Por que o Fed aumenta as
taxas de juros?
A economia dos EUA não parece
“tão bem” assim
Por Arthur Macewan*, CartaCapital
A resposta simples: o Fed aumenta as taxas de juros para desacelerar o
crescimento da economia. Ou desacelerar ao menos em relação ao que, de outro
modo, seria o índice de crescimento. Isto provavelmente vai restringir a
expansão do emprego e manter a estagnação dos salários, especialmente aqueles
dos trabalhadores não supervisores. A ação do Fed provavelmente também manterá
a inflação sob controle.
Em meados de junho, o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos,
anunciou que iria aumentar as taxas de juros pela segunda vez em 2018, e
indicou que mais dois aumentos estavam a caminho para este ano e haveria outros
em 2019.
O Fed elevou sua "taxa de referência" para uma variação de 1,75% a
2%. A taxa de referência é a "taxa de fundos federais", pela qual os
bancos emprestam entre si no curto prazo. É a taxa mais diretamente afetada
pela Fed, e afeta outras taxas de juros em toda a economia.
O banco pode produzir esse aumento de taxas de juros vendendo títulos do
governo que detém atualmente, assim tirando dinheiro (os pagamentos pelos
títulos) de circulação.
Com menos dinheiro em circulação, o preço do dinheiro, as taxas de juros,
tenderá a aumentar. Os ativos em títulos do Fed são especialmente grandes
porque ele comprou enormes quantidades de títulos durante e depois da Grande
Recessão, colocando dinheiro na economia e forçando as taxas de juros a quase
zero.
O raciocínio?
Ao anunciar a ação de junho, o presidente do Fed, Jerome Powell, declarou:
"A decisão que vocês veem hoje é mais um sinal de que a economia dos EUA
está em ótima forma. A maioria que quer encontrar emprego está
encontrando". Na medida em que este seja realmente o caso, as autoridades
do Fed acreditam não ser mais necessário manter baixas taxas de juros como meio
de estimular a atividade econômica.
Além disso, elas acreditam que mais estímulos neste momento poderiam induzir à
inflação. A ação do Fed tenderá a aumentar as taxas de juros em toda a economia
para consumidores e investidores, sobretudo, de novos empréstimos para carros e
dívidas de cartão de crédito a hipotecas, de empréstimos para construção a
empréstimos para a compra de equipamentos. Esses aumentos de taxas de juros
podem não ser imediatos, mas virão. E vão reduzir a atividade econômica em
relação ao que teria sido de outro modo.
Crescimento, emprego e salários
Mas a economia dos EUA está realmente em "ótima forma"? Os defensores
dessa avaliação citam o que alegam ser um índice forte de crescimento econômico
e um índice muito baixo de desemprego como principais evidências de que a
economia vai bem.
Quanto ao índice de crescimento econômico, está rápido apenas em relação aos
anos desde a Grande Recessão. Mesmo por esse critério, o PIB não vai
especialmente bem. A previsão de crescimento do Fed para 2018 é de apenas 2,8%.
Embora mais alto que o índice de 2016 e 2017, fica abaixo dos 2,9% de 2015.
O índice de desemprego, 3,8% da força de trabalho em junho, é bem baixo, menor
do que o visto desde o final dos anos 1960. O índice de participação da força
de trabalho (LFPR) - a porcentagem daqueles com 16 anos ou mais empregadas ou
que buscam emprego – tem, no entanto, caído desde o início do século e baixou
acentuadamente desde a Grande Recessão.
Em cada um dos quatro anos de 2005 a 2008, o LFPR foi ligeiramente maior que
66%. Em cada um dos cinco anos de 2014 a 2018 (até maio), o LFRP ficou
ligeiramente abaixo de 63%, sem tendência aparente. Se o índice de participação
fosse tão alto hoje quanto nos anos que antecederam a Grande Recessão, cerca de
7,7 milhões a mais estariam na força de trabalho.
Esses números sugerem que o mercado de trabalho pode não estar tão
"apertado" quanto sugere o número de 3,8%. Embora parte do declínio
do LFPR seja devido ao envelhecimento da população (a geração "baby
boom" deixando a força de trabalho), grande parte do declínio se deve
àqueles que desistiram de procurar empregos - os chamados "trabalhadores
desanimados".
Se o Fed mantivesse baixas as taxas de juros, continuando a estimular o
crescimento, poderia haver empregos disponíveis para esse grupo desanimado.
Mais importante, o estímulo continuado poderia fazer os salários subirem.
Embora o chefe do Fed diga que a economia está em "ótima forma", os
salários dos trabalhadores não supervisores permanecem estagnados. Entre maio
de 2017 e maio de 2018 (o mês mais recente para o qual há dados disponíveis), o
aumento médio dos salários de trabalhadores não supervisores no setor privado
foi completamente eliminado pela inflação.
Há vários fatores que contribuem para essa estagnação dos salários, incluindo,
por exemplo, o pequeno número de trabalhadores sindicalizados, o poder das
grandes firmas de definir os salários e a concorrência internacional. Mas o
crescimento econômico lento também é um fator. Um crescimento econômico mais
rápido e duradouro daria aos trabalhadores - mesmo sem sindicatos - mais poder
de negociação porque eles teriam mais opções.
O aumento da taxas de juros adotado pelo Fed tenderá, no entanto, a manter sob
controle o aumento dos salários.
* É professor emérito na UMass Boston e sócio da Dollars & Sense.