31 julho 2015

Meio ambiente & sustentabilidade

Jardim Botânico do Recife entre os melhores do Brasil

O Ministério do Meio Ambiente acaba de subir a classificação do equipamento municipal, da categoria “C” para “A”. A medida reconhece a importância do acervo e do trabalho desenvolvido no local visando à preservação da flora brasileira. A novidade será anunciada durante as comemorações do aniversário de 36 anos de fundação do jardim neste sábado (1º), a partir das 9h. A festa contará com atividade de arte-educação, corte de bolo, lançamento de revista científica e apresentação cultural.

Para conquistar o novo patamar, o Jardim Botânico, equipamento ligado à Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade, precisou atender às 16 exigências da resolução 339 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). A legislação define regras para criar esse tipo de equipamento e normatiza suas atividades. De acordo com ela, os espaços têm uma função estratégica dentro do programa de conservação da flora nacional, devido a suas coleções de plantas, trabalhos de reflorestamento, ações educativas e pesquisas feitas pelo seu corpo técnico.

“A mudança de categoria do jardim é fruto de uma séria de investimentos e de trabalhos realizados por nós desde 2013. Primeiro, fizemos uma grande reforma física no equipamento que deu vida nova a ele. Depois, passamos a incentivar e estruturar melhor as atividades de pesquisa e produção de conhecimento. Tudo isso nos levou a ser reconhecido como um guardião do patrimônio natural não só da cidade como do Brasil”, explica a secretária de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife, Cida Pedrosa. (Do site da PCR).
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Com Verônica

Ótimo encontro, agora, em Água Fria, com amigas e amigos da professora Verônica Duarte. Na pauta, a luta por uma cultura de paz e por uma educação democrática e de qualidade.

Para reduzir desigualdades

Reforma tributária pode incluir taxação de grandes fortunas

Christiane Peres*, no portal Vermelho
A análise da reforma tributária movimentará a Câmara dos Deputados no segundo semestre. A instalação da comissão especial que debaterá o tema deve acontecer na primeira semana de agosto e o grupo terá 30 dias, de acordo com o ato da Presidência da Câmara, para concluir os trabalhos.
O assunto é pedido recorrente nos debates do Congresso e, para o PCdoB, uma das reformas consideradas estruturantes para país. Nesse sentido, a legenda defende que a reforma tributária não trate apenas da distribuição do bolo dos recursos arrecadados, mas também do aumento da tributação sobre a parcela mais rica da população, com o objetivo de equacionar o ajuste fiscal e reduzir a desigualdade tributária.
Estudo de 2011 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que quanto menor a renda do trabalhador brasileiro, mais tributos ele paga em relação ao total do que ganha. Os 10% mais pobres contribuem para o Tesouro com 32% de seus rendimentos; enquanto isso, os 10% mais ricos, contribuem com apenas 21%.
“Ricos não pagam IPVA sobre iates e helicópteros, mas a classe média se afoga em impostos das mais variadas espécies para manter um carro popular”, critica a líder do PCdoB na Câmara, deputada Jandira Feghali (RJ).
A parlamentar é autora do Projeto de Lei Complementar (PLP) 10/15, que prevê a Contribuição Social sobre Grandes Fortunas. De acordo com a proposta, serão taxados patrimônios superiores a R$ 4 milhões. A previsão é de que a arrecadação gere aproximadamente R$ 20 bilhões anuais para a saúde – já que o projeto prevê a destinação integral daquilo que for arrecadado para o Fundo Nacional de Saúde, numa tentativa de combater o sub-financiamento do setor.
“Infelizmente, nosso sistema tributário ainda é bastante regressivo e, portanto, injusto para com os que vivem da renda do trabalho e benevolente para com os que sonegam e especulam. Desde a redemocratização, cobra-se mais de quem tem menos e nada cobra-se da minoria que muito tem”, diz Jandira.
Este debate, no entanto, enfrenta resistência na Câmara. O imposto sobre grandes fortunas, por exemplo, é o único dos sete tributos federais previstos na Constituição de 1988 que ainda aguarda regulamentação. Há 26 anos tramitam propostas no Congresso sobre a matéria, mas elas não avançam. A pauta já foi apresentada por pelo menos dez parlamentares de diferentes partidos: PCdoB, PT, PSol, PV, PPS e até do PSDB. O imposto, no entanto, nunca chegou a ser votado.
Diante da omissão do Parlamento, em março deste ano, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a imediata regulação do imposto sobre grandes fortunas, mas o pedido também não surtiu efeito.
Entenda a proposta do PCdoB
Em que países já existe taxação de grandes fortunas? Holanda, França, Suíça, Noruega, Islândia, Luxemburgo, Hungria e Espanha. Na América do Sul, a Argentina é pioneira nessa lei.
Por que o foco são os mais ricos? A ideia é assegurar mais justiça tributária. Atualmente, cobram-se muitos tributos de quem pouco tem e alivia-se a carga tributária dos que têm maior patrimônio.
Quem pagará a Contribuição Social sobre Grandes Fortunas? 1) Pessoas físicas domiciliadas no país, com patrimônio a partir de R$ 4 milhões. 2) Pessoa física domiciliada no exterior, em relação ao patrimônio que detenha no país. 3) O espólio dessas pessoas físicas. Cada cônjuge, companheiro ou companheira será tributado com base no seu patrimônio individual acrescido da metade do patrimônio comum, se houver, e da integralidade do patrimônio dos seus dependentes.
Como serão cobrados os valores? A proposta estabelece nove faixas de contribuição, com alíquotas diferenciadas e iniciando a tributação a partir de um patrimônio declarado superior a R$ 4 milhões. A cobrança atingirá menos de 50 mil contribuintes.
Qual é a previsão de receita? A expectativa de arrecadação chegaria a quase R$ 14 bilhões, mantida a concentração de cobrança na última faixa, acima de R$ 150 milhões de patrimônio. Dos R$ 14 bilhões esperados, R$ 10 bilhões viriam desses contribuintes, cerca de 600 pessoas. Em valores corrigidos, o montante poderia chegar a R$ 20 bilhões, já que os dados fornecidos pela Receita Federal têm como base os anos de 2008 e 2009.
Como serão utilizados os recursos arrecadados? Serão depositados direta e integralmente no Fundo Nacional de Saúde e destinados, exclusivamente, ao financiamento das ações e dos serviços públicos do setor, em acréscimo ao mínimo constitucional já previsto para a área.
Quem fiscalizará o cumprimento da lei? A administração, a fiscalização e a cobrança da contribuição serão feitas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil.
Como surgiu a iniciativa? A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) foi relatora do Projeto de Lei Complementar (PLP) 48/11 na Comissão de Seguridade Social e Família. Com o arquivamento da proposta no ano passado, ela reapresentou sua relatoria por meio do PLP 10/15, que cria a Contribuição Social sobre Grandes Fortunas. O projeto está sujeito à votação em Plenário.
Por que melhora a saúde brasileira? 1) Hoje faltam pelo menos R$ 50 bilhões para atender às principais demandas da saúde. É urgente ampliar as fontes de receita. A escassez de recursos é evidente quando se compara o Brasil com outros países. Em locais onde existem sistemas universais de saúde, o gasto público corresponde, em média, a 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil, esse percentual é menor: 3,7%. 2) Outro dado que indica o sub-financiamento da área: nos países com sistemas universais de saúde, o setor público é responsável por 70% do gasto total em saúde. No Brasil, o gasto público representa menos de 45% do total. Conforme dados da OMS, 75% dos países possuem uma proporção de gasto público em saúde maior do que o montante brasileiro. 3) Com a proposta, seria possível, por exemplo, melhorar o atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), adquirir equipamentos e modernizar a infraestrutura.
*Com informações da Agência Câmara.
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Juventude


Conversei hoje com Melka, ex-presidente da UEP, e com dirigentes da UJS acerca da luta por uma cidade progressista e mais humana.

No combate ao câncer

Drones moleculares

Dispositivos minúsculos permitem que fármacos atinjam alvos específicos no organismo. Tecnologia é promissora para o desenvolvimento de tratamentos contra o câncer, diz colunista da CH.
Angelo Cunha Pinto, na revista Ciência Hoje Online
Entre os grandes avanços atuais na área da química medicinal, um dos destaques é o desenvolvimento de dispositivos extremamente diminutos, mas altamente sofisticados, voltados à liberação controlada de fármacos para o tratamento do câncer e de outras doenças infecciosas.
A construção desses dispositivos – ditos nanomoleculares, por sua dimensão na casa do bilionésimo de metro – tem como objetivo fazer com que os fármacos atinjam alvos específicos – à semelhança dos drones –, matando, por exemplo, células cancerosas e poupando as sadias, diminuindo, assim, os efeitos colaterais adversos de medicamentos que são eficazes, mas tóxicos. Esses nanodispositivos também protegem os fármacos de degradações causadas por enzimas, aumentando, dessa forma, o tempo dessas drogas no organismo.
Nanoválvula (em cinza azulado) libera o fármaco (bolas vermelhas) somente quando as ‘portas’ (esferas douradas com cones verdes) de seus reservatórios são ‘abertas’ pela acidez e o oxigênio presentes nas células malignas. (ilustração adaptada do artigo).
Essas máquinas moleculares podem, por exemplo, ser nanoválvulas, dotadas de reservatórios que podem ser ‘carregados’ com um fármaco. Um componente móvel – que se abre e se fecha como uma porta – libera seu conteúdo ou interrompe seu funcionamento, quando comandos químicos são aplicados (figura acima).
Recentemente, pesquisadores brasileiros da Universidade Federal Fluminense e da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto (SP), construíram nanoválvulas à base do mesmo elemento químico que compõe os microprocessadores e chips: o silício – mais especificamente, sílica (dióxido de silício). Esses dispositivos – dotados de poros regulares de 3 a 6 nanômetros cada e ‘grande’ área superficial – não são tóxicos nem reagem com outras substâncias presentes no organismo.
As nanoválvulas são, de fato, sistemas de liberação de fármacos promissores
Na superfície desses dispositivos, foram introduzidas as chamadas funcionalizações químicas – no caso, fazendo o papel de porta para cada poro. Os componentes das nanoválvulas foram planejados para que essas portas se abram na presença de oxigênio molecular em meio ácido, tendo em vista o ambiente ácido de vários tumores.
Depois de carregarem os reservatórios das nanoválvulas com um fármaco (cloridrato de doxorubicina) usado no tratamento de certos cânceres, os pesquisadores brasileiros investigaram a eficiência desses nanodispositivos. Um desses experimentos mostrou que o fármaco foi liberado com sucesso no interior de células de câncer de pele de camundongos, fazendo com que a ação dessa droga fosse potencializada.
Esses resultados – publicados no periódico Microporous and Mesoporous Materials (v. 206, pp. 226-233, 2015) por Gleiciani Silveira, Roberto da Silva, Lilian Franco, Maria Vargas e Célia Ronconi – mostraram que as nanoválvulas são, de fato, sistemas de liberação de fármacos promissores cujo estudo poderá levar a avanços no tratamento do câncer. 
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Matriz energética

Brasil bate recorde na produção de energia eólica. Em um dia, País produz 2.989,2 megawatts médios de energia gerada pela força dos ventos, o suficiente para abastecer 13 milhões de pessoas; fontes de energia renováveis na matriz energética podem chegar a 84% até 2023. (Portal Brasil).

Bom dia, Elizabeth Hazin:

o desejo é como água:
flui reflui
escorre inunda
o corpo
(quem bebe?)


Arte: Herni Matisse

30 julho 2015

Uma crônica de cena familiar

Meus 41 anos

Rafaele Ribeiro

Ela acordou naquele dia completamente feliz; afinal, comemorava mais um aniversário. Recebeu do marido um baita café da manhã e dos filhos, Augusto e Francisca, muitos beijos e um Caroline Herrera, marca que tanto amava.
Seu dia começou pra lá de animado: após o recheado café, seguiu com a família em direção ao aeroporto do Recife, pois tinha acabado de ganhar do amado um jantar no Alfredo di Roma, restaurante lindíssimo, ambiente requintado e comida italiana, em Salvador.
A família seguiu de taxi até ao Vila Galé, luxuoso hotel e de muito bom gosto, por sinal, próximo ao Farol, na Barra.
O dia seguia perfeito: escutava ¨The Piano Guys¨, deitada na espreguiçadeira do hotel, usando seus famosos óculos Gucci e chapéu aba larga protegendo todo seu rosto, que aliás, já estava bem protegido de tanto protetor solar que havia passado.
As crianças se divertiam com o pai na piscina. Realmente, o dia não poderia estar melhor.
Ao anoitecer, ela resolveu iniciar a produção. Precisava ficar belíssima! Era seu aniversário, seus 41 anos! Olhou-se no espelho durante 10 minutos, não se sentiu feia, mas reconheceu que estava um pouco flácida...desejou seios mais firmes.
 Bom, bola pra frente! Abriu a mala e procurou a linda calça Oxford, cor caqui, a qual havia escolhido para a ocasião. Só tinha um detalhe nisso tudo: a peça havia sido comprada há dez anos. Mas e daí? Ainda cabia nela e estava em perfeito estado. Vestia tão bem...é certo que ficaria encantadora.
Pôs o primeiro pé, logo depois, o segundo, com muito esforço, subiu a calça até o quadril e lá iniciou uma travada batalha, típica de gladiadores medievais (ela x calça): puxava pelo passante, pelo pequeno zíper lateral, pelos botões frontais...nada. Ela não se movia. Desgraçada! O marido, sempre muito atencioso, resolveu dar aquele empurrãozinho (nessas horas, faz-se tão necessária a força masculina) ele sentou defronte pra ela e resolveu baixar a calça para subi-la de vez...aff... ela quase dá na cara dele! Vinte longos minutos perdidos! Um tempão para subir até o quadril e tudo perdido! Graças a ele que em 3 segundos baixa toda a bendita, crendo que iria subir assim tão depressa... tão inocente..só queria ajudá-la. Ela pede pra ele sair e inicia o processo da subida até o quadril. Teve uma ideia: resolveu passar óleo nas pernas e quadril. Sim, agora, ela ia subir. Dessa vez mais facilmente. Não ia demorar essa eternidade. De fato, não se esforçou muito e a calça voltou a moldar seu corpo. Orgulhosa,saiu ao encontro da família que a esperava.
Já no táxi, o cheiro de talco do aromatizante do carro a fez espirrar, um leve espirro e pluft, abriram-se os botões frontais. Ela respira fundo. Não quer trocar de roupa. A calça ainda está presa. Calmamente, pede ao taxista que siga para Ondina.
Caminhava de nariz empertigado, majestosa, segura de si, pois a calça resistia firme e forte desenhando seu corpo. O marido afasta duas cadeiras para as crianças e outra para ela, que ao agachar-se,para sentar, escuta o indesejável som do zíper lateral se abrindo na costura. Seu rosto empalidece e o coração bate a mil por hora. Os céus estão contra ela, só pode! Deveria ter lido o horóscopo, sem dúvida, aquele não era seu dia! Havia uma conspiração dos astros para celebrar sua infelicidade! O cérebro não para de pensar. O garçom traz a entrada, uma bruschetta Alfredo, ela mal sente o sabor, engole. Quer resolver esse problema. O marido conversa, as crianças falam de Frozen e Disney; ela nem os escuta. Pensava em como sair dali, naquele estado. A sorte era a blusa que cobria a cintura e não mostrava toda aquela humilhação. O restaurante estava lotado. Finalmente, antes do prato principal, decide ir ao banheiro; assistiu tanto MacGyver...também era desenrolada. Ia dar um jeito! Procura qualquer coisa que prenda a calça à cintura. Olha o enxaguante, as plantas, o fio dental...de repente lhe vem uma grande ideia e ela puxa metros de fio dental, dá logo umas 3 voltas na cintura,amarra bem, baixa a blusa e segue pomposa desfilando por entre as cadeiras e mesas do Alfredo di Roma, com seu cinto improvisado feito a base de fio dental.
Ao avistar a mãe (criança não se segura, todo mundo sabe disso) Francisca corre ao seu encontro, a mãe para e tenta segurar os braços da menina, temendo o pior...tarde demais. A criança lhe abraça as pernas e puxa, involuntariamente, a dita calça, que não resiste ao puxão, e logo desliza pelas pernas, com ajuda de todo aquele óleo, deixando a aniversariante só de calcinha, em pé, no meio do restaurante... a música para, os clientes olham, ela enrubescida que nem uma casca de maçã, explode de choro diante de tanto vexame e sai, arrasada, correndo porta afora.
Fica a dica: nem sempre dar uma de MacGyver é a solução do problema. Às vezes, o ideal, é evitá-lo, antes mesmo de ele surgir.

Opção de vida

A militância nossa de cada época

Luciano Siqueira, no portal Vermelho

Certa vez, como ocorre com certa frequência, um grupo de estudantes me entrevistou demoradamente (no meu gabinete de vice-prefeito do Recife) acerca do período do regime militar. Perguntas várias, curiosidade comovente, misto de surpresa diante da descoberta de fatos dramáticos da vida brasileira (dos quais
sequer suspeitavam — haviam lido alguma coisa, adiantam, mas não tinham ainda conversado com ninguém que os tivesse vivido diretamente) e de alumbramento,
por chegarem "tão perto" (no dizer de um deles), através do meu relato, de coisas "quentes" de nossa História recente.
(O bom dessas entrevistas com jovens estudantes é isso: o despertar para o conhecimento da história real e a descoberta do povo como protagonista dessa história).
Mas eis que, ao término da conversa, uma jovem do rosto sardento e jeito tímido, óculos de aros escuros, que me chamara a atenção pelo quase mutismo e pelo olhar grave, rpergunta:
- É muito mais fácil ser militante hoje do que naquele tempo, não é mesmo?
- Não. Hoje, sob certos aspectos, é até mais difícil.
Diante do ar surpreendido dela e dos seus colegas, esclareci:
É certo, sim, que a militância partidária, especialmente no Partido Comunista, naquela época, era muito difícil. Atuávamos clandestinamente, sujeitos a privações e a riscos, com a cabeça colocada a prêmio. A qualquer momento podíamos ser
presos e torturados, como de fato fomos; ou a ter a vida sacrificada, como muitos companheiros tiveram, assassinados sob tortura ou em embate aberto com as forças da repressão policial.
Porém, como a militância é uma opção consciente, uma atitude subjetiva — era relativamente simples justificá-la: o regime de exceção, o povo sufocado, vilipendiado e submetido a um modelo de desenvolvimento excludente. Lutar era, assim, um imperativo de consciência.
Hoje já não temos nossas cabeças colocadas a prêmio. Não corremos o risco de agravos à integridade física. Mas, do ponto de vista subjetivo, a militância implica encontrar respostas para uma gama enorme de problemas teóricos e políticos
— da perspectiva socialista aos intricados assuntos relacionados com a situação política atual, os governos Lula e Dilma, a transição do atual modelo ao projeto nacional-
desenvolvimentista e assim por diante.
Antes sofríamos a pressão dos tanques e das baionetas, hoje, o torpedeamento da mídia, a complexidade do debate de ideias.
Nesse sentido, a militância comunista será sempre um desafio instigante. E
também uma fonte de felicidade pessoal, quaisquer que sejam as circunstâncias — a qualquer época.
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DNA antidemocrático

Males de origem

Eduardo Bomfim, no portal Vermelho

A grande mídia hegemônica, em suas poucas variantes, possui um currículo invejável e com raríssimas exceções detém a marca invejável de ter participado de todas as conspirações contra a legalidade constitucional da história contemporânea do país.
Em período recente movimentou-se febrilmente contra o governo popular, nacional desenvolvimentista de Getúlio Vargas em 1954, aliada às forças mais retrógradas, alinhadas aos setores subordinados à opção da dependência irrestrita econômica, geopolítica brasileira.
Apoiaram, em outras épocas, a nefasta teoria de Gobineau, misto de antropólogo, sociólogo, diplomata francês, que armado de falsas teses científicas, alardeava aos quatro cantos do mundo que o Brasil por condição de nação tropical, infestado de doenças típicas do clima, associado a uma mestiçagem promíscua de raças: negros, índios, europeus, estaria condenado ao subdesenvolvimento inevitável.
Daí empalmaram a surreal ideia, junto a intelectuais colonizados da época, do embranqueamento nacional através de ondas maciças de imigrantes europeus como atenuante aos “nossos males de origem”, e apesar de condenados pela nossa formação antropológica, as coisas podiam ser ao menos minimizadas.
Superado tamanho disparate científico agarram-se a outros temas como a destinação do nosso eterno purgatório à dependência econômica estrutural por razões de grande atraso em nosso salto ao desenvolvimento capitalista moderno que com muita sutileza, duvidosa sofisticação acadêmica foi recauchutada pelo “príncipe da sociologia brasileira” o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
No período autoritário de 1964 a mídia oligárquica promoveu, como vanguarda do retrocesso, o arbítrio em curso ao lado de vários setores das elites civis do país.
Produziram uma falsa revisão de suas posições da época mas a verdade é que além de crescerem espetacularmente no período ditatorial de 21 anos suas intenções jamais foram de autocrítica, pretendem continuar na senda autoritária de um cosmopolitismo subalterno que nunca abandonaram.
Hoje mais uma vez agem contra a legalidade constitucional, a democracia, os interesses da nossa soberania, o desenvolvimento efetivo do país. Urge, além da luta pela sagrada liberdade de opinião e expressão, intensa defesa da Constituição e da nação, ameaçadas.
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A palavra instigante de Jomard

Há gosto para (quase) tudo

Jomard Muniz de Britto, jmb

1.    Alegrias e angústias sem desgosto.
2.    AmorÓdio na mesma pagã oração.
3.    Rever a potência mais dominante:
bondade / crueldade
ignorância / reconhecimento
absolutismo / democratização
4.    Perguntas incessantes. Respostas
para os que pensam saber do Outro.
5.    Do eterno mutante Heráclito ao
imaginário maquiavélico na retórica
das folhas rolantes de José Nivaldo Jr.
Sejamos talvez neon-imortais.
6.    Salve-se quem souber do humor enquanto
citicidade na voz de Margarida Cantarelli.
Entre outros e outras.
7.    Há gosto para os errantes devassos no paraíso de João Silvério Trevisan.
8.    Muito antes do amanhecer, Lobão tem razão pela Caetanave. 
Sem medo de confrarias em memórias per-vertidas.
9.    Charles de Gaulle ainda racionaliza:
- “O Brasil não é um país sério...”
Por ser muito mais TRAGICÔMICO?
10.    Há gosto para pensadores sartreanos,
quem não reconhece JOÃO da PENHA?
11.    A loucura mais lúcida de Glauber Rocha
gritava: ARTE TEM QUE TER AMBIÇÃO. Há gosto para a morte.
12.    Ao contrário ou pelo avesso, Juliano Holanda e 
Zé Manoel Carvalho replicam:
- “A maior ambição da canção é ser silêncio.”
13. Pelo cio da poeticidade. Pelo vazio das
oratórias. Pelo ZEN Budismo. Ao corpo
inteiro da musicalidade.
14.    Do SANGUE AZUL de Lírio Ferreira ao
poderoso ÓCULOS BLUE de João Henrique Souza em paixões.
15.    NOSSOS OSSOS. Novas corporalidades.
De Marcelino Freire ao Coletivo ANGU de TEATRO. Há gosto para abalar.
16.    Entre ditos e recorrências, quase TUDO pela (DES)Invenção do Nordeste, 
com a SUDENE renascida e o CAIS DO SERTÃO reencantando João Gilberto 
pela escuta desejante de Raul Henry no Recife Antigo de coração pulsante.
17.    Há gosto para arriscar o impossível sem
pro-clamar enigmas dos narcisismos.
Recife, agosto de 2015.
atentadospoeticos@yahoo.com.br

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Arte: LS

Inovação & progresso

Do tereré à bioeconomia

Aldo Rebelo, no portal Vermelho

A arte de tomar tereré, o mate frio declarado patrimônio imaterial de Mato Grosso do Sul, costume ancestral dos índios guaranis e logo abençoado pelos missionários jesuítas, consistia, originalmente, em sugar o líquido da guampa através de ossos ocos de animais ou finas taquaras.
A seguir vieram sucessivos aperfeiçoamentos dessa bombilha, como um canudo artesanal de bambu e a bomba de metal dotada de filtros que evitam a passagem dos resíduos da erva. A evolução do artefato demonstra como a inovação tecnológica de materiais e processos está presente nos objetos e gestos mais simples do dia a dia.
Desde sempre e hoje, a inovação é instrumento do progresso. Governos e empresas de todos os países investem em novidades que dinamizam processos industriais e do setor de serviços e terminam por facilitar a vida das pessoas. Nesse ambiente se inaugura hoje a 1.ª Reunião do Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso do Sul, com vistas a aparelhar o Estado de infraestrutura material e recursos humanos, visando ao desenvolvimento material e bem-estar de sua população e de todos os brasileiros.
O Poder Público desempenha um papel central no incentivo à pesquisa científica e tecnológica e nas iniciativas da inovação. É o que tem feito o Governo Federal, por meio de programas de subvenção, financiamento e articulação de parcerias. Foi o que fizeram os países mais desenvolvidos para construir a sociedade do conhecimento. Muitos produtos que hoje são ícones da era moderna não nasceram da poupança de seus inventores, mas foram financiados com verbas públicas.
Daí a importância, em sua escala, de Mato Grosso do Sul assumir a tarefa estratégica de ser protagonista no caro e incerto ramo das pesquisas, em associação com centros tecnológicos, universidades e iniciativa privada. Conquistas na indústria e em serviços estão no horizonte, pois se verifica a emergência de uma seleta bioeconomia nas cadeias produtivas do boi, cana, celulose e outras. Mas, usando com argúcia as vantagens comparativas, a agropecuária sobressai na economia estadual. E todo avanço tecnológico disponível já é usado nos ciclos da produção – da biotecnologia à gestão integrada dos negócios. O resultado é que soja e boi abrem e consolidam fronteiras de desenvolvimento. A semente da Ásia, introduzida no Brasil pela sensibilidade dos poetas Raul Bopp, quando era diplomata no Japão, e Patrícia Galvão, a Pagu, tem sido incompreendida tanto quanto a civilização do boi que lastreou a formação social brasileira. Fato é que boi e soja espalham riqueza em seu entorno.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) associa-se ao esforço de Mato Grosso do Sul para acelerar a articulação de uma economia dinâmica a partir de avanços na Ciência, Tecnologia e Inovação. De 2003 a 2014, o MCTI investiu no Estado R$ 233,3 milhões em bolsas de estudo e pesquisa, fomento e transferências de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Ao longo do Fórum serão contratados novos projetos de pesquisa e inovação entre a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso do Sul.

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29 julho 2015

Dinâmica própria

A eleição municipal é um fenômeno local

Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

A especulação é livre e especula quem quer - sobretudo se dispõe de espaço diário nos meios de comunicação, na condição de "analista" da cena política.
Porém é razoável se esperar que o que se diz ou se escreve tenha um mínimo de vínculo com o mundo real, para além do simples “livre pensar”, como diria Millôr Fernandes.
Daí a necessidade de distinguir a especulação inteligente, prospectiva, que trabalha com hipóteses reais, do "chute" sem base real nem sentido.
Sobre as eleições de 2016, por exemplo, imaginar que o governador Paulo Câmara estaria "queimando as pestanas" na tentativa de manter toda a sua base político-partidária unida não faz o menor sentido.
Eleição municipal é fenômeno local, ainda que seus resultados - especialmente os que se referem às grandes e médias cidades - venham a pesar na correlação de forças nos planos estadual e nacional.
A dinâmica das candidaturas e das alianças obedece fundamentalmente a fatores locais. Por isso é comum partidos coligados nos âmbitos federal e estadual ocuparem palanques distintos, mirando a Prefeitura e a ocupação de cadeiras na Câmara Municipal.
Nada mais natural num país como o nosso, de dimensão continental, marcado por enorme diversidade regional e municipal - nas dimensões econômica, política e cultural - e que tem o espectro partidário fortemente constituído pelo somatório de grupos locais, não raro portadores de interesses contraditórios entre si, embora abrigados sob uma mesma legenda.
Partidos de feição nacional e unos ainda são uma construção penosa, impactada pela
legislação eleitoral que induz ao voto unipessoal e a uma representação fragmentada.
(O Partido Comunista do Brasil se faz exceção em razão dos seus fundamentos teóricos e programáticos).
Então, atribuir ao governador Paulo Câmara, como de resto a qualquer dos seus colegas pelo Brasil afora, a missão de construir palanques tão amplos e generosos que mantenham do mesmo lado todas as legendas que o apóiam é fechar os olhos à realidade, especulando no vazio.
Demais, a busca de entendimento entre as forças políticas presentes em cada município e o desenho dos palanques oponentes se dará, de fato, no início do ano vindouro. Até porque no tempo que transcorrerá até lá há uma crise política, institucional e econômica em curso, cujos desdobramentos poderão pincelar com traços fortes o ambiente social e eleitoral
futuro.
Por enquanto, de concreto mesmo há os preparativos prévios de todas as legendas, que buscam se cacifar, cada uma a seu modo, buscando inclusive compor nominatas de candidatos e candidatas à Câmara Municipal – um dos fatores a considerar à mesa das futuras tratativas, seja entre os que se posicionam hoje como governo, seja entre os que se batem na oposição.
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28 julho 2015

Bom dia, Edvaldo Bronzeado:

Que estrelas tontas desovaram nos seus olhos?
Que raio doido feito gema neste olhar?


Arte: Di Cavalcanti

Contra juros altos, pelo emprego

O mundo do trabalho fala

Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Tempo complexo - confluência de desequilíbrios econômicos, políticos e institucionais, ameaça de quebra da ordem democrática.

Tempo difícil, sobretudo para os que vivem do trabalho. Empregos são dizimados a cada dia, desespero de quem é demitido, desesperança de quem deseja entrar agora no mercado.

A par do ajuste fiscal, por natureza restritivo e doloroso, no caldo de cultura da queda de encomendas externas, da crise hídrica e energética e das pressões inflacionárias, a persistência de uma política de juros que nem serve à contenção inflacionária, e muito menos estimula os investimentos produtivos.

Neste cenário, mais do que oportuna a manifestação das centrais sindicais, hoje, por ocasião da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para definir a taxa de juros.

Novo aumento será desastroso. Pressionar é preciso.

É o que fazem agora, em São Paulo, as centrais CTB, CUT, Força Sindical, UGT, Nova Central e CSB em frente ao prédio do Banco Central, e na sede do Banco em Brasília. 

Atualmente, a taxa Selic está em 13,75% ao ano. Uma das maiores taxas de juros do mundo!

Em nota, as centrais advertem que essa política de juros estratosféricos "derruba a atividade econômica, deteriora o mercado de trabalho e a renda, aumenta o desemprego e diminui a capacidade de consumo das famílias e, mais, reduz a confiança e os investimentos dos empresários, o que compromete a capacidade de crescimento econômico futuro".

Neste instante da vida nacional em que "se belisca azulejo", como se diz em situações difíceis, há duas questões que podem e devem motivar uma ampla convergência social e política: a manutenção da ordem democrática e a retomada do crescimento econômico.

É como que fazer a nação "respirar", sem prejuízo das discrepâncias e da luta política própria da democracia, mas em condições de enfrentar os desafios que se põem na ordem do dia.

As centrais sindicais, com o gesto de hoje, dão a sua contribuição. 

O mesmo deviam fazer os chamados "setores produtivos", que não vivem essencialmente da usura e precisam de ambiente favorável a novos investimentos. Com o mesmo ímpeto que reclamam da política tributária e patrocinam o "impostômetro", bem que deveriam instituir o "jurômetro" para denunciar a drenagem criminosa de parte substancial da poupança nacional para banqueiros e rentistas. 

O Brasil é imensamente maior do que a crise. E dela sairá via mobilização real de todos os que desejam a retomada do desenvolvimento soberano e inclusivo.
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27 julho 2015

Uma crônica para descontrair

Quem é quem diante do espelho?

Luciano Siqueira

Espelho em elevador dá nisso: a exposição da vaidade humana, pois é muito comum aquele olhar, de soslaio ou desinibido, para conferir a própria imagem.
Outro dia no prédio onde funciona o meu escritório político testemunhei a crise de identidade, ou de autoimagem, de uma jovem adolescente que foi do térreo ao décimo segundo andar mirando a si mesma, ajeitando com leves toques o penteado, ora acolhendo os cabelos revoltos com as duas mãos em concha, ora os assanhando novamente com as pontas dos dedos. Observada por mim e mais uns três colegas de viagem, não estava nem aí. Quem quer cultivar a própria beleza não pode se importar com o que pensam os que lhe flagram em plena labuta.
No caso, uma bela jovem – morena, estatura mediana, olhos negros, cabelosencrespados e soltos à altura dos ombros, corpo bem distribuído. Uns dezessete anos. Insatisfeita, entretanto. Pois após mexer e remexer a cabeleira, meteu uma fita larga sobre as madeixas mais salientes e, num movimento brusco, prendeu tudo num feixe só, fez um leve muxoxo e ganhou o corredor a passos tímidos.
Essa coisa de autoimagem não é simples. Implica ciência e arte. Cada um que encontre os atributos nos quais se apoiará ao longo da vida para se aceitar a si mesmo, sejam quais forem suas referências culturais. Com a autoridade de haver conquistado o segundo lugar num improvisado concurso de feiura feito por companheiras do movimento estudantil, em 1968, no pátio da antiga Faculdade de Filosofia de Pernambuco, tenho cá minhas dicas.
Vejamos. Suponhamos que o leitor ou leitora não se considere favorecido pela natureza, não se enquadre nos padrões de beleza consagrados pelo vulgo. Melhor é não mexer muito na própria carcaça, adotando cabeleira exótica, tatuagens chamativas ou adereços extravagantes. Faça isso não. Como autoimagem não é coisa meramente individual, depende de como você imagina que as pessoas lhe olham – apreciando ou rejeitando -, nesse caso opte por alternativa mais sensata. Que tal compensar a feiura com uma boa dose de afeto, atenção e despojada solidariedade? Se puder somar alguma competência no que faz, melhor ainda.Vá em frente que por aí pode se dar bem. Nas relações amorosas, por exemplo. Vez por outra revistas de amenidades publicam pesquisas dando conta de que tanto mulheres como homens buscam num possível parceiro antes de tudo sensibilidade, cumplicidade, compreensão; em seguida prestam atenção às características físicas. Eis porque belas mulheres se apaixonam por homens feios e homens tidos como modelos gregos escolhem mulheres feias.
Daí chegamos à boa e sensata conclusão de que o peso do espelho é muito relativo na aferição de nossa autoimagem. Afinal, convenhamos, o que há de mais essencial entre os animais racionais nem sempre está à vista - brota da alma.
Feios e feias de minha terra, sejamos autoconfiantes e felizes!
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Reagir é preciso

Tramam um golpe e ele não passará

Haroldo Lima*, no portal Vermelho

A situação política brasileira evolui por caminhos inesperados, tortuosos e preocupantes. Núcleos em posições de Poder confrontam-se com o governo, e planejam desbanca-lo. O afastamento da presidenta da República é objeto de especulação, colunas de jornais tratam do tema abertamente, nomes de políticos são citados para sucedê-la.
Como não há fatos jurídicos para permitir o afastamento da presidenta dentro da lei, procura-se produzir feitos que justifiquem um “impeachment”. É um ardil torpe. É a “direita” na ofensiva.

Esse quadro vem se formando do início do ano para cá, incentivado pela inconformidade dos que perderam a eleição presidencial, pelas dificuldades advindas da crise internacional do capitalismo, pelos erros do Governo e pela gravidade da corrupção descoberta. Não há sombra de dúvida que problemas subsistem. Mas o dramático é pretender enfrenta-los rompendo com a democracia, a duras penas conquistada.

Percebe-se que um golpe vem sendo urdido pacientemente por setores oposicionistas-judiciais-midiáticos, passo a passo, para asfixiar a democracia e varrer a Constituição que chamávamos de “cidadã”.

Para os que testemunharam o golpe de 1964, como eu, e resistiram à ditadura na clandestinidade, na cadeia e na tortura, os inconformados de hoje procedem irresponsavelmente, como se estivessem fazendo piquenique na cratera de um vulcão. O golpe de 1964 foi rude com a democracia e a Nação brasileiras, mas tragou também os que o apoiaram de início.

Hoje, não se vê militares na trama que se gesta. Por enquanto. O golpe seria “moderno”, no estilo do ocorrido no Paraguai, em 2012: sem canhões, com juízes; sem tropa, com delegados, tribunais de contas, apoio midiático e “representantes do povo”, temerariamente dispostos a afastar governo legal com pretextos vis.

Nesse período recente, a Nação teve seu tecido social esgarçado por contínua, longa, unilateral e exacerbada exposição de problemas e defeitos. Tudo era creditado a uma só corrente política e a alguns líderes. Resultou no despertar do rancor, do desrespeito e do ódio. Os preconceitos foram sublimados, sendo deprimente a estupidez com que se tem investido contra a presidenta por ser mulher. Uma vergonha.

O golpe ousadamente tramado não passará. O povo que se levantou no Araguaia, que derrotou a ditadura, que fez as “diretas já” não aceitará golpe algum. O Brasil é muito, mas muito mais complexo que o Paraguai.

Todo um corpo de ideias atrasadas brota, como ervas daninhas, especialmente na Câmara dos Deputados. Um conservadorismo raivoso ali avança. Estava certo o Departamento Intersindical de Assistência Parlamentar, o Diap, quando disse que “esse Congresso é o mais conservador desde 1964”.

Embalado em tanto reacionarismo, a Câmara vem impondo à Nação uma agressiva pauta retrógrada, onde estão: a terceirização de atividades-fim; o financiamento empresarial das campanhas eleitorais; uma legislação repressora para a comunidade LGBT; restrições aos direitos dos homossexuais; redução da maioridade penal. De passagem, o Estado laico é desrespeitado, a intolerância religiosa é fomentada.

A redução da maioridade penal pode desorganizar nossa legislação. Atualmente, jovens com 16 anos não podem consumir bebida alcoólica, comprar cigarro, dirigir carro ou ônibus, ser submetido a atividades insalubres ou noturnas. Se esses menores já são maiores para efeito da lei penal, como seriam menores para outros fins? Juridicamente isto não se sustenta, já dizem especialistas.

A marcha ascensional dos povos não é retilínea, nem irreversível, tem altos e baixos, comporta recuos. Mas o grave, o perigoso, é quando maiorias ocasionais comportam-se como predestinadas e enchem-se da pretensão de moldar a sociedade à sua imagem e semelhança. Aí os recuos vão se repetindo, se generalizando e se consolidando. As posições contrárias vão sendo reprimidas. Na história recente da humanidade isto deu no fascismo.

Protestar é preciso, denunciar os golpistas é imperioso, desmascará-los é vencê-los.

O grande dramaturgo alemão Bertolt Brecht, e antes dele o poeta russo Maiakovski, em famosos poemas, mostraram o risco que as sociedades correm quando, ante o avanço do obscurantismo, não protestam desde o início. Quando resolvem protestar, já é tarde.
*Haroldo Lima foi representante da Bahia na Assembleia Nacional Constituinte (1987 a 1988), ex-deputado federal e membro do Comitê Central do PCdoB.
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Direito dos animais

Sábado último, mais uma edição do programa 'Veterinário nos Bairros', em Engenho do Meio e Roda de Fogo. O secretário Rodrigo Vidal e equipe atenderam 191 animais/famílias - a maioria sem recursos para recorrer a clínicas privadas.

Diálogo de gerações

Uma mescla de gente muito jovem com gente mais madura - dos17 aos 70 anos. Assim será hoje nossa Roda de Conversa: um diálogo de gerações. No Bar Retalhos, das 18,30 às 21h. Como sempre, serei apenas o "animador" da conversa. Vamos nessa?

26 julho 2015

Endemias & baixa renda

ONU: estudo discute doenças tropicais negligenciadas

Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta o impacto de 17 doenças tropicais negligenciadas – como doença de chagas, leishmaniose, raiva, cisticercose, dengue, entre outras – em mais de um bilhão de pessoas em 149 países e mostra opções e metas para o futuro . O Brasil é um dos países afetados por certas doenças discutidas no relatório.
O investimento prioritário para a redução desses índices, segundo a OMS, seria em prevenção, especialmente no contexto de substituição dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (que terminam em 2015) pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (com limite para o ano de 2030). O relatório ainda destaca o importante papel da pesquisa.
Tendo feito grandes progressos em prover água potável em todo o mundo, a civilização ainda tem grandes desafios nos quesitos sanitários e de higiene: no fim de 2012, aproximadamente 2,5 bilhões de pessoas – cerca de 1/3 da população mundial – não tinham acesso a instalações sanitárias apropriadas.
A OMS ainda chama a atenção para o fato de que países endêmicos têm passado de um status de países de renda baixa para países de renda média, sem, no entanto, deixar de apresentar endemias de algumas das doenças analisadas, o que pode estar relacionado à falta de cobertura universal de saúde: assim, para 2030, a entidade propõe como meta que pelo menos 80% da população de um país (como meta local) e 80% da população global (como meta mundial) esteja coberta por serviços de saúde essenciais, com proteção de 100% quanto aos chamados “custos de bolso”, i.e., o valor que o cidadão precisa desembolsar na hora efetiva de utilizar o serviço.
O relatório assim mostra que a questão da pobreza e acesso a condições básicas de higiene e saúde estão relacionados à proliferação dessas doenças e, para a redução de seus índices, é preciso também melhorar a condição de vida das populações pobres de todo o mundo.
Fonte: Boletim da Fundação Perceu Abramo

Novo Código


No volume 'Advocacia pública'/coleção 'Repercussões do novo CPC', o artigo "A execução parcial da obrigação de pagar quantia certa contra a Fazenda Pública, à luz do novo Código de Processo Civil", da amiga Patricia Montalvão. Formada em Direito pela Universidade Católica, Assessora jurídica da Justiça Federal em Pernambuco, Patrícia dá a sua contribuição em matéria relevante e atual.

Uma crônica leve sobre o sentido da existência

Ana Vaz

Da utilidade e da inutilidade das pessoas para a vida

Alana Moraes*
Há muito anseio escrever um texto com este tema, faltava-me impulso... E então voltei a ler João Guimarães Rosa “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é CORAGEM.”. O título em si não fala muito sobre todas as palavras que pensei em depositar num único texto. Pensei em escrever sobre poesia, do tanto que ela faz bem, unido a isso, escrever o quanto pesa as palavras proferidas nesta vida, tanto positiva quanto negativamente, pensei em falar por meio das palavras escritas, sobre a ausência do amor, a si e ao outro, na vida das pessoas, escrever a importância da FÉ acima de qualquer outro sentimento, e lê-se, fé nas pessoas, na vida, no amor, em um Deus, que como diria Clarice L., permita-nos encostar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo à noite, fé na capacidade do outro de amar, para que assim não revelemos antes de tudo a nossa própria incapacidade. Acredito que ao leitor atento todos esses temas estarão visíveis no decorrer do texto, um texto que vem falar, sobre tudo, de gente, e da forma como essa condição nos torna útil ou inútil aos olhos dos que nos cercam.

Seria desonesto continuar a escrever sem pontuar aqui três escritores que muito colaboraram na visão que hoje exponho. O primeiro deles se chama Rubem Alves, tive contato, ainda no ensino médio, com um texto intitulado “A caixinha de brinquedos”, que revela, com uma escrita muito suave, o quão positivo é chegar à velhice e entender que é nesta etapa da vida que somos inúteis, completamente inúteis, e que exatamente aí, reside o sentido de nossa existência. Em uma das passagens do texto o autor diz: “Um poema da Cecília Meireles é completamente inútil, mas papel higiênico é útil. Com quem vocês preferem parecer com o poema da Cecília ou com o papel higiênico?”, desde então me pus a perguntar qual a construção que damos a nossa vida, construímo-la para ter ou não utilidade na vida do outro?! Por enquanto a pergunta é de ordem retórica.

O segundo escritor é Antoine de Saint-Exupéry, que para mim é preferível citar a obra, não por desqualificar o autor, mas para engrandecer o livro que retrata minha cabeceira, "O Pequeno Príncipe", poderia citar Terra dos homens ou ainda Piloto de Guerra, mas não há jeito, Exupéry escreveu um livro para ser clássico e palavras para serem ensinamentos. Alerta-nos o escritor: “Cuidado para não ficar como as pessoas grandes!”, poderia citar aqui as quatro maiores lições que extraí do livro, mas deixemos para a próxima. É preciso cautela para não deixar de amar, de enxergar para além do que os olhos são capazes de ver, para não ser número e se esquecer de ser essência, cautela para não se tornar uma coisa útil... No final das contas, é esta a mensagem do autor, uma verdade, como diz a raposa no livro, “que as pessoas grandes esqueceram, mas tu não deverás esquecer”. 

O último dos três escritores que me influenciaram a escrever é o Padre Fábio de Melo, não foi através de nenhum livro específico, em uma de suas brilhantes homilias ele diz, e gostaria de abrir um longo parêntese para a sua fala, peço a atenção do leitor, “a utilidade é uma coisa muito cansativa, [...] é um território muito perigoso, porque muitas vezes a gente acha que o outro gosta da gente, mas não, ele tá é interessado naquilo que a gente faz por ele. [...] A velhice é o tempo que passa a utilidade e aí fica somente o seu significado como pessoa, [...], o momento em que temos a oportunidade de saber quem nos ama de verdade, porque só nos ama, só vai ficar até o fim aquele que depois da nossa utilidade descobrir o nosso significado.”.

Para dar continuidade ao texto farei ao leitor a mesma pergunta que me foi feita através da homilia de Padre Fábio: Quem nessa vida já pode ficar inútil para você sem que você sinta o desejo de jogá-lo fora? É essencialmente desta pergunta que somos capazes de desvendar o amor que sentimos pelo outro, o amor limpo. É da resposta que surge desta pergunta que saberemos quais as pessoas que podem viver na nossa vida de forma inútil, que poderão ser o poema da Cecília Meireles, a música do Tom Jobim, são essas as pessoas que poderão nos acompanhar em cada nascer do sol que desejarmos contemplar, são para essas pessoas que faremos de todas as estações primavera!

Na velhice, na penúltima etapa da montanha, é que somos capazes de observar com clareza as flores que fomos capazes de regar, as pessoas que tivemos a capacidade de amar e aquelas as quais fomos capazes de fazer nascer o verdadeiro amor. Tenho na mente que todas as coisas que nascem e morrem nessa vida tem um papel a cumprir. Uma rosa, mesmo quando arrancada, cumpriu seu papel, a sua utilidade acaba na entrega e no sorriso de quem a recebeu, e se quem a recebeu a cultiva, mesmo que não por muito tempo, é porque foi capaz de descobrir na rosa as palavras de Padre Fábio, foi capaz de ver depois da sua utilidade o seu significado, a sua inutilidade e ainda assim continuou a amá-la. Este texto, mesmo sendo inútil, tem um papel, ainda que ninguém o leia, ele cumpriu em mim que o escrevo o papel de desabafo.

Enquanto a você, como tem edificado sua vida? Tem optado por ser poesia ou papel higiênico? ... Finalizo utilizando do sentimento que classifiquei como essencial no prelúdio das minhas palavras: a
FÉ. Faço a mesma prece que o Padre, que eu possa envelhecer ao lado das pessoas que me amem, aquelas pessoas que possam me proporcionar a tranquilidade de ser inútil, mas ao mesmo tempo sem perder o valor. Que eu tenha na minha velhice aqueles que me ponham e me tirem do sol...
*Diretora Regional da UNE – União Nacional dos Estudantes
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Desumanidade bizarra

Fetos delinquentes e estelionato científico

Plínio Gentil, no Correio da Cidadania

“Um dia chegaremos a um estágio em que será possível determinar se um bebê, ainda no útero, tem tendências à criminalidade e, se sim, a mãe não terá permissão para dar à luz”. Segundo o portal Fórum, “essa afirmação foi feita pelo deputado federal Laerte Bessa (PR-DF) em matéria publicada pelo jornal inglês The Guardian no dia 29 de junho. O parlamentar é relator da PEC 171/93, que reduz a maioridade penal”.
Como todo estelionato - previsto no artigo 171 do Código Penal, o mesmo número da PEC da redução -, seria cômico se não fosse triste o ponto de vista do deputado, ainda mais que foi divulgado internacionalmente, o que também o torna constrangedor.
Preocupante é que o deputado não deve falar só por si. Ao longo da história as teses mais bizarras já foram tidas como coisa sérias por muita gente, antes de perceberem que seus defensores estavam, na verdade, servindo aos interesses mais mesquinhos.
A escravização do negro, por exemplo, assim como a dominação das nações africanas pelo europeu, já foram justificadas por uma suposta superioridade racial do branco; a perseguição aos judeus foi frequentemente explicada porque eles pertenceriam a uma etnia degenerada - e nisto há toques de intolerância religiosa, manifestada no ódio aos "assassinos de Cristo", ele também, aliás, um judeu, mas isto nunca convém entrar na conversa.
Além disso, já se apontaram razões geográfico-climáticas para legitimar o poder dos brancos inteligentes e laboriosos, vindos de regiões frias, no norte, sobre os povos preguiçosos que habitam lugares tropicais, de clima quente. Lógico, jamais é feita qualquer menção ao elevado grau de civilização a que chegaram, na Antiguidade, as nações da caliente Mesopotâmia.
Pior ainda é que nunca faltou uma coloração "científica" a essas afirmações. No último quarto do século 19, o psiquiatra italiano Cesare Lombroso fez sucesso e seguidores com sua tese a explicar o comportamento do criminoso a partir de suas características físicas, incluindo sua fisionomia, formato do crânio e das orelhas, lateralidade esquerda, volume de pelos etc. Um prato cheio para os entusiastas da eugenia e de medidas higienizadoras com base na medição dos crânios, coisa tão do agrado do nazismo. Um pouco antes o conde francês Gobineau tinha desenvolvido um estudo "provando" a superioridade biológica da raça nórdica, ou ariana, e "explicando" a evolução da história da humanidade com base nas diferenças raciais.
Pegando carona com Gobineau, já no século 20, o antropólogo inglês, radicado na Alemanha, Houston Chamberlain proclamava "cientificamente" ter identificado no povo alemão os traços da superioridade ariana, qualificando-o como o mais bem dotado entre todos os demais. Os resultados dessa crença - e de como ela serviu aos ideais de dominação nazista - são bem, e tristemente, conhecidos.
Ou seja, mesmo para afirmações como a do deputado relator da PEC 171 (?), sempre existem adeptos, muitos de boa fé, sujeitos a todo tipo de fraudes, e aí é que mora o perigo. É conveniente desmascarar o absurdo dessas bizarrices e reconstituir um pouco a história do mundo para evitar a repetição de algumas tragédias.
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Bom dia, Pablo Neruda

Por isso quando escutei que tua voz repetia
"Venhas comigo" - fui como se desprendia
dor, amor, a fúria do vinho envelhecido.


Arte: Ney

23 julho 2015

Impostura dominante

Cultura monstruosa

Eduardo Bomfim, no portal Vermelho

Usurpando o conceito utilizado pelo filólogo, escritor italiano de O Nome da Rosa, Umberto Eco, o que estamos presenciando, há décadas e intensificado nos últimos anos, na grande mídia oligárquica, é uma cultura monstruosa.
A linha de tergiversação da realidade, campanha dirigida contra a legalidade constitucional em nome da informação, é óbvia.
Cuja intensidade, associada à cobertura de fatos bizarros, além de famosidades tomando sorvete na rua, ou andando no calçadão, tanto como a tietagem de um cosmopolitismo subalterno demonstra muito bem os propósitos e a quem ela está subordinada.
Quando se declarou que: “no referente à nossa situação externa, se muito ainda nos resta combater, não é para evitar a derrota, mas para conseguir a vitória completa, obter efetivamente a reestruturação do mundo em bases mais humanas e justas...
Com respeito à soberania de todas as nações, grandes ou pequenas, (...) cada povo poderá organizar-se segundo a própria vontade expressa pelos meios adequados à sua tradição histórica e aos imperativos de sua existência autônoma” não foi um manifesto assinado pelo Brics mas o discurso de Getúlio Vargas na defesa do país em 1944 por uma ordem internacional democrática em plena 2ª Guerra Mundial.
Surgiram depois avanços na vida das nações mas também momentos gravíssimos, tremendo retrocesso desde o final da década de 80 quando se impôs a hegemonia neoliberal, a liderança unipolar pela via das armas e o capital rentista como força motriz dessa Nova Ordem mundial.
À mídia oligárquica coube o papel de fomentar o discurso ideológico de um monumental processo civilizacional regressivo ao gosto da banca especulativa global.
Quem desdenha da análise da história contemporânea, deve estar surpreso(a) com a onda saudosista fascista, a vertigem golpista “de tipo suave, importada” em curso na América Latina, especialmente no país.
Vivemos um período dramático, de sabotagem à transição a outra realidade global multipolar em que o Brasil é protagonista.
A desabrida conspiração contra a democracia, o legítimo mandato da presidente da República, é parte dessa onda. Cabe-nos defender a Constituição ameaçada, a formação de ampla frente democrática, patriótica, em defesa do progresso econômico e social do país, e combater o fascismo pós-moderno.
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