A construção coletiva das idéias é uma das mais fascinantes experiências humanas. Pressupõe um diálogo sincero, permanente, em cima dos fatos. Neste espaço, diariamente, compartilhamos com você nossa compreensão sobre as coisas da luta e da vida. Participe. Opine. [Artigos assinados expressam a opinião dos seus autores].
28 fevereiro 2013
Lá e cá
Impasse pós-eleitoral na Itália reflete a dimensão e a
complexidade da crise econômica que se arrasta na Zona do Euro. Comparando, o
Brasil vai bem.
Renovação
A quinta-feira é de Cora
Coralina: “Não
te deixes destruir…/Ajuntando novas pedras/e construindo novos poemas.”
Crescimento com inclusão
Editorial do Vermelho:
Os juros e o combate à pobreza
Os juros e o combate à pobreza
Um aspecto pouco ressaltado que os dados recentes sobre a acelerada queda nos
números da miséria no Brasil revelam é o fato de que desde 2003 o combate à
pobreza se tornou política de governo, deixando no pó da história os tempos
quando prevalecia a ideia de que “na modernidade não há lugar para todos”.
Frase que, segundo um informante qualificado próximo às autoridades da
República nos tempos de Fernando Henrique Cardoso, era usada para justificar o
empobrecimento do povo. Ela era, na verdade, a bandeira política de retrocesso
que vigorou nos oito anos de governo tucano.
Essa situação mudou e o número de brasileiros retirados da situação da pobreza nestes dez anos de governos populares e democráticos mede-se aos milhões, assombrando os mais ousados planos tucano/conservadores de volta ao Palácio do Planalto.
A presidenta Dilma Rousseff referiu-se a esse número nesta segunda-feira (25), no programa semanal “Café com a Presidenta”, ao assegurar que o governo federal vai atrás da “pobreza invisível” – aquelas milhares de famílias que ainda não constam do Cadastro Único para Programas Sociais e que somam, segundo os cálculos oficiais, umas 700 mil. É importante cadastrá-las para incluí-las em programas como o Bolsa Família, Brasil Carinhoso e Brasil Sem Miséria, dando a elas ao menos a garantia da renda mínima mensal de R$ 70 por pessoa para sairem da faixa da pobreza extrema onde estão, diz a ONU sobre as pessoas com renda mensal de até R$ 70 por mês. Critério também adotado pelo governo federal. A presidenta garantiu ser meta do governo superar por completo a pobreza extrema até 2014.
Em 10 anos, o tratamento do combate à miséria como política de governo, já rendeu resultados visíveis. O Brasil, dizem os estudiosos do assunto, assistiu a uma queda na disparidade de renda que a torna hoje a menor desde a década de 1960. Esta conquista se traduz, comemora o governo, na redução de quase metade (47%) na mortalidade infantil: no ano 2000, em cada mil bebês, trinta morriam antes de completar um ano de idade; em 2011 essa situação afetava 16 bebês. E também na ampliação expectativa de vida dos brasileiros: no ano 2000 era de 70 anos e meio; em 2011 passou para 74 anos, um ganho de mais de três anos. Entre 2003 e 2011, a pobreza caiu 58% no Brasil, uma velocidade três vezes maior do que a prevista pela ONU como principal meta a ser alcançada no milênio.
São dados que revelam a melhoria da vida do povo nesta década, consequência da enorme ampliação do número de empregos com carteira assinada, da melhoria da renda e da implementação de programas de distribuição de renda.
Os conservadores não ficam contentes com estas notícias. Alguns por motivos ideológicos (muitos pensam que programas desse tipo estimulam muitas pessoas a não trabalhar e viver à custa do governo). Outros são pragmáticos e lamentam a perda de mão de obra barata e submissa (a garantia de uma renda mínima permite que as pessoas avaliem melhor e resistam a rendimentos muito baixos e condições de trabalho muito ruins).
Há, sobretudo, os que se alarmam com o que consideram alto custo dos programas sociais. Um artigo publicado na Folha de S. Paulo, em 3 de fevereiro de 2013, sob o título “Metade dos gastos de Dilma vai para programas sociais”, é um exemplo desse alarme conservador e da apresentação manipulada e unilateral dos dados quando se trata de expor informações sobre o combate à pobreza.
Aquele artigo assegurou que mais da metade (50,4%) do orçamento de 2012, sem contar “os encargos da dívida pública”, foram destinados a programas sociais, chegando ao total de R$ 405,2 bilhões em gastos com Previdência, amparo ao trabalhador e assistência. Inclui entre os culpados pelas “despesas recorde do ano passado” o “salário mínimo de 7,5% acima da inflação”, insinuando medida eleitoreira, sendo “o maior desde o ano eleitoral de 2006”.
A má intenção do redator daquele artigo se expressa de duas maneiras. A primeira quando confunde gastos que decorrem de determinação constitucional, como os referentes à Previdência, que consumiu a maior fatia do valor total referido (R$ 316,6 bilhões em 2012). Outros envolveram seguro desemprego, abono salarial a trabalhadores com baixa renda e assistência a idosos e deficientes (R$ 68,1 bilhões). O Bolsa Família, que não é obrigação constitucional, mas moral e política do governo, consumiu os demais R$ 20,5 bilhões.
Os beneficiários são milhões de brasileiros de baixa renda – foram 26 milhões de aposentados e beneficiários atendidos pela Previdência em 2012; a assistência a idosos e deficientes chegou a quatro milhões de brasileiros; o Bolsa Família, a 13,9 milhões.
A manipulação mais grave pode ser vista na maneira de apresentar os números, deixando de fora tudo o que o governo pagou em juros e parcelas da dívida pública.
O orçamento de 2012 foi de R$ 1,7 trilhão; 44% (R$ 753 bilhões) desse montante foram gastos com a especulação financeira que se alimenta com ganhos sobre a dívida pública. Os gastos com a Previdência representaram 22,5% do total; o Bolsa Família ficou com apenas 1,12% do total do orçamento de 2012.
Somados, os gastos com a Previdência e o Bolsa Família chegam a 24% do total, longe daqueles 44% consumidos com juros e serviço da dívida. Esta é a comparação que precisa ser feita: quanto foi gasto em juros e quanto foi empregado em beneficio dos brasileiros.
Em 2012 a dívida pública custou ao governo 36,7 vezes mais do que o Bolsa Família. Isso é, o combate à pobreza e à desigualdade social podia – e pode – ser muito mais rápido desde que o governo se livre do custo excessivo da dívida pública que, nas condições atuais, herdadas do passado neoliberal, representa um enorme obstáculo para o desenvolvimento do país.
Essa situação mudou e o número de brasileiros retirados da situação da pobreza nestes dez anos de governos populares e democráticos mede-se aos milhões, assombrando os mais ousados planos tucano/conservadores de volta ao Palácio do Planalto.
A presidenta Dilma Rousseff referiu-se a esse número nesta segunda-feira (25), no programa semanal “Café com a Presidenta”, ao assegurar que o governo federal vai atrás da “pobreza invisível” – aquelas milhares de famílias que ainda não constam do Cadastro Único para Programas Sociais e que somam, segundo os cálculos oficiais, umas 700 mil. É importante cadastrá-las para incluí-las em programas como o Bolsa Família, Brasil Carinhoso e Brasil Sem Miséria, dando a elas ao menos a garantia da renda mínima mensal de R$ 70 por pessoa para sairem da faixa da pobreza extrema onde estão, diz a ONU sobre as pessoas com renda mensal de até R$ 70 por mês. Critério também adotado pelo governo federal. A presidenta garantiu ser meta do governo superar por completo a pobreza extrema até 2014.
Em 10 anos, o tratamento do combate à miséria como política de governo, já rendeu resultados visíveis. O Brasil, dizem os estudiosos do assunto, assistiu a uma queda na disparidade de renda que a torna hoje a menor desde a década de 1960. Esta conquista se traduz, comemora o governo, na redução de quase metade (47%) na mortalidade infantil: no ano 2000, em cada mil bebês, trinta morriam antes de completar um ano de idade; em 2011 essa situação afetava 16 bebês. E também na ampliação expectativa de vida dos brasileiros: no ano 2000 era de 70 anos e meio; em 2011 passou para 74 anos, um ganho de mais de três anos. Entre 2003 e 2011, a pobreza caiu 58% no Brasil, uma velocidade três vezes maior do que a prevista pela ONU como principal meta a ser alcançada no milênio.
São dados que revelam a melhoria da vida do povo nesta década, consequência da enorme ampliação do número de empregos com carteira assinada, da melhoria da renda e da implementação de programas de distribuição de renda.
Os conservadores não ficam contentes com estas notícias. Alguns por motivos ideológicos (muitos pensam que programas desse tipo estimulam muitas pessoas a não trabalhar e viver à custa do governo). Outros são pragmáticos e lamentam a perda de mão de obra barata e submissa (a garantia de uma renda mínima permite que as pessoas avaliem melhor e resistam a rendimentos muito baixos e condições de trabalho muito ruins).
Há, sobretudo, os que se alarmam com o que consideram alto custo dos programas sociais. Um artigo publicado na Folha de S. Paulo, em 3 de fevereiro de 2013, sob o título “Metade dos gastos de Dilma vai para programas sociais”, é um exemplo desse alarme conservador e da apresentação manipulada e unilateral dos dados quando se trata de expor informações sobre o combate à pobreza.
Aquele artigo assegurou que mais da metade (50,4%) do orçamento de 2012, sem contar “os encargos da dívida pública”, foram destinados a programas sociais, chegando ao total de R$ 405,2 bilhões em gastos com Previdência, amparo ao trabalhador e assistência. Inclui entre os culpados pelas “despesas recorde do ano passado” o “salário mínimo de 7,5% acima da inflação”, insinuando medida eleitoreira, sendo “o maior desde o ano eleitoral de 2006”.
A má intenção do redator daquele artigo se expressa de duas maneiras. A primeira quando confunde gastos que decorrem de determinação constitucional, como os referentes à Previdência, que consumiu a maior fatia do valor total referido (R$ 316,6 bilhões em 2012). Outros envolveram seguro desemprego, abono salarial a trabalhadores com baixa renda e assistência a idosos e deficientes (R$ 68,1 bilhões). O Bolsa Família, que não é obrigação constitucional, mas moral e política do governo, consumiu os demais R$ 20,5 bilhões.
Os beneficiários são milhões de brasileiros de baixa renda – foram 26 milhões de aposentados e beneficiários atendidos pela Previdência em 2012; a assistência a idosos e deficientes chegou a quatro milhões de brasileiros; o Bolsa Família, a 13,9 milhões.
A manipulação mais grave pode ser vista na maneira de apresentar os números, deixando de fora tudo o que o governo pagou em juros e parcelas da dívida pública.
O orçamento de 2012 foi de R$ 1,7 trilhão; 44% (R$ 753 bilhões) desse montante foram gastos com a especulação financeira que se alimenta com ganhos sobre a dívida pública. Os gastos com a Previdência representaram 22,5% do total; o Bolsa Família ficou com apenas 1,12% do total do orçamento de 2012.
Somados, os gastos com a Previdência e o Bolsa Família chegam a 24% do total, longe daqueles 44% consumidos com juros e serviço da dívida. Esta é a comparação que precisa ser feita: quanto foi gasto em juros e quanto foi empregado em beneficio dos brasileiros.
Em 2012 a dívida pública custou ao governo 36,7 vezes mais do que o Bolsa Família. Isso é, o combate à pobreza e à desigualdade social podia – e pode – ser muito mais rápido desde que o governo se livre do custo excessivo da dívida pública que, nas condições atuais, herdadas do passado neoliberal, representa um enorme obstáculo para o desenvolvimento do país.
27 fevereiro 2013
Diálogo oportuno
Encontro com vereadores de
oposição, hoje, a convite de Geraldo Julio, é um marco da convivência
democrática na cidade.
Nas tuas mãos
A quarta-feira é de Cora Coralina: “Nas palmas de tuas
mãos/leio as linhas da minha vida./Linhas cruzadas, sinuosas,/interferindo no
teu destino.”
Artista de larga visão
No portal da Fundação Maurício Grabois:
Jorge Mautner, amor à cultura brasileira
. A Fundação Maurício Grabois destaca e recomenda o documentário em cartaz nos cinemas "Jorge Mautner, o filho do holocausto", de Pedro Bial e Heitor D´Alincourt. O presidente da Fundação, Adalberto Monteiro, destaca a contribuição do músico e poeta para a renovação da cultura brasileira. "A Maurício Grabois se soma ao esforço de reconhecimento dessas valiosas contribuições de Mautner à cultura nacional", ressalta Monteiro. Leia artigo exclusivo para o Portal da Fundação, escrito pela artista e pesquisadora Mazé Leite sobre palestra de Mautner a respeito do filme.
. Veja um trecho do artigo: Jorge Mautner é comunista-artista ou artista-comunista. Esses títulos se fundem e se confundem em sua vida e em seu discurso. No começo de seus vinte minutos de fala inicial, ele citou José Bonifácio, o nosso “patriarca da independência”, um dos primeiros brasileiros a valorizar a nossa mistura de sangue, a nossa mestiçagem como nossa maior riqueza social e cultural, que cria o amálgama que nos une, todos os brasileiros. Mautner enfatizou muitas vezes a generosidade que faz parte da vida do nosso povo, povo hospitaleiro e receptivo aos estrangeiros, desde os tempos em que éramos todos índios e chegaram a estas terras os primeiros brancos europeus. E citou o padre Antonio Vieira que dizia que nós somos capazes de “ir além da terra, além do mar”.
. Leia o texto completo http://migre.me/drxSF
Jorge Mautner, amor à cultura brasileira
. A Fundação Maurício Grabois destaca e recomenda o documentário em cartaz nos cinemas "Jorge Mautner, o filho do holocausto", de Pedro Bial e Heitor D´Alincourt. O presidente da Fundação, Adalberto Monteiro, destaca a contribuição do músico e poeta para a renovação da cultura brasileira. "A Maurício Grabois se soma ao esforço de reconhecimento dessas valiosas contribuições de Mautner à cultura nacional", ressalta Monteiro. Leia artigo exclusivo para o Portal da Fundação, escrito pela artista e pesquisadora Mazé Leite sobre palestra de Mautner a respeito do filme.
. Veja um trecho do artigo: Jorge Mautner é comunista-artista ou artista-comunista. Esses títulos se fundem e se confundem em sua vida e em seu discurso. No começo de seus vinte minutos de fala inicial, ele citou José Bonifácio, o nosso “patriarca da independência”, um dos primeiros brasileiros a valorizar a nossa mistura de sangue, a nossa mestiçagem como nossa maior riqueza social e cultural, que cria o amálgama que nos une, todos os brasileiros. Mautner enfatizou muitas vezes a generosidade que faz parte da vida do nosso povo, povo hospitaleiro e receptivo aos estrangeiros, desde os tempos em que éramos todos índios e chegaram a estas terras os primeiros brancos europeus. E citou o padre Antonio Vieira que dizia que nós somos capazes de “ir além da terra, além do mar”.
. Leia o texto completo http://migre.me/drxSF
Boa medida
. Os
produtos industriais que tiveram alíquotas de importação elevadas no ano
passado e depois registraram reajustes de preços exagerados terão as tarifas
reduzidas pelo governo.
. Para combater a inflação.
. Para combater a inflação.
Domésticas melhor remuneradas
. Os
serviços de domésticas estão cada vez mais caros para as famílias. O salário
delas registrou em janeiro o maior aumento no país, de 6%, segundo o IBGE, superando
os trabalhadores da indústria (1,5%) e do comércio (4%), noticia O Globo.
. Para tirar o atraso acumulado ao longo de décadas, acrescento.
. Para tirar o atraso acumulado ao longo de décadas, acrescento.
26 fevereiro 2013
Vida de poeta
A terça-feira é de Florbela
Espanca: “Só quem embala no peito/Dores amargas e secretas/É que em noites de
luar/Pode entender por poetas.”
25 fevereiro 2013
Comissão da Verdade
Ditadura militar violou direitos de 50 mil pessoas
. A CNV assinou termos de cooperação com a Associação Nacional de História (Anpuh), com o Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito (Conpedi), com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e com o Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro. “Estamos compartilhando nossa metodologia, nossa estratégia com uma ampla gama de comissões da verdade já criadas, algumas em criação e outros grupos que estão em processo de criação de suas comissões”, disse o coordenador da CNV, Paulo Sérgio Pinheiro.
. Pinheiro disse que os convênios assinados firmam parcerias de colaboração e troca de informações. “São acordos de cooperação e basicamente põem à serviço dessas instituições nossas competências, como por exemplo, o acesso aos arquivos e eventuais convocações para depoimentos,” disse.
. Recentemente, a Comissão Nacional da Verdade recebeu da Petrobras mais de 400 rolos de microfilmes, além de microfichas e documentos textuais. O material, de acordo com a CNV, ajudará a entender como o regime militar monitorava os trabalhadores da empresa.
. O coordenador da CNV estima que até o momento a comissão examinou “por baixo” cerca de 30 milhões de páginas de documentos e que fez centenas de entrevistas. Pinheiro disse que, em função do volume de informações, a CNV deve continuar pesquisando até o final de 2013, quando a comissão deverá ter o esqueleto do relatório final em mãos. “O relatório tem que estar nas mãos da presidenta da República até dia 16 de maio. Em princípio, acordamos entre nós que até dezembro a grande minuta do relatório tem que estar pronta”, disse.
. Informa a
Agência Brasil que levantamentos feitos pela Comissão
Nacional da Verdade (CNV) estimam que 50 mil pessoas foram, de alguma forma,
afetadas e tiveram direitos violados pela repressão durante a ditadura militar.
O número inclui presos, exilados, torturados, mas também familiares que
perderam algum parente nas ações durante o período de 1964 a 1985, além de
pessoas que sofreram algum tipo de perseguição.
. A
CNV reuniu nesta segunda-feira (25) representantes de comissões estaduais e de
várias instituições para apresentar um balanço dos trabalhos feitos e assinar
termos de cooperação com quatro organizações.. A CNV assinou termos de cooperação com a Associação Nacional de História (Anpuh), com o Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito (Conpedi), com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e com o Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro. “Estamos compartilhando nossa metodologia, nossa estratégia com uma ampla gama de comissões da verdade já criadas, algumas em criação e outros grupos que estão em processo de criação de suas comissões”, disse o coordenador da CNV, Paulo Sérgio Pinheiro.
. Pinheiro disse que os convênios assinados firmam parcerias de colaboração e troca de informações. “São acordos de cooperação e basicamente põem à serviço dessas instituições nossas competências, como por exemplo, o acesso aos arquivos e eventuais convocações para depoimentos,” disse.
. Recentemente, a Comissão Nacional da Verdade recebeu da Petrobras mais de 400 rolos de microfilmes, além de microfichas e documentos textuais. O material, de acordo com a CNV, ajudará a entender como o regime militar monitorava os trabalhadores da empresa.
. O coordenador da CNV estima que até o momento a comissão examinou “por baixo” cerca de 30 milhões de páginas de documentos e que fez centenas de entrevistas. Pinheiro disse que, em função do volume de informações, a CNV deve continuar pesquisando até o final de 2013, quando a comissão deverá ter o esqueleto do relatório final em mãos. “O relatório tem que estar nas mãos da presidenta da República até dia 16 de maio. Em princípio, acordamos entre nós que até dezembro a grande minuta do relatório tem que estar pronta”, disse.
Visão poética
A segunda-feira é de Waldir Pedrosa
Amorim: “Volátil é a vida/volúveis os
olhos/Na alma,/volúpia desmedida.”
24 fevereiro 2013
Avanço na luta contra a leucemia
Ciência Hoje Online:
Sistema imune 1 x câncer 0
Pesquisadores transformam células do sistema imune em armas contra a leucemia
. Na última reunião da Sociedade Norte-americana de Hematologia – em dezembro do ano passado –, Carl June, líder de uma equipe de pesquisadores da Universidade da Pensilvânia (EUA), mostrou estratégia que modifica células T, do sistema imune, tornando-as vorazes contra a leucemia (câncer de sangue).. À receita de June e colegas, então. Primeiramente, são retiradas, do paciente, milhões de células T. Nelas, é introduzido um gene que as torna capazes de matar células cancerosas. Essa introdução é feita com a ajuda do HIV (vírus da Aids) atenuado – ou seja, que não causa a doença. As novas células T são reintroduzidas no paciente e, a partir daí, formam a linha de frente contra a leucemia.
. O método foi primeiramente testado em Emma Whitehead, que, aos cinco anos de idade, foi diagnosticada com esse tipo de câncer. A doença voltou por duas vezes, mesmo depois dos tratamentos. Mas, com a nova técnica, o quadro regrediu, e Emma é considerada curada.
. June tem esperanças de que a técnica venha a substituir o tratamento convencional contra a leucemia: o transplante de medula óssea, que é caro e arriscado. A técnica é, no momento, uma das poucas alternativas para pacientes para os quais se esgotaram todas as opções de tratamento. E já começou a ser testada em dois outros grandes centros de pesquisa nos EUA.
. Leia o artigo na íntegra http://migre.me/dp2mG
Sistema imune 1 x câncer 0
Pesquisadores transformam células do sistema imune em armas contra a leucemia
. Na última reunião da Sociedade Norte-americana de Hematologia – em dezembro do ano passado –, Carl June, líder de uma equipe de pesquisadores da Universidade da Pensilvânia (EUA), mostrou estratégia que modifica células T, do sistema imune, tornando-as vorazes contra a leucemia (câncer de sangue).. À receita de June e colegas, então. Primeiramente, são retiradas, do paciente, milhões de células T. Nelas, é introduzido um gene que as torna capazes de matar células cancerosas. Essa introdução é feita com a ajuda do HIV (vírus da Aids) atenuado – ou seja, que não causa a doença. As novas células T são reintroduzidas no paciente e, a partir daí, formam a linha de frente contra a leucemia.
. O método foi primeiramente testado em Emma Whitehead, que, aos cinco anos de idade, foi diagnosticada com esse tipo de câncer. A doença voltou por duas vezes, mesmo depois dos tratamentos. Mas, com a nova técnica, o quadro regrediu, e Emma é considerada curada.
. June tem esperanças de que a técnica venha a substituir o tratamento convencional contra a leucemia: o transplante de medula óssea, que é caro e arriscado. A técnica é, no momento, uma das poucas alternativas para pacientes para os quais se esgotaram todas as opções de tratamento. E já começou a ser testada em dois outros grandes centros de pesquisa nos EUA.
. Leia o artigo na íntegra http://migre.me/dp2mG
Uma aguerrida organização revolucionária
No portal da Fundação Maurício Grabois:
Os cinquenta anos da
fundação de Ação PopularPor Haroldo Lima
Precisamente há 50
anos realizava-se, em Salvador, o Congresso de Fundação de Ação Popular. O
encontro deu-se na Escola de Veterinária da UFBA, no bairro de Ondina. Ondina é
hoje um dos centros nevrálgicos do carnaval da Bahia. O Congresso foi em
fevereiro de 1963, durante o carnaval. Mas, naquela época, os acordes do trio
elétrico lá não chegavam.
. Dentre
as organizações políticas democráticas que assumiram posições revolucionárias e
tiveram influência de massas, a AP foi a maior que já existiu no Brasil. Sua
incorporação ao Partido Comunista do Brasil, pouco mais de dez anos depois de
fundada, foi considerada por esse partido, em texto comemorativo dos seus 90
anos, como “o mais importante e exitoso processo unificador na história das
esquerdas brasileiras”.. Seu surgimento está intimamente relacionado às características que teve a década de sessenta do século passado. Já nos seus albores, o mundo vibrava com as esperanças renascidas de conquistas então efetuadas e ansiava para que novas vitórias aflorassem dos conflitos em curso. Em uma ilha do Caribe, em 1959, um fato sacudiu a América – Cuba se libertava. Nomes até então desconhecidos viraram legendas que o mundo passaria a reverenciar, a exemplo de Fidel Castro e Ernesto “Che” Guevara. A África negra e a África árabe feriram de morte o velho colonialismo, que reagiu com guerras e assassinatos. E novos nomes apareciam no firmamento dos povos: Patrice Lumumba, herói da libertação do ex-Congo Belga, assassinado em 1961; Bem Bella, que em 1962 dobrou a França na libertação da Argélia; Nelson Mandela, condenado à prisão perpétua em 1963, pelo apartheid dos ingleses na África do Sul.
. Leia o artigo na íntegra http://migre.me/dp1Uf
Domingo é dia de crônica
Galpão
de triagem
Marco Albertim
Marco Albertim
Robson
tem 14 anos; a voz débil combina com a compleição miúda. As pernas estão à
mostra sob a bermuda de cor cinza; na camisa verde desbotado reflete-se, por
tabela, a luz que o sol faz incidir no canal do Arruda. É difícil distinguir a
cor de sua camisa, bem como a da água gelatinosa do canal. A sujeira ali
depositada, no aperto de copos plásticos, papéis, talos de madeira e molambos,
não é um traço telúrico; é uma superfície doentia, feito as chagas de um corpo
bexiguento. Robson, com o corpo fino, lembra a estreiteza do canal.
Ele
esboça um sorriso nos olhos, na boca, quando se dá conta de que o prefeito
Geraldo Julio tem na mão um microfone. A voz do prefeito ressoa sem alarde; o
dispasão, fraco, acode-se no anúncio da construção do Galpão de Triagem de
Resíduos Recicláveis. Robson é pouco atento às nuanças do calendário, inda que
se lembre da conversa de sua mãe, no almoço de fartura regrada ou no jantar do
cuscuz fumacento, cheiroso.
-
Minha mãe vai votar nele... – adianta com inconfidência.
As
eleições de outubro último são um traço a menos no calendário. Robson, no
infinitivo do verbo, anuncia o propósito da mãe num ato ainda por acontecer.
Mirando-se na mulher que o pariu, ele engatinha sua cidadania.
Faz
calor em todo o Recife. Nas margens nuas do canal, a fervura do tempo é vista
na apuração dos olhos. Sob a tenda improvisada, a comitiva do prefeito assente,
não exibe o luxo próprio dos salões. Newton Mota, o secretário de
Infraestrutura, fora o primeiro a usar o microfone. “Feito o plano de ataque,
vem agora a ordem de serviço. Em oito meses, talvez seis meses, o
galpão estará pronto”, diz ele, com os pés no palco de madeira
empoeirada, por certo com a noção de que a sonoridade de sua voz repercutirá
nos ouvidos das 70 mil pessoas que moram no entorno do canal do
Arruda. O secretário de Governo, Sileno Guedes , seguira-o na falação.
Assenta-se na memória que tem do vozerio popular. “O galpão será construído
graças à luta do povo!”
Geraldo
Julio, o derradeiro a falar, franze a testa para se mostrar convencido de que é
impossível “viver com a lama no lixão, na lama.” Conforme ele, já foram
retiradas mais de setecentas toneladas de lixo, do leito do canal; mais de
seiscentas e cinquenta nas margens do canal. O programa de governo estima em
doze o total de galpões que serão construídos. A mão que não empunha o
microfone, sacode-se conforme a gravidade de cada sentença. Ele acusa os
responsáveis pelos focos de tétano, de hepatite B, “as empresas que depositam o
lixo e estão longe do canal.” Menciona a mudança do cenário com a urbanização
do canal. Robson, o único garoto da comunidade Palha de Arroz no meio de
barnabés sem a severidade de outrora, mostra os dente s quando o prefeito
antecipa a construção de ciclovias. Mais casas serão erguidas na busca do fim
do déficit habitacional, ainda peco em mais de 120 mil casas.
Não
distante dali, vê-se a bueira restaurada do Nascedouro de Peixinhos. A tenra
caliça de seu verde transparente não solta cheiros de estrume queimado, como
nos tempos do matadouro. A cor suave acolhe os sons de trombones, bombardinos e
percussões no palco. São moços de Peixinhos no ensaio musical. O ruído não
interrompe a viagem que, na biblioteca vizinha, outros moços fazem na fruição
de narrativas de Machado de Assis, de José Lins do Rego. Na comunidade Palha de
Arroz não há biblioteca, não há moços soprando trompetes. Há o ouvido atento de
Robson, o peito tênue, sôfrego de músculos. O juízo tão curioso que se fartaria
de cores no meio de uma festa mambembe. As pernas finas têm familiaridade com
os becos da Palha de Arroz. Antes de chegar em casa, feito um artista mambembe
com um sorriso próprio, não ensaiado, deixar-se-á cobrir pela escassa sombra ao
lado de um pardieiro abandonado; onde, na administração passada, a Construtora
Delta instalara escritório e depósito. Não há mais portas nem janelas, os vãos
estão abertos nos pavimentos de baixo e de cima. Houvesse ali uma biblioteca,
ou a combinação fortuita da rebeca com o tambor, Robson teria mais escolhas
para suas tardes ociosas.
Certeza poética
O domingo é de Fernando Pessoa: “Mas,
afinal,/Só as criaturas que nunca/Escreveram/Cartas de amor/É que
são/Ridículas...”
Conquista da "Era Lula/Dilma"
O
(des)emprego dez anos depois
João Sicsú, na Carta Capital
A crença neoliberal estava errada: está provado que, quando há crescimento, o número de empregos com carteira assinada aumenta
João Sicsú, na Carta Capital
A crença neoliberal estava errada: está provado que, quando há crescimento, o número de empregos com carteira assinada aumenta
. A pesquisa
do IBGE que mede o desemprego sofreu uma importante mudança metodológica em
março de 2002. Portanto, não é possível comparar a evolução da taxa de
desemprego desde meados dos anos 1990 aos dias de hoje. Só é recomendável fazer
comparações anuais a partir de 2003. Em 10 anos de governo (2003-2012), os
presidentes Lula e Dilma aplicaram políticas econômicas e sociais que reduziram
drasticamente a taxa de desemprego. Em 2003, a taxa média de desemprego era de
12,3%; em 2012, caiu para 5,5%.
. Embora não
seja possível analisar uma trajetória mais longa da taxa de desemprego devido à
mudança metodológica de 2002, pelo menos a herança deixada a Lula pode ser
identificada. O presidente Lula recebeu uma economia com uma taxa de desemprego
de dois dígitos, uma taxa semelhante à que vigora na Europa em crise.
. Leia o artigo na íntegra http://migre.me/dozQo
Ação positiva
Atuais previsões otimistas em relação ao PIB refletem medidas
tomadas por Dilma para defender nossa produção e fomentar o crescimento
econômico.
O olhar do recifense sobre a cidade
Diário de Pernambuco:
Recifense acredita em futuro melhor
O índice de satisfação dos moradores com a cidade cresceu 24 pontos percentuais em dez anos
Recifense acredita em futuro melhor
O índice de satisfação dos moradores com a cidade cresceu 24 pontos percentuais em dez anos
O recifense é, antes de tudo, um otimista. A paráfrase de Euclides da
Cunha, autor do clássico Os Sertões, tem lá sua razão de ser. Segundo a
pesquisa Cidade Cidadão 2012, o morador da capital pernambucana ainda se vê
como parte de uma sociedade pouco civilizada, mas sente que a vida está melhor
e acredita em um futuro mais feliz. Concepção positiva que pode estar atrelada
a processos de inclusão escolar e ganho de renda por uma grande parcela da
população.
De acordo com o estudo, que já havia sido realizado pelo Instituto de Pesquisas
Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) em 1995, 1998, 2002 e 2009, 79% dos
recifenses gostam muito de morar na cidade, enquanto apenas 3% acham ruim. E
mais: 56% dos 400 entrevistados acreditam que a qualidade de vida melhorou no
Recife. É o resultado mais positivo desde a primeira edição da Cidade Cidadão.
O coordenador da pesquisa e diretor da FGV Projetos, Carlos Augusto Costa,
salienta a evolução do índice de satisfação. “Em dez anos, o percentual subiu
de 32% para 56%, o que mostra, entre outras coisas, que quem era mais pobres e
menos instruído está se sentindo mais incluído, com acesso aos serviços”, diz,
ressaltando que 73% dos recifenses acham que a vida na cidade irá melhorar nos
próximos anos, enquanto só 8% preveem um cenário mais desagradável.
Um dos maiores violonistas do Brasil
Lalão como no céu vai sumindo
Por Urariano Mota, no portal Vermelho www.vermelho.org.br
Meu filho ontem me perguntou:
– E Lalão, o senhor não vai escrever nada? Tão abatido eu estava, que rosnei:
– Não.
Por Urariano Mota, no portal Vermelho www.vermelho.org.br
– E Lalão, o senhor não vai escrever nada? Tão abatido eu estava, que rosnei:
– Não.
Mas uma coisa é falar na mágoa, outra bem diferente é cumprir o
que a mágoa rosnou. Por isso tento escrever estas linhas agora. E paro,
reflito, volto e percebo que as linhas me vêm cheias de lapsos, sem a mínima
serenidade. Quero dizer: Lalão foi enterrado no último domingo. Lalão faleceu
no sábado, 16 de fevereiro, de morte morrida, ou talvez matada pela incúria do
hospital que o atendera. Dias depois de internado por ter sofrido um primeiro
infarto, Lalão recebeu alta, porque estaria “bom”. Para ser morto em casa,
deveriam ter acrescentado.
Então vem a primeira lacuna. No cemitério de Santo Amaro, no domingo, enquanto a Rede Globo entrevistava a viúva, o filho, o pranto do filho, as lágrimas e o choro – ou seja, tudo aquilo que é mais importante para a reportagem –, eu tentava conversar com o coveiro, à margem do espetáculo como Lalão, mas que se chama Amaro.
– O senhor sabe quem foi esse homem que morreu?
– Sei não senhor. Eu só recebo este papel aqui.
E me mostrou um papel onde se escrevia: Esdras Mariano Rodrigues da Silva, bloco G, 208. Nada de Lalão nem da pessoa dele. Então eu olho para o seu Amaro, esse Lalão que não pôde ser, e falo do Lalão que não mais será:
– Esse homem foi um dos maiores violonistas do Brasil… eu falo, como um marciano, como um ET esta coisa absurda, “violonista do Brasil”, para me referir a um cadáver apenas, que entrará no bloco G, 208.
– Foi? – E seu Amaro se vira para uma senhora, que passa vestida de macacão azul como ele, para perguntar: O café já saiu?
Então vem a primeira lacuna. No cemitério de Santo Amaro, no domingo, enquanto a Rede Globo entrevistava a viúva, o filho, o pranto do filho, as lágrimas e o choro – ou seja, tudo aquilo que é mais importante para a reportagem –, eu tentava conversar com o coveiro, à margem do espetáculo como Lalão, mas que se chama Amaro.
– O senhor sabe quem foi esse homem que morreu?
– Sei não senhor. Eu só recebo este papel aqui.
E me mostrou um papel onde se escrevia: Esdras Mariano Rodrigues da Silva, bloco G, 208. Nada de Lalão nem da pessoa dele. Então eu olho para o seu Amaro, esse Lalão que não pôde ser, e falo do Lalão que não mais será:
– Esse homem foi um dos maiores violonistas do Brasil… eu falo, como um marciano, como um ET esta coisa absurda, “violonista do Brasil”, para me referir a um cadáver apenas, que entrará no bloco G, 208.
– Foi? – E seu Amaro se vira para uma senhora, que passa vestida de macacão azul como ele, para perguntar: O café já saiu?
23 fevereiro 2013
Das verdades parciais
"O otimista é
um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso."
(Ariano Suassuna).
Voz do poeta
O sábado é de Vinicius de Moraes: “Eu te peço perdão por te amar de repente/Embora o
meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos...”
Pura bobagem
FHC – sem rumo e sem discurso - reclama porque Lula exerce
plenamente sua liderança e dialoga com governos e partidos aliados.
Baluarte da resistência democrática
Tributo a
Fernando Lyra
José Nivaldo Junior *
José Nivaldo Junior *
Conheci Fernando Lyra em meados de 1978, através da
nossa amiga comum Magnólia Cavalcanti. Na época, ele já era um ícone da
resistência democrática contra a ditadura militar e também travava uma difícil
batalha pela sobrevivência. Seu coração danificado por um enfarto
demolidor, sobrevivia graças a várias
pontes de safena, implantadas nos Estados Unidos.
Fernando estava
procurando um publicitário para cuidar da sua campanha à reeleição para Deputado
Federal. Eu, querendo uma oportunidade
para ingressar profissionalmente na área do marketing político. Foi sopa no
mel.
Campanha política
gera, entre publicitário e cliente, intimidade imediata. A admiração que já
cultivava à distância somente cresceu com a convivência. Contrariando o axioma
de que nenhuma idolatria resiste à proximidade.
Ficamos amigos.
Estreitamos uma parceria profissional que me permitiu acompanhar muito de
perto momentos decisivos da História. Só
por isso, deveria a Fernando Lyra alguns
dos momentos mais importantes da minha vida.
Posso dizer com
autoridade: ele foi um dos políticos mais corajosos, éticos, ousados e
importantes do seu tempo.
Quando se
instalou a ditadura militar o seu pai, João Lyra Filho, era empresário rico e
político bem sucedido. Decidiu filiar-se ao MDB, o partido que nasceu escalado
para fazer oposição a fim de dar ao regime ares de democracia. Os
filhos acompanharam a opção. Fernando e João Lyra Neto, nosso atual
vice-governador, também viraram emedebistas. Só que pensando em fazer oposição
de verdade.
Em 1966, Fernando
elegeu-se deputado estadual e “seu” João, Federal. Nas eleições de 1970, inverteram-se
as posições. Louve-se a visão do pai: “Meu filho, você vai para Brasília porque
lá você pode contribuir com a democracia muito mais do que eu”.
Palavras
proféticas. Com poucos meses de mandato federal, conquistado inclusive com os
votos do PCB, na época liderado por Paulo Cavalcanti, Fernando começou a
interferir decisivamente nos rumos da história.
Sem ser marxista, ele compreendia a importância do “processo
político”. E entendia claramente que as pessoas constroem sua própria história
nas condições que lhe são proporcionadas.
Foi um dos
fundadores e líderes do Grupo Autêntico do MDB, através do qual o partido se transformou em instrumento efetivo de
contestação da ditadura. Pai de filhas pequenas, enfrentou no dia-a-dia da sua desafiadora atuação os
riscos de cassação de mandato, prisão, torturas, exílio , assassinato, seqüestro.
Nunca lhe faltou um pingo de coragem.
Nas eleições de
1974, articulou uma estratégia que abalou a ditadura: o MDB lançou candidatos
de cara nova para o Senado e venceu em nada menos que 16 Estados. Em Pernambuco
ganhou Marcos Freire, de quem Fernando foi o mais entusiástico defensor. Começou
ali a abertura “lenta, gradual e segura”, para usar as palavras do ditador
Ernesto Geisel.
Sua mais
impressionante intuição se deu em 1983. Com a ditadura nos estertores, a
oposição superou o casuísmo do voto vinculado e venceu, no ano anterior, as primeiras eleições diretas para governador
nos Estados de eleitorado
predominantemente urbano.
As principais
figuras da oposição se dividiram entre as posses de Brizola, no Rio, e Franco
Montoro em São Paulo. Fernando Lyra foi para Belo Horizonte, assistir a posse
de Tancredo Neves, um político do Grupo Moderado do partido, portanto seu rival
nas disputas internas.
E justificou ao
seu perplexo anfitrião: “O senhor é o nome ideal para as oposições concorrerem
à Presidência.” Quando a emenda que propunha eleições diretas foi derrotada no
Congresso, Fernando passou a articular abertamente o nome de Tancredo para disputar no Colégio Eleitoral, desafiando o candidato
dos militares. Muitos vieram depois. Ele foi o primeiro.
Visando não
apenas a vitória como também a legitimidade do apoio popular, a estratégia da
comunicação de Tancredo Neves era como
se ele fosse disputar o voto direto. Coordenei a propaganda de convocação do
grande comício, em Caruaru, no qual Fernando fez o lançamento em praça pública,
com repercussão nacional.
Os discursos de
Fernando Lyra eram marcantes, inesquecíveis. Com sua voz de trovão, ele bradou
seu refrão preferido: “E quando os votos do Colégio Eleitoral forem dados, eu
quero ouvir: Tancredo. Tancredo. Tancredo. Tancredo Neves, presidente do
Brasil.” A multidão, arrepiada, delirava. Uma girândola completava a emoção.
Quando desceu do
palanque, Tancredo abraçou Fernando. Eu estava perto o suficiente para ouvir
sua fala: “Deputado Fernando Lyra, eternamente grato”.
Vitorioso,
Tancredo escolheu Fernando para a pasta da Justiça, que na época tinha a
dimensão de ser o Ministério político do
governo. Com a missão de devolver ao país a Democracia plena.
Tarefa que ele
cumpriu nos 11 meses em que foi ministro de Sarney, o vice que assumiu a
Presidência com a doença e morte de Tancredo. Justiça se faça: o
maranhense, egresso da direita que apoiara a ditadura, autorizou e deu suporte
à remoção do entulho da legislação
autoritária. O fim da Censura, pelas mãos de Lyra, foi o momento mais simbólico
desse processo.
Fernando Lyra
representa uma das principais personagens da redemocratização do Brasil.
Somente com isso, teria garantido seu lugar na história.
Estadista que
pensava no País acima de tudo, nunca praticou uma atitude política para tirar
vantagem pessoal. Honesto a toda prova, não aumentou patrimônio na vida
pública. É portanto uma referência ética neste País de escândalos e malfeitos.
Pessoa humana
extraordinária, iluminava com sua conversa sempre exuberante qualquer ambiente.
Estava à vontade entre sábios ou comuns. De todos, sentia-se igual.
Bacharel de
Caruaru, como diziam alguns medíocres detratores, empolgou em conferência o
seleto público da Sorbonne. Dialogou com os maiores líderes mundiais. Ficou
amigo de vários deles.
Com a mesma
naturalidade com que visitava os presos políticos nos cárceres, freqüentava os mais requintados salões.
Denunciava crimes políticos da ditadura com a mesma firmeza com que clamava
contra as injustiças sociais.
Não fazia
distinções no bem querer. Seus amigos não eram
velhos ou novos, freqüentes ou episódicos. Tinha amigos, e ponto final.
A todos dedicava, sem distinção, um afeto imenso e não excludente.
Nessa difícil
hora do adeus definitivo, vale ressaltar o exemplo de um homem plural, de
múltiplas facetas sempre propositivas. Sobretudo um ser humano que amava a
vida com todas as forças.
Em meio à imensa
tristeza da perda, me considero feliz. Como todos os que conviveram com ele,
carregarei para toda a vida a energia positiva que emanava do seu ser. O seu
exemplo nos convida a viver com mais ardor, com mais paixão.
Esse é o grande
tributo que podemos prestar à sua memória.
*Publicitário
e escritor. ze@makplan.com.br
22 fevereiro 2013
Mesmo com cautela, bom sinal
. Indicadores
de atividade industrial e consumo em janeiro mostram que a economia começou
2013 em ritmo acelerado, destaca o Valor Econômico. Para analistas, dados como
o avanço do tráfego de veículos pesados nas rodovias, a alta na expedição de
papelão ondulado e o salto na produção de automóveis apontam que a indústria
cresceu mais de 1 % em relação a dezembro, na série com ajuste sazonal, após a
perda de fôlego observada no último trimestre do ano passado. Para alguns
economistas, a alta pode chegar a 2%.
. No entanto, especialistas afirmam que é cedo para extrapolar esse comportamento para todo o primeiro trimestre, já que o aumento da atividade nas fábricas seguiu concentrado no setor automobilístico e o IPI totalmente reduzido para carros, em vigor até dezembro, pode ter dado um último alento às vendas e à produção do mês passado. Há, ainda, a percepção de que esse repique da indústria pode ser reflexo de recomposição de estoques e, portanto, não deve durar.
. No entanto, especialistas afirmam que é cedo para extrapolar esse comportamento para todo o primeiro trimestre, já que o aumento da atividade nas fábricas seguiu concentrado no setor automobilístico e o IPI totalmente reduzido para carros, em vigor até dezembro, pode ter dado um último alento às vendas e à produção do mês passado. Há, ainda, a percepção de que esse repique da indústria pode ser reflexo de recomposição de estoques e, portanto, não deve durar.
Benéfica assimetria
. Com o lucro recorde de R$ 12,2 bilhões
do Banco do Brasil e o resultado da Caixa, os bancos públicos elevaram seu ganho
em 5,6% em 2012, enquanto Itaú, Bradesco e Santander, juntos, registram recuo
de 5,3% no resultado.
. O motivo foi a expansão do crédito, informa O Globo.
. O motivo foi a expansão do crédito, informa O Globo.
Papa mandou investigar rede de sexo e corrupção
. A notícia
está no insuspeito (nesse caso) jornal O Globo e merece a atenção não apenas
dos católicos por refletir verdadeira crise na Igreja: relatos de prostituição
homossexual e desvio de dinheiro pesaram na renúncia.
. Um dossiê de 300 páginas, elaborado a pedido do Papa Bento XVI por três cardeais na esteira do escândalo VatiLeaks, acabou se transformando no argumento definitivo para a renúncia, segundo publicou o jornal italiano "La Repubblica".
. O relatório, entregue a ele dia 17 de dezembro, contém capítulos sobre corrupção, promiscuidade, mapeamento de uma rede de prostituição homossexual dentro do Vaticano e desvio de dinheiro. “Este documento será entregue ao próximo Papa, que deverá ser bastante forte, jovem e santo para poder enfrentar o trabalho que o espera teria reagido Bento XVI. O porta-voz do Vaticano não confirmou nem desmentiu o conteúdo.
. Um dossiê de 300 páginas, elaborado a pedido do Papa Bento XVI por três cardeais na esteira do escândalo VatiLeaks, acabou se transformando no argumento definitivo para a renúncia, segundo publicou o jornal italiano "La Repubblica".
. O relatório, entregue a ele dia 17 de dezembro, contém capítulos sobre corrupção, promiscuidade, mapeamento de uma rede de prostituição homossexual dentro do Vaticano e desvio de dinheiro. “Este documento será entregue ao próximo Papa, que deverá ser bastante forte, jovem e santo para poder enfrentar o trabalho que o espera teria reagido Bento XVI. O porta-voz do Vaticano não confirmou nem desmentiu o conteúdo.
Projetos opostos
Debate sobre legados de FHC versus Lula/Dilma contribui para
elevar a compreensão dos brasileiros sobre os rumos do País. Necessário e
oportuno.
Socorro oportuno
Corretas e oportunas as medidas anunciadas por Eduardo Campos
em favor dos municípios pernambucanos.
A verdade sobre o desempenho da Petrobras
Petrobras, perdas e lucros
Haroldo Lima
Haroldo Lima
O
recente anúncio do recuo de 36% no lucro líquido da Petrobras em 2012
causou um alvoroço tão grande quanto inadequado.
O desempenho financeiro de uma empresa como a
Petrobras não pode prescindir de uma análise histórica de sua
lucratividade, de uma apreciação sobre os preços do que produz e de uma
consideração sobre suas congêneres. Só assim as distorções e os gargalos
podem aparecer em suas verdadeiras dimensões, sem hipertrofias
politico-ideológicas.
No ano de 2012, com o recuo de 36%, o lucro
líquido da Petrobras ficou em R$21,18 bilhões. Seu significado fica mais
claro quando o olhamos em perspectiva.
De 1995 até 1999, a média de lucros da estatal foi
de R$1,19 bilhão. Em 2000, os lucros cresceram e sua média até 2002 foi de
R$ 6,93 bilhões, praticamente seis vezes à dos primeiros anos do governo
FHC.
A partir de 2003, início do governo Lula, há um
salto nos lucros da estatal e a média atingida nos oito anos seguintes foi
de R$ 25,5 bilhões, passando pelo recorde de R$ 35,19 bilhões em 2010.
Nenhuma empresa brasileira teve durante tanto tempo lucros tão
excepcionais.
Em
2011 e 2012, primeiros anos do governo Dilma, a média de lucros passou a
ser de R$ 27,25 bilhões, maior que a estupenda média dos oito anos do
governo Lula.
Vê-se assim que o lucro de R$ 21,18 bilhões de
2012 está longe de ser um desastre e nada tem a ver com risco de
"desmonte" da Petrobras.
Porém,
lucros altos e baixos ocorrem e suas causas são várias. Grosso modo,
pode-se dizer que o fundamental para os lucros de uma grande petroleira é
o preço do petróleo.
De
1999 para 2000, nenhuma mudança foi feita na direção da Petrobras e o
lucro da empresa foi multiplicado por seis. Motivo? O preço do petróleo
subiu! A partir de 2003, os preços do petróleo cresceram com mais ímpeto
ainda, atingindo US$134/barril em meados de 2008. A Petrobras estabeleceu
recordes de lucratividade, superiores a US$10 bilhões trimestrais.
Essa
correlação entre lucro de grande petroleira e preço de petróleo é tão
vigorosa que as maiores petroleiras lutam por garantir seus lucros
no posto de venda dos derivados, mas sabem que o maior lucro não vem
do posto, mas do poço. Naturalmente que outros fatores interferem
na formação do lucro, como a produção, a demanda de óleo e
seus derivados, a rede de distribuição, a exportação, a competência de
seus dirigentes etc.
Alguns
desses fatores atingem indistintamente as petroleiras, por isso, às vezes,
elas se encontram em situações similares. No início do segundo semestre de
2012, por exemplo, de 20 grandes petroleiras, onze tiveram prejuízos,
sendo que das dez maiores, apenas uma cresceu, a Exxon. Todas as demais
tiveram queda de lucro. E a Exxon cresceu porque vendeu ativos.
O
recuo de 36% no lucro da Petrobras se não é algo estranho ao mundo dos
grandes negócios, é sim um problema que precisa ser compreendido e
corrigido, a começar pela identificação de suas causas. E aí é que se viu,
na quase unanimidade da grande mídia brasileira, a ideia de que a causa
central dessa queda foi a decisão governamental de não permitir o aumento
do preço da gasolina, já que parte dela era importada a preço maior. Isto
está longe de ser verdade.
Primeiro
porque durante praticamente toda a década passada a estabilidade do preço
da gasolina em nada impediu a incessante melhora dos resultados
trimestrais. Entre 2003 e 2011, com preços estabilizados, o lucro da
Petrobras foi multiplicado por cinco.
Segundo
porque, no último ano, os preços dos combustíveis não ficaram congelados.
Em novembro de 2011, os da gasolina subiram cerca de 10% e os do diesel,
2%. Em junho de 2012, a União "zerou" a CIDE o que, em tese,
poderia reverter a margem negativa do refino da Petrobras.
Terceiro
porque o prejuízo com a importação da gasolina, no segundo trimestre de
2012, foi quatro vezes menor que com a importação do diesel (R$ 400
milhões versus R$ 1,9 bilhão) e os dois somados formam um valor
relativamente pequeno frente à receita das vendas totais: R$ 69 bilhões,
com alta de 3%, comparado ao trimestre anterior.
Finalmente
porque a maior causa do prejuízo foi cambial. Só no segundo trimestre do
ano passado, o dólar saltou de R$ 1,80 para R$ 2,04, e a empresa teve que
provisionar perdas de R$ 6,4 bilhões. Simulação de um especialista da ANP
mostrou que, mantidas as importações da gasolina e do diesel, e sem
aumentar seus preços internos, se não houvesse o prejuízo cambial, a
Petrobras teria saído, no segundo trimestre de 2012, de um prejuízo de R$
1,38 bilhão para um lucro de R$ 5 bilhões (Duque Dutra).
Outras
causas existiram do dito recuo, como a queda da produção, a desvalorização
de estoques, importações de gás natural liquefeito – GNL (por causa das
térmicas), "baixa" de poços secos etc.
Uma
petroleira estatal como a Petrobras tem como objetivos: ajudar o Estado a
desenvolver o país, alavancar a indústria e os serviços, propiciar o surgimento
de pequenas e médias empresas setoriais; tem também o dever de se afirmar
como grande empresa, aumentando sua produção e modernizando-se. Na
convergência dessas finalidades deve garantir ao povo combustível bom e a
preços módicos.
Banco do Brasil bem na foto
. BB eleva fatia de mercado e
ganha cliente com juro baixo, informa a Folha de S. Paulo.
. Crédito cresceu 24,9% no ano passado, expansão só inferior à da Caixa.
. Analistas previam forte redução nas margens e na rentabilidade que não se confirmou; ações sobem 4,07%.
. Crédito cresceu 24,9% no ano passado, expansão só inferior à da Caixa.
. Analistas previam forte redução nas margens e na rentabilidade que não se confirmou; ações sobem 4,07%.
O ovo ou a galinha?
O problema da oposição não é a falta de ideia nova do senador
Aécio. É a falta de ideia nova nos partidos que compõem a oposição.
Terra a terra
A
sexta-feira é de Salgado Maranhão: “O que é do
tempo/é da terra/o que é da terra/é do ter.”
A palavra instigante de Jomard
A POETICIDADE em O S0M AO REDOR
Jomard Muniz de Britto, jmb
são capazes de intuir, saber e fruir
diretamente: sem redes comparativas.
E teimamos em não ouvi-los ao redor.
Se o nada desaparecer, a poesia acaba.
Porém o que forma a imagem poética NÃO
é o ver, mas o TRANSVER.
Recomeço sublinhando o poetArcanjo Manoel
de Barros pelos arredores do mundo.
Tentando ir além dos malabares tão
jornalisticamente acadêmicos ao comparar
o novo com o que se tornou herança.
A palavra TRANSVER é nossa bússola, imã,
roteiro para escapar da ótica de citações.
Mais valeria a poeticidade enquanto
"irradiação do abissal", desde que anjos
e demônios nos envolvam em perversas
configurações de imagens e sonoridades.
Interpenetrações dos Freyre e Buarque de
Holanda pelo não (re)citado Evaldo Cabral
de Melo pela duração do escravismo colonial.
Todos irradiando abismos.
Todos ignorando hipóteses antirretóricas.
O SOM AO REDOR transfigura As Flores do
Mal, sem literaturas provinciais ou
antropologias ainda sublimadoras.
Precisamos não apenas citar, mas apreender
com Luis Costa Lima, tão perto longe de nós:
..."As Flores do Mal manifestam que a poesia
deixara de se confundir com uma comunicação
branda e reconfortante, com um elemento
reequilibrador da dureza ou da monotonia
cotidiana, para se converter em meio de
contato com o lado abissal da vida." (p.231
de A Ficção e o Poema).
Cada leitor, espectador, coautor de
O SOM AO REDOR pode experienciar
um conjunto de situações-limite .
Meteoritos do patriarcalismo.
Tardias miscigenações da Casa Grande.
Contra as mitomanias do miserabilismo.
Metáforas talvez lacaninas: inédito Lacan
na intersemiótica do cachorro ensurdecedor
aos cães de guarda de nosso capitalismo
que vai desaguar no mar de tubarões e...
cúmplices ilustríssimos da cinefilia.
Outras Flores do Mal e até do bem querer
para Emilie Lescaux e Kleber Mendonça Filho.
O SOM AO REDOR será sempre outra coisa.
Outras flores errantes de Baudelaire na
substantiva contemporaneidade.
Recife, fevereiro/março de 2013.
atentadospoeticos@yahoo.com.br
Jomard Muniz de Britto, jmb
Por que tudo tem de ser e estar
em regime
de comparação? Sabemos que apenas anjossão capazes de intuir, saber e fruir
diretamente: sem redes comparativas.
E teimamos em não ouvi-los ao redor.
Se o nada desaparecer, a poesia acaba.
Porém o que forma a imagem poética NÃO
é o ver, mas o TRANSVER.
Recomeço sublinhando o poetArcanjo Manoel
de Barros pelos arredores do mundo.
Tentando ir além dos malabares tão
jornalisticamente acadêmicos ao comparar
o novo com o que se tornou herança.
A palavra TRANSVER é nossa bússola, imã,
roteiro para escapar da ótica de citações.
Mais valeria a poeticidade enquanto
"irradiação do abissal", desde que anjos
e demônios nos envolvam em perversas
configurações de imagens e sonoridades.
Interpenetrações dos Freyre e Buarque de
Holanda pelo não (re)citado Evaldo Cabral
de Melo pela duração do escravismo colonial.
Todos irradiando abismos.
Todos ignorando hipóteses antirretóricas.
O SOM AO REDOR transfigura As Flores do
Mal, sem literaturas provinciais ou
antropologias ainda sublimadoras.
Precisamos não apenas citar, mas apreender
com Luis Costa Lima, tão perto longe de nós:
..."As Flores do Mal manifestam que a poesia
deixara de se confundir com uma comunicação
branda e reconfortante, com um elemento
reequilibrador da dureza ou da monotonia
cotidiana, para se converter em meio de
contato com o lado abissal da vida." (p.231
de A Ficção e o Poema).
Cada leitor, espectador, coautor de
O SOM AO REDOR pode experienciar
um conjunto de situações-limite .
Meteoritos do patriarcalismo.
Tardias miscigenações da Casa Grande.
Contra as mitomanias do miserabilismo.
Metáforas talvez lacaninas: inédito Lacan
na intersemiótica do cachorro ensurdecedor
aos cães de guarda de nosso capitalismo
que vai desaguar no mar de tubarões e...
cúmplices ilustríssimos da cinefilia.
Outras Flores do Mal e até do bem querer
para Emilie Lescaux e Kleber Mendonça Filho.
O SOM AO REDOR será sempre outra coisa.
Outras flores errantes de Baudelaire na
substantiva contemporaneidade.
Recife, fevereiro/março de 2013.
atentadospoeticos@yahoo.com.br
Defesa nacional
Pressões
e constrangimentos
Por Eduardo Bomfim, no portal Vermelho www.vermelho.org.br
O
escritor francês Honoré de Balzac em meio a sua produção literária de valor
universal tal como a Comédia Humana, resolveu catalogar desde 1830 as Máximas e
Pensamentos de seu conterrâneo Napoleão Bonaparte e não é à toa que se disse
que Balzac está para a literatura assim como Napoleão está para a História.
Por Eduardo Bomfim, no portal Vermelho www.vermelho.org.br
Assim o gênio de Napoleão ficou sistematizado
através de minuciosa pesquisa de outro gênio, deixando-nos um legado sobre
filosofia, arte, política, doutrina militar e geopolítica onde entre várias considerações
há aquela em que ele afirma que uma nação se recupera de todos os reveses
quando ela mantém a sua superfície.
Não foi com outra razão que a Comissão de
Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados promoveu em
2002 um seminário, com a presidência do deputado Aldo Rebelo, sobre Política de
Defesa para o Brasil no século XXI reunindo estudiosos da matéria.
Na justificativa do seminário, dizia Aldo
Rebelo, a sociedade brasileira retomou a preocupação com temas que muitos julgavam
definitivamente sepultados nos escombros do Muro de Berlim: Estado, soberania,
independência nacional, forças armadas etc.
O assunto não só se revelou atual como o
cenário mundial mostra-se em processo de agravamento onde a “doutrina da
intervenção em assuntos internos das nações” tornou-se um espetáculo grotesco
transmitido pela mídia hegemônica como própria aos fundamentos da nova ordem
global.
Acrescente-se à frase de Napoleão a
superfície continental do Brasil e temos à vista os desafios de Defesa Nacional
do povo brasileiro detentor em última instância da soberania do País numa época
em que se multiplicam as pilhagens aos recursos naturais de nações indefesas em
vários continentes.
Mesmo que não se dê crédito às inúmeras
provas documentadas sobre as históricas ambições imperiais relativas ao Brasil,
que se considere a frase do então vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore,
em 1989: Ao contrário do que os brasileiros pensam a Amazônia não é deles mas
de todos nós.
Afinal, estão pondo em prática o conselho do
estrategista mor dos Estados Unidos, Henry Kissinger, quando afirmou: Os Países
industrializados não poderão viver da maneira como existiram até hoje se não
tiverem à sua disposição os recursos não renováveis do planeta. Terão que montar
um sistema de pressões e constrangimentos garantidores da consecução de seus
intentos.
21 fevereiro 2013
O debate sobre os rumos da economia
Os pessimistas do mercado,
o PIB e o desenvolvimento
Por José Carlos Ruy, no portal Vermelho www.vermelho.org.br
Por José Carlos Ruy, no portal Vermelho www.vermelho.org.br
O PIB de 2012 pode chegar a 1,64% diz o Banco
Central, bem acima do pibinho de 1% alardeado pelos “pessimistas”. O debate se
acentua e os trabalhadores precisam estar atentos a ele.
No
momento em que o Banco Central divulga seu Índice de Atividade Econômica
(IBC-Br) com a previsão de que crescimento do PIB em 2012 pode ter sido maior
do que o extremo (e interessado) pessimismo do final do ano, chegando a 1,64%
(falava-se em 1% ou menos), surgem também sinais do aquecimento do debate que opõe
os partidários do desenvolvimento econômico aos que defendem o monetarismo
ultrapassado dos neoliberais. O índice de 1,64% resulta de um cálculo das
atividades econômicas sem ajustes sazonais; com esses reajustes, pode ter sido
menor, de 1,35%.
Mesmo assim, o índice anunciado merece considerações que relativizam o pessimismo dos analistas a respeito do PIB. Ele registra um aumento considerável. Cada 0,1% do PIB (referente ao valor de 2011, que foi de 4,143 trilhões de reais) significa 4,143 bilhões de riqueza nova criada.
A diferença pode ser do tamanho de meia Bolívia
Assim, apenas a diferença entre o pibinho de 1% dos pessimistas e o pib um pouco maior, de 1,64%, pode vir a ser de 26,7 bilhões de reais (ou 13,4 bilhões de dólares). Não é pouco. Comparado com alguns países sul americanos importantes, este valor corresponde a meia Bolívia (PIB de 24,6 bilhões de dólares em 2011) ou dois terços do Paraguai (PIB de 21,2 bilhões de dólares em 2011).
A diferença entre o pibinho de 1% e a possibilidade de chegar a 1,64% corresponde, também, à metade de tudo o que os moradores das favelas brasileiras consomem por ano - cerca de R$ 56 bilhões, segundo levantamento divulgado nesta quarta-feira (20) pelo instituto Data Popular e pela Central Única de Favelas (Cufa). Esta pode ser também uma indicação do papel desempenhado pelo fortalecimento do mercado interno como fator do crescimento econômico.
O desempenho do PIB em 2012 - um ano que foi ruim ao combinar os efeitos do aprofundamento da crise econômica nos países ricos com os reflexos tardios das medidas de contenção tomadas pelo governo brasileiro no primeiro semestre de 2011 - revela mais uma vez que a economia brasileira, embora não tenha ficado imune aos efeitos perversos da crise mundial, conseguiu defender-se melhor daquelas ameaças e mantém uma reação que se traduz no crescimento, mesmo moderado.
A comparação com o desempenho da Índia e da China, por exemplo, mostra que o país pode crescer mais. Mas, quando cotejada com o medíocre desempenho da União Europeia, que anda para trás, e mesmo dos EUA, onde as dificuldades se acumulam, a economia brasileira expõe uma saudável capacidade de resposta que resulta das medidas tomadas pelo governo para defender nossa produção e fomentar o crescimento econômico.
Cálculo econômico e interesses especulativos
Este é um momento em que o debate se acentua e, nele, as posições vão ficando claras. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou nesta quarta-feira (20) o Indicador de Clima Econômico, que é calculado com base em entrevistas com 138 economistas com apoio em parceria com o instituto alemão Ifo, sediado em Munique. No Brasil, entre outubro de 2012 e janeiro de 2013, ele teve uma discreta queda, de 6,1 para 5,9 pontos, refletindo recuo nos dois índices que formam o Indicador de Clima Econômico: o de expectativas, de 7,3 para 7,2 pontos, e o da situação atual, de 4,9 para 4,6 pontos.
Variações deste tipo resultam de cálculos econométricos cuja aparência técnica esconde opções ideológicas e práticas dos especialistas envolvidos. O próprio termo "expectativas" usado para denominar um dos indicadores desse cálculo denota que ele engloba forte dose de subjetividade, composta por uma combinação de interesse e busca do lucro com a convicção de que a economia caminha a favor ou contra a expectativa de ganhos.
Os “pessimistas” neoliberais são contra o desenvolvimento
De maneira mais invisível, o debate apareceu, nesta quarta-feira (20), na Folha de S. Paulo, nos artigos em que os economistas Delfim Netto e Alexandre Schwartsman apresentaram avaliações divergentes sobre a situação da economia.
Schwartsman é um homem do “mercado” - isto é, dos bancos. Monetarista, neoliberal, fez parte da diretoria do Banco Central entre 2003 e 2006 (sob Henrique Meirelles). Depois foi economista-chefe para a América Latina do ABN Amro Real (2006-2008) e do Grupo Santander Brasil (2008-2011), entre outras atividades ligadas ao sistema financeiro.
Ele é um crítico frequente da política econômica em vigor. Em seu artigo de hoje - intitulado Nem o bê-a-bá - ele se refere ao que considera má reputação na condução da política econômica pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Enfatizando uma ameaça inflacionária presente, ele acusa o ministério da Fazenda e o Banco Central de enfrentá-la com instrumentos errados, e critica o uso do câmbio para controlar a inflação. Condena o esforço do governo para manter a oscilação do valor do dólar ao redor de 2,00 reais e propõe o remédio preferido do receituário conservador, neoliberal e antidesenvolvimentista: o aumento dos juros. O argumento é o de sempre: juros mais altos ajudam a conter o consumo e, com isso, a segurar a inflação. Ele deve ser aplicado, diz, junto com a liberdade cambial que deixe o valor da moeda estrangeira oscilar ao sabor dos humores do mercado. “Isso nada mais é”, enfatiza, “do que o bê-á-bá da gestão de política monetária numa economia aberta a fluxos de capital”.
O fundamento dessa linha de argumentação é o dogma neoliberal que condena como imperdoável a intervenção do governo na economia para fomentar o crescimento econômico. Conservadores como Schwartsman têm verdadeira alergia ao uso de instrumentos de política econômica como a fixação do valor das moedas estrangeiras (o câmbio); de bancos oficiais (como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica ou o BNDES) para forçar a queda dos juros; ou de tarifas administradas (como combustíveis, energia, tarifas de transporte coletivo, por exemplo). Segundo o dogma, o Estado e o governo devem ficar longe disso, deixando tudo ao sabor do mercado - isto é, dos humores do grande capital do qual economistas como ele são servidores e porta-vozes.
O evidente exagero do pessimismo
Delfim Netto também é um conservador. Foi um dos expoentes da economia durante a ditadura militar de 1964, tendo sido ministro da Fazenda sob Médici (1969 a 1974); sob Figueiredo, foi ministro da Agricultura (1979) e do Planejamento (1979-1985). Mas, sendo um conservador, sempre foi um partidário do desenvolvimento e do crescimento econômico, mais ligado à burguesia industrial paulista do que ao setor financeiro. Depois da reeleição de Lula, em 2006, tornou-se um frequente interlocutor do presidente e hoje tem manifestado opiniões favoráveis à presidenta Dilma Rousseff e às linhas gerais da condução da política econômica pelo ministro Guido Mantega.
No artigo publicado nesta quarta-feira - intitulado apenas Pessimistas - ele diz com veemência que há um "evidente exagero" no pessimismo, que ignora os "avanços importantes" alcançados (entre eles “o claro progresso social que está gestando uma classe média” mais exigente). Ao mesmo tempo ele pensa que o famoso tripé da política econômica implantado sob Fernando Henrique Cardoso (superávit primário, modelo de meta de inflação e câmbio flutuante) continua em vigor.
Entre os avanços ele alinha a redução dos juros; o equacionamento dos preços de insumos básicos, como a energia. E cita também alguns temas preferidos dos conservadores, como a aprovação do sistema previdenciário do funcionalismo público e o controle do aumento de salários no serviço público por três anos.
Ele salienta também uma mudança que considera favorável ao desenvolvimento: “a melhora do entendimento entre o poder incumbente e o setor privado, que deve levar o empresário a introjetar o fato de que a política econômica é amigável e objetiva o aumento da competição e da produtividade”, podendo “levar a um PIB entre 3% e 4% em 2013”.
É o Titanic da especulação que pode estar afundando
Acompanhar este debate é fundamental para os trabalhadores. A década de governos progressistas completada este ano (os governos Lula e Dilma) representou uma mudança de fundo para o país e para os brasileiros; seu símbolo são os mais de 40 milhões que foram tirados da pobreza. O país reencontrou o caminho do desenvolvimento, do emprego, da distribuição de renda, recuperou e fortaleceu sua soberania nacional.
São ganhos inegáveis - mas há ainda muito a caminhar. Eles precisam ser consolidados e avançar. O Brasil continua, por exemplo, sendo um dos campeões na desigualdade social, realidade que precisa ser ultrapassada.
O caminho para os avanços só pode ser aquele que, entre as imposições da especulação financeira e os desafios do desenvolvimento, não vacile em enfrentar os privilégios de classe do grande capital. E use os instrumentos de Estado e de governo para promover o bem estar e a riqueza de todos os brasileiros.
Quando se referem ao país como um navio que está afundando, os “pessimistas” deixam de dizer que este Titanic é aquele do mundo de privilégios, prerrogativas e ganhos fáceis em que sempre viveram. A nave que os brasileiros estão construindo é outra; ela precisa ter lugares para todos.
Mesmo assim, o índice anunciado merece considerações que relativizam o pessimismo dos analistas a respeito do PIB. Ele registra um aumento considerável. Cada 0,1% do PIB (referente ao valor de 2011, que foi de 4,143 trilhões de reais) significa 4,143 bilhões de riqueza nova criada.
A diferença pode ser do tamanho de meia Bolívia
Assim, apenas a diferença entre o pibinho de 1% dos pessimistas e o pib um pouco maior, de 1,64%, pode vir a ser de 26,7 bilhões de reais (ou 13,4 bilhões de dólares). Não é pouco. Comparado com alguns países sul americanos importantes, este valor corresponde a meia Bolívia (PIB de 24,6 bilhões de dólares em 2011) ou dois terços do Paraguai (PIB de 21,2 bilhões de dólares em 2011).
A diferença entre o pibinho de 1% e a possibilidade de chegar a 1,64% corresponde, também, à metade de tudo o que os moradores das favelas brasileiras consomem por ano - cerca de R$ 56 bilhões, segundo levantamento divulgado nesta quarta-feira (20) pelo instituto Data Popular e pela Central Única de Favelas (Cufa). Esta pode ser também uma indicação do papel desempenhado pelo fortalecimento do mercado interno como fator do crescimento econômico.
O desempenho do PIB em 2012 - um ano que foi ruim ao combinar os efeitos do aprofundamento da crise econômica nos países ricos com os reflexos tardios das medidas de contenção tomadas pelo governo brasileiro no primeiro semestre de 2011 - revela mais uma vez que a economia brasileira, embora não tenha ficado imune aos efeitos perversos da crise mundial, conseguiu defender-se melhor daquelas ameaças e mantém uma reação que se traduz no crescimento, mesmo moderado.
A comparação com o desempenho da Índia e da China, por exemplo, mostra que o país pode crescer mais. Mas, quando cotejada com o medíocre desempenho da União Europeia, que anda para trás, e mesmo dos EUA, onde as dificuldades se acumulam, a economia brasileira expõe uma saudável capacidade de resposta que resulta das medidas tomadas pelo governo para defender nossa produção e fomentar o crescimento econômico.
Cálculo econômico e interesses especulativos
Este é um momento em que o debate se acentua e, nele, as posições vão ficando claras. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou nesta quarta-feira (20) o Indicador de Clima Econômico, que é calculado com base em entrevistas com 138 economistas com apoio em parceria com o instituto alemão Ifo, sediado em Munique. No Brasil, entre outubro de 2012 e janeiro de 2013, ele teve uma discreta queda, de 6,1 para 5,9 pontos, refletindo recuo nos dois índices que formam o Indicador de Clima Econômico: o de expectativas, de 7,3 para 7,2 pontos, e o da situação atual, de 4,9 para 4,6 pontos.
Variações deste tipo resultam de cálculos econométricos cuja aparência técnica esconde opções ideológicas e práticas dos especialistas envolvidos. O próprio termo "expectativas" usado para denominar um dos indicadores desse cálculo denota que ele engloba forte dose de subjetividade, composta por uma combinação de interesse e busca do lucro com a convicção de que a economia caminha a favor ou contra a expectativa de ganhos.
Os “pessimistas” neoliberais são contra o desenvolvimento
De maneira mais invisível, o debate apareceu, nesta quarta-feira (20), na Folha de S. Paulo, nos artigos em que os economistas Delfim Netto e Alexandre Schwartsman apresentaram avaliações divergentes sobre a situação da economia.
Schwartsman é um homem do “mercado” - isto é, dos bancos. Monetarista, neoliberal, fez parte da diretoria do Banco Central entre 2003 e 2006 (sob Henrique Meirelles). Depois foi economista-chefe para a América Latina do ABN Amro Real (2006-2008) e do Grupo Santander Brasil (2008-2011), entre outras atividades ligadas ao sistema financeiro.
Ele é um crítico frequente da política econômica em vigor. Em seu artigo de hoje - intitulado Nem o bê-a-bá - ele se refere ao que considera má reputação na condução da política econômica pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Enfatizando uma ameaça inflacionária presente, ele acusa o ministério da Fazenda e o Banco Central de enfrentá-la com instrumentos errados, e critica o uso do câmbio para controlar a inflação. Condena o esforço do governo para manter a oscilação do valor do dólar ao redor de 2,00 reais e propõe o remédio preferido do receituário conservador, neoliberal e antidesenvolvimentista: o aumento dos juros. O argumento é o de sempre: juros mais altos ajudam a conter o consumo e, com isso, a segurar a inflação. Ele deve ser aplicado, diz, junto com a liberdade cambial que deixe o valor da moeda estrangeira oscilar ao sabor dos humores do mercado. “Isso nada mais é”, enfatiza, “do que o bê-á-bá da gestão de política monetária numa economia aberta a fluxos de capital”.
O fundamento dessa linha de argumentação é o dogma neoliberal que condena como imperdoável a intervenção do governo na economia para fomentar o crescimento econômico. Conservadores como Schwartsman têm verdadeira alergia ao uso de instrumentos de política econômica como a fixação do valor das moedas estrangeiras (o câmbio); de bancos oficiais (como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica ou o BNDES) para forçar a queda dos juros; ou de tarifas administradas (como combustíveis, energia, tarifas de transporte coletivo, por exemplo). Segundo o dogma, o Estado e o governo devem ficar longe disso, deixando tudo ao sabor do mercado - isto é, dos humores do grande capital do qual economistas como ele são servidores e porta-vozes.
O evidente exagero do pessimismo
Delfim Netto também é um conservador. Foi um dos expoentes da economia durante a ditadura militar de 1964, tendo sido ministro da Fazenda sob Médici (1969 a 1974); sob Figueiredo, foi ministro da Agricultura (1979) e do Planejamento (1979-1985). Mas, sendo um conservador, sempre foi um partidário do desenvolvimento e do crescimento econômico, mais ligado à burguesia industrial paulista do que ao setor financeiro. Depois da reeleição de Lula, em 2006, tornou-se um frequente interlocutor do presidente e hoje tem manifestado opiniões favoráveis à presidenta Dilma Rousseff e às linhas gerais da condução da política econômica pelo ministro Guido Mantega.
No artigo publicado nesta quarta-feira - intitulado apenas Pessimistas - ele diz com veemência que há um "evidente exagero" no pessimismo, que ignora os "avanços importantes" alcançados (entre eles “o claro progresso social que está gestando uma classe média” mais exigente). Ao mesmo tempo ele pensa que o famoso tripé da política econômica implantado sob Fernando Henrique Cardoso (superávit primário, modelo de meta de inflação e câmbio flutuante) continua em vigor.
Entre os avanços ele alinha a redução dos juros; o equacionamento dos preços de insumos básicos, como a energia. E cita também alguns temas preferidos dos conservadores, como a aprovação do sistema previdenciário do funcionalismo público e o controle do aumento de salários no serviço público por três anos.
Ele salienta também uma mudança que considera favorável ao desenvolvimento: “a melhora do entendimento entre o poder incumbente e o setor privado, que deve levar o empresário a introjetar o fato de que a política econômica é amigável e objetiva o aumento da competição e da produtividade”, podendo “levar a um PIB entre 3% e 4% em 2013”.
É o Titanic da especulação que pode estar afundando
Acompanhar este debate é fundamental para os trabalhadores. A década de governos progressistas completada este ano (os governos Lula e Dilma) representou uma mudança de fundo para o país e para os brasileiros; seu símbolo são os mais de 40 milhões que foram tirados da pobreza. O país reencontrou o caminho do desenvolvimento, do emprego, da distribuição de renda, recuperou e fortaleceu sua soberania nacional.
São ganhos inegáveis - mas há ainda muito a caminhar. Eles precisam ser consolidados e avançar. O Brasil continua, por exemplo, sendo um dos campeões na desigualdade social, realidade que precisa ser ultrapassada.
O caminho para os avanços só pode ser aquele que, entre as imposições da especulação financeira e os desafios do desenvolvimento, não vacile em enfrentar os privilégios de classe do grande capital. E use os instrumentos de Estado e de governo para promover o bem estar e a riqueza de todos os brasileiros.
Quando se referem ao país como um navio que está afundando, os “pessimistas” deixam de dizer que este Titanic é aquele do mundo de privilégios, prerrogativas e ganhos fáceis em que sempre viveram. A nave que os brasileiros estão construindo é outra; ela precisa ter lugares para todos.
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