28 fevereiro 2015

Uma crônica para descontrair

Minha balalaica

Luciano Siqueira

Navegando pela internet ao jeito de puro devaneio - como quem não quer nada nem nada procura - encontro a palavra balalaica, que me desperta a atenção, mas logo a perco. E não consigo mais achar o texto que passou sob meus olhos como uma nuvem transitória e rápida.

Balalaica, quanto tempo!

Em que momento da minha vida apareceu uma balalaica? Como? Em que contexto?

Nunca vi uma balalaica, o objeto. 

Mas em algum instante uma balalaica me marcou. Guardo apenas a imagem tênue de uma garota em trajes ciganos dedilhando as cordas de uma. Num filme? Ou terei imaginado a cena ao ler um romance ou um poema?

Confesso certa frustração pela lembrança fugidia. Não que o "alemão" esteja me pegando, minha memória continua ativa e generosa. Mas por que diabo não consigo localizar a balalaica em minha já prolongada existência?

O fato é que sou tomado de inexplicável afeto pelo “instrumento musical russo de três cordas dedilhadas, de sessenta centímetros (balalaica prima) a um metro e setenta (balalaica baixo) de comprimento, com um corpo triangular (nos séculos XVIII e XIX também oval) levemente curvado e feito de madeira” - conforme fico sabendo pela Wikipédia.

Sigo pesquisando: “A família da balalaica inclui cinco instrumentos, do mais agudo ao mais grave: a balalaica piccolo (muito rara), a prima balalaica, segunda balalaica, balalaica alto, balalaica baixo e balalaica contrabaixo.” 

Tudo bem, mas não resolve o meu problema: achar a razão de tamanho afeto guardado em algum cantinho da minha consciência, que agora aflora.

Gosto de música, é verdade, embora não toque nenhum instrumento, nem cante sequer o Hino Nacional, desafinado incorrigível que sou. E nunca toquei uma balalaica, nem vi tocar.

Ah, minha balalaica querida, a ti que voltas a me emocionar depois de tanto tempo, prometo que ainda descobrirei a origem do nosso amor. Sem estresse nem obsessão, mas por fidelidade a esse sentimento tão puro.

Afinal, amor é assim: nem sempre a gente explica, como ensina Clarice; a gente sente, vive e renova. 

Quantos amores você que me lê agora já teve - breves, intensos, duradouros, findos, frustrados, eternos enquanto duraram feitos chama? 

Se em sua vida em algum momento uma balalaica lhe impressionou, me avise: quem sabe aí esteja a resposta à minha busca - num filme que seja, num romance ou um poema. E meu amor se fará para sempre redivivo.

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26 fevereiro 2015

O poeta canta o amor sempre

Foto: LS

Quero

Carlos Drummond de Andrade

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.


Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado,
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?


Quero que me repitas até à exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao dizer: Eu te amo, 

desmentes
apagas
teu amor por mim.


Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.


Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso.


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Quem inspira o 15 de março

O artigo do editor-adjunto de mercados do Financial Times - órgão da oligarquia financeira norte-americana -, pregando abertamente o impeachment da presidenta Dilma, deve ser rechaçado veementemente. Revela o verdadeiro caráter do movimento que a direita pretende realizar, em 15 de março, em várias cidades brasileiras. Esse filme já vimos outras vezes na História do Brasil. 

Uma mudança de época, mas não uma época de mudanças

A nova ordem e a política

Eduardo Bomfim, no Vermelho

A luta política sempre é travada sob condições objetivas determinadas o que implica na observação e análise da realidade concreta, para que nela se possa intervir com um considerável nível de clareza e eficácia. Essa é uma constatação básica à ação das forças que atuam no cenário da política, assim como nas ciências em geral, que exige, portanto, o acompanhamento dos fenômenos em curso nas sociedades, caso contrário corre-se o risco da repetição em círculos sem a devida compreensão dos rumos, da perspectiva do futuro, do progresso em geral.

Porém nós vivemos “uma mudança de época, mas não uma época de mudanças” civilizatória, salvo a óbvia transformação científica, tecnológica.

Na verdade há dois fatores hegemônicos que os povos lutam para superar num período de incertezas abrangentes, além da incertezas existenciais, comuns aos seres humanos.

É a presença de duas espécies de barbáries interligadas: a da crueldade histórica, da violência, da tortura em geral, da fome, desemprego, das guerras regionais que se multiplicam, e a barbárie das finanças globais que paira sobre as sociedades através da chamada governança mundial ditada pelo capital financeiro, o poder geopolítico dos EUA, em que bilhões de pessoas vivem com menos de 2 dólares por dia.

Assim é pela necessidade de combater essa realidade concreta que as nações lutam em busca de um outro desenho global mais democrático menos injusto, social e politicamente.

O capital rentista determina os caminhos das sociedades, dos indivíduos, e vem se alimentando de forma canibalesca com o fomento dos conflitos regionais, a captura das riquezas materiais, financeiras, a soberania dos países.

Por isso é que sob a égide dessa mudança de época mas não de uma época de mudanças, mesmo conectados pela internet, aplicativos digitais, os indivíduos acham-se tão desorientados como descrentes do progresso humano, das causas transformadoras que norteiam a humanidade, o espírito de um mundo melhor.

Daí surge o ceticismo com a política. Mas a luta determinada dos Estados nacionais como o Brics, a organização consciente das grandes maiorias, são o único caminho para a superação do status quo. Portanto urge aos segmentos progressistas, patrióticos, a peleja pela reabilitação Histórica dos elevados valores da política.
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O prazer da fotografia

Fim de tarde em Barra do Cunhaú, RN 

Petrobras sob cerco especulativo

A "nota" da Petrobras e a "nota" da Moody's

De que vive a Moody´s? Basicamente, de “trouxas” e de conversa fiada
Mauro Santayana, no Jornal do Brasil

A agência de classificação de “risco" Moody´s acaba de rebaixar a nota de crédito da Petrobras de Baa2 para Ba2, fazendo com que ela passe de "grau de investimento" para "grau especulativo".
Com sede nos Estados Unidos, o país mais endividado do mundo, de quem o Brasil é, atualmente, o quarto maior credor individual externo, a Moody´s é daquelas estruturas criadas para vender ao público a ilusão de que a Europa e os EUA ainda são o centro do mundo, e o capitalismo um modelo perfeito para o desenvolvimento econômico e social da espécie, que distribui, do centro para a "periferia", formada por estados ineptos e atrasados, recomendações e "notas" essenciais para a solução de seus problemas e a caminhada humana rumo ao futuro.
O que faz a Petrobras ?
Produz conhecimento, combustíveis, plásticos, produtos químicos, e, indiretamente, gigantescos navios de carga, plataformas de petróleo, robôs e equipamentos submarinos, gasodutos e refinarias.
De que vive a Moody´s?
Basicamente, de “trouxas” e de conversa fiada, assim como suas congêneres ocidentais, que produzem, a exemplo dela, monumentais burradas, quando seus "criteriosos" conselhos seriam mais necessários.
Conversa fiada que primou pela ausência, por exemplo, quando, às vésperas da Crise do Subprime, que quase quebrou o mundo em 2008, devido à fragilidade, imprevisão e irresponsabilidade especulativa do mercado financeiro dos EUA, a Moody,s, e outras agências de classificação de "risco" ocidentais, longe de alertar para o que estava acontecendo, atribuíram "grau de investimento", um dos mais altos que existem, ao Lehman Brothers, pouco antes que esse banco pedisse concordata.
Conversa fiada que também primou pela incompetência e imprevisibilidade, quando, às vésperas da falência da Islândia - no bojo da profunda crise europeia, que, como se vê pela Grécia, parece não ter fim - alguns bancos islandeses chegaram a receber da Moody´s o Triple A, o mais alto patamar de  avaliação, também poucos dias antes de quebrar.
Afinal, as agências de classificação europeias e norte-americanas,  agem, antes de tudo, com solidariedade de “classe”. Quando se trata de empresas e nações “ocidentais”, e teoricamente desenvolvidas - apesar de apresentarem indicadores macro-econômicos piores do que muitos países do antigo Terceiro Mundo - as agências “erram” em suas previsões e só vêem a catástrofe quando as circunstâncias, se impõem, inapelavelmente, seguindo depois o seu caminho na maior cara dura, como se nada tivesse acontecido.
Quando se trata, no entanto, de países e empresas de nações emergentes, com indicadores econômicos como um crescimento de 400% do PIB, em dólares, em cerca de 12 anos, reservas monetárias de centenas de bilhões de dólares, e uma dívida pública líquida de menos de 35%, como o Brasil, o relho desce sem dó, principalmente quando se trata de um esforço coordenado, com outros tipos de abutres, como o Wall Street Journal, e o Financial Times, para desqualificar a nação que estiver ocupando o lugar da "bola da vez".
Não é por outra razão que vários países e instituições multilaterais, como o BRICS, já discutem a criação de suas próprias agências de classificação de risco.
Não apenas porque estão cansados de ser constantemente caluniados, sabotados e chantageados por "analistas" de aluguel - como, aliás, também ocorre dentro de certos países, como o Brasil - mas também porque não se pode, absolutamente, confiar em suas informações.
Se houvesse uma agência de classificação de risco para as agências de “classificação” de risco ocidentais, razoavelmente isenta - caso isso fosse possível no ambiente de podridão especulativa e manipuladora dos "mercados" - a nota da Moody´s, e de outras agências semelhantes deveria se situar, se isso fosse permitido pelas Leis da Termodinâmica, abaixo do zero absoluto.
Em um mundo normal, nenhum investidor acreditaria mais na Moody´s, ou investiria um cent em suas ações, para deixar de apostar e aplicar seu dinheiro em uma empresa da economia real, que, com quase três milhões de barris por dia, é a maior produtora de petróleo do mundo, entre as petrolíferas de capital aberto, produz bilhões de metros cúbicos de gás e de etanol por ano, é a mais premiada empresa do planeta - receberá no mês que vem mais um "oscar" do Petróleo da OTC - Offshore Technologies Conferences - em tecnologia de exploração em águas profundas, emprega quase 90.000 pessoas em 17 países, e lucrou mais de 10 bilhões de dólares em 2013, por causa da opinião de um bando de espertalhões influenciados e teleguiados por interesses que vão dos governos dos países em que estão sediados aos de "investidores" e especuladores que têm muito a ganhar sempre que a velha manada de analfabetos políticos acredita em suas "previsões".
Neste mundo absurdo que vivemos, que não é o da China, por exemplo, que - do alto da segunda economia do mundo e de mais de 4 trilhões de dólares em ouro e reservas monetárias - está se lixando olimpicamente para as agências de "classificação" ocidentais, o rebaixamento da "nota" da Petrobras pela Moody´s, absolutamente aleatória do ponto de vista das condições de produção e mercado da empresa, adquire, infelizmente, a dimensão de um oráculo, e ocupa as primeiras páginas dos jornais.
E o pior é que, entre nós, de forma ridícula e patética, ainda tem gente que, por júbilo ou ignorância, festeja e comemora mais esse conto do vigário - destinado a  enfraquecer a maior empresa do país - que não passa de um absurdo e premeditado esbulho.

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O que nos encanta aos olhos

As múltiplas faces da luz

Ao longo da história, esse fenômeno da natureza foi interpretado de diversas formas. Artigo da CH mostra a evolução dos conceitos usados para explicar a luz, que hoje assume caráter dual.
Thaís Cyrino de Mello Forato, na Ciência Hoje
Foto: Aram Vartian

. Há milênios, várias civilizações construíram uma ampla cultura mitológica, para explicar a origem do mundo e o funcionamento do universo. Deuses e seres sobrenaturais seriam os responsáveis pelos fenômenos da natureza, como a luz do Sol, a de um raio ou a chama de uma fogueira. Além desse patrimônio cultural e religioso, o ser humano construiu outras formas de explicar a natureza, como a filosofia e a ciência moderna.
O pensamento filosófico ocidental surgiu na Grécia, por volta do século 6 a.C. Nesse contexto, as primeiras teorias filosóficas para explicar a luz variavam segundo as escolas de pensamento, formadas por pensadores que compartilhavam visões semelhantes sobre o funcionamento do mundo.
. O filósofo Leucipo de Mileto (c. 500 a.C.) acreditava que os objetos emitiam pequenas partículas – como se fossem películas que se desprendiam de sua superfície – que chegavam a nossos olhos, ocasionando a visão. Essas películas – denominadas eidola (plural de eidolun) – carregavam informações, como a cor e a forma dos objetos. A luz, portanto, seria essa emanação material, transmitida dos objetos visíveis para o olho do observador, e a sensação visual seria causada pelo contato direto das eidola com o órgão dos sentidos.
. Leucipo era adepto do atomismo e foi um dos representantes mais conhecidos dessa escola de pensamento, como Demócrito (c. 460-370 a.C.), Epicuro (c. 341-270 a.C.) e Lucrécio (c. 98-55 a.C.). Sua explicação para a luz estava vinculada à sua concepção de funcionamento do universo: o mundo era formado por átomos (minúsculas partículas eternas e indivisíveis), que se movimentavam no espaço vazio em todas as direções e se combinavam ‘ao acaso’, formando toda a matéria conhecida.
A teoria atomista deixava questões sem resposta: como as eidola passam umas pelas outras sem se chocarem ou interagirem? Se eram formadas por átomos, por que não se combinavam formando uma imagem confusa? Como as eidola de uma montanha encolhem suficientemente para caber nos olhos? Por que os objetos distantes parecem menores?
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Direitos

Políticas públicas direcionadas a necessidades e direitos das populações indígena, quilombolas e LGBT são um dever dos nossos governos. Nada pode deter o cumprimento desse dever. Muito menos resistências movidas pelo preconceito e pela discriminação.

Momento de alta tensão

Rastilho de ódio

Luciano Siqueira

Muito mais do que a discordância natural em relação ao governo, propaga-se como o vento um sentimento oposicionista contaminado pelo preconceito, a intolerância e o desrespeito à convivência democrática.

Partidos conservadores ao estilo da velha UDN, que põem o combate à corrupção em tom abertamente hipócrita como biombo para ocultar seus verdadeiros intentos, e a grande mídia mancomunada com a oligarquia financeira compõem o sistema oposicionista radicalmente direitista.

O PSDB, maior partido de oposição, que antes se dizia viver “em cima do muro”, hoje assume abertamente a ruptura com a ordem democrática em favor do retrocesso político e econômico que não logrou através do voto.

Os atos públicos em favor do impeachment da presidenta Dilma, convocados para o próximo 15 de março, fazem parte dessa onda conservadora.

Não se debatem ideias, não se cotejam projetos políticos; semeia-se um rastilho de ódio avesso a qualquer discussão racional.

Dilma e o PT são o alvo. A derrubada do governo é o objetivo, sem o menor respeito ao pronunciamento do eleitorado no pleito de outubro.

O ódio também se dissemina em parcelas significativas dos setores médios da população, pouco esclarecidos e não plenamente contemplados com as conquistas sociais verificadas nos últimos doze anos.

O PT é atacado menos pelos erros cometidos e, sobretudo, pelos êxitos alcançados. A rejeição à inserção social de mais de quarenta milhões de brasileiros muito pobres ou que viviam sob condições abaixo da linha da pobreza é a pedra de toque do combate ao PT.

O ódio disseminado gera o caldo de cultura propício à pregação fascistóide.

Por outro lado, estão muito longe do dever cívico a reação do governo e do partido hegemônico na coalizão governista, o PT. São tímidas, quando não ausentes, as manifestações da própria presidenta Dilma e do ex-presidente Lula.

O ato público em defesa da Petrobras, ocorrido no Rio de Janeiro dias atrás pode ser um primeiro sinal de reação. Tomara.

Não é uma luta menor, muito menos pontual e passageira. Trata-se do maior embate já ocorrido desde que iniciada a transição da ordem neoliberal, herdada da era FHC, a um novo projeto de nação em construção a partir do primeiro governo Lula.

Essa transição, conflituosa por natureza, marcada pela alternância de instantes aparentemente mornos e de grande acirramento, tem o seu conteúdo e o seu ritmo determinados pela correlação de forças.

Hoje, o segundo governo Dilma enfrenta uma correlação de forças muito adversa, pesando substancialmente a dispersão da sua base partidária e parlamentar de apoio e a dificuldade momentânea de mobilizar a sua base social, fundamentalmente localizada entre os assalariados, a juventude, a intelectualidade e as camadas populares e o empresariado progressista.

Nunca foi tão necessário retomar organizadamente o movimento pela continuidade das mudanças. O que requer, antes de tudo, intenso e esclarecedor debate de ideias – no parlamento, nos fóruns de movimento social, nas redes e nas ruas. (Publicado no portal Vermelho e no Blog de Jamildo/portal ne.10)

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25 fevereiro 2015

Mais moradias

As 920 moradias que a presidenta Dilma entrega hoje em Feira de Santa, BA, do Programa Minha Casa, Minha Vida, beneficiam mais de 3 mil e 600 pessoas que têm renda de até R$ 1,6 mil mensais. 

Diversionismo

Comissão da Reforma Política na Câmara dos Deputados anuncia elenco de pontos secundários e foge de uma questão central, o financiamento de campanhas por grupos econômicos privados.

Entreguismo explícito

A tentativa de desmontar a Petrobras

Luis Nassif, no GGN

O editorial do jornal O Globo de ontem é claro. O interesse maior não é o de punir malfeitos, prender corruptos e corruptores: é mudar o sistema de partilha do pré-sal. Trata-se de uma bandeira profundamente rentável, a se julgar pelo afinco com que veículos se dedica a ela.
***
A geopolítica do petróleo não é uma mera teoria da conspiração: é um dado da realidade, por trás dos grandes movimentos políticos do século, especialmente em países que definiram modelos autônomos de exploração do petróleo. E as mídias nacionais sempre tiveram papel relevante, não propriamente por convicções liberais e internacionalistas.
***
Para o editorial, o Globo certamente teve o auxílio do ectoplasma de algum editorialista dos anos 50. Os bordões são os mesmos: "O PT, ao reagir ao petrolão, ressuscita um discurso da década de 50 e recoloca o Brasil na situação de antes da assinatura dos contratos de risco, no governo Geisel: o petróleo era “nosso”, mas continuava debaixo da terra. Agora, do mar".
Valia nos anos 50, antes que a Petrobras conseguisse sucesso nas suas prospecções. É uma piada em 2015, quando a empresa consegue extrair 700 mil barris diários do pré-sal. Aliás, é o segundo erro do jornal. O primeiro é supor que a Petrobras ou o sistema de exploração do petróleo é bandeira do PT.
Trata-se de um pilar de política industrial e social que vai muito além dos jogos partidários.
***
As propinas pagas são caso de polícia. Corruptores e corrompidos precisam ser identificados, processados e presos. Pretender atribuir a corrupção à empresa ou ao modelo de exploração do pré-sal é malandragem política.
Diz o editorial: "Se a Petrobras, em condições normais, já tinha dificuldades para tocar esse plano de pedigree “Brasil Grande”, agora é incapaz de mantê-lo. Não tem caixa nem crédito para isso. Não há como sustentar o modelo".
A empresa enfrenta problemas momentâneos de caixa, que poderão ser resolvidos com desmobilizações, com a entrada em operação de vários dos investimentos e assim que houver um mínimo de competência política do governo, para deslindar o novelo policial-financeiro criado pela Lava Jato.
***
Ao longo das últimas décadas, os avanços proporcionados pela Petrobras foram muito além da atividade principal, de tirar petróleo. Hoje em dia, a prospecção em águas profundas é a única tecnologia global na qual o país se destaca, ao lado da aeronáutica.
A política de conteúdo nacional fortaleceu toda uma cadeia de fabricantes de máquinas e equipamentos. O transporte de combustíveis e as plataformas permitiram recriar a indústria naval. A pesquisa brasileira avançou uma enormidade através das pesquisas em rede com as principais universidades nacionais.
***
Nos últimos anos, a Petrobras foi vítima de três atentados. Do PT, ao permitir e ampliar a permanência de esquemas de financiamento de campanha, destruindo os sistemas internos de controle da empresa. Do governo Dilma, ao conferir responsabilidades inéditas à empresa e, ao mesmo, tirar-lhe o oxigênio com os sub-reajustes tarifários. E, agora, da oposição e da velha mídia, valendo-se do álibi da corrupção para bancar campanhas pouco nítidas para seus patrocinadores.

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Em defesa da Petrobras

A presença de Lula no ato público em defesa da Petrobras, ontem, no Rio. Leia aqui http://migre.me/oLu5P

24 fevereiro 2015

O prazer da fotografia

Gente na praia. Ponta Negra, Natal

A vida do jeito que é

Sêmens de luto

Marco Albertim, no Vermelho

Ele atravessou a sala do velório com os passos tão bambos quanto fora sua vida nos últimos dois dias. É certo que tinha um defeito nas pernas, e isso o tornava tão característico quanto os óculos de lentes grossas no nariz anguloso; além da barbicha e o bigode ralos e bastos. Fora sempre percebido porque sabia juntar aos petrechos do rosto, a voz cava, de sonoridade limpa. Mas o pai estava morto, estendido no caixão com cravos brancos nos lados, nos extremos.


Depois, na quarta-feira de cinzas, na avenida em frente ao cemitério, ouvia-se o som de um frevo mortiço, agonizante. Do lado de fora da capela, os flamboaiãs deixavam cair flores ainda rubras mas em queda triste.

Lembrou-se da segunda-feira gorda. Sábado e domingo, ele já os tinha nos idos da memória; usara-os para descobrir-se como folião maduro e apto para o coito carnal. Na segunda-feira, tinha a noção disso, os sêmens são tão abundantes quanto inquietos; também reivindicam o escorregamento nas ladeiras de Olinda.

Não pusera bermuda para não expor o contraste das pernas finas com a rigidez das pedras nas ruas das ladeiras. Sobre a calça jeans, a camisa de algodão, vermelha, cobriu com justeza a esqualidez de suas costelas. No carnaval ninguém repara nos detalhes; a descoberta de um ou outro, acentua-lhes a suposta originalidade. Com o panamá na cabeça, creu-se convincente; não careceria confessar que deixara para trás os pares desembarcados de um voo de Cuba; inda que fosse um arremedo de discurso para dar cores à indumentária.

Mas Leonor Padura, de fato desembarcara de um voo vindo de Santiago de Cuba. Ele a recebera no aeroporto, ele e comunistas menos afoitos como Sandino Jordão. Apressara-se a descortinar o Recife, Olinda, como cidades resgatadas não só da influência holandesa, mas já sulcadas de paus boleados em cima e austeros com a bandeira vermelha. Urdir a bandeira rubra tremulando numa torre no Alto da Fé, não seria um sonho juvenil, nem uma fraude aos olhos inquiridores de Leonor Padura, mas um penduricalho no seu juízo curioso. Quinze dias antes do carnaval. A caribenha tivera tempo de auscultar, aferir e deduzir os tons dos flabelos e estandartes.

Como quieras - dissera ela a seus convites.

Ele arremedara passos de frevo para o regalo da caribenha. Ela rira. Muy bueno. No sábado gordo, no domingo prenhe de promessas. No bulício do passeio livre da Praça da Preguiça. A segunda-feira se anunciando sem cerimônia para o conluio ideológico. Véspera do conúbio entre os sexos.

O reencontro deu-se nos Quatro Cantos. O sol de um lado e de outro, incidira o foco principal da luz no rosto cor de trigo de Leonor Padura. Ela rira com fartura ouvindo a conversa balbuciada, mas com rito de compromisso, de Sandino Jordão. Foi falar com os dois, posto que tomara partido na comissão de recepção. Olá, Marcílio. Cumprimentara-o e logo retomou o sorriso para os balbucios de Sandino.

A notícia da morte do pai sufocou os indícios de sedição que ainda mantinha seus sentidos ativos.

Na capela, depois de atravessar a sala do velório, postou-se em pé, junto à cabeça do defunto. Viu Sandino e Leonor entrando no cemitério. Ela teria atenção com ele; não a atenção que ele urdira, mas o cumprimento curto, com secura nos dentes, diferente da umidade dos lábios que ela deixara escapar na véspera.

O caixão não seria coberto pela bandeira vermelha. No vácuo do espaço ao lado, nenhuma coroa de flores em memória do camarada pai que não fora camarada de partido.

Do lado de fora da capela, o mesmo coveiro que abrira a gaveta para depositar o caixão, puxou o sino. O caixão foi fechado. Deu-se o cortejo. Sandino e Leonor seguiram atrás. Os dois fortalecendo os sentimentos recém-abertos, na segunda-feira de sêmens abundantes. Marcílio Castanho não chorou a morte do pai; acostumara-se a vê-lo quase morto na cama, prostrado pelas crises de hemoptises.

Mas Sandino e Leonor, pensou, não tinham o direito de celebrar o amor ali, sabendo-o despojado dela e do pai que deixou poucas lembranças.

22 fevereiro 2015

Preconceito

A "santa ira" da oposição e da grande mídia contra o PT se dá mais pelos êxitos, em 12 anos de governo, do que pelos erros dos petistas. 

Ivan, 70 anos

Li agora que Ivan Lins completa 70 anos. Comemorará o ano todo com DVD, CD e espetáculos pelo Brasil afora. Merece. "Vitoriosa" é uma de suas mais belas composições http://migre.me/oIsFz 

21 fevereiro 2015

Ameaça à democracia

Golpismo à brasileira veste roupagem jurídica

Marcelo Semer, no GGN
A necessidade de aprovar uma reforma para o Judiciário foi o pretexto empregado pelo general Ernesto Geisel para justificar o fechamento do Congresso em 1977. Com base em atos institucionais que haviam sido escritos pela própria ditadura, editou-se, no entanto, o Pacote de Abril que, entre outras atrocidades, desfigurou a representação parlamentar para aumentar o suporte congressual ao regime.
A grotesca declaração de vacância do presidente João Goulart, lida numa tétrica noite do Congresso Nacional, aliás, já havia aberto caminho para a institucionalização da ditadura, treze anos antes.
Não faltam na história brasileira soluções hipoteticamente jurídicas para mascarar golpes e rupturas institucionais sempre que os setores empoderados se viram distantes do poder político.
A própria trama que levou Getúlio ao suicídio se fundou em um inquérito policial, cujos resultados, que antecediam às investigações, eram diuturnamente amplificados na imprensa, criando, com base em ilações jamais demonstradas, um clima propício à renúncia ou destituição.
A grande mídia, como se sabe, deu suporte a praticamente todas essas manobras na questionável qualidade de representante do interesse público – leia-se aqui do mercado financeiro, de líderes industriais e da classe média urbana. Afinal, se o poder não está no poder, alguma coisa definitivamente deveria estar fora da ordem.
Por tudo isso, pelas tristes e cruéis lições da história e a amplitude dos poderosos insatisfeitos, nem é de se estranhar que imediatamente ao resultado das últimas eleições tenha-se iniciado uma campanha de negacionismo: pedido de recontagem das urnas, chamados por intervenção militar, mobilização pelo impeachment.
A última delas chegou a ser revestida de uma plumagem jurídica, mesmo na ausência de qualquer crime de responsabilidade que esteja à disposição do anseio golpista cada vez menos disfarçado de seus proponentes.
Mas também aí nada de novo.
Sempre houve, entre nós, juristas que se dispuseram a ceder, às vezes até alugar, seu conhecimento jurídico para institucionalizar soluções autoritárias. Muitos deles perseveram mandando às favas os escrúpulos da consciência.
Verdade seja dita: isso não é um privilégio nacional. Hitler também não teve qualquer dificuldade de sedimentar, com apoio de juristas de plantão e de renome, seu caminho legal para a barbárie.
A ânsia de buscar fundamentação jurídica para atrocidades não passa de um subterfúgio publicitário e um eufemismo para apaziguar consciências que se apregoam ilustradas. E porque, como ensinou Goebbels, até mesmo o autoritarismo precisa de propaganda.
Mas o que sai de suas entranhas nunca será direito.
Nossa ditadura jamais deixou de ser ditadura apenas porque houve um rodízio de generais, nem porque preservou algumas eleições e certos mandatos. Sempre que o poder esteve em risco vozes foram silenciadas, Congresso desprezado e eleições manipuladas. Aqueles que mais se diziam defensores da lei e da ordem foram, ao final, os maiores violadores do estado de direito.
No estado democrático, todavia, o direito não pode existir como forma de sepultar a vontade das urnas. Por mais incômoda que ela se apresente. Sempre haverá um novo pleito para que os derrotados possam submeter suas teses e seus nomes, suas agendas e seus projetos aos eleitores.
Alimentar as especulações pelo impeachment, porque a vitória do oponente desagrada; surfar no golpismo, pelo oportunismo das alianças; levar a interpretação da lei às sombras do direito para tornar a política irrelevante. Tudo isto fragiliza o processo mais que o resultado; o Estado mais que o governo; a democracia mais que o partido.
Espera-se, enfim, que aquela conversa toda sobre alternância de poder, insistentemente repetida antes das eleições, não tenha sido pensada na sucessão entre democracia e estado de exceção.

Marcelo Semer é Juiz de Direito em SP e membro da Associação Juízes para Democracia. Junto a Rubens Casara, Márcio Sotelo Felipe, Patrick Mariano e Giane Ambrósio Álvares participa da coluna Contra Correntes, que escreve todo sábado para o Justificando.
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Origem e DNA nada nobre do HSBC

Quem nos governa?

Vladimir Safatle, na Carta Capital

Em 2013, Elisabeth Warren, senadora dos EUA, perguntou: "Quanto tempo ainda será necessário para se fechar um banco como o HSBC?"
Estamos em 1860. O Império Britânico acaba de vencer a famosa “Guerra do Ópio” contra a China, talvez uma das páginas mais cínicas e criminosas da história cínica e criminosa do colonialismo. Metade do comércio da Inglaterra com a China baseia-se na venda ilegal de ópio. Diante da devastação provocada pela droga em sua população, o governo chinês resolve proibir radicalmente seu comércio. A resposta chega por uma sucessão de guerras nas quais a Inglaterra vence e obriga a China a abrir seus portos para os traficantes e missionários cristãos (uma dupla infalível, como veremos mais à frente), além de ocupar Hong Kong por 155 anos.
Em 1860, guerra terminada, os ingleses tiveram a ideia de abrir um banco para financiar o comércio baseado no tráfico de drogas. Dessa forma apoteótica, nasceu o HKSC, tempos depois transformado em HSBC (Hong Kong and Shangai Bank Corporation), conhecido de todos nós atualmente. Sua história é o exemplo mais bem acabado de como o desenvolvimento do capitalismo financeiro e a cumplicidade com a alta criminalidade andam de mãos dadas.
A partir dos anos 70 do século passado, por meio da compra de corporações nos Estados Unidos e no Reino Unido, o HSBC transformou-se em um dos maiores conglomerados financeiros do mundo. No Brasil, adquiriu o falido Bamerindus. Tem atualmente 270 mil funcionários e atua em mais de 80 países. Sua expansão deu-se, em larga medida, por meio da aquisição de bancos conhecidos por envolvimento em negócios ilícitos, entre eles o Republic New York Corporation, de propriedade do banqueiro brasileiro Edmond Safra, morto em circunstâncias misteriosas em seu apartamento monegasco. Um banco cuja carteira de clientes era composta, entre outros, de traficantes de diamantes e suspeitos de negócios com a máfia russa, para citar alguns dos nobres correntistas. Segundo analistas de Wall Street, a instituição financeira de Nova York teria sido vendida por um preço 40% inferior ao seu valor real.
Assim que vários jornais do mundo exibiram documentos com detalhes de como a filial do HSBC em Genebra havia lavado dinheiro de ditadores, traficantes de armas e drogas, auxiliado todo tipo de gente a operar fraudes fiscais milionárias e a abrir empresas offshore, a matriz emitiu um seco comunicado no qual informava que tais práticas, ocorridas até 2007, não tinham mais lugar e que, desde então, os padrões de controle estavam em outro patamar. Mas não é exatamente essa a realidade.
Em julho de 2013, a senadora norte-americana Elisabeth Warren fez um discurso no qual perguntava: quanto tempo seria ainda necessário para fechar um banco como o HSBC? A instituição havia acabado de assumir a culpa por lavagem de dinheiro do tráfico de drogas mexicano e colombiano, além de organizações ligadas ao terrorismo. Tudo ocorreu entre 2003 e 2010. A punição? Multa irrisória de 1,9 milhão de dólares.
Que fantástico. Entre 2006 e 2010, o diretor mundial do banco era o pastor anglicano (sim, o pastor, lembram-se da Guerra do Ópio?) Stephen Green, que, desde 2010, tem um novo cargo, o de ministro do gabinete conservador de David Cameron, cujo governo é conhecido por não ser muito ágil na caça à evasão fiscal dos ricos que escondem seu dinheiro. Enquanto isso, os ingleses veem seu serviço social decompor-se e suas universidades serem privatizadas de fato. O que permite perguntas interessantes sobre quem realmente nos governa e quais são seus reais interesses.
Alguns fatos são bastante evidentes para qualquer interessado em juntar os pontos. Você poderia colocar seus filhos em boas escolas públicas e ter um bom sistema de saúde público, o que o levaria a economizar parte de seus rendimentos, se especuladores e rentistas não tivessem a segurança de que bancos como o HSBC irão auxiliá-los, com toda a sua expertise, na evasão de divisas e na fraude fiscal. Traficantes de armas e drogas não teriam tanto poder se não existissem bancos que, placidamente, oferecem seus serviços de lavagem de dinheiro com discrição e eficiência. Se assim for, por que chamar de “bancos” o que se parece mais com instituições criminosas institucionalizadas de longa data?
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Uma opinião certeira

A grande encruzilhada

Alfredo Bosi, na Carta Capital

Quando nos encontramos diante de uma encruzilhada, não nos resta senão refletir com a cabeça fria. O que nos espera no fim de cada caminho a ser escolhido? Vivemos hoje um momento em que qualquer decisão será grávida de consequências para o destino do povo brasileiro.

Mais da metade do eleitorado optou por uma proposta de governo que conjugasse a retomada do crescimento com a manutenção de uma política social distributiva da renda nacional. Essa diretriz norteou as políticas públicas dos últimos doze anos.

Quando olhamos em retrospecto, vemos que as linhas mestras foram desenhadas no final da ditadura. Criou-se então uma corrente ideológica ancorada em ideais de centro-esquerda e representada por sindicalistas independentes, cristãos progressistas e intelectuais socialistas democráticos. O seu eixo distributivista conseguiu tirar da pobreza extrema 36 milhões de brasileiros, segundo dados da OIT. A pressão da máquina neoliberal não conseguiu desmontar a legislação trabalhista ou arrastar os governos ao desemprego em massa. Nem ceder à tentação das privatizações lesivas ao bem público. E o Brasil passou a ser a sétima economia do mundo.

Nesse meio-tempo, o inveterado mal da corrupção, que vinha de longe, continuou a seduzir funcionários, empresários e políticos de amplo espectro. Mas agora há espaço institucional ara julgar com isenção os culpados. O que é um progresso moral e jurídico. O caminho sensato é punir os agentes da corrupção sem destruir o que restou de um ideal humanizador do sistema capitalista. O outro caminho, que leva a lutas ferozes pelo poder, só a cegueira poderia escolhê-lo.
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Enfrentamento da violência criminal

Não é simples a redução  da violência criminal urbana, nas suas variadas dimensões. O Pacto pela Vida tem conquistado êxito quanto aos homicídios, com reveses parciais recentes. O problema sofre a influência de múltiplos fatores, entre os quais a espetaculirazação da violência no noticiário, programas especializados e filmes enlatados exibidos em horário nobre. O que exige a combinação da prevenção com a recessão, mediadas pelo respeito aos Direitos Humanos; e nas ações repressivas, ênfase na inteligência ao invés do confronto direto e violento com as organizações criminosas. 

Mero casuísmo

Tão casuística quanto a criação de novas legendas para favorecer a migração de parlamentares (sem o risco da perda do mandato) é o projeto de lei do senador Fernando Bezerra Coelho, que impõe doze anos de existência de uma legenda para que possa se fundir ou se incorporar a outra. Melhor cuidar da campanha pela Reforma Política Democrática, liderada pela OAB, CNBB, UNE e mais de cem entidades da sociedade civil. 

Combate à corrupção

Diga não à doação de empresas nas eleições! Nesta semana, a líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Jandira Feghali, destaca a importância de se promover uma reforma política democrática no Brasil e, dessa forma, acabar com o financiamento empresarial de campanhas eleitorais.

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Apoio ao pequeno agricultor

Garantia-Safra, do governo federal, abrange 3,7 milhões de agricultores em 4 anos. Beneficia agricultores com renda média de até um salário mínimo e meio, excluídos os benefícios previdenciários rurais, e plantam entre 0,6 e 5 ha. As culturas incluídas no programa são feijão, milho, arroz, mandioca, algodão ou outras atividades agrícolas de convivência com o Semiárido, que abrange os municípios localizados na região Nordeste, norte de Minas Gerais (Vale do Mucuri e Vale do Jequitinhonha) e no norte do Espírito Santo.

O poeta canta a sua paixão

Rodolfo Barral

Amor

Mia Couto

Nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.

Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.

E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.

E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.

Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.

Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.

Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.

E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.

E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.

Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar


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Resistência ativa

Lideranças divulgam manifesto em defesa da legalidade e da Petrobras

Foi divulgado nesta sexta-feira (20) um manifesto assinado por lideranças intelectuais e socias como Aldo Arantes, Celso Amorim, Emir Sader, Fabio Konder Comparato, Franklin Martins, João Pedro Stédile, José Paulo Sepúlveda Pertence, Marilena Chauí, entre outros, que denuncia a tentativa de enfraquecer a Petrobras, com a Operação Lava Jato, para atender os interesses internacionais.
Sob o título "O que está em jogo agora", o documento afirma que as investigações da Lava Jato desencadearam "um processo político que coloca em risco conquistas da nossa soberania e a própria democracia".

"Com efeito, há uma campanha para esvaziar a Petrobras, a única das grandes empresas de petróleo a ter reservas e produção continuamente aumentadas. Além disso, vem a proposta de entregar o pré-sal às empresas estrangeiras, restabelecendo o regime de concessão, alterado pelo atual regime de partilha, que dá à Petrobras o monopólio do conhecimento da exploração e produção de petróleo em águas ultraprofundas. Essa situação tem lhe valido a conquista dos principais prêmios em congressos internacionais", afirma o manifesto.

O documento ressalta que está em curso uma ação dos interesses geopolíticos dominantes para controlar o petróleo. "Entre nós, esses interesses parecem encontrar eco em uma certa mídia a eles subserviente e em parlamentares com eles alinhados. Debilitada a Petrobras, âncora do nosso desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, serão dizimadas empresas aqui instaladas, responsáveis por mais de 500.000 empregos qualificados, remetendo-nos uma vez mais a uma condição subalterna e colonial", destaca o texto.

O manifesto denuncia ainda que para atender a esses interesses, setores "estimulam o desgaste do governo legitimamente eleito, com vista a abreviar o seu mandato".

"Para tanto, não hesitam em atropelar o Estado de Direito democrático, ao usarem, com estardalhaço, informações parciais e preliminares do Judiciário, da Polícia Federal, do Ministério Público e da própria mídia, na busca de uma comoção nacional que lhes permita alcançar seus objetivos, antinacionais e antidemocráticos."

Ao final, o manifesto destaca que o país já viveu tal afronta em 1964. "Custou-nos um longo período de trevas e de arbítrio. Trata-se agora de evitar sua repetição. Conclamamos as forças vivas da Nação a cerrarem fileiras, em uma ampla aliança nacional, acima de interesses partidários ou ideológicos, em torno da democracia e da Petrobras, o nosso principal símbolo de soberania", conclama.

Ato em defesa da Petrobras no Rio e em São Paulo - “Defender a Petrobras é defender o Brasil”. Esse é o slogan do ato em defesa da Petrobras, que será realizado na próxima terça-feira (24), no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, com participação de sindicalistas, representantes dos movimentos sociais, estudantes, artistas, advogados, jornalistas e intelectuais.

O ato está sendo organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) e integra uma campanha nacional em defesa da Petrobras, que já teve início nas redes sociais, com a coleta de assinaturas de adesão ao manifesto, que será lançado oficialmente no dia 24.

Para assinar o manifesto, clique aqui.

Para o ato, já estão confirmadas as presenças dos escritores Eric Nepumoceno e Fernando Moraes, da jornalista Hildegard Angel, do cineasta Luiz Carlos Barreto, da filósofa Marilena Chauí, do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, além de lideranças sindicais, estudantis e dos movimentos sociais.

Outros atos - A campanha em defesa da estatal prosseguirá após o ato do dia 24, com atividades por todo o país. Uma grande manifestação popular já está agendada para o dia 13 de março, na Avenida Paulista, em São Paulo.

Da redação do Portal Vermelho, com informações do Jornal GGN e Ascom FUP

20 fevereiro 2015

Golpista exaltado pela mídia brasileira

O que levou o prefeito de Caracas a ser preso 

Paulo Nogueira, no DCM

A desgraça da América Latina é que para cada Pepe Mujica existem 50 Antonios Ledezmas, o prefeito de Caracas detido sob acusação de conspirar contra a democracia.
Ledezma, 59 anos, é aquele típico político latino-americano cuja ação predatória ajuda a entender por que a região é recordista mundial em desigualdade social.
É um predador.
Seu apelido é Vampiro. Ele foi um dos homens que comandaram o massacre de venezuelanos miseráveis que se insurgiram em 1989 nos protestos que ficaram conhecidos como o Caracazo.
Ledezma tem um histórico golpista notável. Ele foi um dos homens que apoiaram a fracassada tentativa de derrubar Chávez em 2002.
Na ocasião, nas poucas horas que durou o golpe, ele quis tomar a prefeitura do município de El Libertador, na Grande Caracas. Perdera nas urnas, mas não aceitara a derrota.
Recentemente, em fevereiro de 2014, ele estimulou publicamente a violência nos protestos contra Maduro. Morreram 43 pessoas graças a este tipo de conduta.
Agora, pouco antes de ser preso, ele vinha exigindo a renúncia de Maduro. Pior ainda, ele estava publicando articulando um “governo de transição”.
Isto é tramar contra a democracia, isto é tentar um golpe que fraude o desejo do eleitorado que escolheu Maduro – e isto é crime político.
Ledezma sabota a democracia e despudoramente se diz vítima de uma “ditadura”.
A jornalista americana Eva Golinger, radicada na Venezuela, nota uma semelhança entre o que está ocorrendo no país hoje e o que aconteceu no Chile em 1973.
A mídia, diz ela, fabrica uma situação aterrorizante. Fotos de protestos em outros países são usadas para ilustrar o alegado descontentamento do povo.
O objetivo, afirma Eva, é semear uma atmosfera que chancele um golpe.
(Se você vê alguma semelhança entre a atitude da imprensa venezuelana e a conduta da imprensa brasileira, você está certo.)
A Venezuela – como todos os países do mundo, aliás – enfrenta uma crise econômica. Esta é particularmente agravada pela queda abrupta dos preços do petróleo, maior fonte de divisas do país.
Não é diferente o que ocorre na Rússia, outro grande produtor de petróleo.
A questão é que a mídia local tenta atribuir cinicamente ao governo de Maduro toda culpa pelas dificuldades – que de resto aparecem amplificadas.
Isso se chama desestabilização.
Como uma democracia lida com um destruidor como Ledezma?
Façamos um exercício.
Nestes mesmos dias, documentos desclassificados – que perderam a confidencialidade com a passagem do tempo – mostraram a frenética ação de Roberto Marinho contra a democracia brasileira.
Suponha que, alguns meses antes do golpe de 1964, cientificado das ações de Marinho, o presidente João Goulart o tivesse detido.
Jango estaria fazendo o quê? Agindo como um ditador ou defendendo a democracia?
A mesma lógica vale para Ledezma.
Um golpe contra Maduro teria, certamente, consequências. Se a velha elite ligada aos Estados Unidos o abomina, é grande seu prestígio entre as massas chavistas.
Homens como Ledezma, numa guerra civil, a gente sabe o que fazem: voam para Miami.
Ele é, sim, um golpista. E como tal que responder perante a lei.
É um anti-Mujica.
E então repito: a desgraça latino-americana é que para cada Mujica existem 50 Ledezmas.