15 julho 2007

DESTAQUE DE DOMINGO

O tempo do tempo
Carlos Heitor Cony

O herói da Maratona precisou correr 42 quilômetros para transmitir a notícia da vitória numa guerra. Morreu logo após ter cumprido a tarefa. A descoberta (ou o achamento) do Brasil levou mais de dois meses para chegar ao conhecimento do rei Manuel, dito o Venturoso. Hoje, com a internet em funcionamento, seria Venturoso antes do tempo, ficaria sabendo da façanha de Cabral na hora.

A instantaneidade da notícia é uma das conquistas mais fantásticas da humanidade. Cem anos após a proclamação da nossa República, em 1889, havia brasileiro lá pelo setentrião acreditando que o Brasil ainda era governado por um Dom Pedro qualquer, provavelmente Dom Pedro 3º ou 4º.

Consta que no Japão, apesar de seu avançado estágio tecnológico, ainda há soldado do Mikado escondido nas matas pensando que a 2ª Guerra Mundial não acabou.

Outro dia, a bordo de um avião em vôo doméstico, o piloto informou, com voz aveludada e calma, que o tempo estava ótimo em toda a rota. Nem havia comunicado integralmente a boa notícia, o aparelho começou a sacudir como se estivesse com mal de Parkinson.

Quando passou a turbulência - uma das maiores que já atravessei - o piloto explicou que os computadores estavam certos nas duas ocasiões, a do tempo bom e a do tempo ruim. Apenas -disse ele - o tempo fora mais rápido, não dando tempo para que a rede eletrônica de bordo e das estações meteorológicas no caminho pudessem fazer a correção a tempo.

Repeti a palavra "tempo" várias vezes porque acredito que seja o único fato e fator inamovíveis da nossa vida. Não precisa de notícia para existir. Não precisa de tempo para ser tempo.

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