08 junho 2020

Salvando vidas a muitas mãos


Sem tempo a perder
Jailson Correia*

De olhos fechados, após a oração universal, ouvi o ecoar de vozes abafadas pelas máscaras obrigatórias. No vasto salão da novíssima UTI, profissionais emocionados cantavam junto com Pe. Luciano um belo cântico cristão. Uma cerimônia simples, mas muito tocante. Dali a poucas horas, o sétimo Hospital de Campanha da Prefeitura do Recife receberia seus primeiros pacientes, na Imbiribeira.

Ao olhar ao redor, notei tubulações de gases medicinais, camas, monitores e os disputadíssimos respiradores artificiais. Me dei conta de que nada fazia lembrar que, até poucos dias antes, ali havia não mais que um mero galpão desativado.

Naquela altura, similar transformação já havia feito surgir leitos hospitalares em lugar de vagas de estacionamento no Hospital da Mulher e nas policlínicas. Além de outros Hospitais Provisórios, onde havia um edifício comercial fechado na Rua da Aurora é uma antiga central de distribuição nos Coelhos. Enfermarias e UTI montadas em tempo recorde, já salvando vidas na mais devastadora pandemia da nossa era.

Ciente de que muitos desafios estariam por vir, fui então tomado por uma profunda sensação de gratidão. Nada daquilo seria possível se não fosse por uma união de esforços sem precedentes. A inequívoca e oportuna decisão política do prefeito Geraldo Júlio fez com que seu governo inteiro se integrasse ao esforço de salvar o maior número de vidas. A omissão não era opção. Uns diziam ser impossível, que a burocracia seria intransponível. Decidiu-se pela proatividade deste os primeiros sinais de que a pandemia se alastraria impiedosamente entre nós. Não havia tempo a perder.

Secretários e gestores de várias áreas assumiram funções essenciais. Tem sido crucial o engajamento dos órgãos de controle, da academia, sociedade civil, iniciativa privada, imprensa e dos muitos recifenses que mudaram a sua rotina ao aderir ao distanciamento social.

Que o brilho valente dos olhos dos profissionais de saúde da ponta nos dê forças para agir. Que o sorriso dos sobreviventes e seus familiares, ao verem retornar para casa quem tem alta de um serviço sem o qual talvez estivessem condenados à desassistência, como em tantos lugares, seja a razão de tudo isso. Sigamos, há muito ainda a fazer.


*Jailson Correia é médico, PhD pela Universidade de Liverpool e secretário de Saúde do Recife
[Ilustração: Giulio Turcato]
No Recife tem sido assim https://bit.ly/3dF20bM

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