30 junho 2014

O desastre que não houve

As 13 previsões mais catastróficas, e furadas, sobre a Copa no Brasil
Najla Passos, na Carta Maior

É hora de relembrar, com algumas boas gargalhadas, as previsões mais pessimistas e catastróficas feitas por cartomantes de plantão que previram o caos.

A Copa do Mundo não resolveu e não irá resolver todos os problemas do país. Aliás, nem é esta a função de um evento esportivo privado. Mas que o mundial atrai turismo e investimentos externos, não há mais dúvidas. Como também não há nenhuma de que ele mexe com autoestima de um país incentivado durante séculos a cultivar um inapropriado “complexo de vira-latas”! 

Por isso, agora que o sucesso do evento já é reconhecido em todo o mundo, que o país já provou que pode ser organizar uma bela copa e que os turistas e os investimentos estrangeiros continuam chegando, é hora de dar boas gargalhadas com previsões mais pessimistas  feitas pelas cartomantes de plantão que tanto torceram contra a realização do mundial.

Das adivinhações às avessas do mago Paulo Coelho à mudança de planos da cineasta que fez sucesso afirmando que não viria ao Brasil, dos prejuízos contabilizados pelo tucanato ao delírio do protesto do chuveiro no “modo quentão”, do mau-humor da imprensa estrangeira à campanha permanente da Veja, confira as 13 previsões mais catastróficas – e furadas – sobre a Copa do Mundo no Brasil!

1 – O mago Paulo Coelho: “A barra vai pesar na Copa do Mundo”

Em entrevista à revista Época, publicada em 5/4/2014, o mago, guru e escritor Paulo Coelho, que mora na Suíça, disse que não viria ao Brasil assistir aos jogos da Copa do Mundo nos estádios, apesar de ter sido presenteado com os ingressos pela FIFA. “A barra vai pesar na Copa. A Copa será um foco de manifestações justas por um Brasil melhor. Os protestos vão explodir durante os jogos porque vai haver mais gente fora do que dentro dos estádios”, afirmou.

O Mago, que “previra” que o Brasil ia ganhar a Copa das Confederações, evita arriscar o resultado para o mundial. E apresenta certezas já desconstruídas pela realidade, como a de que o Brasil deveria disputar a final com a Espanha, eliminada na 1ª fase: “Agora não sei. Certamente o Brasil irá à final com a Alemanha ou a Espanha, duas seleções fortíssimas nesta Copa. A Argentina não. A Suíça vai surpreender. Eu ousaria dizer que a Suíça vai para as quartas. No futebol, você tem que ser otimista, não tem outra escolha. O Brasil tem chances de não ganhar”.

2 – Arnaldo Jabor: “A Copa vai revelar ao mundo a nossa incompetência” 

No dia 6/6/2014, às vésperas da abertura da Copa, o cineasta Arnaldo Jabour, em comentário para a Rádio CBN, ainda insistia no pessimismo em relação à Copa, com o objetivo claro de influir no processo eleitoral de outubro. “Nós estamos jogando fora a imensa sorte que temos, por causa de dogmas vergonhosos que não existem mais. Estamos antes do Muro de Berlim e a Copa do Mundo vai revelar ao mundo a nossa incompetência”, afirmou.

3 – Veja: “Por critérios matemáticos, os estádios da Copa não ficarão prontos a tempo”

Em 25/5/2011, a Veja previu o fracasso da Copa do Mundo no Brasil. E com a ajuda da matemática, uma ciência que se diz exata desde tempos imemoriais. Na capa, a data da logo do mundial era substituída por 2038. O intertítulo explicava: “Por critérios matemáticos, os estádios da Copa não ficarão prontos a tempo”.

De lá para cá, foram muitas outras matérias, reportagens e artigos anunciando o fracasso do mundial. E mesmo com o início dos jogos, com estádios prontos e infraestrutura à altura do desafio, a revista estampou, na edição desta semana, uma nova catástrofe iminente: “Só alegria até agora - Um festival de gols no gramado, menos pessimismo nas pesquisas, mais consumo, visitantes em festa e o melhor é aproveitar, pois legado duradouro, esqueça”.

Melhor mesmo é torcer para que, quem sabe até 2038, a Veja aprenda a fazer jornalismo!

4 – Cineasta brasileira radicada nos EUA: “Não, eu não vou para a Copa do Mundo”

Em junho de 2013, a cineasta brasileira Carla Dauden, radicada em Los Angeles, nos Estados Unidos, fez sucesso na internet com o vídeo “No, I’m Not Going to the World Cup” (“Não, eu não vou para a Copa do Mundo”), que alcançou quatro milhões de curtidas. Mas antes mesmo da bola começar a rolar nos gramados brasileiros, a ativista já era vista circulando pelo país.

No Twitter, ela justificou a abrupta mudança de planos: “Não vim para ver a Copa, vim para falar dela. A Copa nunca vai ser a mesma para os brasileiros. As pessoas não vão se esquecer do que acontecerá por aqui”, diagnosticou, antes da abertura. A frase, de fato, parece fazer sentido. Mas por motivos opostos do que aqueles que a ativista advoga!

5 - Protesto do chuveiro no “modo quentão” vai causar apagão!

Até bem pouco tempo antes do início da Copa, eram muitos os setores que insistiam no risco iminente de blackout no país, da oposição à imprensa monopolista. Um grupo de internautas, porém, levou as ameaças infundadas a sério e decidiu criar uma página no Facebook destinada a acelerar o caos: usar os jogos da Copa para provocar um apagão generalizado no Brasil e, assim, boicotar a realização do evento.

A estratégia definida foi a utilização sincronizada dos chuveiros no “modo quentão”. “Chuveiros devem ser ligados na hora dos hinos nos jogos. A carga elétrica anormal derrubará a energia em bairros, cidades, regiões, estados e o país inteiro, em efeito dominó. Acompanhem os hinos por rádio, para maior garantia de sincronização”, diz a descrição do evento que conquistou pouco mais de 4,5 mil curtidas.

Dado o fracasso do evento, a página agora é utilizada para a troca de memes contra o PT, a esquerda e as pautas sociais e progressistas!

6 – Marília Ruiz: “Vai ser um vexame. Um vexame!”

No dia 26/1/2014, a TerraTV publicou um comentário da jornalista esportiva Marília Ruiz em que ela previa que, se o Brasil conseguisse realizar a Copa, já seria uma grande vitória. A antenada comentarista até admitia que os estádios ficariam prontos. Mas sem qualidade: "Se eu sentaria o meu corpinho numa cadeira recém colocada, com um parafuso a menos? Eu não sei”.

Do alto de sua experiência em cobertura de outras copas e de um etnocentrismo latente, ela também alertava que, mesmo fazendo sua Copa após a da África, o país passaria vergonha. “Eu achei que a gente ia passar vergonha, que nós, brasileiros, que o país ia passar vergonha. Aí eu pensei, é até um alento porque a Copa do Brasil vai ser depois da Copa da África: ninguém vai lembrar muito como foi na Alemanha. Muito menos as pessoas vão lembrar como foi no Japão e na Coreia. E eu posso dizer porque estive lá. É uma vergonha ao cubo!”

Confira o comentário completo e saiba quem é que está passando vergonha!

7 - Álvaro Dias: “O país ficará com mais prejuízo do que lucro”

De todas as aves de mau agouro que bravatearam contra a realização da Copa no Brasil, o tucano Álvaro Dias, senador pelo PSDB, foi uma das mais barulhentas. Previu que o governo amargaria um prejuízo de mais de R$ 10 bilhões com a realização do evento, que os turistas não apareceriam, que os aeroportos não ficariam prontos e não dariam conta do fluxo de passageiros.
“O legado da copa do mundo me parece ser um grande fracasso. O país ficará com mais prejuízo do que lucro”, disse ele em entrevista à TV Senado, publicada no Youtube em 7/8/2013. Agora que os turistas chegaram, os investimentos estrangeiros entraram e o país tá fazendo bonito em mobilidade e infraestrutura, o senador desapareceu por completo do noticiário. Não se sabe se está esperando o evento acabar para profetizar outro apocalipse ou aproveitando as férias para curtir os jogos, como fez durante a Copa das Confederações!
8 - Ex-presidente FHC: “A Copa do Mundo como símbolo de desperdício”

Em artigo publicado no norte-americano The Wold Post, em 21/1/2014, o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso se referiu à Copa como símbolo do desperdício de dinheiro público. Tal como seu companheiro Álvaro Dias, perdeu a chance de ficar calado.  Segundo a Fipe, só a Copa das Confederações rendeu R$ 9,7 bilhões ao PIB brasileiro. A projeção de retorno da Copa é de R$ 30 bilhões. A Apex-Brasil, aproveitando a Copa do Mundo, trouxe ao Braisil mais de 2,3 mil empresários estrangeiros, de 104 países. A agência estima trazer US$ 6 bilhões em negócios para o Brasil.

9 - Redação Sport TV: do fracasso ao espírito de porco!

No Programa Redação Sport TV de 22/1/2014, o apresentador deu sonoras gargalhadas ao exibir a foto de um estádio da copa ainda sem gramado e fazer previsões catastróficas sobre o evento. Na edição de 26/6/2014, o tom mudou completamente: um outro apresentador mostrou como a imprensa internacional elogiava o evento e ouviu do entrevistado Ruy Castro: “A nossa imprensa foi rigorosamente espírito de porco antes do evento começar”.

Confira o vídeo com os dois momentos e os dois humores do Sport TV

10 – Governo alemão: “O Brasil é um país de alto risco”

Há seis semanas do início da Copa, o Ministério de Assuntos Exteriores da Alemanha divulgou um relatório pintando uma imagem desoladora do Brasil, descrito como um país ode as leis não são respeitadas e o turista corre o risco de ser roubado, sequestrado e se envolver em conflitos entre policiais e criminosos. O documento listava uma série de cuidados que os gringos deveriam tomar, incluindo atenção redobrada com as prostitutas, apontadas como membros e organizações criminosas, e vigilância contínua com os copos, para não serem vítimas de um “Boa noite, Cinderela”.

Pelo documento, até mesmo a seleção alemã estaria em perigo em terras tupiniquins. E não apenas dentro de campo. “Arrastões e delitos violentos não estão descartados, lamentavelmente, em nenhuma parte do Brasil. Grandes cidades como Belém, Recife, Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo oferecem altas taxas de criminalidade”, ressaltava.

O Ministério ainda não divulgou relatórios sobre o número de alemães que vieram ao Brasil e o que estão achando da experiência. Mas quem circula pelas ruas brasileiras, repletas de gringos felizes e sorridentes, já sabe!

11 - Der Spiegel:  “Justamente no país do futebol, a copa poderá ser um fracasso”

 Um dos principais semanários da Europa, a revista alemã estampou, um mês antes do início da Copa, a manchete “Morte e Jogos”, destacando que, justamente no país do futebol, a Copa poderia ser um fiasco, por causa dos protestos, da violência nas ruas, dos problemas do transporte coletivo, dos aeroportos e dos estádios. Praticamente um alerta vermelho recomendando que os europeus não viessem ao Brasil.

Mas os turistas vieram e estão adorando. A imprensa estrangeira também: o jornal norte-americano The New York Times, fala em “imenso sucesso”. O francês Le Monde, em “milagre brasileiro”. O espanhol El País diz “não era pra tanto” para as previsões catastróficas.  A revista inglesa The Economist,  remenda que “as expectativas, que eram baixas, foram superadas”. A própria Der Espiegel, na edição desta semana, dá destaque para a animação da torcida e admite que os protestos em massa ainda não aconteceram. 

 12 – Ronaldo, o fenômeno: “Da vergonha à constatação de que a Copa é um sonho”

 Na véspera do início do mundial, o ex-atacante Ronaldo se disse envergonhado com os atrasos das obras da Copa. Mas, membro do Comitê Organizador Local da FIFA que é, defendeu a entidade e culpou o governo Dilma por todos os problemas. “É uma pena. Eu me sinto envergonhado porque é o meu país, o país que eu amo. A gente não podia estar passando essa imagem”, disse à Agência Reuters o cabo eleitoral e amigo do senador Aécio Neves, candidato do PSDB à presidência.

Agora, consolidado o sucesso do evento, tenta mudar o discurso. Em coletiva nesta quinta (26), procurou se justificar. "Não critiquei a organização da Copa, até porque eu faço parte dela. Disse que poderia ser muito melhor se todas as obras de mobilidade urbana tivessem sido entregues”, remendou. ”Vivíamos um clima muito tenso, com a população muito descontente. Começou a Copa, e agora estamos vivendo um sonho", concluiu.
13 –  O vira vira lobisomem de Ney Matogrosso

De passagem por Lisboa, em 11/5, Ney Matogrosso resolveu usar a Copa para criticar duramente a política brasileira na TV ATP. Só esqueceu de estudar, primeiro, os argumentos. “Se existia tanto dinheiro disponível para gastar com a Copa, por que não resolver os problemas do nosso país?”, disse ele, desconhecendo que, desde 2010, quando começaram os preparativos para a Copa, o governo já investiu R$ 850 bilhões em saúde e educação, enquanto os investimentos totais no mundial – incluindo federais, locais e privados – atingem R$ 25,6 bilhões.

Foi ácido quanto à construção dos estádios que, segundo ele, irão virar “elefantes brancos” e não serão usados para mais nada. Embolou dados, números e fatos em vários argumentos. Acabou sustentando uma visão preconceituosa sobre as classes populares. Questionado se há uma maior consciência dos pobres em exigir seus direitos, concordou: “O escândalo é tamanho que até essas pessoas param para refletir”.

Copa na rede

Copa das Copas bombando na rede: até esta segunda-feira (30), foram registrados 150 milhões de visitantes no site e nos aplicativos da Fifa na internet.

Zona 30

Recife vai ganhar a sua primeira Zona 30 - veículos só poderão trafegar a no máximo 30km/h - nesta segunda-feira. O projeto sera implantado em 22 vias do Bairro do Recife Antigo http://j.mp/TqhExcVeículos

Destino

A segunda-feira é de Pablo Neruda: "Mas se amo os teus pés/É só porque andaram/Sobre a terra e sobre/O vento e sobre a água,/Até me encontrarem."

Tecnologia avançada

Iniciativa de sentido estratégico: convênios para iniciação em astronomia e exploração espacial. A cooperação técnica envolve a Agência Espacial Brasileira (AEB), o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e a Fundação Universidade de Brasília (FUB) com as instituições francesas Astrium SAS – BU Space Transportation,  Safran e o Isae (Instituto Superior de Aeronáutica e do Espaço). Serão criadas tutorias e desenvolvimento de projetos entre estudantes.

Ao debate!

Mais alguns dias, começa oficialmente a campanha eleitoral. Bem que poderia ser "a eleição das eleições", com debate sério e sem agressões pessoais entre os concorrentes. Para que o eleitor decida conscientemente e a democracia se fortaleça.

Pedreira

De hoje até a próxima sexta-feira, quando enfrentará a Colômbia, a seleção brasileira precisa acertar o passo. O adversário é mais forte que o Chile.

29 junho 2014

A vida do jeito que é

Presa fácil 

Marco Albertim, no Vermelho

O apito vindo da fábrica estourou primeiro nos ouvidos de Mousinho. Convencera-se disso há pouco mais de três meses, quando fora despedido, surpreendido pelo dedo em riste do chefe da manutenção, por ter desbastado um milímetro a mais, no torno, um pino de aço que serviria de ligação entre a base de um estampo e sua navalha, acima, para o corte de chapas de ferro, quadradas, pequenas, com laterais de igual comprimento.

Acostumara-se ao estouro do apito enquanto estava empregado, visto que a sonoridade alegre vinda do cimo do bueiro, saudava-o, lembrando a utilidade de sua vida, inda que a rotina dos dias fosse tão cinzenta quanto as paredes de adobe seco da casa onde morava.

Agora, sem a agudeza de antes, a sirene estrugiu densa, trazendo o dorso largo abaixo do rosto duro, frio, do chefe da manutenção. Mousinho não se olhou no espelho, não precisava; o couro seco de sua pele morena contraíra, feito uma aderência lenta, sem freios, à mesma cor ressecada das paredes sem reboco, só com a crosta com pontas desiguais, de baixo para cima do teto, junto às telhas expostas.

Pensou em tomar um café, pensou com olhos sombrios e selvagens, sorvendo o cheiro quente, fumaçado, vindo dos fundos da casa. Ao lado da cozinha sem móveis, a vizinha já espremera o pano de café, despejara-o no bule de ágata, pusera-o na mesa onde se juntava ao marido de bigode basto, tão escasso de palavras que perdera o jeito de dar bom-dia. E ainda os dois filhos, enteados dele; o mais velho, cobrador de ônibus, tão tagarela, que se referia ao dinheiro passado em suas mãos, como se estivesse amealhando para si próprio. O colóquio, inda que seu salário fosse de curta duração, também bulia de cobiça os olhos da mãe e do padrasto. O filho mais novo, submisso ao silêncio impositivo do padrasto, mastigava mudo o cuscuz quente com a língua já encourada pela comedoria muita, sem a sustância de proteínas.

Mousinho teve o cuidado de pentear os cabelos com a escova de cerdas grossas; o penteado para trás serviria de disfarce às maquinações mal contidas na fronte de fauno. Depois, o bom-dia na voz submissa, deixando escapar um indício de urbanidade, ocultaria o rebuliço dos sonhos já esquecidos. Ele passou rumo ao banheiro de uso comum; impossível não se dar conta dos urdumes daquela família, àquela hora também espreitando a marcha sem surpresas do dia mal anunciado; sobretudo os urdumes de Tércia Tiara, a quem cabia receber o dinheiro do aluguel pago por Mousinho. Despedido há três meses, não dera conta do ócio involuntário à proprietária cinquentona, de cabelos lisos, estirados, escondendo a nuca ainda lisa, resistente à tensão de segurar com uma das mãos a alça dos baldes cheios d´água, puxada com a ajuda da bomba manual nos fundos do quintal.

Mousinho cobriu-se da água esfriada da manhã sem calor. Quando saiu do banho, aliviou-se vendo a cadeira vazia do velho que nunca respondera a seus cumprimentos; a do velho, a do enteado falastrão e a do caçula com o juízo tolhido pelo medo inconfesso. Só Tercia Tiara, ainda recolhendo pratos, talheres, uns restos do cuscuz, e prestes a fazer uso da bomba na beira do poço, na lavação das louças.

Mousinho, com o que recebera da indenização, não deixara de pagar o aluguel. Tércia Tiara, sem contar a pecúnia recebida, recolhia-a ao bolso do vestido, na altura da coxa grossa, do mesmo marrom escuro de seu queixo torneado.

O macacão de uso na fábrica, Mousinho pendurara-o depois de lavado, de espremer com sabão grosso as camadas de óleo e graxa no dia a dia gorduroso na oficina de manutenção da metalúrgica. A secagem no varal dos fundos, beneficiava-se do mesmo calor nas calcinhas de largura plena de Tércia Tiara.

Ele saiu. O macacão ficou para trás, guardando o viço da limpeza e a impropriedade de não voltar a se engordurar de óleo. Foi para a frente da fábrica, ali mesmo, a dois quilômetros da rua onde morava, no meio da população rala da Vila do Pirambu. Pendurada no gradil de ferro, na entrada da fábrica, viu a placa anunciando vagas, sem precisar o ofício; por certo mais um ferramenteiro, com habilidades no fabrico de peças com medidas de precisão. Um milímetro a mais no desbaste do aço bruto, o anúncio de outra vaga seria posto sem pompa, inda que com o cálculo seguro de quem mira o primeiro desempregado do outro lado da rua.

Sentou-se no banco do abrigo da parada de ônibus. Trocou duas palavras com a velha a quem comprara fiado pães, bolachas e doces. A velha cumprimentou-o feliz com os olhinhos miúdos. Ofereceu-lhe café sem nada cobrar, posto que soubera de sua dispensa.

Ao meio-dia, a sirene estrugiu o aviso para o almoço. O chefe da manutenção, sem fazer uso do refeitório, cruzou a rua para subir no ônibus, almoçar em casa.

- Ainda está desempregado? – quis saber de Mousinho.

Viu no desânimo do ex-subordinado, uma presa fácil para entregar à gerência uma captura pouco onerosa à folha de pagamentos.

- Tenho uma vaga para você. Para trabalhar como ajudante de ferramenteiro, e não como ferramenteiro...

Escuta

O domingo é de Cecília Meireles: "Agora compreendo o sentido e a ressonância/que também trazes de tão longe em tua voz." (Foto: Angelo Merendino)

Melhorar para vencer a Colômbia

Vibramos muito com a vitória do Brasil, ontem, sobre o Chile. Uma vitória sofrida, entretanto, que revelou as muitas insuficiências do nosso selecionado. Se no primeiro tempo tivemos chances até de ampliar o placar, no segundo tempo o Chile foi nitidamente superior. Os chilenos exercitaram o que ainda não temos: organização tática, eficiência em suas peças fundamentais, empenho coletivo. O Brasil depende excessivamente de Neymar e é oscilante taticamente. Há momentos em que cede espaços ao adversário no meio campo, tornando-se vulnerável na defesa. Os alas vivem o dilema entre atacar e descobrir as laterais do campo ao contra-ataque do oponente. Talvez por exclusão por cartões amarelos e contusões, o técnico Luís Felipe Scolari faça modificações no time. Que assim seja. E que nos dê condições de superar a Colômbia.

Para continuar mudando o Brasil

PCdoB aprova proposta e ideias para plataforma de governo
No Vermelho www.vermelho.org.br

A Convenção Nacional do PCdoB aprovou, nesta sexta-feira (27), ideias e propostas do Partido para o Programa de Governo da reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Segundo o presidente nacional do Partido, Renato Rabelo, “a bússola do Partido é de plataforma. Isso é fundamental e sempre procuramos contribuir na formulação do programa do governo, deste a primeira eleição de Lula”.

O documento é composto de duas partes, a primeira procura situar as conquistas alcançadas nos quase 12 anos e que devem ser preservadas. A parte principal é a que enumera propostas e ideias para um novo ciclo histórico de desenvolvimento do nosso país. E envolve as reformas estruturais que vão garantir maior democratização do Estado, que ainda tem muitos limites e é antidemocrático em vários aspectos, alerta o presidente do PCdoB.


Leia a íntegra do documento: http://migre.me/kahUl

28 junho 2014

Viva!

Vitória sofrida, viva o povo brasileiro!

Emoção

Somos um povo que não tem vergonha de sorrir nem de chorar. Choremos de alegria com Julio Cesar!

A dois

O sábado é de Vinicius de Moraes: "E você tem que ser a estrela derradeira/Minha amiga e companheira/No infinito de nós dois."

27 junho 2014

Copa bombando

Copa gera 300 milhões de comentários no Twitter em 15 dias, o dobro das Olimpíadas de Londres em 2012, que durou 16 dias.

Campeonato brasileiro precisa melhorar

Copa dos gols deve ensinar nossos "professores"
Ricardo Kotscho, em seu blog

É gritante a diferença entre o futebol ofensivo e cheio de gols a que estamos assistindo neste Mundial e o futebolzinho chato, previsível e burocrático apresentado pelos nossos principais clubes na primeira fase do Brasileirão. Parece até que é um outro esporte.

Agora que gostamos tanto de ver a bola correr com rapidez da defesa para o ataque, com chutes de qualquer distância e lugar, sem aquela irritante troca de passes na defesa e no meio de campo a que já estávamos acostumados, vai ser difícil voltar a ver nossos times jogando para fazer um golzinho e ficar o resto da partida na retranca para garantir o resultado.

Este primeiro dia sem jogo desde o início da Copa no Brasil é um bom momento para que os nossos treinadores façam uma reflexão sobre o abismo entre o futebol praticado aqui, que já foi modelo para o mundo, e o que seleções sem a mesma tradição e talento vieram nos mostrar. Deveriam passar a sexta-feira inteira revendo os grandes jogos, que foram muitos, para descobrir como se busca com rapidez e eficiência o principal objetivo de um jogo de futebol, que é fazer gols, a grande alegria de qualquer torcida em qualquer lugar.

Com 136 gols marcados em 48 jogos, a primeira fase do Mundial mostra a média de 2,83 por partida, a maior já registrada desde a Copa do tri, em 1970, no México. Enquanto isso, a primeira fase do Brasileirão teve a média de gols mais baixa desde que passou a ser disputado por pontos corridos, em 2003:  apenas 2,14.

Talvez seja por isso que Felipão, que passou muito mais tempo trabalhando no exterior do que aqui, depois da conquista do tetra, em 2002, e está antenado nas mudanças táticas e técnicas operadas no futebol mundial, tenha chamado apenas quatro jogadores em atividade no país dos 23 convocados para a disputa do hexa.

Não sei de onde surgiu esta mania dos jogadores nativos de chamarem seus técnicos de "professores". Professores de quê? Técnico é técnico, professor é professor e bola é bola. Não é preciso reinventar a roda nem fazer mídia training e ficar falando difícil para montar um time competitivo que jogue para ganhar e não para não perder, e garantir assim o emprego do treinador. Mano Menezes, por exemplo, esteve dois anos à frente da seleção brasileira, convocou mais de 100 jogadores e nunca conseguiu montar um time.

Ao assumir seu lugar, em poucas semanas Felipão escalou sua seleção, que conquistou a Copa das Confederações e, com mudanças pontuais, está aí até hoje, com grandes chances de conquistar mais uma Copa. Já na reta final do primeiro turno do Brasileirão, os "professores" dos grandes times continuam escalando um time diferente a cada jogo, em busca da "formação ideal". O problema não está apenas em quem escalar, mas na mentalidade reinante na direção de todos os clubes que pagam fortunas para seus técnicos e se curvam diante de suas velhas idiossincrasias _ "o importante é não tomar gol" _ que cada vez mais afastam o público dos estádios e levam nossos melhores craques para fora do país.

Nem se trata de jogar feio ou bonito, dar ou não espetáculo, mas de ter fome de bola, jogar com garra, prazer e vergonha na cara, como têm demonstrado os jogadores desta Copa, incluindo os da seleção de Felipão. Está na hora dos milionários "professores" devolverem a alegria e a ousadia ao futebol brasileiro, soltando suas feras com um esquema tático bem definido antes de entrar em campo, em lugar de ficar gritando e xingando feito celerados à beira do gramado, durante todo o jogo.

Com a seleção erguendo ou não a taça, esta Copa pode ser um divisor de águas no futebol brasileiro. Um bom recomeço seria mandar nossos técnicos mais jovens fazerem um estágio lá fora, dispostos a aprender, deixando de lado as velhas certezas dos "professores", que estão levando os clubes à ruína. Faz muitos anos que são sempre os mesmos, revezando-se nos grandes clubes, incapazes de apresentar qualquer novidade a cada temporada.

Se os dirigentes do futebol brasileiro também são sempre os mesmos, fica difícil sair deste círculo de ferro, mas nunca é tarde.

Até a vitória, rapaziada!

Contraste

Lula e FHC são marcas dois rumos distintos para o País. Por que Lula influencia fortemente o eleitorado e FHC não?

Resquício colonialista

Acrobata genético

Eduardo Bomfim, no Vermelho

Os ataques do técnico holandês contra a Copa Mundial de futebol no Brasil invocando o clima inóspito do País são de uma brutal incoerência, revelam uma nostalgia incontida de outros períodos históricos.

Esse foi o mesmo argumento do tristemente famoso, e racista, diplomata francês conde Joseph Arthur de Gobineau segundo o qual seria impossível vicejar no Brasil qualquer tipo de civilização razoável por dois motivos: o clima inóspito dos trópicos e a mestiçagem do povo brasileiro.

A teoria de Gobineau teve muitos adeptos no mundo e no Brasil, parece que ainda possui alguns, mesmo com disfarces, até porque o conceito da superioridade racial dos povos da Europa Ocidental servia aos propósitos coloniais na época áurea dos grandes impérios.

Impérios como o inglês cujo lema era “onde o sol nunca se põe” que no afã “civilizatório” de impor domínios, saquear riquezas, aportavam em terras bárbaras exércitos, fidalgos, comerciantes, burocratas com o objetivo de garantir a supremacia real.

Assim é que chegou ao Nordeste do Brasil, de clima criticado pela grande mídia, no século 17, outro conde o holandês Maurício de Nassau para liderara Companhia das Índias Ocidentais.

Os holandeses ficaram por aqui enquanto puderam até serem escorraçados na batalha dos Guararapes, PE. Ali surgia o nosso sentimento nativo, dizem os historiadores.

Enfim, é como diz o poema: brigam Espanha e Holanda pelos direitos do mar, o mar é das gaivotas que nele sabem voar.

Os ingleses dominaram todos os continentes, asiático, americano, africano etc. Espanha e Portugal a África, América Latina. Adaptaram-se aos climas como os franceses, além da Itália bem antes de Garibaldi e Anita, brasileira, na luta pela unificação da nação mediterrânea.

A Copa do mundo é êxito de audiência mundial na TV, de público nos estádios, turistas estrangeiros, recorde de gols, hospitalidade brasileira inclusive a primeiros ministros, realezas, presidentes etc. Vista como a Copa das Copas seja quem for o campeão, esperamos que o Brasil.

Já a teoria de Gobineau é desmascarada há muito tempo. Se assim não fosse a única explicação para os jogadores brasileiros que se amoldam ao gélido inverno europeu ou asiático como Daniel Alves, do árido sertão de Juazeiro, Bahia, é que eles seriam incríveis acrobatas genéticos.

Bem querer

A sexta-feira é de Cida Pedrosa: "basta ter nas mãos a carícia/o presente nos olhos/e o amor não demora"

PNE, uma conquista

O Plano Nacional de Educação (PNE) foi sancionado pela presidenta Dilma sem vetos, após tramitar por quase quatro anos no Congresso Nacional. Contém 20 metas a serem cumpridas em dez anos - da educação infantil até o ensino superior, incluindo a gestão e o financiamento do setor e a formação dos profissionais. A meta mínima de investimento em educação é de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) no quinto ano de vigência e de 10% no décimo ano. Atualmente, são investidos 6,4% do PIB, segundo o Ministério da Educação.

26 junho 2014

Coragem, combatividade e astúcia

No campo como na política 

Luciano Siqueira
                

Comparações em geral são frágeis, quando se trata de fenômenos muito distintos, submetidos a uma gama de variáveis próprias. O evolver da situação política em diferentes países, por exemplo, quase sempre envolve elementos de essência que guardam distância de anos luz entre si, a começar da formação histórica, econômica social, cultural de cada um. “Na China é assim, bem que poderia ser aqui também...”, não tem nada a ver.

Entretanto, assumindo a superficialidade própria das paixões futebolísticas e, em certa medida, políticas também, não resisto à analogia entre o que está acontecendo na Copa e o que frequentemente ocorre na luta política. Refiro-me ao espetacular desempenho de selecionados aparentemente frágeis diante de adversários reconhecidamente fortes. Certamente o exemplo mais notável é o da Costa Rica, que concluiu o seu grupo em primeiro lugar, desbancando Itália, Inglaterra e Uruguai. O mais fraco, mercê da unidade de propósitos, organização, capacidade de resistência e sagacidade converteu-se em vencedor, contrariando todas as previsões. Derrubou apostas no mundo inteiro.

Analogia com a política, sim. Vale lembrar a Insurreição Pernambucana, que expulsou os holandeses do Brasil. Nas decisivas Batalhas dos Guararapes, a 10 quilômetros do Recife, em abril de 1848 e em fevereiro de 1849, as forças lideradas por João Fernandes Vieira, Felipe Camarão e André Vidal de Negreiros – condutores de uma frente política e social ampla – foram capazes de derrotar o poderoso exército holandês.

Os nossos, segundo descrevem os historiadores, munidos de armas toscas, inclusive espingardas de caça, atraíram as forças holandesas para terreno acidentado, onde praticaram a guerra de emboscada. O inimigo, cortejado mundo afora por vitórias expressivas alcançadas em guerras em outras plagas, armado com o que havia de mais moderno, era entretanto treinado para a guerra de posição, em terreno plano. Em condições adversas, o mais forte soçobrou diante da inventividade tática e capacidade guerreira do mais fraco.

Claro que o futebol, na forma como se pratica hoje, pelo menos nos grandes centros, move verdadeiro arsenal científico e tecnológico, funde força física e competência tática que torna previsível o resultado de muitas competições. Mas não evita a criatividade humana, que combina força física e ordenamento tático com inventividade e malícia, sobretudo dos sul-americanos e africanos (esses últimos ainda desorganizados no meio do campo e na defesa). As “zebras” muitas vezes não merecem essa denominação, antes devem ser enaltecidas como belos exemplos de superação no campo da luta.

O fato é que esse é um dos muitos traços que compõem o que se tem chamado a Copa das Copas, acentuando o sucesso do megaevento e afirmando a capacidade realizadora do Brasil e o congraçamento com povos do mundo inteiro. (Publicado no portal Vermelho e no Blog de Jamildo)

Política sociais mais fortes

No Vermelho:

Educação e saúde vão receber mais royalties do petróleo

A presidenta Dilma Rousseff disse nesta quarta-feira (25) que a contratação direta da Petrobras para explorar o excedente de petróleo em quatro áreas do pré-sal, anunciada ontem (24), vai elevar a quantidade de recursos em royalties destinados à saúde e educação. Em discurso durante a convenção do PSD, Dilma defendeu valorização da educação e dos professores.

“A boa notícia é que isso significa que teremos mais de R$ 600 bilhões a título de royalties e de excedente em óleo para aplicar em educação e saúde. São 75% em educação e 25% em saúde. A segunda boa notícia é que geralmente você tem de esperar entre cinco e seis anos para começar a exploração. Como essas áreas são contíguas às áreas que a Petrobras tinha obtido em 2010, a empresa vai poder começar explorar imediatamente esse campo imenso”, disse.

Durante o discurso, Dilma voltou a criticar os que estavam pessimistas com a realização da Copa do Mundo no Brasil e diziam que haveria caos nos aeroportos e problemas de falta de infraestrutura. “O Brasil não pode se deixar contaminar pelos profetas do caos. Não levou três dias para o caos desaparecer, para que nós enterrássemos o 'Não Vai Ter Copa'. A Copa está ai e o país está gostando”, disse.

Ao comentar a disputa eleitoral de outubro, Dilma disse que a campanha vai exigir serenidade de candidatos e partidos para evitar provocações. “Essa campanha vai exigir principalmente serenidade para que não aceitemos provocações que buscam rebaixar o nível do debate, acirrar o antagonismo levando o antagonismo a um nível rasteiro”, avaliou.

“Mas uma candidatura que tem muito a mostrar, muitas ideias para discutir, não precisa fazer campanha negativa. Quem precisa é quem não tem projetos, propostas para o país, é quem não tem o que mostrar”, acrescentou.

Fonte: Agência Brasil

Liberdade

Cícero Dias
A quinta-feira é de Thiago de Mello: "Nunca mais será preciso usar/a couraça do silêncio/nem a armadura de palavras."

Verdade versus mentira

Lula desmente coluna de Míriam Leitão

Nesta terça-feira (17), a jornalista Míriam Leitão da TV Globo, do jornal O Globo, da Globonews, da CBN e do portal G1 escreveu em sua coluna que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria, em sua fala de sexta-feira (13), reduzido a importância da educação e do estudo. É importante esclarecer que isso não é verdade e que a jornalista deturpou a fala do ex-presidente com uma interpretação incorreta.
A frase de Lula foi: “Comeram demais, estudaram demais e perderam a educação”, claramente dizendo que anos de estudo não significam, necessariamente, bons modos e respeito, visto que muitas pessoas com recursos se comportaram de forma desrespeitosa e mal-educada ao xingarem a presidenta na abertura da Copa.

O governo Lula investiu mais em educação do que qualquer gestão anterior. O orçamento do Ministério da Educação mais que triplicou: passou de R$ 33 bilhões em 2002 para R$ 104 bilhões em 2013. Lula e seu vice, José Alencar, os dois sem diploma universitário, foram o presidente e o vice-presidente que mais criaram universidades no Brasil: 14 novas universidades. Nos últimos 11 anos, o número de estudantes universitários no Brasil dobrou, subindo de 3,5 milhões em 2003, para mais de 7 milhões em 2013. E o programa Prouni permitiu que 1,5 milhão de jovens sem condições financeiras pudessem estudar e obter um diploma.

No Vermelho Fonte: Instituto Lula

25 junho 2014

L'Humanité

Ao lado do secretário George Braga, recebi em meu gabinete Chistophe Deroubaix, corresponde do jornal francês L'Humanité, que acompanha a Copa do Mundo no Brasil.

Incoerência

Impressiona muito como destacados comentaristas e repórteres de todas as áreas, que anunciavam o fracasso da Copa – que seria verdadeiro caos, segundo eles – agora enaltecem cada detalhe do que ocorre dentro e fora do campo, sem nenhum sentido autocrítico. Por dever de ofício e pelo compromisso de bem informar, valeria o reconhecimento autocrítico de que estavam errados. Mas isso não farão jamais. A informação deu lugar à propaganda política há muito tempo.

Tempo

A quarta-feira é de Dante Milano: "O tempo se desfaz em cinza fria,/E da ampulheta milenar do sol/Escorre em poeira a luz de mais um dia." (Foto: LS)

A frustração dos que torcem pelo fracasso

A Copa e o desespero dos abutres 

Por Bepe Damasco, em seu blog

Nenhum reboco caiu na cabeça dos torcedores nos estádios, nos quais prevalece o clima de congraçamento e festa. Torcedores de todos os países são bem tratados pela população brasileira. O transporte público tem permitido que milhares de pessoas acessem as arenas sem atropelos. Em alguns estados, novas vias inauguradas facilitam a ida e a volta dos jogos. Nos aeroportos, turistas embarcam e desembarcam com
tranquilidade. No campo, temos uma Copa do Mundo de média alta de gols, nível técnico elevado e jogos emocionantes, alguns até épicos como Holanda 5 x 1 Espanha. Cadê as manifestações que inviabilizariam a Copa ?

O cenário é diametralmente oposto ao pintado ao longo de sete anos pela mídia cretina e partidarizada brasileira. Massacraram as pessoas o tempo inteiro supervalorizando cada parte dos estádios não concluída, mesmo sabendo que as obras ficariam prontas a tempo. Inventaram essa bobagem de caos aéreo, ignorando que os aeroportos estavam sendo modernizados e que uma força-tarefa reunindo vários órgãos públicos trabalhava dia noite para impedir problemas graves no transporte aéreo.

Mas os profetas do apocalipse só tinham olhos para o que não ficou pronto a tempo (como se algo entregue depois da Copa fosse crime de lesa-pátria) e para sistemas de ar condicionado que eventualmente entravam em pane. E sempre usando o bordão imbecilizado "imagina na Copa."

Fico pensando na cara de tacho dos apresentadores de uma programa que vai ao ar todas as noites na Rádio CBN, um tal de "Quatro em campo". Se fosse possível cronometrar o tempo que esses jornalistas gastaram atacando a realização da Copa, chegaríamos a mais da metade do programa, que dura uma hora. Isso todos os dias.

Exibindo um complexo de vira-latas incurável, se fartaram de dizer que o Brasil fora extremamente irresponsável ao se candidatar a sediar a Copa sem ter as mínimas condições para isso. E viviam a bradar o não cumprimento da matriz de responsabilidades, sempre na linha de criminalizar a atividade política, como se o monopólio da mídia fosse um poço de virtudes.

E o que farão agora os jornalistas do "Quatro em campo" ? Nada, rigorosamente nada. Assim como toda a nossa velha mídia, não serão capazes sequer de ensaiar uma autocrítica, por mais tímida que seja. Vida que segue. Aposto que vão se comportar como se nunca tivessem se pronunciado contra a Copa. Haja cinismo.

Esse é o comportamento padrão da imprensa. Foi assim com apagão que não houve. Com a inflação que não estourou a meta. Com as contas públicas que não inviabilizaram as finanças do país. Com o Bolsa Família que não gerou acomodação e preguiça. Com a valorização do salário mínimo que não arruinou a economia do país. Com o Programa Mais Médicos que não exportou a revolução cubana.

Voltando à Copa, claro que problemas pontuais ocorrem e ocorrerão, o que é absolutamente natural numa competição dessa envergadura. Nada, porém, capaz de empanar o brilho da festa. Contudo, não custa ficar de olhos de bem abertos para a possibilidade de atos de sabotagem por parte dos inconformados com o sucesso do evento, como alerta o Eduardo Guimarães, no blog da Cidadania. Não podemos esquecer que o ambiente de ódio e intolerância disseminado pela mídia é terreno fértil para a ação de descerebrados.

24 junho 2014

Questão crucial para o desenvolvimento

Ciência e carreira docente nas Universidades públicas

José Luis Simões, no site da Adufepe

Inicialmente, entendo que a discussão e aprofundamento da temática que trata este artigo é fulcral para o desenvolvimento tecnológico e sustentável do Brasil. É essencial fortalecer a política de formação de quadros altamente qualificados para novas formas de trabalho, assim como para o progresso da Ciência e da Tecnologia. 

Todos os indicadores mostram que houve, tanto no Magistério Superior quanto no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT), evolução da titulação docente ao longo dos últimos anos. Ampliou-se o sistema de fomento do CNPQ e da CAPES, todavia, novos desafios se apresentam para o sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Vejamos o perfil atual do professor universitário nas instituições federais: em sua maioria, atuam no regime de dedicação exclusiva (87,44%, 61. 870 docentes), destes, 73 % são doutores e 23% mestres.

Apesar dessa evolução e do empenho de nossos pesquisadores, é preciso reconhecer que a produção científica no Brasil ainda está muito aquém do ideal. Para uma mudança nesse cenário se faz fundamental, além de fortalecer as políticas de Ciência & Tecnologia, políticas de incentivo para recém-formados e a Educação Básica ser assumida como prioridade de Estado.

O governo deve à sociedade brasileira uma política de Ciência e Tecnologia consistente, que tenha clareza e regularidade no financiamento. A respeito da carreira docente, rememoro a recente luta da greve nas universidades federais em 2012 e a importância de pleitear uma carreira que ofereça condições de mobilidade e ascensão ao docente. O projeto de carreira do movimento docente se baseia na experiência acadêmica, na formação e no regime de trabalho, priorizando sempre a contratação de novos docentes em dedicação exclusiva.

Muitos docentes já tiveram a experiência de ter suas propostas de projetos negados pelo CNPQ, e não sabem quais os critérios dessa rejeição. A transparência nos processos de seleção de projetos com financiamento público é fundamental.

É preciso também ampliar o debate sobre a atuação do CNPQ e CAPES. Dados recentes da distribuição de bolsas das Cátedras da Educação mostram que, embora os maiores desafios educacionais do Brasil estejam no norte e nordeste, 87% das bolsas estão concentradas no sul e no sudeste. Isso é evidência de desigualdade regional, financiada pelo Estado.

Precisamos ter um trabalho mais intenso nos órgãos de fomento para mudar essa realidade. É urgente uma política efetiva de distribuição e atendimento aos pesquisadores. Assim, é necessário rediscutir a existência dos comitês assessores que julgam quem deve e quem não deve ter sua pesquisa financiada. É preciso, ainda, fortalecer os grupos de pesquisa e definir outros parâmetros de inserção da produção acadêmica.

Com melhor orçamento, maior rigor, transparência e igualdade na distribuição dos recursos a ciência avançará muito no Brasil. É o que todos nós, pesquisadores, desejamos; e é o que o país precisa.

José Luis Simões, doutor em Educação, professor no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE e presidente da ADUFEPE (Associação dos Docentes da UFPE).

Olhos nos olhos

Tereza Costa Rego
A terça-feira é de Vinicius de Moraes: "Ó minha amada/Que olhos os teus/Quanto mistério/Nos olhos teus" 

23 junho 2014

Cobertura expressiva

Programa Saúde Não Tem Preço (medicamentos gratuitos contra hipertensão, diabetes e asma) já atendeu a quase 20 milhões de pessoas desde 2011 em 4,1 mil municípios.

Questão crucial da afirmação nacional

A luta ideológica na construção de políticas públicas em educação

Madalena Guasco, no Vermelho

Os estudos de política educacional tendem a tomar três formas: a de desenvolvimento de modelos analíticos através dos quais as políticas podem ser analisadas e interpretadas; a análise de um conjunto de questões relacionadas às políticas; e a análise crítica de políticas específicas. No Brasil, a pesquisa sobre políticas educacionais vem se configurando como um campo distinto de investigação em educação e vem buscando sua consolidação.

Quem, além de estudar, atua concretamente no espaço político a fim de tornar possível a construção de políticas públicas, através do acompanhamento desde sua concepção até a forma que vão tomando na medida em que a tramitação se desenvolve, tem a possibilidade de, além de buscar desvelar os modelos analíticos que podem tornar as polícias públicas em educação compreendidas, ter o olhar privilegiado de observar na prática como os diferentes grupos políticos e ideológicos atuam para tornar dominantes os seus interesses e concepções; ou seja, é capaz de fazer a análise crítica de políticas específicas.

Ter a oportunidade de acompanhar de perto o posicionamento ideológico em ação coloca o pesquisador num locus privilegiado, mas nem sempre valorizado pela academia, a qual, impregnada pelo discurso que desassocia a teoria da prática, tem ficado alheia aos acontecimentos concretos da política em geral e educacional em particular.

Nos momentos de tramitação de leis de Estado na educação, as correntes, além da ação concreta no Parlamento através de vários instrumentos de intervenção, desenvolvem os argumentos que sustentam sua visão de sociedade e de educação.

Os liberais, hoje neoliberais, colocam-se contra a universalização da educação pública e gratuita em todos os níveis e fazem isso alicerçados no argumento de que a universalização da educação a torna incompetente.

A universalização do acesso para todos de forma igual, é, segundo eles, antinatural na medida em que premia igualmente perdedores e ganhadores. Para eles, a gratuidade é um outro fator que desvaloriza a educação oferecida pela rede pública no Brasil, uma vez que, por ser gratuita, impede igualmente a concorrência, que deveria ser incentivada como fator salutar para a melhoria da qualidade.

Segundo os liberais, o Estado deveria oferecer uma bolsa aos pais ou responsáveis e estes buscariam a escola que melhor atendesse os seus filhos; assim, as escolas procurariam ser atraentes para esses pais e, portanto, estariam impulsionadas a melhorar a sua qualidade.
Portanto, a universalização e a defesa da escola pública e gratuita é, nessa ótica dos liberais, a defesa da escola incompetente, uma vez que a “livre concorrência” seria lei natural que movimenta a sociedade e o desenvolvimento dos homens e também lei que deveria impulsionar a educação e a escola.

Para eles, o Estado, sendo incompetente para administrar (uma vez que, no campo dos direitos, ele tende a se tornar paternalista e corporativista), deveria se retirar do campo da educação, deixando a tarefa administrativa e de gestão para o setor privado, o qual possui concepção de gestão empresarial e competente da escola pública. Somente assim esta melhoraria sua qualidade, deixando de ser gratuita para ser competitiva, e funcionaria através de bolsas provenientes do Estado, que não mais se preocuparia com a carreira docente, a infraestrutura etc.

Por esses motivos os liberais são privatistas: porque defendem a educação privada e a privatização da educação pública. Juntam-se, pois, aos interesses dos empresários de educação e ao capital financeiro que atuam na educação brasileira. Nas batalhas de construção das políticas públicas, juntam-se também aos que defendem a gestão privada da escola pública e a consolidação permanente da relação público-privada, colocando nas mãos da rede privada a responsabilidade social de oferecer educação. Esse grupo não defende a associação público-privada como emergencial, uma vez que o setor público tem ainda dificuldades para assumir a demanda educacional, mas sim como permanente, alegando ser mais competente e mais econômico para o Estado. Uma nova forma de defesa dos interesses privados na educação e que atua contra a consolidação de um Sistema Nacional Público de educação para todos (as) no Brasil..

Já se fala no parlamento da criação de um “ProUni” para a educação básica e também reiteradamente da criação dos Voucher para a educação pública.

Para esses grupos, a avaliação da competência deve servir como motor de desenvolvimento da educação e, ao mesmo tempo, impulsionar a concorrência entre as escolas. Por esse motivo defendem a meritocracia como forma de impulsionar a educação, premiando os professores que atuam nas instituições cujos índices do Ideb aumentaram e punindo as escolas e os professores que apresentam maiores dificuldades.

No PNE, que aguarda a sanção presidencial, tais grupos foram vitoriosos ao incluírem a estratégia 7.36, a qual condiciona o repasse de verbas para as escolas púbicas à nota que cada uma delas obteve no Ideb. E o que é pior: a estratégia também orienta a política de bonificação do magistério pelas notas dos estudantes no Ideb, sem levar em consideração as desigualdades dos sistemas educacionais e os diferentes condicionadores da qualidade da educação, que não pode ser avaliada de forma tão simplista e, além disso, por um índice estatístico que em nada melhora a educação e a qualidade da escola.

A política de universalização só pode dar certo se for acompanhada por mudanças positivas e concretas na escola, melhorando o contrato dos professores e seus salários para que possam se dedicar a uma única instituição de ensino, diminuindo o número de alunos por professor e tornando a escola e o currículo mais atraentes, através da autonomia escolar e do fortalecimento da elaboração de projetos políticos pedagógicos que contem com a participação democrática e efetiva de todos.

Não serão a privatização da escola púbica ou a meritocracia que melhorarão a qualidade da escola. O modelo chileno de privatização está aí para provar isso.

Vida

A segunda-feira é de Eliana Ada Gasparini: "Chove e mata a sede do mundo/deixa o bicho e a flor/úmidos de amor." (Foto: LS)

A palavra instigante de Jomard

Montez Magno
BRICOLAGEM de ATENTADOS
Jomard Muniz de Britto, jmb

Como se fosse possível. Comer em faíscas.
Se a historicidade do maio/68 explodiu o mundo
no entrelugar das barricadas e panfletos,
como dialogar com as contemporâneas e
interligadas gerações XYZ ao infinito?
O balanço das REDES nos ACORDANDO para
outro vasto, virtual, visionário e presentíssimo.
Poderes cristalizados padecem de insônia.
E não gostam de sonhos e utopias.
Sejamos então pragmáticos diante da pressa
e depressões mercadológicas?
Pela crise das perguntas e até mesmo
das aliterações de A para Z.
Alterar pensamentos. Zerar o medo e o Mal.
Se a realidade das margens nos remete
às impossibilidades do REAL, da fome mais
febril e da estupidez da morte,
O QUE FAZER sem culpas nem comodismos?
A estética da miséria terceiro mundista ainda
assalta e nos perturba audiovisualmente?
É proibido perguntar, além da estética da fome,
pela transfiguração do sonho?
Nosso século XXI continua mais do que abalado
com o era o dito. Erudição que pode ser desdita
e talvez maldita por boçal e bandido separatismo
in-te-le-c-tu-a-lis-ta?
Precisamos retornar ao LER MUITO PRAZER.
Sem fugir dos fantasmas culturalistas.
As REDES SOCIAIS podem ser mediações:
ver, pensar, desejar, discutir, problematizar.
Experimentar com vontade: mais do que
opiniões apenas impressionistas.
Encarar discursos, poéticas, retóricas,
com todos os questionamentos.
Tudo, quase sempre no singular do plural.
Não ficar confinado no computador.
Ler em voz alta. Escrever manuscritos.
Palavras gerando palavras que possam
argumentar e dialogar: PALAVRAÇÕES.
NOSSOS OSSOS sem o véu das mistificações.
Marcelino Freire escrevivendo coisas abaladas.
Confronto de idéias, desejos, interesses.
Dos intermináveis escravismos aos
desenvolvimentismos TRANScapitalistas.
Aos leitores todas as expectativas de
democratização em luta com todos,
de todas as classes e horizontes do saber.


Recife, junho de 2014.

22 junho 2014

Duas faces

A vaia deu errado. A Copa está da do certo. Viva o povo brasileiro!

Dilma convoca o povo para a grande batalha

Mais mudança, mais futuro

O discurso de Dilma na Convenção Nacional do PT

Companheiras e companheiros,

Agradeço, do fundo do meu coração, mais esta prova de confiança.

Estou com a alma tomada da mais profunda gratidão e alegria.

Quero transformar, mais uma vez, este sentimento em compromisso - e também em convocação.

Por isso, digo:

É hora de seguir em frente, companheiras!

É hora de fazer mais mudanças, companheiros!

É hora de construir mais futuro, queridos militantes e queridas militantes!

É hora de ampliarmos a extraordinária transformação pacífica que estamos fazendo há mais de uma década!

Quatro anos atrás, eu disse em uma convenção igual a esta:

"Lula mudou o Brasil e o Brasil quer continuar mudando. A continuidade que o Brasil deseja é a continuidade da mudança."

No meu discurso de posse, eu disse:

“Temos um desafio enorme porque o país é outro, porque mudou de patamar, e todo povo que muda de patamar quer mais e melhor. Não quer e não pode retroceder”.
Hoje, estas palavras continuam bem atuais.

Elas demonstram visão estratégica e trazem uma forte sensação de dever cumprido.
O Brasil quer seguir mudando pelas mãos dos que já provaram capacidade de transformar profundamente o País e melhorar a vida de nosso povo.

Nós - o PT e os partidos aliados - tivemos competência de implantar, nos últimos 11 anos, o mais amplo e vigoroso processo de mudança da história do país.

Que, pela primeira vez, colocou o povo como protagonista;

Que retirou 36 milhões de brasileiros da miséria;

Que levou 42 milhões para a classe média;

Que fez, em pouco mais de uma década, a maior redução da desigualdade social de nossa história.

E isso não pode parar.

Companheiros e companheiras,

Quero conversar com vocês sobre as grandes batalhas que vamos enfrentar.

Se na eleição do presidente Lula a esperança venceu o medo, nessa eleição a verdade deve vencer a mentira e a desinformação; o nosso projeto de futuro deve vencer aqueles cuja proposta é retornar ao passado.

Presidente Lula: quando há 12 anos, você assumiu a presidência, o Brasil era um.
Quando a deixou, o Brasil era outro, completamente diferente e muito melhor. De fato, a esperança tinha, em definitivo, vencido o medo.

Quando eu assumi o governo, o mundo era um. Pouco tempo depois, o mundo era outro.

A verdade é que a crise econômica e financeira internacional ameaçou não apenas a estabilidade das maiores economias do mundo, mas boa parte do sistema político e econômico mundiais, ao aumentar o desemprego, abolir direitos e semear a desesperança.

Porém, o Brasil, dessa vez não se rendeu, não se abateu, nem se ajoelhou!

O Brasil soube defender, como poucos, o mais importante: o emprego e o salário do trabalhador – e foi o País que melhor venceu esta batalha!

Antes dos nossos governos, o Brasil se defendia das crises arrochando os salários dos trabalhadores, aumentando as taxas de juros a níveis estratosféricos, aumentando o desemprego, diminuindo o crescimento, vendendo patrimônio público.

Com essa política desastrosa alienavam o futuro do País!

A partir de nós, não.

Pela primeira vez em nossa história, o trabalhador não pagou o preço da crise.

Enquanto, no resto do mundo, a crise devorou, desde 2008, 60 milhões de empregos, aqui foram criados 11 milhões de postos de trabalho com carteira assinada.

Mantivemos a política de valorização do salário mínimo e reajustamos o benefício do Bolsa Família sempre acima da inflação.

Fomos o país que mais venceu a luta contra a miséria.

O que consolidou o maior programa de habitação popular e o que está realizando algumas das maiores obras de infraestrutura do mundo.

O país que, fortalecendo a Petrobrás, descobriu o pré-sal e criou o modelo de partilha.

Este novo Brasil conseguiu implantar o maior programa de educação profissional de nossa história.

Conseguiu ampliar as oportunidades para as mulheres, os jovens e os negros;

Levar o Mais Médicos a 3.800 municípios;

Melhorar a qualidade do ensino em todos os níveis;

E acelerar os avanços de nossa infraestrutura econômica e social.

Conseguimos fazer isto porque nunca esquecemos os nossos compromissos mais profundos.

Sempre que as dificuldades aumentavam e o governo recebia pressões de todos os lados, eu repetia para mim mesma:

Eu não fui eleita para trair a confiança do meu povo, nem para arrochar salário de trabalhador!

Eu não fui eleita para vender patrimônio público, mendigar dinheiro ao FMI, e colocar, de novo, o país de joelhos, como fizeram!

Eu fui eleita, sim, para governar de pé e com a cabeça erguida!

Companheiras e Companheiros,

Fizemos muito, mas precisamos fazer muito mais, porque as necessidades do povo ainda são grandes.

Por mais que a nossa década tenha vencido o legado perverso das décadas perdidas que herdamos, ela não poderia ter resolvido problemas que se arrastam há séculos.

O povo quer mais e melhor - e nós também.

Temos, agora, uma oportunidade rara na história: criamos as condições para defender os grandes resultados de um ciclo extraordinário e, ao mesmo tempo, temos força para anunciar o nascimento de um novo ciclo de desenvolvimento.

Este novo ciclo manterá os dois pilares básicos do nosso modelo - a solidez econômica e a amplitude das políticas sociais - e trará avanços ainda maiores na melhoria da infra-estrutura e dos serviços públicos, na qualidade do emprego, no desenvolvimento tecnológico e no aumento da produtividade da nossa economia.

Este novo ciclo fará o ingresso decisivo do Brasil na sociedade do conhecimento, cujo pilar básico é uma transformação na qualidade da educação.

E não adianta ficar dando voltas: a transformação da educação só se consolida com a valorização plena e real do professor - com melhores salários e melhor formação.

Já começamos a fazer isso e vamos acelerar muito mais quando ingressarem os 75% dos royalties do petróleo e os 50% do excedente em óleo do pré-sal. Todos destinados à educação.
Companheiros e companheiras,

Nos últimos onze anos, o país testemunhou o maior crescimento do emprego, a maior valorização do salário e a maior distribuição de renda da sua história.

O salário do trabalhador cresceu 70% acima da inflação e geramos mais de 20 milhões de novos empregos com carteira assinada.

Foi também o mais longo período de inflação baixa da história brasileira.

No novo ciclo que vamos construir é necessário consolidar e aprofundar ainda mais estas conquistas.

Um avanço decisivo será melhorar a qualidade do emprego.

Isso pressupõe melhor ensino técnico e formação profissional, inovação e desenvolvimento tecnológico. A conseqüência será um forte aumento da produtividade da nossa economia.

Para melhorar a formação profissional dos brasileiros, implantei o Pronatec: o maior programa de ensino técnico e qualificação de nossa história.

Demos, também, continuidade a obra extraordinária de Lula, consolidando o Enem, ampliando o Prouni e o Fies, criando novas universidades e escolas técnicas.

Implantei a política de cotas para as escolas públicas e o Ciência sem Fronteiras, o maior programa de bolsas de estudos no exterior de nossa história.

O Pronatec já tem 7,4 milhões de matrículas.

Um feito e tanto que não vai parar por aí!

Na quarta-feira passada, lançamos o Pronatec-2 que, a partir de 2015, vai ampliar para 12 milhões estas vagas, distribuídas em 220 cursos técnicos e 646 cursos de qualificação, todos gratuitos.

Em 2018, teremos formado 20 milhões de brasileiros e brasileiras.

Companheiros e companheiras,

São tão amplos os desafios, as propostas e as tarefas que temos, que é mais apropriado chamar o que nos propomos construir de "novo ciclo histórico" - e não apenas de "novo ciclo de desenvolvimento" -, o que nos propomos construir, junto com o povo brasileiro.

Este ciclo pressupõe uma transformação educacional, uma revolução tecnológica e uma revolução no acesso digital. E, ao mesmo tempo, uma reforma dos serviços públicos, uma reforma urbana, uma reforma política e uma reforma federativa.

Este novo ciclo histórico já está sendo gestado, em parte, pelos programas e projetos que estão em andamento, como o PAC, o Minha Casa, Minha Vida, o Pronatec, o Ciência sem Fronteira e os grandes investimentos em infraestrutura.

O Minha Casa, Minha Vida é, na verdade, um vigoroso pilar do grande plano de reforma urbana que já começamos a implantar.

Como também o são os vultosos projetos de mobilidade em execução nas principais cidades brasileiras, que somam recursos de 143 bilhões de reais.

Junto com todos os investimentos em saneamento básico e acesso ao abastecimento de água.

Durante a campanha, teremos condições de debater e aprofundar, com a sociedade brasileira, o Plano de Transformação Nacional, e todo seu conjunto de reformas que produzirá um novo salto de desenvolvimento para o Brasil.

Uma peça importante do plano é o programa Brasil Sem Burocracia. Nenhum país do mundo acedeu ao desenvolvimento sem romper as amarras da burocracia.

Para avançarmos, é necessário tornar o Estado brasileiro, não um estado mínimo, mas um Estado eficiente, transparente e moderno.

Outro programa decisivo é o Banda Larga para Todos, com o qual vamos promover a universalização do acesso de todos os brasileiros a um serviço de internet barato, rápido e seguro.

O programa pressupõe tanto a expansão da infra-estrutura de fibras óticas e equipamentos de última geração, como o uso da Internet como ferramenta de educação, lazer e instrumento de participação popular, em especial nas decisões do governo.

A reforma urbana que imaginamos engloba não apenas a rediscussão do uso do espaço urbano - e a melhoria da oferta da casa própria e do saneamento básico - mas também transformações decisivas na mobilidade, no transporte público e na segurança.

Já a reforma dos serviços públicos dará uma atenção especial à melhoria da qualidade da saúde.

Fizemos o Samu, as Upas, os medicamentos gratuitos do Aqui Tem Farmácia Popular, a Rede Cegonha e o Mais Médicos, um programa estratégico que fortalece o SUS e, portanto, a atenção básica de saúde .

Temos nos esforçado muito, mas os serviços de saúde precisam sofrer, ainda, uma transformação mais profunda para ficar a altura das necessidades dos brasileiros.
Companheiras e companheiros,

Um Plano de Transformação Nacional desta envergadura, só pode se concretizar com uma ampla reforma, capaz de redefinir os papéis dos entes federados.

Não é por acaso que alguns dos serviços públicos que apresentam mais deficiência são os que têm interface entre os governos federal, estaduais e municipais.

É preciso reestudar e redefinir novos papéis e novas funções para os entes federados, porque a complexidade crescente dos nossos problemas exige esta mudança.

É importante que a redefinição do pacto federativo integre o âmbito da grande reforma política que o Brasil necessita.

Esta reforma é fundamental para melhorar a qualidade da política e da gestão pública.

A transformação social produzida por nossos governos criou as bases para a promoção de uma grande transformação democrática e política no Brasil.

Nossa missão, agora, é dar vida a esta transformação democrática e política, sem interromper, jamais, a marcha da grande transformação social em curso.

Não vejo outro caminho para concretizar a reforma política do que a participação popular, mobilizando todos os setores da sociedade por meio de um Plebiscito.

Companheiros e companheiras,

Nosso Plano de Transformação Nacional será a ampliação do grande conjunto de mudanças que estamos realizando, junto com o povo brasileiro.

Significa mais oportunidades para os brasileiros no nosso território e mais oportunidades para o Brasil no mundo.

Oportunidade tem sido nossa palavra-chave.

Antes do PT e dos partidos aliados chegarem ao poder, as oportunidades para um brasileiro subir e crescer na vida eram poucas, quase nulas.

Hoje são muitas!

Vamos continuar transformando o Brasil em um país de oportunidades para todos, em especial para os grupos majoritários historicamente marginalizados: as mulheres, os negros e os jovens.

Como mulher - e primeira presidenta - sei que a igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um princípio essencial da democracia e um poderoso estímulo ao progresso de uma nação.

Sei, que nesta tarefa de continuar mudando o Brasil, conto com o apoio insuperável desta combativa militância do PT, e de todos os nossos partidos aliados.

É uma sorte e um privilégio contar com vocês!

É uma sorte e um privilégio ter um vice da estatura de Michel Temer - um estadista e um companheiro de todas as horas.

Sou, hoje, uma governante ainda mais madura e disposta a enfrentar desafios.
Pronta para ouvir e propor novas idéias.

Tive o desafio de suceder uma lenda viva.

Um gigante que em muitas áreas fez mais, em 8 anos, do que outros governos em 80.
Eu preciso de mais quatro anos para poder completar uma obra à altura dos sonhos e desafios do Brasil.

Para fazer isso, preciso do apoio dos brasileiros e, especialmente, desta grande militância.
Precisamos ir às ruas explicar o que fizemos e o que podemos fazer.

Precisamos ter uma conversa toda especial com os mais jovens, pois eles não puderam testemunhar todo processo de transformação que o Brasil passou nos últimos onze anos.

A campanha é para isso: para lembrar o passado e, antes de tudo, explicar o futuro.

Mas a nossa campanha tem que ser uma festa de paz.

Eu nunca fiz política com ódio.

Mesmo quando tentaram me destruir física e emocionalmente, por meio de violências físicas indizíveis, eu continuei amando o meu país e nunca guardei ódio dos meus algozes. Por isso vencemos a luta pela democracia.

Eu sou como o povo brasileiro.

Não tenho rancor, mas não abaixo a cabeça. Não insulto, mas não me dobro. Não agrido, mas não fico de joelhos para ninguém.

Não perco meu tempo odiando meus adversários porque tenho um país para governar, um povo para representar, um modelo de emancipação popular para executar e proteger dos que tentam bloqueá-lo.

A nossa campanha precisa ser, antes de tudo, uma festa de alto astral.

Abaixo a mediocridade! Abaixo o pessimismo e o baixo astral!

As grandes vitórias brasileiras são construídas com o fermento da alegria e do otimismo.

Vejam como a Copa está dando uma goleada descomunal nos pessimistas.

Sonhemos, companheiras e companheiros!

Sonhemos sonhos heróicos e sem limites.

Antes de tudo, amemos o Brasil e nossos compatriotas, com toda a força do coração.

Não deixemos o ódio prosperar em nossas almas.

Recolhamos as pedras que atiram contra nós e as transformemos em tijolos para fazer mais casas do Minha Casa, Minha Vida.

Recolhamos os panfletos apócrifos, com falsas denúncias, e os transformemos em cartilhas e material pedagógico para assegurar educação de qualidade para nosso povo.

Recolhamos os impropérios e as grosserias e os transformemos em versos de canções de esperança no futuro do Brasil.

Com a força do povo, venceremos de novo. Viva o Brasil! Viva o Povo Brasileiro.

Da redação do Vermelho, com  agências

Esquina

Geraldo de Barros
O domingo é de Nilson Vellazquez: "É a mesma paisagem por que passo/da curva que outrora fiz/gritos repetem o compasso/na esquina da cicatriz"

Céu de brigadeiro

Na primeira semana da Copa, 3,7 milhões de pessoas se deslocaram de avião pelos 20 principais aeroportos do Brasil. Sem problemas.

21 junho 2014

Copa afirma Estado nacional

Novo marco civilizatório

Eduardo Bomfim, no Vermelho

A Copa Mundial de futebol além de uma iniciativa do governo Dilma é uma reafirmação de protagonismo da sociedade brasileira, do Estado nacional, daí a contrariedade da parte de certas potências hegemônicas.

A doutrina dos dez pontos da “insurgência pacífica” do cientista social Gene Sharp, tido como novo teórico da CIA, aplicada em vários lugares do mundo tem sido claramente utilizada no País.

Partindo de contradições efetivas nas sociedades, não há nações que não as tenham, essa nova forma de intervenção em assuntos internos dos Países busca situações limites, como um nervo exposto de um dente, procurando acuar os governos ou mesmo derrubá-los.

Apoiada pelos interesses geopolíticos norte-americanos, que subsidiam o complexo midiático mundial sob sua orientação, incluindo o cibernético, a “insurgência pacífica” alastra-se por onde interessa à política externa estadunidense ou nas regiões em que esteja sendo contestada.

Mas no cenário mundial são graves as dificuldades por que passa o establishment erguido com o objetivo de impor dois vetores fundamentais: o capital especulativo global e a hegemonia dos EUA.

A emergência dos BRICS é certamente um dos pontos nodais na inflexão da Nova Ordem que avança ao estágio da senilidade.

Porém existem outras nações com peso regional, aspirações econômicas, importância estratégica, conflitadas com essa geopolítica mundial unilateral.

A alta dos preços do petróleo, a novíssima Guerra do Iraque das forças extremistas armadas do Estado Islâmico e do Levante que deflagram violenta ofensiva contra o regime pró-americano faz com que os EUA busquem inusitado apoio do Irã nesse conflito na região. Um cenário inflamável.

A crise financeira que varre a Europa, os EUA, a sinuca de bico dos Estados Unidos na Ucrânia, as labaredas consumindo o Oriente Médio, a África sob agressões externas são faces dantescas dessa realidade.

Já o Brasil realiza com êxito, até aqui, evento esportivo global. Mais de 1 bilhão de telespectadores, 600 mil turistas, com a consigna da amizade entre os povos. Na América do Sul, a paz está à vista na Colômbia. Enfim, um continente com muitos problemas a superar mas sem guerras.

Continuemos assim, protagonistas da luta pelo progresso econômico, social por um novo marco civilizatório para a humanidade.

A vida do jeito que é

Inundação

Marco Albertim, no Vermelho

O ramo de papoulas, tão viçoso quanto a gameleira que lhe dava sombra, por certo ouviu o gemido da caminhonete que estacionara na orla da floresta. A gameleira nem tanto, visto que as centenas de cepos sustentando a enorme copa, davam conta de uma rochosa adesão ao chão duro de raízes, e assim mesmo pronto para novas semeaduras. O Fargo, tão exausto quanto a corcunda de Antônio Melício, estacionara soltando guinchos entre as fendas em retângulo, de um lado e de outro da capota do motor.

 - Desce todo mundo! - ordenou Antônio Melício, depois de apear do estribo ao lado do volante.

Fabrícia dos Santos também tinha um arco nas costas, àquela altura tão redondo que os peitos não careciam de sutiã para dar apoio aos mamilos mirrados. A filha já passara dos vinte e cinco anos. A prenhez dos primeiros meses, em vez de entesar o busto, arqueara mais ainda o costado escasso. Fosse pela prenhez ou pela ausência do parelho que fugira para não ter que casar, certo é que Augusta dos Santos tinha o rosto de um branco vincado de cima a baixo, com manchas marrons, feito sinais imprecisos.

Da carroceria de madeira, Feliciano, o filho mais velho, foi o primeiro a descer para ajudar o casal mais novo de irmãos, com doze e treze anos, feições anêmicas, acentuada dependência do pai e da mãe nos modos, por conta do parto temporão.

Toda a família se abrigou sob a gameleira. As crianças, vendo os pais atentos às águas desrepresadas da barragem, agarraram-se aos cepos cujo diâmetro cabia em suas mãos. O ramo de papoulas fora poupado dos passos e pés desengonçados dos seis. E a chuva vinda da infinitude plúmbea acima da copa da gameleira, inda que fina, guinchava chorosa e vingativa, feito as águas soltas da barragem.

O vale abaixo, independente das estações, cobria-se todo ano da vegetação fechada do mato, da floresta com gameleiras com mais de vinte metros de altura. Entre as duas orlas do matagal, a estrada de piçarra vermelha deixava-se ondular conforme os cortes onde a vegetação se mostrara menos inóspita. Abaixo, de onde viera a família de Antônio Melício, Petrolândia fora evacuada para dar lugar ao curso ininterrupto das águas da Barragem de Itaparica. Os seis viviam do que podiam roçar num hectare de terra, a pouco mais de cinco quilômetros de Petrolândia. A terra fora arrendada, não lhes pertencera. O dono, com a escritura, fácil obteve empréstimo no banco para a compra de outra casa, em Petrolina; casa pequena, inda que com acomodação bastante para uma família com recursos médios. Antônio Melício, sem posses nem outros recursos, sequer foi a um banco, nunca trocara palavra com algum gerente. Petrolina, distando 250 quilômetros dali, em linha reta, e 360 numa viagem de quase cinco horas. Também não conseguira se inscrever na lista do governo para se tornar morador de uma casa em Nova Petrolândia.

- A água já ocupou a rua da feira. O armazém de Miguel, a barbearia de Felinto Broca, até a casa do padre Aroucha, tudo foi invadido pela água.

Antônio Felício saíra do hectare onde plantara inhames e feijões, sem acreditar que também as covas onde deixara as manivas para a mandioca, seriam cobertas pelas águas.

O curso das águas, lento, só às cinco da tarde mostrou a superfície barrenta, gelatinosa, em torno da torre da igreja. A cimeira da cruz parecendo uma bênção divina a quem se deixara se despossuir dos bens já velhos, por isso mesmo entranhados na memória de cada um.

Ninguém chorou, a não ser Augusta dos Santos cuja palidez do rosto úmido da chuva, não se alumiou quando o pai disse que em Tacaratu, a quinze quilômetros dali, ela podia parir o filho do pai sumido.

- Queria que Firmino estivesse aqui - disse, lembrando-se do namorado.

- Nós tamos arribando das águas. Seu namorado arribou pra não casar com você - disse o pai.

Sob a gameleira montaram acampamento. Fizeram fogo para cozinhar o músculo de boi temperado na véspera. Augusta dos Santos não quis comer, mesmo com a insistência da mãe. Dormiu embalada com o perfume das papoulas. De manhã, gemeu com o começo das contrações.

Chama

O sábado é de Mario Benedetti: “porém às vezes/pode a solidão/ser/uma chama” (Foto: LS)

20 junho 2014

Zebra?

@lucianoPCdoB: Arriba Costa Rica!

O poeta sabe

A sexta-feira é de Vinícius: “Não quero o que tenho/Pelo que custou/Não sei de onde venho/Sei para onde vou.”

Na ponta da chuteira

Muitas Copas

Luciano Siqueira

Na TV, uma enxurrada de reportagens sobre a Copa do Mundo – todas as Copas. Revividas, revistas e reinterpretadas por mil ângulos. Dados curiosos, informações preciosas sobre craques do passado e os destaques de cada time atual – e todos os têm, até as menos expressivas seleções, em geral atletas que prestam seus serviços em campeonatos europeus. Raros são os bons jogadores que ainda se mantêm em seus países: se têm talento, o grande capital os leva para brilharem em outras terras. Antes um privilégio de brasileiros, argentinos e uruguaios; hoje, de outros sul-americanos, norte-americanos e caribenhos; de japoneses e, sobretudo, africanos. A gente vê os jogos como quem assiste a um desfile de notáveis de todas as nacionalidades.

Nem sempre as seleções nacionais integradas por estrelas européias têm o desempenho esperado. Faltam-lhes entrosamento, espírito de equipe, amontoados de grandes astros que são. Times aparentemente mais modestos, como a Croácia no jogo contra Camarões, exibem belo espetáculo coletivo, equilibrando talentos individuais com um conjunto harmonioso e combativo.

As tais reportagens sobre as muitas Copas teimam em retroceder ao desastre de 1950 como que para lembrar que os mais fracos – os uruguaios de então – podem vencer os mais fortes mediante coragem, determinação, combatividade e astúcia. Cenas de 1950, em preto e branco, parecem mexer numa ferida que deveria ter sido sarada em 1958, 1962 e 1970, que assinalaram vitórias extraordinárias do escrete canarinho, frutos de superioridade notável, mescla de talento, futebol arte e aplicação tática.

A essa altura da vida, já percorridas algumas décadas de estrada e de paixão pelo futebol, as muitas Copas são como teclas que uma vez tocadas refazem registros marcantes.

A Copa de 1954 nunca me saiu da memória. Garoto pequenino, mal compreendia aquela algazarra em torno do alto falante na esquina das ruas São João e Alberto Silva, na Lagoa Seca, em Natal, na calçada da Mercearia Natalense, do meu pai. O primeiro jogo foi Brasil 5 x 0 México. O som nos chegava permeado por ruídos. Mas ouvíamos a narração de cada lance como se estivéssemos na Suíça, imaginando cada jogada. Na terrível derrota contra a Hungria – o melhor selecionado de então -, todos entramos em campo para brigar ao lado do inconformado Nilton Santos.

A Copa de 1958 foi uma descoberta: o Brasil, lá no estrangeiro, mostrou o seu valor com a bola no pé. Creio que foi a partir daí que a seleção passou a ser associada (pela menos em minha mente) à afirmação da nacionalidade, a tal Pátria de chuteiras enaltecida por Nelson Rodrigues. Assim como a de 1962, em que a contusão de Pelé deu azo a que o gênio de Garrincha se afirmasse perante o mundo. A de 1970 passou a impressão de que jamais perderíamos um torneio, tal a supremacia daquele time maravilhoso.
Da Copa de 1974, guardei apenas um longínquo grito de gol e a informação, ouvida de um carcereiro do Doi-Codi, de que se tratava de um golaço de Rivelino, contra quem não sei, nunca procurei saber.

Vencemos mais duas Copas, mas com gosto aguado – agora sob os esquemas fechados de Parreira e Felipão. Teria que ser assim, dizem. Desde muito já não há espaços em campo para o drible desconcertante, o lançamento à longa distância, jogadas de real beleza. Será? Tenho pra mim que nesta Copa das Copas, de doze cidades-sedes e muita vibração, os astros da bola voltaram a nos encantar com lances monumentais, verdadeiras homenagens a Pelé, Didi, Garrincha, Puskas, Di Stefano, Maradona e outros que, no seu tempo, pintaram belíssimas aquarelas com a bola na ponta da chuteira. (Publicado no portal Vermelho)