10 junho 2007

DESTAQUE DO DIA

China: a orgia do trabalho

Para um país de 1 bilhão e 300 milhões de habitantes, assegurar ocupação à população em idade de trabalhar, prover as necessidades básicas de educação, saúde e moradia toda essa gente certamente é desafio gigantesco. Especialmente quando se sabe que até 1949, quando triunfou a Revolução Popular liderada por Mao Zedong, a grande maioria vivia na miséria material e no atraso cultural.

Hoje, segundo as autoridades chinesas, cerca de 700 milhões vivem no campo, onde ainda é muito forte a economia familiar, apesar do intenso processo de modernização que se opera há alguns anos. Dos restantes 600 milhões que ocupam a área urbana, aproximadamente 250 milhões (uma população dos EUA) atingiram o que chamam de “padrão belga de consumo”, isto é, vivem numa condição material rica. Os outros 350 milhões têm suas necessidades fundamentais resolvidas, trabalham e conseguem poupar parte do que ganham.

Reflexo disso, o que se vê nas cidades é uma verdadeira orgia do trabalho. Não apenas na explosiva construção civil (há quem diga que metade das gruas em operação no mundo está na China) e em muitos setores da indústria e dos serviços mais qualificados, como em inúmeras atividades auxiliares. É gente trabalhando por toda parte.

Mas se encontra também pedintes pelas ruas, assim como vendedores ambulantes. É gente que não foi qualificada para o trabalho e não consegue ser absorvida pelo mercado crescentemente exigente. Dois estudantes com quem conversamos mais demoradamente – um universitário que nos serviu de intérprete, e uma adolescente filha de um empresário que tem sócio no Brasil – nos deram conta do regime rigoroso e da atividade intensa que têm os estudantes, em regime de dedicação integral na escola, das 7 às 17 horas, para que se qualifiquem para as atividades produtivas.

O desemprego, que gira em torno dos 3.5, uma das taxas menores do mundo, embora expressiva na escala chinesa, decorre principalmente da modernização da agricultura e do aporte contínuo de novas tecnologia no sistema produtivo industrial. É enfrentado pelo governo como prioridade, tendo como fulcro a capacitação de mão de obra e a diversificação de atividades para favorecer a alocação a mão de obra excedente. Demais, onde o emprego de novas tecnologias não é absolutamente necessário, conserva-se a produção ou a atividade de serviços no padrão extensivo para garantir ocupação para mais gente.

Um comentário:

Cláudio Cegonha Cabral disse...

Uma bela e precisa descrição de um país capitalista qualquer.
As notícias que chegam de lá no campo dos direitos trabalhistas não são assim tão boas. No sul da China as crianças trabalham em regime muito duro durante às férias escolares por 1/2 salário e no norte recentemente foi descoberta mais uma empresa usando trabalho escravo num regime que transformam os fornos de cavoaria do Brasil numa colônia de férias. A empresa que utilizava o trabalho escravo, pasmem!, era de uma família de dirigentes do Partido Comunista (uma contradição dupla).
Toda vez que escuto uma notícia na China lembro de Enver Hoxha. Tenho até alguns livros dele aqui na minha estante que gosto de folear quando o assunto é China, Russia e Sérvia.
A atualidade das previsões as vezes me assusta.