Uma preferência natural e previsível
Luciano Siqueira
Dentre os muitos componentes do comportamento do eleitorado, o
pertencimento a uma determinada classe social tem peso em geral negado ou
obscurecido. No máximo se considera a “classe” na classificação mercadológica (sem
lastro teórico) baseada no cruzamento dos níveis de renda e escolaridade, que
distingue os segmentos A, B, C, D e E.
Entretanto, é possível sim, com relativo grau de aproximação da
realidade, identificar o que na tradição revolucionária se denomina “instinto
de classe” nas tendências do eleitorado. Não como único nem determinante fator,
é verdade, mas como dado relevante. Assim, quando se reconhece que os segmentos
C, D e E tendem a votar em defesa do status recém-adquirido (a partir do
governo Lula), via inserção no sistema produtivo e no mercado de consumo, há
que se captar, objetivamente, que a classe trabalhadora (em seus diferentes
matizes) aí se concentra.
Por outro lado, nos segmentos A e B, principalmente o A, onde se situam
os cerca de 2% dos brasileiros mais bem aquinhoados em termos de concentração
de renda, é possível identificar a predominância dos detentores do capital – a
chamada elite dominante. Isto porque, subjetivamente, se fundem interesses
materiais concretos e concepção de mundo – ou, melhor dizendo, influência
ideológica.
O jornal Valor Econômico noticia pesquisa em que grandes empresários manifestam
preferência pelo senador Aécio Neves, provável candidato do PSDB à presidência
da República, mesmo achando que a presidenta Dilma Rousseff tem mais chances de
vencer. Foram ouvidos, em enquete realizada pelo Fórum da Associação Brasileira
de Recursos Humanos (ABRH), presidentes de 97 das 200 maiores empresas privadas
do país.
Dilma perderia terreno para Aécio na proporção em que os empresários
ouvidos acentuam sua avaliação de que o cenário econômico atua como maior
entrave à competitividade, que em agosto do ano passado era de 33% e agora em
abril atinge 69%. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, que
hipoteticamente surge como candidato à presidência da República, emerge como
terceiro colocado – crescendo de 4 a 11% no período.
Fica implícito – embora os analistas da pesquisa não o digam
– que há uma identidade entre os entrevistados e o grau de preferência
revelado, tendo como fio condutor o desejo (e a necessidade) de ter um
governante que lhes assegure maior segurança quanto a seus interesses
fundamentais. Dilma (e também Eduardo), como se sabe, é um milhão de vez mais
permeável, digamos assim, às reinvindicações dos trabalhadores do que o senador
Aécio. Então, no conflito entre o capital e o trabalho, melhor para esses
dirigentes de grandes empresas privadas (algumas multinacionais) que o País
tenha na presidência quem os represente. Em outras palavras, pesa na escolha,
em última instância, o interesse de classe. Por isso, não será surpresa se na
próxima sondagem a diferença pró-Aécio se alargue, em contraste com a
preferência pró-Dilma nos denominados segmentos C, D e E.