31 outubro 2020

Futebol brasileiro em transe

Miseráveis saqueiam o futebol brasileiro há décadas

Quem olhar de perto a situação do esporte no país constatará o fundo do poço

Juca Kfouri, Folha de S. Paulo

 

Vitor Hugo, sabem a rara leitora e o raro leitor, foi um volante que surgiu no Inter, brilhou no Grêmio em fins dos anos 1970 e teve passagem pelo Palmeiras no começo dos 80.

Há outro, zagueiro, recentemente vendido pelo Palmeiras ao clube turco Trabzonspor.

E houve um terceiro, ou terá sido o primeiro?, escritor e poeta francês, ativista pelos direitos humanos, mas com c, Victor Hugo, no século 19, autor do famoso romance cujo título é o mesmo desta coluna.
“Os Miseráveis” conta a história de Jean Valjean, condenado a 19 anos de prisão por ter roubado um pão.

Aqui se tratará de outro tipo de miseráveis, os que há décadas saqueiam o futebol brasileiro, se recusam a modernizá-lo e o conduzem à segunda, quiçá à terceira divisão mundial.

Seus métodos sobrevivem aos governos de todos os tipos, capazes de conviver promiscuamente com os poderosos da política e os seduzirem com a notoriedade dos atletas cujos talentos ainda mantém viva a esperança de conquistar o cada vez mais distante hexacampeonato.

Em torno do que se transformou quase em utopia, vampirizam os clubes comandados por cartolas servis e cúmplices da política de terra arrasada, parecido com o que se vê na Amazônia e no Pantanal.

Negam-se a adotar fórmulas de gestão consagradas na Europa e vivem da mão para boca, à custa de migalhas ainda suficientes para enriquecê-los, mesmo que, excepcionalmente, e por intervenção estrangeira, caiam moralmente em desgraça como o quarteto Havelange$Teixeira$Marin$Nero.

Estamos às portas de eleições em três de quatro dos clubes mais populares do país: os endividados CorinthiansSão Paulo e Vasco elegerão novos presidentes nos próximos dias, com os métodos de sempre e em busca de salvadores da pátria que, como se sabe, praticamente não existem.

Também viverá período eleitoral o Barcelona, que embora não seja empresa como os clubes europeus mais ricos e poderosos, exige dos grupos que se candidatarem a garantia de 118,7 milhões de euros como endosso às suas pretensões.

Aqui, ao contrário, não só a cartolagem deixa de arcar com seu patrimônio como, com as exceções de praxe, enriquece em parcerias com empresários de jogadores.

Os efeitos colaterais são conhecidos e se espalham feito metástases nas mínimas situações.
Por exemplo: como já havia acontecido neste ano com o jovem zagueiro são-paulino Walce, a Casa Bandida do Futebol acaba de devolver ao clube o também menino corintiano Mantuan, com grave lesão no joelho.

Cabem ao São Paulo e ao Corinthians arcar com as despesas das cirurgias, dos salários durante a convalescença e do prejuízo definitivo caso não haja recuperação plena.

Enquanto isso, enquanto convivemos ainda com campeonatos estaduais, cresce a ideia de uma Super Liga Europeia de Clubes, semente do fim dos torneios nacionais.

Percebe o abismo?

Para não azedar ainda mais o seu domingo no Brasil negacionista, uma esperança: parece que há real possibilidade de acordo entre os projetos das Sociedades Anônimas do Futebol na Câmara dos Deputados e no Senado, com votação ainda neste 2020.

Não será panaceia, já aprendemos, mas passo essencial.

Até como marco inicial para a formação da Liga de Clubes Brasileiros, sem a qual a miséria se aprofundará em célere direção à inanição absoluta.

Múltiplos são os caminhos da resistência https://bit.ly/3lg3rl8

Uma luz

‘Onda antipolítica de 2018 perde fôlego, e candidatos bolsonaristas encalham nas capitais. Em apenas 3 das 26 cidades, candidatos a prefeito alinhados ao presidente Jair Bolsonaro aparecem à frente, segundo pesquisas’, diz a Folha de S. Paulo. Bom sinal.

Engodo

No século 19, Thomas J. Barratt criou uma campanha para vender sabão e, assim, fundou a propaganda — para o bem ou para o mal. Hoje, predomina nas redes sociais a propaganda política que mais confunde do que esclarece.

30 outubro 2020

Anglicismo vicioso

A palavra da moda

Luciano Siqueira

 

Sim, já reconheci inúmeras vezes que não estou entre os paladinos da língua portuguesa brasileira. Não por falta de vontade, mas por incompetência mesmo.

Defender algo com mestria e autoridade é atributo de quem domina o assunto. No caso, o idioma.

Minha relação com o português falado e escrito no Brasil é antes de tudo de prazer e paixão. Nossa língua é sonora, musical – seja na sua forma escorreita, seja no dizer popular. Mas não domino suas regras.

O modo do povo se apropriar do idioma, sobretudo num jovem país como o nosso, define a intensidade com que neologismos e novas expressões o vão enriquecendo.

Nada a ver com a palavra da moda. Ou a expressão do momento.

Ao invés de dizer concordo, apoio, gostei... diz-se “é show!”

Coisa sem graça.

Se Ariano ainda estivesse entre nós corrigiria: show, não, espetáculo!

Aqui e acolá recebo uma mensagem no WhatsApp que se inicia ou se conclui assim: “show”.

Acho uma chatice, mas fico na minha. Afinal, minha mãe Oneide ensinou os filhos a respeitarem sempre o jeito de falar dos outros. Para ela, repelir seria falta de educação e de caridade.

Ora, se alguém pediu minha ajuda para resolver determinado problema através da Prefeitura, desentupir uma canaleta, por exemplo, e me agradece assim: “show!”, me dá vontade de perguntar aonde, qual a banda, quem são os cantores e que tais.

Parece aquela preguiça terrível que leva internautas a responderem uma mensagem com o desenho do polegar pra cima ou duas mãos batendo palmas. Sinto-me tratado como criança e suponho que meu interlocutor ou interlocutora sofre de uma detestável preguiça. Por que não escrever “ótimo!”, “tudo bem” ou algo assim?

A gíria, não. Geralmente é espirituosa, inventiva e bem-humorada.

Se gostou, pode escrever “foi do carai”. Eu gosto.

Veja: A vida não se resume num samba curto https://bit.ly/3hN3UrP  

Para iluminar o fim de semana

Veja também: A vida não se resume num samba curto https://bit.ly/3hN3UrP

Humor de resistência

 

Charge de Laerte

Estratégia da China

A resposta chinesa à guerra comercial

Como num jogo de weiqi, China busca vantagem relativa em vez da confrontação

Tatiana Prazeres, Folha de S. Paulo

 

Chineses jogam weiqi, e os ocidentais, xadrez. Henry Kissinger, no seu livro "Sobre a China", recorre aos jogos de tabuleiro ao analisar as visões diferentes dos dois lados a respeito de estratégia e confrontação.

Se o xadrez valoriza a batalha decisiva, o weiqi —ou go, como também é conhecido— consiste numa campanha prolongada. O jogador de xadrez quer a vitória absoluta, o xeque-mate. O de weiqi busca gradualmente acumular vantagem relativa para cercar o oponente.

O tabuleiro guarda paralelo com a vida real, segundo Kissinger. Sua reflexão faz pensar na resposta dos chineses à guerra comercial.

Pequim evitou confrontação direta, respondeu de maneira relativamente moderada à sequência de medidas americanas. Diante de barreiras tarifárias por parte dos EUA, os chineses retrucaram com tarifas, mas sempre num tom menor que o dos americanos.

Não restringiram investimentos dos EUA na China. Seguiram abrindo o mercado a conta-gotas, mas permitiram acesso, por exemplo, ao seu cobiçado setor financeiro por parte de gigantes como Mastercard e JPMorgan.

Pequim jogou o jogo ao permitir que o presidente-candidato Trump cantasse vitória com seu chamado acordo fase 1 em janeiro de 2019 —um proto-acordo anunciado com fanfarra, mas de resultados duvidosos.

Com tudo isso, a China está apenas administrando as tensões. Em paralelo, busca caminhos que lhe deem vantagem relativa e a longo prazo.

A mais importante reunião anual do Partido Comunista Chinês termina nesta sexta-feira (30). Autoridades do Partido —que são também do Estado— se reúnem para estabelecer o plano quinquenal 2021-2026, além de tratar de objetivos para 2035.

O plano quinquenal não é uma resposta aos EUA ou à guerra comercial, mas é uma peça que ajuda a explicar como o partido vê o jogo nos próximos anos.

Sob o novo plano, a expressão críptica “estratégia da circulação dual” vira palavra de ordem. Trata-se de ênfase na autossuficiência, no consumo doméstico e nos investimentos em tecnologia e inovação.

Pequim estará imbuída do propósito de fazer a China menos dependente do exterior —incluindo do humor de autoridades estrangeiras e de países mais resistentes a produtos, investimentos e influência chineses.

Xi Jinping já havia apontado nessa direção em visita recente a Shenzhen, cidade que sedia Huawei, Tencent (do WeChat) e outras tantas afetadas por medidas americanas.

Disse que a China deve elevar a autossuficiência a um outro patamar. Quer que o país enfrente os gargalos que o deixam vulneráveis a medidas de outras capitais —por exemplo, restrições americanas às exportações de semicondutores para empresas chinesas.

A China apressa-se em dizer que segue aberta a investimentos estrangeiros. No entanto, vai olhar mais para dentro agora. O exercício é convencer os demais de que isso não significa fechar-se para o mundo.

A verdade é que, depois de ter surfado a onda da hiperglobalização, Pequim sabe que o tempo fechou e a maré virou. Sente o impacto das medidas americanas, vê ícones da inovação nacional sob ameaça não apenas nos EUA. Com a guerra comercial, os americanos fizeram mal a si mesmos —empresas, consumidores e contribuintes—, mas também atingiram os chineses.

Na sua reação à guerra comercial, a China evita confrontação direta com os EUA. Responde à sua maneira para mitigar os riscos de um ambiente externo desfavorável. Busca aproveitar as vantagens do seu mercado doméstico e investe em tecnologia para tornar-se mais competitiva que seus oponentes.

Como poucos, tem capacidade de mobilizar recursos para implementar um plano. Pequim joga com as peças que tem, no tabuleiro em que sabe jogar.

* Tatiana Prazeres Senior fellow na Universidade de Negócios Internacionais e Economia, em Pequim, foi secretária de comércio exterior e conselheira sênior do diretor-geral da OMC.

Veja: Novo desenho geopolítico mundial https://bit.ly/35goKxb  

Perdidos no buraco

Crise se agrava e Bolsonaro reafirma intentos autoritários

Portal Vermelho

 

A segunda onda de Covid-19 na Europa e a aceleração da pandemia nos Estados Unidos são sinais de que o Brasil caminha para um cenário ainda mais trágico. As crises sanitária e econômica tendem a se agravar, com graves e previsíveis consequências para o povo. Sem uma ação efetiva contra os efeitos da pandemia, a sua propagação seguirá descontrolada. E os efeitos sobre a economia, castigada por uma severa recessão, serão inevitáveis.

O fracasso da agenda ultraliberal do governo Bolsonaro, sob a condução do seu ministro da Economia, Paulo Guedes, já é bem visível. O real desvalorizado e instável, a inflação acentuada dos alimentos, a taxa recorde de desemprego, a queda dos investimentos estrangeiros e a falta de confiança do empresariado se somam à conduta irresponsável de Bolsonaro em relação à pandemia, o que dificulta a retoma da atividade econômica.

O galope da inflação dos alimentos e o corte pela metade do auxílio emergencial, recebido por 65 milhões de brasileiros, já reduziram em até 10% as vendas das redes dos chamados atacarejos nas últimas semanas. Nos supermercados, o movimento se repete. Os efeitos sobre o setor produtivo geram outras consequências, como a paralisia da economia como um todo e o aprofundamento da recessão.

É preciso lembrar, mais uma vez, que caberia ao Estado entrar em ação para socorrer o país e aliviar as consequências econômicas desse cenário para o povo. Assim como no combate aos efeitos da pandemia. Não há justificativa para o descaso de Bolsonaro e seu governo em relação à alarmante perspectiva de recrudescimento da pandemia.

Ao não se mover na direção de acionar as alavancas do Estado para que medidas sejam tomadas, o bolsonarismo comprova novamente que se depender do governo a Covid-19 seguira ceifando vidas e superlotando os hospitais. O mesmo pode ser dito sobre a economia. A insistência na agenda ultraliberal e neocolonial de Guedes mostra que o bolsonarismo não está disposto a adotar medidas, mínimas que sejam, contra a as fortes evidências de uma tragédia social.

Bolsonaro, em vez de se ocupar desses graves desafios postos à nação, usa a presidência da República para fazer insultos e provocações contra governadores, como fez nesta quinta-feira (29) contra Flávio Dino e João Dória.

Esse cenário implica um desafio urgente para as forças de oposição. Os insistentes acenos ao autoritarismo pelo presidente, uma demonstração de que ele não se afastou um milímetro do seu intento de ruptura com o Estado Democrático de Direito, são sua resposta à grave conjuntura que vai se formando. Contê-lo é tarefa primordial e inadiável, um movimento que exige a união de amplas forças e ações políticas decididas.

Quem governa para os banqueiros? https://bit.ly/3oqp6Zj

Tudo pelo lucro

A pesquisa científica sob monopólio privado permite distorções graves, como o desinteresse dos grandes laboratórios em relação à produção de novos antibióticos com o argumento de que os preços de comercialização não lhes dão o lucro desejado.

Sem trabalho

Desemprego cresce, chega a 14,4% e volta a bater recorde. Em um trimestre, a população desocupada subiu mais 1,1 milhão de pessoas. Leia mais https://bit.ly/31WzQFi

Fuga dos descrentes

Investidores estrangeiros descartam a moeda e as ações brasileiras de forma em intensidade e rapidez sem precedentes. e só aceitam comprar títulos de curtíssimo prazo. não confiam na dupla Guedes-Bolsonaro. Imagine se nós brasileiros devemos confiar!...

29 outubro 2020

Uma crônica de fim de noite

O bumerangue meu de cada dia

Luciano Siqueira

 

Meu blog www.lucianosiqueira.blogspot.com é muito simples. Nele reproduzo o que leio, vejo e ouço e acrescento comentários curtos, breves análises, poemas e crônicas.

Uma miscelânea, sem pauta definida

E tem boa frequência de acessos, tem muita gente que gosta de me acompanhar na aventura.

E eu também.

Como assim?

No dia seguinte, leio postagens anteriores e percebo quanto a vida é mesmo um fio, como dizia Oscar Niemeyer. Fatos de ontem já não se cofirmam hoje, ou as coisas já tomam rumo diferente.

Prova de que vivemos num mundo turbulento que se move na esteira de impressionante tráfego de informações.

Imagino quem opera no mercado de capitais em escala internacional. O cara fica de olho na tela madrugada a dentro (será?), pois as bolsas de valores não param – e as transações em moeda especulativa giram incessantemente,

Também essa mania de reler o que escrevi ontem ou anteontem, feito bumerangue, me permite uma atenção autocrítica. Aqui me precipitei, ali não percebi exatamente o sentido de alguma ocorrência...

Com o canal no YouTube ‘Luciano Siqueira opina” youtube.com/lucianosiqueira65  acontece algo semelhante. Revejo os vídeos de modo mais espaçado e juro que tenho vontade de deletar um ou outro que o tempo se encarregou de tornar dispensável. Mas deixo como está para avaliação futura, quando eu tiver tempo de melhorar minhas falas semanais.

De toda forma, o blog e o canal me ajudam a pensar em voz alta...

Veja: Com um livro à mão e a esperança na alma https://bit.ly/2X71T2g  

Inepto e inseguro

 


Decreto mostra que Bolsonaro prefere assinar primeiro e perguntar depois

Presidente parece não conhecer planos de subordinados ou não tem coragem de bancá-los

Bruno Boghossian, Folha de S. Paulo

 

Em outubro do ano passado, Jair Bolsonaro editou um decreto que abria caminho para vender a operação da Casa da Moeda. A empresa era uma das prioridades na lista de privatizações do governo, mas o plano não saiu do papel. Depois de assinar a medida, o próprio presidente reclamou da proposta.

“Queriam privatizar a Casa da Moeda. Aí, o pessoal fala, eu interferi”, disse Bolsonaro, há poucas semanas. “Eu achei que não era o caso, tendo em vista informações que eu tive de outros países que privatizaram e depois voltaram atrás.”

Bolsonaro pode até dizer que considera a venda da estatal uma má ideia. Mas ele também poderia explicar por que saíram do gabinete presidencial dois documentos que abriam caminho para a privatização: aquele texto de outubro e uma medida provisória que quebrava o monopólio da empresa, no mês seguinte.

A desordem se repetiu agora, com o decreto do governo que incluiu as unidades básicas de saúde num programa de parcerias com a iniciativa privada. O documento assinado pelo presidente foi publicado na última terça (27) e revogado um dia depois.

Dessa vez, Bolsonaro não criticou a própria decisão. Ele afirmou que aquele não seria um movimento de privatização do SUS e que o objetivo era concluir obras e permitir que os cidadãos fossem atendidos na rede privada. Mas resolveu revogar a medida e prometeu reeditar o decreto “em havendo entendimento futuro dos benefícios propostos”.

O presidente mostrou mais uma vez que prefere assinar primeiro e perguntar depois. Em vez de discutir os tais “benefícios propostos” com gestores do Sistema Único de Saúde, o governo se apressou. Caso ninguém tivesse percebido, o decreto teria continuado de pé.

A equipe econômica entregaria até as emas do Palácio da Alvorada à iniciativa privada, se pudesse. O presidente endossou essa agenda na campanha, mas parece não conhecer os planos de seus subordinados ou não tem coragem de bancá-los. Bolsonaro governa por acidente.

A História revisitada inspira a luta cotidiana https://bit.ly/2HCH9ue

Palavra de poeta

Faz escuro mas eu canto

Thiago de Mello


Faz escuro mas eu canto,
porque a manhã vai chegar.
Vem ver comigo, companheiro,
a cor do mundo mudar.
Vale a pena não dormir para esperar
a cor do mundo mudar.
Já é madrugada,
vem o sol, quero alegria,
que é para esquecer o que eu sofria.
Quem sofre fica acordado
defendendo o coração.
Vamos juntos, multidão,
trabalhar pela alegria,
amanhã é um novo dia.

[Ilustração: David Alfaros Siqueiros]

Veja: A vida não se resume num samba curto https://bit.ly/3hN3UrP  

Instabilidade

Dólar em disparada e o que esperar para 2021. Entre os motivos para nervosismo do mercado está o temor em torno da segunda onda da pandemia do novo coronavírus. No entanto, os números refletem também questões domésticas. Leia mais https://bit.ly/35EXCq8

Defesa do SUS

Privatização do SUS: ampla pressão faz Bolsonaro recuar

Portal Vermelho

 

A revogação do decreto que autorizava o Ministério da Economia a realizar estudos sobre a inclusão das Unidades Básicas de Saúde (UBS) dentro do Programa de Parcerias de Investimentos da Presidência da República (PPI) pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, foi uma vitória da mobilização popular. Ele viu que seria uma derrota certa no Congresso Nacional, depois de intensão ação em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), e voltou atrás.

O decreto, assinado pelo presidente e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, era mais um ato de descaso com as demandas da população, uma medida que atingia um dos pontos com mais demandas, especialmente nesses tempos de pandemia. O mais grave é que o decreto dizia respeito à atenção primária, considerada a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS).

São nas UBS que ocorrem os primeiros atendimentos, além dos programas de vacinação. Como disse a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o SUS “deve garantir o acesso irrestrito, a Constituição define que esse atendimento é um direito de todos e dever do Estado”.

O objetivo do decreto, além de atacar uma importante conquista do povo, era fragilizar o poder do Estado de prestar serviço à população em favor de interesses de grupos econômicos, cujo interesse principal é obter lucros.

O Brasil conhece bem a realidade dos serviços públicos em mãos privadas. A Saúde mesmo já passou por essa experiência em algumas cidades, com resultados catastróficos para o povo. O decreto de Bolsonaro e Guedes ainda tinha o agravante de impor uma condição autoritária, uma vez que ele não passou pela consulta aos municípios, os gestores das UBS, e nem por alguma instância do setor ou do Estado.

Nem mesmo o Ministério da Saúde parece ter sido consultado, uma vez que não constava a assinatura do ministro da pasta no decreto. Pode-se dizer, também, que o decreto atentava contra a Constituição, que garante o acesso universal à saúde a toda população.

O fortalecimento de SUS é uma imposição da realidade. No entanto, o governo Bolsonaro agiu no sentido contrário. Esse sistema, um dos maiores patrimônios do povo brasileiro, mundialmente referenciado como sistema público de saúde, entrou na sanha privatista da dupla Bolsonaro-Guedes. Foi mais uma atitude irresponsável desse governo, que não mede esforços para mostrar o seu caráter autoritário e de descaso com as demandas populares.

Veja: Faz-se o que é possível para se alcançar o que se deseja https://bit.ly/2TatLA8

Palavra de João Campos


 

Sem limites

Ministro Ricardo Salles diz que alguém "utilizou indevidamente" sua conta para responder Tweet de Maia. [Ou seja: ele não controla nem suas redes, avalie os agravos ao meio ambiente!]

Também pela base

Kit mentira na busca do voto

Luciano Siqueira

 

Se um ex-tenente reformado como capitão, bronco, rude e despreparado se elegeu presidente da República, por que um cidadão sem eira nem beira não pode conquistar uma cadeira de vereador?

Eis a questão posta por muitos candidatos às Câmara Municipais que recorrem a todo tipo de artificialismo e disparam mensagens mentirosas aos milhares endereçadas a possíveis eleitores.

Não importa o que se diz nem as imagens supostamente atraentes veiculadas em vídeos e cards, vale a busca mecânica do voto.

No segundo turno do último pleito presidencial, dentre os milhares de vídeos mentirosos circulou um em que o então candidato Fernando Haddad aparecia queimando um exemplar da Bíblia e em seguida pondo numa lata de lixo o que restou do livro. Falso, mas tecnicamente tão bem feito que parecia autêntico.

Leio hoje na Folha de S. Paulo que candidatos a vereador replicam histórias de vida e propostas compradas na internet a empresas de marketing, que comercializam pacotes prontos com mensagens de WhatsApp e santinhos virtuais.

É a massificação da mentira pessoal, do perfil falso e do artifício enganoso para atrair eleitores ingênuos e desavisados.

A matéria cita uma empresa que teria investido cerca de 100 mil reais no Facebook para se tornar conhecida e pontificar como uma das agências que oferecem ebooks com “táticas para engajar internautas, santinhos virtuais editáveis, mensagens prontas para publicação e até listas de slogans e frases motivacionais, que vão de Aristóteles a Steve Jobs, para animar o público cobiçado.”

Como já passei de sete décadas de vida e participo da luta política desde a adolescência, posso dizer que já vi muita coisa estranha.

Não são poucos os mecanismos de “compra” do voto praticados até hoje, mesmo sob legislação restritiva, por candidatos de muita ambição e nenhum escrúpulo.

Mas essa do kit mentira para uso digital me surpreende, assim usado pela “base”.

De fato, a onda conservadora que sataniza a política e ao mesmo tempo a pratica das formas as mais enganosas contamina (temporariamente, espero) uma parcela considerável da população.

Bolsonaro e seus mentores norte-americanos fazem escola.

Que os meios digitais devam ser usados, tudo bem. Sobretudo numa campanha sob constrangimentos decorrentes da pandemia do novo coronavírus. Mas que se faça o trabalho político corpo a corpo e que se conquiste a consciência, a confiança e apoio ativo do eleitor. Para que a verdade a desfaçatez.

Veja: Situação especial reclama novas formas e caminhos https://bit.ly/3m5Yjk2 

28 outubro 2020

Alto risco

Alemanha e França adotam isolamento social após nova explosão de casos de Covid-19. Postura sensata considera riscos reais, ao contrário de Trump e Bolsonaro.

Arte é vida

 

Albena Vatcheva


Retração

Investimento estrangeiro direto caiu pela metade no Brasil no primeiro semestre. Pela crise global agravada pela pandemia e pelo desmantelo da política econômica de Guedes-Bolsonaro.

Pandemia

Segundo a OMS, até o momento apenas 10% da população mundial teve contato com o novo coronavírus. A pandemia tem muito chão ainda a percorrer.

Mal menor

Trump ou Biden? Ambos representam o estbalishment norte-americano, mas não se pode colocar um sinal de igualdade entre ambos. A derrota de Trump será benéfica à Humanidade.

Desafio

Segundo a OMS, até o momento apenas 10% da população mundial teve contato com o novo coronavírus. A pandemia tem muito chão ainda a percorrer.

Menos mal

Imaginem se Bolsonaro tivesse maioria consistente na Câmara e no Senado, quantos horrores não se tornariam lei?

Desvio

Não será um despropósito o STF opinar e até legislar sobre tantas questões do cotidiano sob risco de redução de sua autoridade na defesa da Constituição?

Areia quente movediça

Na guerra da vacina e do general Maria Fofoca, bomba econômica está armada

O custo da comida ainda não incomoda porque ainda se pagam auxílios, mas se a carestia continuar e o povo perder esse dinheirinho haverá problemas

Vinícius Torres Freire, Folha de S. Paulo

 

A diversão está garantida nessas próximas semanas em que o pavio da bomba econômica continuará queimando, sem que o país em geral se importe muito. A diversão maior, no sentido de desvio de atenção, virá da guerra da vacina que ainda nem existe, das decisões que o Supremo deve tomar sobre a obrigação de tomá-la e da aprovação da "vacina chinesa paulista" pela Anvisa e pelo governo.

Enquanto isso, o centrão e alas do governo se ocupam de disputar cadeiras ministeriais. Jair Bolsonaro trata de sua preocupação maior, livrar filhos da cadeia. Parlamentares articulam a eleição dos novos comandos do Congresso.

Até fins de novembro, as eleições nos EUA e nas cidades brasileiras vão dizer qual o valor de mercado eleitoral de extremistas e lunáticos em geral.

Eventual derrota de Donald Trump e de candidatos bolsonaristas nas cidades maiores pode aumentar o passivo político de Bolsonaro, embora esse débito talvez não seja cobrado tão cedo.

O risco maior para o presidente é a política econômica, ora em estado de animação suspensa.

Parte do centrão e gente do governo disputam a cadeira do general Luiz Ramos, ministro da Secretaria de Governo. Com o general Braga Netto, ministro da Casa Civil, Ramos levou Bolsonaro a criar uma coalizão bastante pelo menos para evitar um impeachment.

Foi chamado na sexta-feira de Maria Fofoca pelo ministro do Mau Ambiente, Ricardo Salles, desafeto dos militares.

Não importa muito a rixa que detonou o mexerico vulgaríssimo, portanto condizente com este governo. Interessa que isso explicitou movimentos para decapitar Ramos. Outra disputa de boquinha-mor é a do Ministério do Desenvolvimento, que Bolsonaro estuda recriar. Enquanto o país morre, queima e se endivida, é disso que tratam no Planalto.

A revista Época revelou que Bolsonaro recorre à Polícia Federal, a seus espiões e a outros recursos do governo para cuidar de rolo de filho. É disso, talvez um crime de responsabilidade, que trata o presidente.

Não se liga muito para os sinais de infecção na economia. Desde fins de agosto, as taxas de juros subiram degraus e lá no alto ficaram. O dólar não baixa da casa perigosa dos R$ 5,60, dado o rebu incompetente de um governo endividado.

A combinação de desvalorização da moeda e de auxílio emergencial levou os preços dos alimentos às maiores altas em mais de década (como em 2008, 2013 e 2016).

O custo da comida ainda não incomoda de modo generalizado, como de costume, porque ainda se pagam auxílios. Se a carestia continuar e o povo perder esse dinheirinho, haverá problemas.

Juros de longo prazo e dólar foram às alturas em grande parte porque o país não tem Orçamento para 2021, porque pode ser que tenha até dois (um outro "emergencial") e porque os donos do dinheiro temem furos no teto de gastos. Bolsonaro e a elite política empurraram a discussão dessa crise para depois de novembro.

As soluções para o impasse orçamentário não são politicamente boas. Bolsonaro pode decidir estourar o orçamento, o que vai dar em besteira feia. Pode ignorar o auxílio aos pobres, o que vai dar em fome feia. Pode arrochar outrem a fim de financiar alguma renda básica. Terá de enfrentar reformas, como a politicamente divisiva mudança tributária, sem o que o país vai ficar mais encalacrado (não se trata de dizer que vai ficar melhor ou pior para esta ou aquela gente, mas ficará encalacrado).

Mesmo que não se tomem as piores decisões, a retomada da economia ainda será incerta. Mas a gente se diverte com outros horrores.

Veja: Desconfiança entre os principais beneficiários https://bit.ly/3d96rMx

27 outubro 2020

Novo pico

Nos EUA, novo pico do coronavírus com mais de 70.000 infectados ao dia. E o presidente Trump, que Bolsonaro macaqueia, continua subestimando a pandemia.

Humor de resistência

 

Charge de Jeangalvão

Sopros de mudança na América do Sul


As lições do fracasso do ultraliberalismo latino-americano

O despertar do Chile, as eleições na Bolivia, o fracasso de Macri, na Argentina, ainda não foram suficientes para despertar a chamada inteligentzia brasileira.

Luis Nassif, Jornal GGN

 

A definição abaixo está em um blog de Análise de Economia em Tempo Real.

O aluno entra no curso de economia e aprender como agentes racionais atuam em mercados sem atrito, produzindo um resultado que é melhor para todos. Só mais tarde aprender as distorções e perversidades que caracterizam o comportamento econômico real, como práticas anticompetitivas ou mercado financeiros instáveis. Conforma os alunos avançam, há uma tendência crescente para a elegância matemática. Quando o mundo real, mais feio, se intromete, levanta-se uma questão central: isso está muito bem na prática, mas como funciona na teoria?

Há muito tempo, a economia tornou-se uma arma de guerra ideológica. Por analisar fenômenos complexos, permite as chamadas carteiradas acadêmica, o sujeito escudando-se em um diploma em faculdade conceituada, expondo relações de causalidade claramente falsas, que não resistem à mais leve observação empírica.

Foi assim no Chile de Pinochet. Se reduzir o Estado, privatizar a Previdência, os serviços de saúde, as estatais, haverá um dinamismo econômico em que todos ganharão. 40 anos depois, os chilenos encaram o fracasso e a incapacidade do Estado nacional de oferecer segurança aos seus cidadãos.

Um plebiscito aprovou uma Constituinte exclusiva para definir um novo modelo de país, reinstituindo direitos e garantias fundamentais, abolidos com a privatização selvagem que acometeu o país.

Mas chama a atenção a demora em reverter o desenho instituído pelo ditador Pinochet. Passaram pelo poder vários presidentes de centro-esquerda. Qual a razão para tanta demora em corrigir falhas que eram nítidas há décadas?

Aí entra um ponto complicado. O modelo Pinochet consolidou grandes grupos financeiros, que adquiriram enorme poder de influência no Estado. Foi necessário uma crise da proporção da atual para remover essas resistências.

O mesmo aconteceu com o Brasil em todo o período Lula-Dilma. Avançaram-se em várias políticas sociais relevantes. Mas os pontos macroeconômicos centrais – políticas monetária e cambial – foram mantidos intocados, para não descontentar o enorme poder político conquistado pelo setor financeiro.

Acontece que esse tipo de modelo ultraliberal – inaugurado mundialmente no Chile de Pinochet e na Argentina dos generais e, depois, de governos peronistas, não tem viabilidade política porque não atende a dois princípios básicos: 1. Promover o desenvolvimento; 2. Promover bem estar social.

Não se alcançam esses objetivos, devido ao foco central dessas políticas, que é atender às demandas dos grandes grupos, o que passa pela redução dos gastos sociais, pelos cortes em políticas de desenvolvimento, pela privatização selvagem, sem analisar os impactos sobre a economia em geral. Sem a atuação do Estado, o capitalismo tende à concentração econômica e não há maneiras de consolidar políticas sociais.

As políticas econômicas se tornam totalmente subordinadas aos interesses imediatos do capital financeiro e a incapacidade de afrontar esses interesses faz com que os governos não se vejam com condições de corrigir o rumo da política econômica, para impedir grandes desastres. Foi assim com José Alfredo Martinez de Hoz, Ministro da Economia do regime militar argentino; e com Domingo Cavallo, Ministro da Economia do governo Menem. O objetivo único é subordinar as políticas monetária e cambial aos interesses dos grupos de influência e desmontar todo serviço público que possa interessar ao setor privado, como educação, saúde, segurança.

A repetição dos erros se deve, primeiro, à dificuldade do cidadão comum entender relações de causa e efeito de medidas econômicas. Por exemplo, como explicar ao cidadão americano comum que a economia explodindo no início do governo Trump se devia a medidas tomadas, antes, por Barak Obama?

O despertar do Chile, as eleições na Bolivia, o fracasso de Macri, na Argentina, ainda não foram suficientes para despertar a chamada inteligentzia brasileira. A enorme mediocridade dos principais poderes – Supremo, mídia, Congresso, Forças Armadas -, a influência intocada do mercado, fará com que a ficha só caia mais adiante, após mais alguns anos do mais longo processo de recessão inútil da história.

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