A construção coletiva das idéias é uma das mais fascinantes experiências humanas. Pressupõe um diálogo sincero, permanente, em cima dos fatos. Neste espaço, diariamente, compartilhamos com você nossa compreensão sobre as coisas da luta e da vida. Participe. Opine. [Artigos assinados expressam a opinião dos seus autores].
30 novembro 2013
Contato direto
E-mail,Twitter e minha fan page https://t.co/uzX1DyNtkx são pessoais e intransferíveis. Ninguém me substitui nesse contato direto com vocês.
Internautas
Mais de 80 milhões de brasileiros acessam a internet.O número de brasileiros internautas subiu 6,8% em 2012, em relação a 2011.
Pacto
O sábado é de Carlos Drummond de Andrade: "Provisoriamente não cantaremos o amor,/que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos."
Lição de sensibilidade
"Com Bandeira aprendi o amor lírico pelas coisas simples. Com Vinicius, o primado absoluto da paixão, elemento sem o qual nada que realmente preste se faz. Com Cabral, o papel decisivo do corte. Disse-me ele, muito mais tarde, que cortar é ainda mais importante que escrever. Mais ainda: que cortar é a verdadeira maneira de escrever. Você não pode ter opiedade da palavra, nem se deixar enganar por sua falsa beleza, me aconselhou. Deve ser rígido, firme, intolerante, e cortar, cortar, cortar, até que o osso (a pedra) da palavra apareça à sua frente. (José Castello, no artigo Um assombro Remoto, no blog A literatura na poltrona).
Pela igualdade de genero
29 novembro 2013
Em Porto Alegre
@lucianoPCdoB: Agora na assembleia geral da 18ª Cúpula da rede Mercocidades. Integração sul-americana em foco, através da articulação do poder local.
Cotidiano
A sexta-feira é de Cecília Meireles:
"De que são feitos os dias?/- De pequenos
desejos,/vagarosas saudades,/silenciosas lembranças."
Inflando a dívida pública
Taxa de juros, ordem pública e incertezas
Por Renato Rabelo*, em seu blog
*Renato Rabelo é presidente nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)
Por Renato Rabelo*, em seu blog
O discurso da contenção de gastos públicos
serve somente para abarcar uma parcela do orçamento da União. O frenesi
antidesenvolvimentista não atinge os interesses do sistema financeiro sobre o
nosso orçamento.
Esse é apenas um dos raciocínios passiveis de argumento para explicar a febre neoliberal posta adiante pelo braço midiático do capital rentista como forma de legitimar a ação do outro braço, institucional, desta classe: o Banco Central do Brasil.
Esse é apenas um dos raciocínios passiveis de argumento para explicar a febre neoliberal posta adiante pelo braço midiático do capital rentista como forma de legitimar a ação do outro braço, institucional, desta classe: o Banco Central do Brasil.
Daí a taxa de juros subir
de 9,5% para 10% não ser nenhuma surpresa. Para fins orçamentários é bom anotar
que a cada 1% de aumento da taxa Selic aumenta-se em R$ 12 bilhões a fatia
anual do erário público voltado ao pagamento das obrigações da dívida pública.
No mês de abril esta taxa estava em 7,5%. Constitui-se assim um verdadeiro
dumping capitaneado pelo próprio Estado ao seu próprio orçamento. Trata-se de
uma questão de ordem pública que vai na contramão dos anseios de milhares de
brasileiros que foram às ruas no mês de junho.
O estrago que a continuidade desta ação proporciona ao futuro do país não é menor. Incertezas sobre o nosso futuro se refletirão sob a forma de mais timidez por parte de empresários nacionais para tocar adiante novos investimentos. O país deixa de crescer e se incapacita para responder profundos desafios internos e externos.
A macroeconomia do antidesenvolvimento proscreve qualquer tentativa de planificação de médio e longo prazo. Na ponta do processo a manutenção de uma taxa de investimentos da ordem de 18% do PIB apenas serve para que o “fantasma” da inflação continue a “assombrar” o país no médio e longo prazo: sem expansão da oferta, é impossível criar condições para um desenvolvimento sem pressões inflacionárias. Sem expansão da oferta estão garantidos os interesses do capital financeiro em detrimento dos trabalhadores e do capital produtivo.
O problema é financeiro, orçamentário, estratégico e, sobretudo, político.
O estrago que a continuidade desta ação proporciona ao futuro do país não é menor. Incertezas sobre o nosso futuro se refletirão sob a forma de mais timidez por parte de empresários nacionais para tocar adiante novos investimentos. O país deixa de crescer e se incapacita para responder profundos desafios internos e externos.
A macroeconomia do antidesenvolvimento proscreve qualquer tentativa de planificação de médio e longo prazo. Na ponta do processo a manutenção de uma taxa de investimentos da ordem de 18% do PIB apenas serve para que o “fantasma” da inflação continue a “assombrar” o país no médio e longo prazo: sem expansão da oferta, é impossível criar condições para um desenvolvimento sem pressões inflacionárias. Sem expansão da oferta estão garantidos os interesses do capital financeiro em detrimento dos trabalhadores e do capital produtivo.
O problema é financeiro, orçamentário, estratégico e, sobretudo, político.
*Renato Rabelo é presidente nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)
28 novembro 2013
Pilares da reforma
Saudei os participantes da 18ª Cúpula da Rede Mercocidades, transmitindo o abraço fraterno do prefeito Geraldo Julio. E defendi o financiamento público de campanhas e a adoção do sistema de de listas pré-ordenadas pelos partidos para os cargos parlamentares, essenciais a uma reforma política verdadeiramente democrática - questão levantada pelo prefeito Márcio Lacerda, de Belo Horizonte, um dos painelistas.
Mercocidades
Agora, na 18ª Cúpula da Rede Mercocidades, em Porto Alegre: "As autoridades locais e a crise da democracia representativa". Bom debate.
Compaixão
A sexta-feira é de Mário Quintana: “Não te irrites, por mais que te fizerem.../Estuda, a frio, o coração
alheio.”
27 novembro 2013
Projetos nacionais conflitantes
Paul Klee
A pauta que interessaLuciano Siqueira
Quais
serão os grandes temas da disputa eleitoral em 2014? A pergunta é anotada em
análises prospectivas assinadas por articulistas de variadas tendências, sem
uma resposta precisa. As forças que disputarão a eleição presidencial ainda
estão em busca do discurso; e o próprio cenário em formação ainda não autoriza
definições completas.
Mas
vale especular.Grosso modo, podemos considerar duas vertentes na construção do discurso das candidaturas presidenciais. Uma é determinada pela realidade do País em sua dimensão mais abrangente, digamos estrutural. A outra é produto da junção de variáveis de ordem tática com demandas do que se tem convencionado chamar marketing político. Ou seja: se todos os litigantes e as correntes que lhes darão sustentação obrigatoriamente consideram os grandes impasses da sociedade brasileira, cujos obstáculos não cabe escamotear; igualmente levam em conta o modo de abordá-los a fim de agregarem aliados e sensibilizarem as grandes massas do eleitorado.
As duas vertentes, entretanto, não caminham em separado. Mesmo que se tente. Porque os problemas estruturais estão de tal ordem emergentes que se refletem nas bandeiras escolhidas por esta ou aquela facção, a título de ideias-força capazes de se converterem em atrativos da consciência e da vontade de amplas parcelas dos brasileiros e brasileiras.
Isto se mostra mais evidente quando se expressam a defesa do legado construído na última década e a crítica e o combate ao conteúdo desse legado. O PT e seus aliados procuram, com razão, acentuar as conquistas acumuladas no período, desde o primeiro governo Lula aos dias que correm; o PSDB e apoiadores, no polo oposto, tudo fazem para desconstruir teórica e politicamente o que vem sendo realizado. O que leva a uma inevitável polarização entre dois projetos de País, diametralmente conflitantes. Já aí se demarcam campos: em favor da continuidade da transição da ordem herdada dos anos FHC ao projeto inovador de desenvolvimento em construção versus a retomada das políticas anteriores, de cunho neoliberal. Por exemplo, a questão do chamado "tripé macroeconômico", tão a gosto da ex-senadora Marina Silva. Ou se rompe com o câmbio flexível, as metas inflacionárias ultra-restritivas e os juros altos, ou não se alcançará o patamar de crescimento do Produto Interno Bruto desejável, lastreado pela elevação da capacidade de investimento. Hoje, os investimentos em infraestrutura e incremento da produção oscilam entre 17 e 19% do PIB, quando a exigência mínima imediata seria de 25%. E tal não ocorrerá sem que, com apoio das urnas de 2014, se concerte um novo pacto político e social em favor do desenvolvimento com inclusão social, soberania e mais democracia e integração sul-americana.
O que a oposição prega é o inverso. Mais juros altos, sob pretexto de conter a inflação, manutenção do câmbio flexível, superávit primário elevado, arrocho fiscal, corte de gastos com programas sociais e quejandos. Uma pauta muito distante das aspirações e das necessidades da maioria.
Desse conflito decorrerão, inevitavelmente, as plataformas eleitorais, ainda que matizadas por bandeiras de fácil assimilação, aparentemente desligadas dessas questões de fundo. Por isso, enquanto os que governam se vêem instados a reafirmarem o rumo e a renová-lo atualizando o programa de mudanças, os que se postam na oposição têm o desafio de tornar palatável perante o eleitorado sua agenda restritiva de direitos, concentradora da produção, da renda e da riqueza, socialmente excludente.
Tentando escapar a esse dilema, alguns sugerem que as grandes questões do debate sucessório serão a mobilidade urbana, a qualidade e a cobertura do serviços de saúde e de educação, a segurança pública e a questão ambiental. Mais uma vez são conduzidos, objetivamente, para o conflito de projetos nacionais e da natureza das mudanças estruturais. Porque questões como estas, que efetivamente comporão a pauta eleitoral, reclamam transformações de fundo, via reformas urbana, tributária, agrária, do sistema educacional, assim como o fortalecimento do Sistema Único de Saúde.
Haverá, portanto, um duelo de gigantes - na dimensão em que a evolução recente da sociedade brasileira impõe.
Frente Nacional de Prefeitos
Em Porto Alegre, participo a partir da noite de hoje de
encontro da Frente Nacional de Prefeitos, substituindo o prefeito Geraldo
Julio.
Instituto Confúcio
Em parceria com a Universidade Central de Finanças e Economia de Beijing, a Universidade de Pernambuco instalou ontem, no Recife, o Instituto Confúcio, destinado a promover a amizade e o intercâmbio cultural Brasil-China. Ao lado do governador Eduardo Campos, do reitor Carlos Calado e do embaixador Li Jizhang, entre outras autoridades, participei da solenidade representando o prefeito Geraldo Julio. Está é a sétima unidade do Instituto no Brasil, a primeira. O Norte-Nordeste.
Luz do sol
A quarta-feira é de Pedro Américo: “Sozinha não abre a flor sem/a luz do sol/Que aquece a pedra, o solo/e a raiz”
Com o embaixador da China
26 novembro 2013
Samico, presente!
Gilvan Samico deixa uma obra original, tecnicamente rigorosa
e de rara beleza. Estará sempre presente na cultura pernambucana.
O sentido das mudanças
Nesta década se destacam
quatro grandes realizações, ainda em movimento e em construção, mas
delineadoras de um novo tipo de desenvolvimento que vai fortalecendo o país com
o resgate do papel do Estado, afirmação da soberania nacional, ampliação da
democracia e crescimento econômico com progresso social. Estas conquistas
ocorrem no âmbito de uma transição, ainda em curso, marcada pela luta entre o
neoliberalismo que persiste e o novo desenvolvimento nacional que emerge. (Da
resolução política do 13º. Congresso do PCdoB acerca da situação nacional).
25 novembro 2013
24 novembro 2013
Uma crônica minha para descontrair
Enfim, descubro-me um
cidadão desinformado
Luciano Siqueira
Realmente, uma
descoberta e tanto. Dou-me conta de que, apesar dos esforços diários, sou um
cidadão relativamente desinformado. Pois li, dias atrás, em matéria de destaque
na Folha de S. Paulo que a modelo Luiz Brunet fez 51 anos e decidiu retirar o
silicone dos seios. E eu nem sabia que a moça tinha posto silicone, nem nos
seios nem noutras partes do corpo, muito menos os motivos que a levam agora a
dispensar o disfarce.
Luciano Siqueira
A notícia,
obviamente, é importantíssima. Se não fosse, um jornal de circulação nacional
não lhe daria tanto espaço. Eu é que estou por fora.
Isto apesar de ler
cotidianamente os principais jornais do país, visitar portais e sites de
notícia e opinião - sempre com a atenção focada no que me parece
verdadeiramente importante.
Mas tenho errado,
sim, nessa coisa de foco no que vale a pena ler. Fico devendo à La Brunet por
não acompanhar sua vida em detalhes, assim como a outras celebridades e outras
tantas personalidades nem tanto.
Assim, peço
desculpas ao grande empresário do setor financeiro por somente ontem ter sabido
que nas horas vagas cultiva pimentas de diversas espécies. Para relaxar, diz
ele, ao repórter atento.
Devo sim, reconheço.
Como não sabia que um ex-presidente da República, reconhecido nos salões mais
sofisticados pela sua finura e bom gosto, coleciona cinzeiro de avião - daqueles
que existiam antes da interdição aos fumantes em voo, encravados no braço do
assento? Um leve movimento com a unha e se tinha o cinzeiro à mão. Não sei
quantos estão catalogados na coleção particular do ilustre homem público, mas
certamente ali jazem como relíquias da Varig, VASP, Transbrasil e até, quem
sabe, de companhias mais antigas, como a Panair e o Loyd Aéreo. Que os guarde
com o zelo próprio dos colecionadores.
Lembro vagamente de
um telefonema bisbilhotado por repórter de jornal sensacionalista, em que o
príncipe Charles dizia à amada Camiila (ex- Parker-Bowles) que gostaria de ser
um Tampax, absorvente íntimo, para estar sempre ali naquele lugarzinho
cobiçado. Mas nunca me passou pela cabeça que o prestigiado monarca tivesse se
convertido em colecionador de milhares de marcas de absorventes comercializadas
mundo afora, conforme pude ouvir numa mesa de restaurante ao lado, onde animado
grupo debatia amenidades.
Aliás, não tenho o
menor interesse nesse tipo de informação. Mas fico com uma ponta de dúvida: que
e espécie de gente sou assim tão avesso a notícias tão destacadas sobre hábitos
e desejos de figuras badaladas? Afinal, se a grande mídia dá tanta importância,
o futuro da Humanidade pode depender dessas coisas e eu é que não alcanço
tamanha verdade. Sei não.
A vida do jeito que é
Oficina de manutenção
Marco Albertim, no Vermelho
- Libere-o. Mas diga que o ferramenteiro deve
assumir o manejo do torno.
Marco Albertim, no Vermelho
O torno girando, veloz,
zuniu como das outras vezes. O óleo derramado na navalha de aço, e no aço cru
preso ao cabeçote, baixou a temperatura dos dois, inda que a custo de um
fumegante vapor. A fumaça inalada pelo torneiro, pelo
ferramenteiro e pelo ajudante, poupou o chefe da manutenção, por
conta da distância de seu birô junto à porta de acesso. A porta sempre aberta
dava conta de uma vintena de outras seções, onde funileiros, soldadores,
duteiros, pintores e ajudantes, sem o perceber, orquestravam uma sinfonia de
ferros, aços e folhas de flandres cortados ou emendados à força de soldas.
Vizinha ao almoxarifado, a oficina de
manutenção, por ser o laboratório onde o aço bruto ou o ferro, mesmo
sob o efeito da oxidação, convertiam-se em ferramentas próprias ao
molde ou ao corte de outras, depois de usinadas, era o cérebro da produção; daí
o prestígio de que gozava entre os operários; mesmo o ajudante, único com
ofício ainda em formação, era visto com inconfessa inveja por ajudantes de
outras seções.
César, operando o torno feito o piloto de um
veículo de raro manuseio, pouco se importou com a densidade tóxica da fumaça.
Com um olho na usinagem do aço e outro no ferramenteiro, no ajudante e no chefe
da manutenção, tinha na boca e no nariz uma máscara de proteção. Inda que o
corpo coberto com o grosso macacão sujo de óleo da cintura para baixo, os
braços estavam sem proteção; nas mãos, nenhuma luva. Súbito, sua voz roufenha,
de curto alcance, soltou um grito que rompeu a rotina já monótona aos sentidos
de cada um dos operários.
É forçoso dizer que o torneiro era dos raros
operários a fazer uso dos vales quinzenais concedidos pela fábrica.
O dinheiro vinha num envelope azul, junto a um recibo onde punha sua assinatura
com letras tão arrevesadas, em nada parecidas com o contorno sem diferenças
gerado nos cortes do aço cru na navalha no carro superior do torno. De todos os
operários, era o único a conter o suor nos poros negros de sua pele. O macacão,
da cintura para cima, inda que desbotado pelo uso contínuo, não exibia traços
ou manchas de óleo. César movia-se conforme a mobilidade do barramento do
torno, na altura e abaixo de sua cintura; o barramento liso tinha só três
metros de comprimento horizontal. Ali mesmo, sem se d espregar do barramento,
acostumara-se a receber do funcionário do escritório, o envelope com o dinheiro
urdido dois, três dias antes.
Oitenta operários foram surpreendidos com o grito
do torneiro mecânico, correram para a sala de chão de cimento estropiado da
manutenção. Viram, atônitos, o rosto de César amarelar-se feito as paredes de
folhas de ferro pintadas, nos quatro lados da sala. A sua mão direita,
raramente em contato físico com um dos três barramentos, prendera-se ali, à
força da corrente de eletricidade vazada para o torno. A chave de força do
torno ficava vizinha aos três barramentos. César demorou a recuperar a cor natural
de seu rosto. O impacto do choque, no entanto, foi interrompido pelo ajudante
da sala, que correra em sua direção e desligara a chave de funcionamento do
torno.
O grito, a correria dos outros operários no galpão
da produção também com o piso estropiado, deram um susto nos funcionários do
escritório, no pavimento de cima. O dono da fábrica, cuja sala tinha uma parede
de vidro transparente, dando visão para os operários no trabalho, ergueu-se de
sua poltrona. Ordenou que o chefe de setor de pessoal descesse para apurar o
que ocorrera. Cumprida a ordem, o chefe de setor de pessoal deu conta ao dono
da fábrica, do acidente.
- Foi com o rapaz que pede um vale toda quinzena?
- Sim - respondeu o auxiliar.
- O vale já está pronto? Providenciem logo.
- Já está no envelope.
O auxiliar olhou para o boy do escritório,
ordenando que levasse uma garrafa de água gelada para o torneiro mecânico. Em
seguida, lembrando que o envelope com o dinheiro já estava em seu bolso,
emendou:
- Não! Eu mesmo levo.
César bebeu a água e recebeu o envelope com o
dinheiro, sob os olhares de espreita dos operários.
Quando o chefe de pessoal voltou para o escritório,
informou ao dono da fábrica que o chefe da manutenção pedira autorização para
liberar o torneiro do trabalho, pelo menos naquele dia.
Melodia
Juros altos e
redução dos gastos públicos com programas sociais soam como bela melodia aos
ouvidos do grande capital disposto a financiar a oposição.
Bom senso
Movimento Bom Senso
F.C., organizado por Alex e outros craques, que reclama calendário menos
desumano, dá novo colorido ao início dos jogos. Merece apoio amplo na
sociedade.
Fogos de raios
O domingo é de Vicente Huidobro: “Há palavras que têm sombra
de árvores/Outras que têm atmosfera de astros/Há vocábulos que têm fogos de
raios”
Poder de fogo
Segundo Marcelo Neri, autor de “A nova classe média”, os 94,9 milhões de brasileiros que compõem esse
estrato social correspondem a 50,5% da população – ela é dominante do ponto de
vista eleitoral e do ponto de vista econômico. Detêm 46,24% do poder de compra
(dados 2009) e supera as chamadas classes A e B (44,12%) e D e E (9,65%). Uma mudança
significativa verificada no Brasil dos últimos dez anos.
Solidão
Desfiou gestos de
plena solidariedade, sem que seu relato traísse qualquer traço de presunção.
(“Amigo é pra essas coisas”, ouvi em silêncio a voz de Paulinho da Viola). Falava naturalmente. Eu apenas escutava, uma
pergunta aqui outra acolá para lhe facilitar o relato. Até que, voz embargada,
confessou-se um homem só. Paradoxalmente só – ele que a todos socorria, o ombro
amigo e ponderado, via-se entretanto ilhado num instante adverso. - “Tenho
tomado decisões muito sérias a esta altura de minha vida sem ter a quem
recorrer. Acerto sozinho, erro sozinho”. (Da minha crônica “O homem só”).
23 novembro 2013
Ternura
O sábado é de Jaci Bezerra: “A ternura retida/entre grades e
muros/é paixão e cantiga/no alicerce maduro.”
Ciência em debate
Integração, educação e inovação são alguns dos desafios para
o desenvolvimento sustentável que podem ser vencidos com o auxílio da ciência.
Por isso mesmo as três frentes são tema de uma declaração e um documento lançados hoje (21/11)
por cientistas brasileiros e de demais países da América Latina A iniciativa
vem no embalo das discussões do Fórum Mundial de Ciência,
um dos maiores eventos da área e que ocorrerá pela primeira vez no Brasil na
semana que vem, no Rio de Janeiro. e do Caribe, informa a revista Ciência Hoje.
Leia mais http://migre.me/gJSwH
Sempre um pesadelo
Uma
competição negativa entre as operadoras de telefonia móvel. Segundo a Anatel, a
Claro assumiu o pódio do maior número de reclamações em julho, com 31 queixas
por grupo de mil usuários. As concorrentes atingiram índices de reclamação
dentro do limite de dez reclamações: Vivo (dez), Oi (nove) e Tim (seis). Mas podia
ser o inverso. Nessa gangorra, sofre o usuário. Os principais motivos das
reclamações contra as operadoras são cobrança, 25%; promoções, 14%; serviços
adicionais, 11%; cartão pré-pago, 11%; rede, 11%; atendimento, 7%; área de
cobertura, 4%; planos de serviço, 4%; habilitação, 4%. Enquanto isso, os
prometidos investimentos para melhoria da qualidade do atendimento caminham
lentamente. A coisa só anda com muita pressão popular – que nesse caso dá-se
basicamente via Procon, ainda insuficiente.
Mundo em transição
Movimentos
Eduardo Bomfim, no Vermelho
O esfacelamento da antiga União Soviética
criou as condições objetivas de nova expansão capitalista a nível mundial, que
avançou sobre novos territórios, ao tempo em que os Estados Unidos
consagravam-se como a grande potência imperial global incontestável, além da
entronização do neoliberalismo como doutrina e dogma no centro das decisões
econômicas internacionais.
Eduardo Bomfim, no Vermelho
E sob tal espectro dessa hegemonia financeira, militar, midiática
instaurou-se formalmente tanto quanto institucionalmente a chamada Governança
Mundial cujo motivo foi a caducidade do conceito até então prevalente da
soberania nacional, a autodeterminação dos povos, produzindo uma nova era de
intensos, variados conflitos regionais de alta, média intensidades, resultantes
da ação imperial e as consequentes resistências dos povos.
Em função dessa monopolização financeira e dos interesses estadunidenses formatou-se uma agenda social global cuja pauta em sua gênese é auto justificável como aspiração básica das sociedades, dos indivíduos, mas que tem sido revertida ideologicamente ao utilitarismo, à padronização do Mercado, às estratégias da política externa dos Estados Unidos.
De tal forma que em nome dessa agenda, por exemplo, agridem-se os Direitos Humanos, destrói-se a democracia, apequena-se o exercício essencial da política, avilta-se a soberania das nações, mata-se, tortura-se barbaramente, violenta-se o meio ambiente, a identidade cultural dos Países, impõem-se a moda, os costumes globais, a fragmentação do sentimento em comum de nação, lucra-se com a fome endêmica que grassa em muitas regiões como em África, numa espécie de avesso da realidade tal como um jogo de espelhos distorcidos.
Mas a China, associada à ascensão dos Brics, que resistiu em 1989 à tentativa de destruição do que eles denominam “socialismo combinado com economia de mercado”, da sua soberania, alavancou paradoxalmente, via crescimento econômico contínuo por décadas com variações relativamente pequenas, o surgimento de uma nova era geopolítica multilateral, em um momento histórico pleno de embates contra a hegemonia imperial, a Nova Ordem mundial, na luta pela autodeterminação das nações.
Enfim nesses tempos de ocaso do neoliberalismo a História, assim como a Terra, também se move, E pur si muove, como disse Galileu Galilei.
Em função dessa monopolização financeira e dos interesses estadunidenses formatou-se uma agenda social global cuja pauta em sua gênese é auto justificável como aspiração básica das sociedades, dos indivíduos, mas que tem sido revertida ideologicamente ao utilitarismo, à padronização do Mercado, às estratégias da política externa dos Estados Unidos.
De tal forma que em nome dessa agenda, por exemplo, agridem-se os Direitos Humanos, destrói-se a democracia, apequena-se o exercício essencial da política, avilta-se a soberania das nações, mata-se, tortura-se barbaramente, violenta-se o meio ambiente, a identidade cultural dos Países, impõem-se a moda, os costumes globais, a fragmentação do sentimento em comum de nação, lucra-se com a fome endêmica que grassa em muitas regiões como em África, numa espécie de avesso da realidade tal como um jogo de espelhos distorcidos.
Mas a China, associada à ascensão dos Brics, que resistiu em 1989 à tentativa de destruição do que eles denominam “socialismo combinado com economia de mercado”, da sua soberania, alavancou paradoxalmente, via crescimento econômico contínuo por décadas com variações relativamente pequenas, o surgimento de uma nova era geopolítica multilateral, em um momento histórico pleno de embates contra a hegemonia imperial, a Nova Ordem mundial, na luta pela autodeterminação das nações.
Enfim nesses tempos de ocaso do neoliberalismo a História, assim como a Terra, também se move, E pur si muove, como disse Galileu Galilei.
22 novembro 2013
Palavras poéticas
A sexta-feira é
de Nilson Vellazquez: “Quero
bailar minhas palavras, rotas e imprudentes/mas ávidas de sentidos para o belo
ouvir.”
Contra os maus agouros de quem torce contra
Emprego em outubro, marca
positiva na economia
Luciano Siqueira
Luciano Siqueira
Apesar dos maus agouros de quem torce contra, o Brasil criou 94,9 mil
vagas de emprego em outubro. Pois há os que analisam o evolver da economia com
olhares preocupados em superar obstáculos e seguir adiante no ciclo de
crescimento com inclusão social. E há os que buscam a todo instante sinais de débâcle
porque torcem contra, na expectativa de que se crie um ambiente favorável às
oposições em 2014. Estes devem estar frustrados diante da expansão dos postos
de trabalho nos mês passado.
De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado
pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), outubro se encerrou com um saldo
líquido de criação de 94.893 empregos formais. Uma marca superior à do mesmo
período do ano passado, quando foi apurada criação líquida de 66.988 postos de
trabalho. No mês, o total de admissões atingiu 1.841.106 e o de dispensas
alcançou 1.746.213.
Num ambiente de ameaças externas, advindas da crise global, e ainda às
voltas com grandes obstáculos macroeconômicos – mormente o câmbio flexível,
metas inflacionários elevadas e retomada da elevação dos juros -, o panorama do
emprego se mostra extremamente positivo.
Isto significa reforço de um traço marcante da evolução do País na
última década, quando nada menos que quarenta milhões de brasileiros e
brasileiras se inseriram no mercado de trabalho e no mercado de consumo. Diferentemente
do passado neoliberal recente, quando de Collor a FHC o Brasil perdeu doze
milhões de empregos formais. De Lula a Dilma, vinte milhões de empregos com carteira
assinada foram gerados.
Assim, os dados do Caged merecem ser comemorados. No acumulado do ano, registra-se
geração líquida 1.464.457 empregos celetistas. Nos últimos 12 meses, foram
criadas 1.036.889 vagas com carteira assinada, na leitura com ajuste - que inclui
as informações repassadas pelas empresas fora do prazo. Com um dado relevante:
a indústria de transformação apresentou os melhores resultados de geração de
emprego no período, comparecendo com 33.474 vagas, correspondente a 91% mais em
relação ao mesmo mês do ano passado, quando foram abertos 17.520 postos.
E se no comércio a oferta de empregos se mostrou limitada, de 5,2% em comparação
com outubro de 2012 (exatos 52.178 postos de trabalho), é de se esperar que em
novembro e dezembro, com o aquecimento do movimento de fim de ano, essa
expansão sofra importante impulso.
Bom sinal. E um desafio aos que levam em conta o desempenho da economia
como variável importante na formação do cenário eleitoral de 2014.
Unidade dos contrários
Divergências na política são tão naturais quanto o ar que
respiramos. Tanto quanto na ciência, nas artes, na vida. Em todas as esferas. Como
ensina a sabedoria popular, “os dedos das mãos não são iguais”. A polêmica,
então, é da essência da prática democrática; ante-sala da convergência e da unidade.
Mas é preciso que se dê em torno de ideias, jamais em função de disputas
menores.
Unidade dos contrários
Divergências na política são tão naturais quanto o ar que
respiramos. Tanto quanto na ciência, nas artes, na vida. Em todas as esferas. Como
ensina a sabedoria popular, “os dedos das mãos não são iguais”. A polêmica,
então, é da essência da prática democrática; ante-sala da convergência e da unidade.
Mas é preciso que se dê em torno de ideias, jamais em função de disputas
menores.
21 novembro 2013
Por toda a vida
A quinta-feira é de Vinícius de Moraes: “E cada verso meu
será/Pra te dizer/Que eu sei que vou te amar/Por toda a minha vida”
Interinidade
Com o prefeito Geraldo Julio na Polônia, onde participa ao
lado da secretária do Meio Ambiente e Sustentabilidade Cida Pedrosa da
Conferência das Partes (COP-19), assumi desde ontem interinamente o governo da
cidade. A COP-19 é uma iniciativa da que reúne 190 países e negocia a
implantação da segunda fase do Protocolo de Quioto.
Face cruel da discriminação racial
A Nota Técnica Vidas Perdidas e Racismo no Brasil, divulgada ontem
pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) – estima, para cada estado
do país, os impactos de mortes violentas (acidentes de trânsito, homicídio,
suicídio, entre outros) na expectativa de vida de negro e não negros, com base
no Sistema de informações sobre Mortalidade (SIM/MS) e no Censo Demográfico do
IBGE de 2010. Revela uma realidade contundente: tendo em conta apenas o
universo dos indivíduos que sofreram morte violenta no país entre 1996 e 2010, verifica-se
que além das variáveis socioeconômicas – escolaridade, gênero, idade e estado
civil –, a cor da pele da vítima, quando preta ou parda, faz aumentar a
probabilidade do mesmo ter sofrido homicídio em cerca de oito pontos
percentuais. Uma face cruel da luta – que é de todos – pela igualdade racial.
20 novembro 2013
Mais médicos
O Brasil fecha o ano com pelo menos um médico em quase todas as
regiões mais carentes do país, prestando atendimento em bairros e comunidades
que não tinham acesso a médicos. Mais 3 mil médicos cubanos chegam para
trabalhar em 1.745 municípios e 15 distritos indígenas. Mais de 10,3 milhões de
pessoas passarão a ter assistência. Até o final de dezembro, 6,6 mil
profissionais estarão atuando no programa. Áreas carentes do Brasil – o Semiárido
nordestino, comunidades quilombolas e cidades com desenvolvimento humano
crítico receberam 1.758 médicos.
19 novembro 2013
Sem espelhos
A terça-feira é
de Mário Quintana: "Mas vocês não
repararam, não?!/Nos salões do sonho nunca há espelhos…/Por quê?"
Odioso preconceito
O monumento em
homenagem a Zumbi dos Palmares, na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio
de Janeiro, foi alvo de vandalismo ontem, pela sexta vez este ano. Às vésperas das comemorações do Dia Nacional
da Consciência Negra.
O joio e o trigo
Onipresente na cena
política através das oposições partidária e midiática, a oligarquia financeira age
no sentido de deter o ciclo de mudanças em curso no Brasil há dez anos. Deseja a
todo custo preservar seus interesses mantendo imutável a linha macroeconômica
que, como bem assinala Renato Rabelo, implica “juros altos, câmbio apreciado,
salários contidos, austeridade fiscal e liberalização da economia, tendo o
mercado a função de ser o centro da condução do desenvolvimento econômico e
social”. Sob o pretexto do combate à inflação, mas em favor da especulação e da
usura. O pleito presidencial de 2014 põe em causa os interesses dessa
oligarquia versus a continuidade do desenvolvimento econômico com inclusão
social e afirmação da soberania do País. Quem representa quem? Urge separar o
joio e trigo.
18 novembro 2013
Bachelet na frente
No Chile, a ex-presidente Michelle
Bachelet lidera a disputa pela Presidência, com 46,65% dos votos. A candidata
da coalizão de direita que governa o país, Evelyn Matthei, alcançou apenas 25,23%.
A se confirmar essa vantagem, os chilenos terão decidido retomar o fio da
história. Ponto para a integração sul-americana.
Sonho
A segunda-feira
é de Olavo Bilac: "Quantas vezes, em sonho,
as asas da saudade/Solto para onde estás, e fico de ti perto!"
17 novembro 2013
Uma crônica minha para descontrair
Eva Trust
Saudade do glamour
imaginário da infânciaLuciano Siqueira
Não devia ter mais
do que cento e cinquenta metros a distância entre a mercearia do meu pai,
Renato, e a padaria Moderna, do seu Antenor, na Lagoa Seca, em Natal. Mas eu
achava uma distância imensa! Questão de perspectiva, no olhar do menino de 9
anos apenas, numa época em que nessa idade se sabia muito menos do que meu neto
Miguel, de 8 anos, sabe hoje. Ir comprar o pão para mim era uma aventura, me
sentia Flash Gordon explorando o Universo.
É que a dimensão das
coisas se ampliava nas ondas da imaginação. Por isso o barra-a-barra com bola
de meia, um contra um ou em duplas, equivalia ao clássico ABC X América em
final do campeonato. Na boquinha da noite, de banho tomado, ali na esquina,
sentados na calçada, a resenha dos lances espetaculares fazíamos com binóculos
poderosos.
E as aventuras a
bordo dos caminhões de madeira e latas de óleo Salada, pelas estradas do
Brasil? Sensacionais, plenas de riscos e manobras à margem de despenhadeiros
construídos na areia, próximo ao coreto situado no cruzamento das ruas São João
e Alberto Silva.
Aliás, sob o coreto,
me impressionava ouvir histórias contadas por colegas mais crescidos e
experientes em incursões por outros lugares da cidade. Pouco importava a dúvida
quanto à veracidade do que se dizia, valia a fantasia inspirada nas aventuras
de Zezé Vida Torta, Luís Cambadinho, Carrunda e outros. Eles falavam de brigas
terríveis na saída do cinema, copiadas de Roy Rogers, Hopalang Cassidy, Buck
Jones. Ou ao término dos jogos no Estádio Juvenal Lamartine, no Tirol, quando
levavam às últimas consequências os xingamentos entre torcedores rivais. Eu
sentia inveja daquela turma que se locomovia livremente, sem os limites dos
meninos "de família". Mas não me recordo de ferimentos ou hematomas
no corpo dos nossos heróis.
E o temporal
ameaçador, que enfrentei protegido no banco traseiro de um Renaux Perfect, ao
lado da vovó Neném. Era o veículo particular do tio José Ivo, médico
conceituado, caridoso e amado pelo povo. O chofer foi nos buscar lá em casa e
nos conduziu até a Avenida Rio Branco, onde residia e clinicava o tio Zezé. Na
volta, frustrei-me porque parara de chover e a minha aventura aquática já não
fazia sentido.
O tempo passa, a
maturidade chega e a gente se obriga a enxergar as coisas como são, sem o glamour
imaginário da infância. Agora importa a verdade dos fatos, a realidade cara a
cara. Porque não se deve tomar decisões sem os pés no chão, de olho nas
consequências. São outras às aventuras, ousadas algumas, mas todas contidas
pelo paquímetro do bom senso. É a vida.
Saudade
O domingo é de Patativa do Assaré: "Saudade dentro do peito/É qual fogo de monturo/Por fora tudo perfeito,/Por dentro fazendo furo."
A vida do jeito que é
Lava tripas
Marco Albertim, no Vermelho
O fustão furta-cor do
vestido da velha absorveu o cinzento cambiante das paredes da casa. Sentada ao
lado de uma mesa, não quis se dar conta de que a cor escura da garrafa de
cerveja, não tinha uma semelhança casual com sua pele; a secura de ambas, com riscos
curvos de cima a baixo, mostrava a sorte inevitável do fim próximo.
- Eu vim morar aqui há quarenta anos - disse a
velha, sem evitar a umidade espumosa na comissura dos beiços.
Às nove horas, o sol há muito se acumpliciara com a
infertilidade do chão de areia granulada, cinza, na frente da casa; da casa e
de todo quarteirão sem atalhos, inda que sinuoso, na margem do rio Lava Tripas.
A velha sentara-se de modo a exibir, sem afetação, familiaridade com o canto de
sua escolha. O rancor natural do sol, irrompera porta adentro, acentuando a cor
indecisa das quatro paredes.
A velha, sem sinais de incômodo no couro calcinado,
mantinha uma conversa chocha com outra de sua idade. Dona Cema sentara-se em
frente, junto a uma mesa no lado contrário, vizinha à porta de acesso às
prateleiras da bodega. Nos fundos, um quarto e a cozinha com as paredes
chamuscadas de fumaça e de tisna nos lados e nos fundos das panelas.
Dona Cema conservava a palidez do couro; fora
branca sem nervuras de doença no rosto, quando moça. Agora, mesmo com o rosto
encardido de quem pena com o impaludismo, esconde-se do sol. Acomodara-se na
desordem dos fios grossos de borracha na cadeira com braços, pés e espaldar de
ferro; distinguia-se, assim, da pobreza nos casebres tão juntos
quanto ostras nos juncos.
- Também cheguei aqui há quarenta anos. - respondeu
- Dilermando foi meu marido nos dez primeiros anos. Não aguentou a força da
enchente de 83. Entrou no rio para salvar os móveis que a enchente tinha
levado. Não sentiu febre. Mas na semana seguinte, foi picado pelo mosquito.
Morreu de malária.
Na quarta-feira de uma semana arrastada, a velha do
fustão sem cor movia-se com a memória nos anos em que se cria tão fértil quanto
as águas então limpas do rio Lava Tripas. Quando montara casa, o rio não tinha
nome, era um riacho afluente do rio Beberibe; não tinha nome nem o bodum dos
detritos jogados pelo hospital a sua margem. O hospital mudou-se para outro
endereço. O rio manteve o nome que lhe dá fama. Os moradores, tangidos pelas
plantações de cana, e ali jungidos, fungaram o vapor da lama; devolvem-no ao
rio nos trapos imundos, no que fora o madeirame inteiriço de uma
cama patente.
Dona Cema não se queixa do lixo que se amontoa na
superfície e nas margens do canal das Tripas - o rio se encolhera; o nome,
seguindo-lhe o rasto, deixara-se desfalcar na pronúncia. Mesmo porque, também
ela se despoja do lixo doméstico na crosta dura da água sem correnteza.
As duas, tão sós quanto o oco da bodega, não se
olhavam; tinham na fundura das órbitas o cansaço sem queixas de uma solidão
velha. O bodum do canal, entranhado nas paredes da casa, não era de todo
sorvido por causa do cheiro do charque gorduroso na panela sobre o lume chiante
do fogo no fogão.
A negra, com um olho na memória e outro na segunda
garrafa de cerveja, já sente a demência sobre o que ainda
lhe reserva a escassa fortuna. Vê o negro vistoso com quem dividira
a estreiteza das molas da cama patente.
- Dilermando bebe sem ter medo de doença. Só se
queixa do cheiro podre que vem do rio. Mas não tem medo de se banhar da cintura
pra baixo, quando vai arrancar ostra. Traz ostra e aratu pra comer ensopado.
O negro vistoso tem uma cor indistinta nos trajes
de porteiro do hospital. O sol que dá luz à sala da bodega, não
alumia sua silhueta. O bodum do canal, entrando na porta da frente, restaura o
cheiro de éter sorvido no hospital. Do lado do crioulo, Dilermando, sem traços
no rosto da mesma cor de dona Cema, não diz uma palavra; só a queixa que
resiste à febre da malária.
As duas não têm fome. A memória não lhes
dá fome.
16 novembro 2013
Unidade e entusiasmo revolucionário
No Brasil, são trinta e dois partidos registrados. Cada um
tem seu programa, seu modo de ser e de agir – e todos merecem respeito. Assim pensamos
e agimos na cena política, nós do PCdoB. Mas nos orgulhamos em construir um
partido fundado em princípios revolucionários, vinculado aos trabalhadores e ao
povo, capaz de se renovar sempre e, sobretudo, coeso e unido. O 13º. Congresso
do Partido Comunista do Brasil se coroa agora em ambiente de incontido
entusiasmo e sólida unidade.
Palavra de poeta
O sábado é de Carlos Drummond de Andrade: “A porta
cerrada/não abras./Pode ser que encontres/o que não buscavas/nem esperavas.”
Desígnios do império
A Segunda Guerra Fria
Eduardo Bomfim, no Vermelho
Afirmaram que a “influência americana seria, ao mesmo tempo, aceita e crescentemente detestada”. De lá para cá muita água correu por debaixo da ponte, os EUA meteram-se em várias guerras, houve os atentados às torres gêmeas em Nova York etc., mas o fato é que as opiniões dos senadores mostraram-se corretas.
Agora Moniz Bandeira acaba de lançar outro livro sobre os atuais objetivos estratégicos dos Estados Unidos abordando, entre outras coisas, as recentes convulsões sociais na Eurásia, na África e no Oriente Médio.
Mas o que chama a atenção é o título: “A Segunda Guerra Fria”. Para o autor, prefaciado pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, em resenha de Marco Aurélio Weissheimer, nós estamos sob o espectro de uma Segunda Guerra Fria promovida pelos Estados Unidos cujo motivo central é conter o avanço econômico da China, evitar o soerguimento da Rússia, e acredito, sustar a ascensão das outras nações que compõem os BRICS incluindo é óbvio, o Brasil.
Como exemplo cita o programa norte-americano intitulado “full spectrum dominance” (dominação de espectro total) de manter a hegemonia com assassinatos seletivos, uso de Drones, espionagem global através do sistema Prism, a força militar com 750 bases militares em 350 Países.
Além do projeto “regime change”: ações desestabilizadoras “por meio da luta não violenta, via guerra psicológica, social, econômica, política” que tem como alvo a população de determinado País, “motivando ondas de protestos, boicotes, procissões, revoltas etc.” utilizando-se, claro, da grande mídia global sob controle absoluto.
O alerta contido no livro de Moniz Bandeira, mesmo com as diferenças geopolíticas, não deve ser subestimado pelos setores patrióticos, democráticos, progressistas brasileiros visto o cenário cada vez mais pesado da realidade política, econômica internacional.
Eduardo Bomfim, no Vermelho
Em seu livro Formação do Império Americano
publicado em 2009 o historiador, cientista político Moniz Bandeira narra as
opiniões dos senadores Gary Hart, Democrata e Warren Rudman, Republicano, em
1999, ambos presidentes da Comissão Nacional para a Segurança/século 21
norte-americana, que os Estados Unidos continuariam como a principal força
econômica, política, cultural do mundo, manteriam o domínio militar, pelo menos
durante os próximos 25 anos.
Afirmaram que a “influência americana seria, ao mesmo tempo, aceita e crescentemente detestada”. De lá para cá muita água correu por debaixo da ponte, os EUA meteram-se em várias guerras, houve os atentados às torres gêmeas em Nova York etc., mas o fato é que as opiniões dos senadores mostraram-se corretas.
Agora Moniz Bandeira acaba de lançar outro livro sobre os atuais objetivos estratégicos dos Estados Unidos abordando, entre outras coisas, as recentes convulsões sociais na Eurásia, na África e no Oriente Médio.
Mas o que chama a atenção é o título: “A Segunda Guerra Fria”. Para o autor, prefaciado pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, em resenha de Marco Aurélio Weissheimer, nós estamos sob o espectro de uma Segunda Guerra Fria promovida pelos Estados Unidos cujo motivo central é conter o avanço econômico da China, evitar o soerguimento da Rússia, e acredito, sustar a ascensão das outras nações que compõem os BRICS incluindo é óbvio, o Brasil.
Como exemplo cita o programa norte-americano intitulado “full spectrum dominance” (dominação de espectro total) de manter a hegemonia com assassinatos seletivos, uso de Drones, espionagem global através do sistema Prism, a força militar com 750 bases militares em 350 Países.
Além do projeto “regime change”: ações desestabilizadoras “por meio da luta não violenta, via guerra psicológica, social, econômica, política” que tem como alvo a população de determinado País, “motivando ondas de protestos, boicotes, procissões, revoltas etc.” utilizando-se, claro, da grande mídia global sob controle absoluto.
O alerta contido no livro de Moniz Bandeira, mesmo com as diferenças geopolíticas, não deve ser subestimado pelos setores patrióticos, democráticos, progressistas brasileiros visto o cenário cada vez mais pesado da realidade política, econômica internacional.
Aliança em favor do Brasil
No
Vermelho:
Dilma: PCdoB é protagonista do processo de mudanças do Brasil
Dilma: PCdoB é protagonista do processo de mudanças do Brasil
Em discurso nesta sexta (15) a presidenta da
República, Dilma Rousseff, afirmou que sua participação no 13º Congresso é um
momento ímpar para reafirmar a todos os militantes do combativo PCdoB os
agradecimentos pelo apoio que tem recebido ao longo dos três anos de seu
governo. Ela enfatizou a “longa, duradoura e histórica aliança” que une o PCdoB
ao PT em todas as eleições presidenciais desde 1989.
Por Mariana Viel, da redação do Vermelho no 13º Congresso do PCdoB
Por Mariana Viel, da redação do Vermelho no 13º Congresso do PCdoB
“Só sabe construir
o futuro quem soube lutar no passado. Só sabe construir o futuro quem está
construindo o presente e quem tem novas ideias para seguir adiante”. Dilma
iniciou sua fala elogiando as posições corajosas e a clareza política do
discurso do presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, na abertura do ato
político desta sexta (15). Lembrou que a força da aliança com os comunistas
brasileiros foi construída em momentos históricos difíceis do país. “Essa é uma
união da esperança de que é possível sempre fazer e avançar mais. Para essa concepção
que nos une cada conquista é apenas um começo. E ela nasceu também da convicção
de que é necessário continuar mudando o Brasil”.
“Não posso deixar de dizer que aqui, vejo nos olhos de cada um de vocês a mesma chama que animou o heroísmo patriótico de João Amazonas, de Mauricio Grabois, de Pedro Pomar e de Elza Monnerat. A mesma coragem e entrega daqueles que morreram no Araguaia sonhando e lutando por um Brasil melhor. É essa mesma chama de luta que eu vejo no discurso do presidente do PCdoB, Renato Rabelo. É uma força nos discursos que mostra os compromissos com a transformação”.
Dilma ressaltou a força da trajetória que constitui o PCdoB e suas lutas e que, segundo ela, sempre irá emocionar todos aqueles que participaram do momento difícil do Brasil que foi a luta pela transformação e pela construção da nossa democracia. “Essa força eu vejo também agora no Aldo Rebelo, no Inácio Arruda, no Haroldo Lima, no Orlando Silva e em tantos outros. Queria dizer que essa mesma força está nos corações das mulheres do PCdoB, da Luciana [Santos], da Vanessa [Grazziotin], da Perpétua [Almeida], da Manuela [D’Ávila], da Jandira [Feghali] e de todas as queridas ‘marias’ mulheres deste partido”.
A presidenta reforçou que a aliança com os comunistas está construída em torno de ideais, princípios e na “certeza de que um Brasil realmente rico e grandioso é possível se dele fizerem parte todos os 200 milhões de brasileiros e brasileiras. Se sua soberania for defendida e sempre contemplada, se sua democracia for cada vez mais forte e consolidada. O PCdoB foi e é protagonista de todo esse processo de mudanças que ocorreram no Brasil. Estou certa que as vitorias que alcançamos até aqui são parte inicial das grandes transformações que necessitamos. Por isso é bom lembrar que o Brasil que o PCdoB comemorou seus 91 anos e no qual se realiza o seu 13º Congresso é um país completamente diferente daquele em que iniciamos a nossa parceria no ano de 2003 quando chegamos todos na direção do Executivo federal”.
A mandatária brasileira fez um balanço da economia no país. Afirmou que em 2013, a inflação fechará o ano pela 10ª vez consecutiva dentro da meta estabelecida pelo governo. “Se equivocam aqueles que olham e dizem que a inflação não está sobre controle”. Ressaltou o controle da inflação e o compromisso com a estabilidade macroeconômica e com a geração de empregos — uma das principais diferenças do modelo neoliberal representado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pela direita brasileira.
Ela apresentou os índices recordes de investimentos do governo federal através de programas centrais como o Bolsa Família, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Minha Casa, Minha Vida, o Pronatec, e o Mais Médicos. Falou da atuação aguerrida da União Nacional dos Estudantes (UNE) na luta para assegurar o investimento dos royalties do pré-sal para a Educação brasileira.
“Temos uma união sólida feita em ações concretas e princípios e concepções. Isso não significa que pensamos igual, mas que somos capazes de realizar um debate franco em torno desses ideais e que respeitamos mutuamente nossas diferenças e a nossa força é justamente essa. É assim que se firmam as melhores alianças políticas com compromissos com o país, com a governabilidade, com o avanço econômico, com a defesa de nossa soberania e com o bem-estar de nosso povo. O fato é que o PCdoB me ajuda e compartilha comigo o desafio de governar o Brasil”.
“Não posso deixar de dizer que aqui, vejo nos olhos de cada um de vocês a mesma chama que animou o heroísmo patriótico de João Amazonas, de Mauricio Grabois, de Pedro Pomar e de Elza Monnerat. A mesma coragem e entrega daqueles que morreram no Araguaia sonhando e lutando por um Brasil melhor. É essa mesma chama de luta que eu vejo no discurso do presidente do PCdoB, Renato Rabelo. É uma força nos discursos que mostra os compromissos com a transformação”.
Dilma ressaltou a força da trajetória que constitui o PCdoB e suas lutas e que, segundo ela, sempre irá emocionar todos aqueles que participaram do momento difícil do Brasil que foi a luta pela transformação e pela construção da nossa democracia. “Essa força eu vejo também agora no Aldo Rebelo, no Inácio Arruda, no Haroldo Lima, no Orlando Silva e em tantos outros. Queria dizer que essa mesma força está nos corações das mulheres do PCdoB, da Luciana [Santos], da Vanessa [Grazziotin], da Perpétua [Almeida], da Manuela [D’Ávila], da Jandira [Feghali] e de todas as queridas ‘marias’ mulheres deste partido”.
A presidenta reforçou que a aliança com os comunistas está construída em torno de ideais, princípios e na “certeza de que um Brasil realmente rico e grandioso é possível se dele fizerem parte todos os 200 milhões de brasileiros e brasileiras. Se sua soberania for defendida e sempre contemplada, se sua democracia for cada vez mais forte e consolidada. O PCdoB foi e é protagonista de todo esse processo de mudanças que ocorreram no Brasil. Estou certa que as vitorias que alcançamos até aqui são parte inicial das grandes transformações que necessitamos. Por isso é bom lembrar que o Brasil que o PCdoB comemorou seus 91 anos e no qual se realiza o seu 13º Congresso é um país completamente diferente daquele em que iniciamos a nossa parceria no ano de 2003 quando chegamos todos na direção do Executivo federal”.
A mandatária brasileira fez um balanço da economia no país. Afirmou que em 2013, a inflação fechará o ano pela 10ª vez consecutiva dentro da meta estabelecida pelo governo. “Se equivocam aqueles que olham e dizem que a inflação não está sobre controle”. Ressaltou o controle da inflação e o compromisso com a estabilidade macroeconômica e com a geração de empregos — uma das principais diferenças do modelo neoliberal representado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pela direita brasileira.
Ela apresentou os índices recordes de investimentos do governo federal através de programas centrais como o Bolsa Família, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Minha Casa, Minha Vida, o Pronatec, e o Mais Médicos. Falou da atuação aguerrida da União Nacional dos Estudantes (UNE) na luta para assegurar o investimento dos royalties do pré-sal para a Educação brasileira.
“Temos uma união sólida feita em ações concretas e princípios e concepções. Isso não significa que pensamos igual, mas que somos capazes de realizar um debate franco em torno desses ideais e que respeitamos mutuamente nossas diferenças e a nossa força é justamente essa. É assim que se firmam as melhores alianças políticas com compromissos com o país, com a governabilidade, com o avanço econômico, com a defesa de nossa soberania e com o bem-estar de nosso povo. O fato é que o PCdoB me ajuda e compartilha comigo o desafio de governar o Brasil”.
15 novembro 2013
Felicidade
A sexta-feira é de Tom Jobim: “São coisas
lindas que eu tenho pra te dar/Vem de mansinho à brisa e me diz/É impossível
ser feliz sozinho”
Uma questão nodal
Um destaque do 13º. Congresso do PCdoB: O Projeto de Resolução 1 assinala a importância de
coalizões políticas amplas e heterogêneas, seja para que se alcance a vitória
eleitoral, seja para assegurar a governabilidade. Mas acentua: para que o
movimento transformador avance no sentido da reformas estruturais que destravem
a continuidade do crescimento econômico com inserção social, democracia e
soberania - faz-se imprescindível um núcleo mais avançado, de esquerda, que
reúna partidos, correntes políticas, centrais sindicais, setores mais
combativos do movimento social, personalidades. Eis uma questão nodal.
14 novembro 2013
Sem pressa...
A quinta-feira é de Chico Buarque: “Não se afobe, não/Que nada é pra já/O amor não
tem pressa/Ele pode esperar em silêncio”
"A consciência e a honra da Nação"
O 13º. Congresso e a
consciência militante
Luciano Siqueira
Publicado no portal Vermelho www.vermelho.org.br
Luciano Siqueira
Sou de uma geração que sentiu a chama da luta arder no peito
a partir dos primeiros embates de rua e que buscou, sempre, alcançar a
militância consciente, inspirada nos versos de Vandré “Vem, vamos embora/Que
esperar não é saber/Quem sabe faz a hora/Não espera acontecer”.
Mas era uma consciência fragmentada, superficial, pontuada
por lacunas sublimadas pelo impulso rebelde. Em meu caso pessoal, antes disso, no
início dos anos 60, adolescente, voluntário do Movimento de Cultura Popular, no
Recife, na gestão do prefeito Miguel Arraes, foi uma espécie de alumbramento,
como diria o poeta Bandeira. Atuando no projeto Praças de Cultura, que mirava a
juventude dos bairros periféricos; convivendo com personalidades de destaque,
como o professor Paulo Freire; compartilhando o debate sobre as reformas de
base e o sentido libertário da cultura popular – vivi uma fase em que muito via
e pouco enxergava. Faltava-me maturidade para processar tudo aquilo. Sequer tinha
plena consciência de que ali se fazia parte da nossa História.
É que, tal como o nosso povo em sua experiência coletiva, o
militante percorre caminho próprio na busca de respostas a perguntas que se
sucedem no percurso. E lhe assalta ao espírito uma felicidade imensa a cada
salto na formação de sua consciência e na compreensão do rumo a seguir.
O 13º. Congresso do PCdoB contém em seu âmago uma espécie de
fusão entre o impulso combativo e a consciência avançada. Tendo como fio
condutor o Programa Socialista, cuja feição atualizada se consignou no 12º.
Congresso, há quatro anos, o militante comunista pode agora compreender, em sua
inteireza, o que se passa no Brasil e no Mundo e iluminar a peleja cotidiana pela
percepção do sentido universal de cada acontecimento, estabelecendo o nexo
entre o particular e o geral, entre a luta localizada e a luta nacional pelo
poder político.
Assim se faz a análise das transformações ocorridas no
Brasil na última década e o evolver da crise global. A avaliação da trajetória
do Partido nesse cenário. O aclaramento das perceptivas de construção de um
projeto novo de desenvolvimento nacional que, em perspectiva, gere condições
materiais e subjetivas para o salto civilizatório rumo a socialismo, nas
condições em que, no mundo hoje, se trava a grande luta pela emancipação da
Humanidade.
Daí decorre uma espécie de felicidade coletiva imensurável e
um apego ao mesmo tempo guerreiro e amoroso pelo Partido que, no dizer de João
Amazonas, representa “a consciência e a honra da Nação”.
13 novembro 2013
Para viver um grande amor
A quarta-feira é de Vinícius de Moraes: “Para viver um
grande amor, preciso/É muita concentração e muito siso/Muita seriedade e pouco
riso”
Conteúdo de coalizões partidárias
O fio da meada de frentes
amplas
Luciano Siqueira
Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio online)
Luciano Siqueira
Quem se alia com quem em torno de que projeto e sob que
liderança? A questão toma corpo a cada
episódio eleitoral, quando o jogo de forças se faz a um só tempo complexo e
instável no ambiente político brasileiro. Muito diverso de países da Europa,
por exemplo, de poucos partidos e matizes políticos e ideológicos
estratificados e em certa medida imutáveis.
O Brasil é diferente. “Não é para principiantes”, já se
disse. Aqui, além da imensidão do território e das acentuadas diversidades
regionais – históricas, econômicas, sociais, culturais -, que se refletem no
comportamento dos partidos, grupos e líderes proeminentes em cada lugar, o
espectro partidário comporta nada menos que trinta e duas legendas. Verdade que
há partidos constituídos de fato e de direito e legendas legalmente respaldadas,
porém basicamente cartoriais. Agremiações programáticas, não muitas; e uma
maioria de natureza circunstancial, digamos.
Mas o fato é que na hora da onça beber água, ou seja, quando
se aproxima o embate eleitoral, constituem-se alianças nas quais não será pelas
aparências que nelas se encontrarão a coerência e a legitimidade, mas sim pela
sua essência. E esta há que se reconhecer no projeto político de cada coalizão
partidária constituída.
Mais: seja porque a força do fator local, do regionalismo –
como acentuou Afonso Arinos de Melo Franco em opúsculo sobre a teoria e história
dos partidos políticos no Brasil -, seja pelas “facilidades” da legislação
eleitoral, alianças concertadas em plano nacional obrigatoriamente não se confirmam
em plano estadual. Assim, nas eleições gerais do ano vindouro, partidos podem
estar juntos em torno de determinada candidatura presidencial, porém separados
e em palanques opostos nos estados.
Nesse ambiente caleidoscópico, onde encontrar “coerência
ideológica e política”, tão reclamada por analistas acadêmicos (em geral
distantes da cena política concreta)? Certamente não será no desenho das siglas
coligadas, e sim nas proposições que cada coligação sustenta.
Cá na província, por exemplo, Miguel Arraes elegeu-se três
vezes governador, sempre liderando frentes políticas amplas e heterogêneas. Foi
o meio de juntar forças reconhecíveis pelo eleitorado e produzir a maioria de
votos necessária. Entretanto, nas três ocasiões, o ideário básico sustentado
por sua candidatura pôde ser identificado no apego aos interesses fundamentais do
povo e à defesa da soberania nacional. Se incoerência havia, esta esteve em
correntes políticas pouco identificadas com esse ideário, mas conduzidas pela
necessidade de compartilhar espaços institucionais conquistados pelo voto – que
seriam inviáveis fora da frente ampla, isoladamente.
Lula governou oito anos à testa de frente nacional
amplíssima; Dilma assim se elegeu; como também Eduardo Campos em Pernambuco. O fio
da meada está no programa adotado.
Agora, mirando 2014, intenso é o movimento visando a
concertação de alianças. Por enquanto, carente de nitidez programática. Adiante,
contudo, quem defende o quê haverá de se explicitar – sobretudo no pleito
nacional, onde estará em jogo a continuidade das mudanças realizadas na última
década versus o risco de retrocesso.
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