existe projeto nacional ou cultural sem o conhecimento da realidade do país ou das regiões que o compõem. Igualmente, o sentimento patriótico, a visão emancipadora, a solidariedade aos povos injustiçados são perfeitamente compatíveis.
Superamos vários obstáculos que freavam o desenvolvimento, mas os passos ainda são tímidos para se atingir o que a maioria dos brasileiros almeja. As forças conservadoras estão jogando pesado contra a soberania do país com o apoio de uma mídia poderosa. É hora de maior ousadia, muita amplitude política, e de um projeto mais avançado para o Brasil. Uma nação democrática, politicamente soberana, socialmente mais justa.
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