22 novembro 2024

Palavra de poeta: Deborah Brennand

Sem preconceito
Deborah Brennand     

Senta no primeiro degrau
o mais baixo, todo esmagado,
onde a pedra se une à terra
sem preconceitos.

Ambas têm veios negros.

E sê atenta aos sinais
a alma é muda. Mas,
o coração entende
e traduz bem

o que ela diz calada.

Escuta e sê atenta
lodo e escorpiões
juntos nas frestas
fingem amorosa inocência.

Sem preconceito, são inocentes?

[Ilustração: Arshile Gorki]

Leia sobre o mundo interplanetário https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/09/vida-milhoes-de-anos-luz.html

21 novembro 2024

Postei no X

Desde 2009, a China passou a ser o maior parceiro comercial do Brasil. Só este ano as transações comerciais entre os dois países atingiu 122 bilhões de dólares, 5% a mais do que no ano passado. 

Leia: Brasil+China: cooperação mútua https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/brasilchina-cooperacao-mutua.html

Crueldade sionista

Terror e escárnio em Israel
“Será vingança de sangue”, diz um soldado, num funeral. Outro bloqueia a porta de uma casa em chamas, para que não escape ninguém. Na TV, apresentador detona, ao vivo, bombas em área povoada. Quanto mais cruel, mais o sionismo se perde
Sebastian Ben-Daniel, no Middle East Eye | Tradução: Glauco Faria/Outras Palavras 
 

Alguém “normal”, na definição do dicionário, é um sujeito comum, racional: não anormal. Os relatos sobre o funeral do soldado Shuva’el Ben-Natan me parecem anormais.

Ao elogiá-lo, seu irmão disse: “Queremos vingança! Vocês entraram em Gaza para se vingar do maior número possível de pessoas, mulheres, crianças, qualquer pessoa que vissem, o maior número possível, era isso que vocês queriam. E neste dia, um ano depois daquele dia de Simchat Torá, pensando que massacraríamos o inimigo, massacraríamos todos eles, os expulsaríamos de nossa terra aqui… Todo o povo de Israel terá o direito de se vingar de sua morte, vingança de sangue, não vingança por queimar casas, não vingança por queimar árvores, não vingança por queimar carros, mas vingança pelo sangue derramado dos servos [de Deus]”.

Em seguida, um de seus colegas soldados acrescentou: “Você era o mais feliz, o mais otimista e o mais bobo da unidade. Vimos isso pela primeira vez em Gaza, quando você incendiou uma casa sem permissão, movido pelo astral”.

Seu amigo Shlomi concluiu: “Prometo a você que entraremos no Líbano novamente, em Gaza e em todos os vilarejos de Samaria, e nos vingaremos, lutaremos até o fim e não pararemos. Quando você estava em Gaza, eles o chamavam de ‘Shuvi, o Madlik’ [madlik em hebraico significa incendiário mas também, na gíria, um cara legal] porque quando você saía de uma casa, colocava fogo nela. E nós vamos queimar – o que vamos queimar? Shubik, o que vamos queimar? Que eles comecem a sentir medo! Até que a redenção chegue – lutaremos até o Monte do Templo!”

Toda a mídia comercial israelense que cobriu o funeral cortou esses momentos. Em um longo artigo no noticiário noturno Ulpan Shishi de de sexta-feira, Ruti Shiloni relatou apenas os elogios que não incluíam confissões de crimes de guerra. Evidentemente, esse último não lhe pareceu incomum ou digno de notícia.

As reportagens subsequentes abordaram a mídia cooptada no Irã e os jornalistas da Al Jazeera suspeitos de serem combatentes do Hamas. Em certo momento, o apresentador de TV Danny Kushmaro detonou, durante um programa, os explosivos que arrasaram uma casa.

Quando estava de licença do exército, há exatamente um ano, Shuva’el Ben-Natan atirou e matou Bilal Saleh, 40 anos, enquanto este colhia azeitonas perto de sua casa. Saleh estava desarmado e não representava ameaça mortal a ninguém, mas Ben-Natan o matou a tiros.

Em outubro do ano passado, esse foi o modus operandi de muitos colonos da Cisjordânia, que aproveitaram o massacre de 7 de outubro para atormentar os palestinos durante a colheita da azeitona. O chefe do conselho regional de Samaria, Yossi Dagan, apressou-se em declarar naquele sábado que nada havia acontecido. Dagan é um colaborador próximo do pai de Ben-Natan, que dirige a Yeshiva Rechelim, de onde vieram os assassinos de Aisha a-Rabi.

Em seu discurso fúnebre, o amigo do jovem Ben-Natan viu esta história de forma diferente: “Eu tinha muita admiração por você. Havia malditos militantes lá, terroristas, que o maldito exército… permitiu que se aproximassem dos assentamentos. Você atira, fala, os expulsa… Eles [as autoridades] nem sequer interrogaram os árabes”.

Embora o caso permaneça em aberto, e ainda que Ben-Natan tenha dito a pessoas próximas que queria assassinar mulheres e crianças, ele foi posteriormente enviado para lutar em Gaza. Para deixar os rapazes da reserva felizes, ele incendiou uma casa – provavelmente o fez mais de uma vez, daí o apelido Shuvi, o incendiário.

Ninguém que presenciou esse fato achou que era um problema; pelo contrário, Ben-Natan era normal e bem-quisto. O exército evidentemente também pensava assim, pois depois de Gaza ele foi enviado para o Líbano. A trágica coincidência, de seu ponto de vista, é que se não tivesse recebido imunidade por ter matado Bilal Saleh, ele provavelmente estaria vivo hoje. Preso, mas vivo.

Se as coisas ditas no funeral tivessem sido escritas em um esquete satírico sobre um grupo religioso, elas seriam consideradas antissemitas. Mas para as pessoas que estavam no funeral, entre elas um ministro do governo que propôs jogar uma bomba atômica em Gaza, os elogios soaram perfeitamente normais. O mesmo vale para os amigos do soldado e para os oficiais da IDF presentes. Não apenas normais, mas motivos de orgulho, notáveis em seu obituário e na forma como Ben-Natan deveria ser lembrado: como o soldado determinado a assassinar mulheres e crianças — quanto mais, melhor — um cara que se divertia queimando casas.

No exército israelense de hoje, quantos Shuva’el Ben-Natan existem determinados a se vingar e a assassinar crianças – especificamente, agora, em Gaza?

De acordo com investigações recentes realizadas por importantes jornalistas estrangeiros, são muitos. Foram acumuladas inúmeras evidências de crianças baleadas na cabeça e no peito. Em Israel, é claro, isso é recebido com as alegações de sempre: não aconteceu, é notícia falsa. E se aconteceu, não foi intencional. Ou se foi intencional, o soldado era uma maçã podre, por que generalizar? E, de qualquer forma, não há inocentes em Gaza, e o culpado é o Hamas.

Mas não são maçãs podres, nem tolos. Um soldado judeu israelense muito observador, em um pogrom no vilarejo de Um Safa, incendiou uma casa com uma família dentro, apoiando uma cadeira contra a porta para garantir que a mãe e seus filhos fossem queimados vivos. Ele está em Gaza neste momento?

Aviad Frija confirma com orgulho para a mídia que ele de fato matou uma pessoa que havia largado sua arma (infelizmente, descobriu-se que a vítima era judia). Ele acabará servindo no Líbano devido à escassez de soldados de combate?

Três soldados da Brigada Kfir matam a tiros uma criança em um carro e são absolvidos porque as armas não foram testadas. Um oficial atira em uma ponte na estrada 443. Um soldado atira em um bebê em um vilarejo na Cisjordânia porque viu os faróis de um carro. O “procedimento do mosquito” força os civis de Gaza a se tornarem escudos humanos para os soldados que vasculham os túneis do Hamas, porque as vidas dos habitantes de Gaza valem menos do que uma bateria de drones. Oficiais sionistas religiosos pedem a destruição de vilarejos e a fome de civis e depois se ofendem, quando são chamados de “comedores de morte”.

Alguém ainda acha que a matança em Gaza não se deve, pelo menos em parte, à mesma sede de vingança que animou os elogios no funeral de Shuva’el Ben-Natan?

Desde outubro passado, muitos colonos foram recrutados para as unidades locais de defesa civil e receberam armas dos militares. Vestindo uniformes ou portando armas do exército israelense, esses colonos cometeram inúmeros ataques com motivação ideológica contra residentes palestinos nos territórios ocupados. A polícia não investiga, porque os suspeitos são “soldados”. O exército também não investiga, porque esses incidentes “não são uma atividade militar”. E a violência continua, enquanto a fiscalização fica entre as brechas.

Na sexta-feira, um foguete do Hezbollah matou dois civis no vilarejo de Majd al-Krum, uma comunidade árabe. Nos comentários sobre as reportagens da mídia, os leitores elogiaram o míssil que matou os moradores que tiveram o azar de ser árabes, e essa resposta se tornou a norma. Comentando abertamente, usando seus nomes completos, os leitores declararam que “duas pessoas [morreram] – isso não é nada”, “não está claro por que a postagem é tão triste”, e muito mais na mesma linha.

É claro que se uma professora árabe tivesse escrito algo remotamente parecido nas mídias sociais, ela teria sido presa e vendada. Os árabes que, em funerais, pediram explicitamente o assassinato foram tratados sumariamente como homens-bomba.

Mas no Israel de hoje, os ministros pedem sem hesitação a limpeza étnica, as pessoas comemoram a morte na internet, os soldados queimam casas e seus amigos se divertem, e um público inteiro prefere abandonar os reféns à tortura desde que consigam um pedaço de terra em Gaza para si.

Dos casamentos de ódio de uma década atrás, agora passamos aos funerais de ódio – e não há o menor indício de investigação, o que talvez sugira que algo incomum possa estar acontecendo. Talvez os terroristas judeus sejam de fato os normais aqui, e as poucas pessoas que estão chocadas sejam as loucas.

*Este é um artigo de Sebastian Ben-Daniel, um acadêmico e escritor israelense frequentemente conhecido como John Brown. Ele foi publicado originalmente na edição em hebraico do Haaretz e foi traduzido pelo Middle East Eye sem alterações editoriais. Ben-Daniel é professor de ciência da computação na Universidade Ben Gurion do Negev, em Israel, e contribui para a revista +972 e o Haaretz, entre outros.

[Foto: Usando colete a prova de balas e capacete, o apresentador israelense Danny Kushmaro senta-se sobre escombros em Gaza, instantes antes de detonar explosivos que destruíram um prédio de apartamentos]

Leia mais sobre o horror em Gaza https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/destruicao-em-gaza.html

Sylvio: trama golpista

A Polícia Federal conclui investigação de plano que previa golpe e tomada do poder, inclusive com o assassinato do presidente Lula, vice Alckmin e ministro do Supremo Alexandre de Moraes. Como resultado foram presos militares envolvidos. Segundo a investigação a trama teria sido urdida na casa do general Braga Neto, candidato a vice de Bolsonaro e no palácio do Planalto. A gravidade dos fatos exige imediatas e prontas medidas, no sentido de que essa afronta contra a democracia seja repelida, com a condenação de todos envolvidos para tranquilidade da Nação.

Sylvio Belém 

Minha opinião

Envolvidos até o pescoço
Luciano Siqueira     

O noticiário é farto em detalhes acerca da trama golpista recém revelada, em que militares de alta patente por pouco não tentaram matar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes. 

Tudo como parte de golpe de Estado destinado a manter no poder o derrotado ex-presidente Jair Bolsonaro.

Chama a atenção o registro midiático de uma fala do general Mário Fernandes — um dos militares presos — em reunião ministerial coordenada pelo então presidente da República, em que a proposta clara e inequívoca de golpe é apresentada com a naturalidade de quem toma um copo d'água. 

Mais comprometedor do próprio ex-presidente não pode haver. 

Agora, nos desdobramentos será praticamente impossível contornar a situação já complicada de Bolsonaro e do general Braga Neto, na casa de quem os implicados teriam se reunido para planejar a ação, e que foi candidato a vice-presidente no último pleito.

Ásperos tempos em que se mantém a frágil e contraditória democracia brasileira a muito custo.

Leia: Ex-presidente acuado https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/05/ex-presidente-nas-cordas.html

20 novembro 2024

Palavra de poeta: Cida Pedrosa

lágrimas azuis
Cida Pedrosa    

quis esquecer a mulher que sou 
que enfeitiça a noite 
e cala o dia 
quando teus olhos azuis 
marejados de mar 
feriram a punhal minha tarde.

quis esconder de ti 
minha mochila de sonhos 
onde guarda a velha saia 
bordada de girândolas
quando teus olhos azuis 
cheios de orvalho 
vieram como lâmina 
a fustigar-me a calma.

quis me guardar de ti 
beber tua dor 
sangrar em mim 
ensandescer de amor 
quando os teus olhos azuis 
azuis e nus 
foram faca ferina 
a encharcar-me a alma.

[Ilustração: Alexandr Ilichev]

Brasil+China: cooperação mútua

Em encontro histórico, Lula celebra 37 compromissos firmados com a China
Documentos foram assinados nesta quarta-feira (20) por autoridades dos dois países, durante visita do presidente da China, Xi Jinping, fortalecendo laços estratégicos por indústria, pequenas empresas e desenvolvimento sustentável
Cezar Xavier/Vermelho    

Na histórica visita de Estado do presidente da China, Xi Jinping, ao Brasil, realizada em 20 de novembro de 2024, os dois países reafirmaram o compromisso com uma parceria estratégica abrangente e anunciaram uma série de iniciativas para aprofundar a cooperação em diversas áreas. A agenda robusta incluiu 37 atos e memorandos de entendimento que visam promover o desenvolvimento conjunto em agricultura, comércio, investimentos, infraestrutura, ciência, tecnologia, cultura e sustentabilidade.

Lula celebrou o protagonismo da China como o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009. Em 2023, o comércio bilateral alcançou um recorde de US$ 157 bilhões, com o superávit brasileiro representando mais da metade do saldo comercial global do país. A relação se traduz em benefícios concretos, como a geração de empregos e renda em áreas como infraestrutura, energia e agronegócio.

O presidente ressaltou também o papel de empresas chinesas em projetos estratégicos no Brasil, como a construção de usinas hidrelétricas e ferrovias, enquanto empresas brasileiras, como WEG, Suzano e Randon, expandem suas operações na China.

Outro destaque foi o anúncio de um investimento de US$ 80 milhões pela BRF em uma fábrica de processamento de carnes na província de Henan, refletindo o fortalecimento do intercâmbio econômico.

Declaração do presidente da China

O presidente da China, por sua vez, afirmou que a relação entre os dois países vive o seu melhor momento na história.”Mantive uma reunião cordial, amistosa e frutífera com o presidente Lula. Fizemos uma retrospectiva do relacionamento da China com o Brasil ao longo dos últimos 50 anos. Coincidimos que este relacionamento está no melhor momento da história. Possui uma projeção global estratégica e de longo prazo cada vez mais destacada. E estabeleceu um exemplo para avançarem juntos com solidariedade e cooperação, entre os grandes países em desenvolvimento”, afirmou Xi Jinping em declaração à imprensa. 

Xi Jinping também destacou como exemplo o fato de Brasil e China serem os dois maiores países em desenvolvimento de duas regiões e ocuparem um lugar de protagonismo das aspirações dos países do chamado Sul Global – termo geopolítico que designa nações pobres ou em situações socioeconômicas similares, especialmente da América Latina, África e Ásia.  

“China e Brasil devem assumir proativamente a grande responsabilidade histórica de salvaguardar os interesses comuns dos países do Sul Global e de promover uma ordem internacional mais justa e equitativa”, disse o presidente chinês. Ele ainda defendeu aumentar a representação dos países em desenvolvimento na governança global. “É também nosso consenso que China e Brasil continuem estreitando a colaboração em fóruns multilaterais como Nações Unidas, G20 e Brics, enfrentando a fome e a pobreza”, acrescentou.

Para o presidente da China, o mundo está longe de ser tranquilo, “com várias regiões sofrendo guerras, conflitos, turbulência e insegurança”.

“A humanidade é uma comunidade de segurança indivisível. Só quando abraçarmos a visão de segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável, é que criaremos um caminho de segurança universal. Com relação à crise na Ucrânia, enfatizei diversas vezes que não existe solução simples para um assunto complexo. China e Brasil emitiram entendimentos comuns sobre uma resolução política para a crise na Ucrânia e criaram grupo de amigos da paz, sobre a crise na Ucrânia. Devemos reunir mais vozes que advogam a paz e procuram viabilizar uma solução política da crise na Ucrânia”, disse.

Sobre a guerra na Faixa de Gaza, invadida por Israel, o presidente chinês afirmou que a situação humanitária segue se deteriorando e cobrou maior empenho da comunidade internacional em uma ação imediata de cessar-fogo e assistência humanitária, bem como uma solução duradoura que, segundo ele, precisa assegura a existência de dois Estados.

Cooperação tecnológica e inovação

Lula lembrou, em sua declaração, os 40 anos do Projeto Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, um marco na parceria tecnológica entre os países. A visita de Xi Jinping reforçou a ambição de ampliar a cooperação em áreas como inteligência artificial, transição energética, economia digital e aeroespacial.

Entre os compromissos firmados, destacou-se o plano para integrar estratégias brasileiras, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Plano de Transformação Ecológica, à Iniciativa Cinturão e Rota chinesa. Duas forças-tarefa foram anunciadas para apresentar projetos prioritários em até dois meses, focando no desenvolvimento produtivo e sustentável.

Parceria pela paz e sustentabilidade global

No plano global, Lula e Xi reafirmaram a convergência de visões na busca por uma governança internacional mais democrática e sustentável. Ambos defenderam a reforma da ONU, a promoção da paz em contextos de conflito, como a guerra na Ucrânia, e o enfrentamento da fome e das mudanças climáticas.

A China foi uma parceira central na criação da Aliança Global contra a Fome, lançada pelo Brasil no G20, e demonstrou interesse pelo Fundo Florestas Tropicais para Sempre, uma iniciativa brasileira voltada à preservação ambiental.

Ações culturais e eventos futuros

Como parte dos acordos firmados, Lula anunciou o Ano Cultural Brasil-China para 2026, buscando estreitar os laços entre as sociedades. Xi Jinping também foi convidado a retornar ao Brasil em 2025 para a Cúpula do BRICS e a COP-30, reafirmando o papel central da parceria sino-brasileira na agenda global.

“Estou confiante de que a parceria que o presidente Xi e eu firmamos hoje excederá todas as expectativas e pavimentará o caminho para uma nova etapa do relacionamento bilateral”, concluiu Lula, destacando o pioneirismo e a ambição dessa aliança estratégica.

Principais destaques

Declaração conjunta e visão de futuro compartilhado

Os dois países assinaram a Declaração Conjunta sobre a Formação da Comunidade de Futuro Compartilhado China-Brasil por um Mundo mais Justo e um Planeta mais Sustentável. O documento reafirma o compromisso com o multilateralismo, o fortalecimento da ordem internacional baseada no direito internacional e ações conjuntas para enfrentar desafios globais, como as mudanças climáticas e a desigualdade.

Integração econômica e sustentabilidade

Um dos acordos centrais foi o Plano de Cooperação que conecta iniciativas brasileiras, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Plano de Transformação Ecológica, à Iniciativa Cinturão e Rota, da China. Esse alinhamento busca fomentar investimentos em infraestrutura sustentável, energia limpa e industrialização verde.

Comércio e agricultura

A visita resultou em avanços significativos no setor agrícola, incluindo:

  • Exportação de novos produtos agrícolas: Uvas frescas de mesa, sorgo e gergelim poderão ser exportados para a China, seguindo protocolos fitossanitários acordados.
  • Importação de produtos do mar: Farinha de peixe e outros derivados de pescado brasileiros serão incluídos na pauta de exportações para a China.

Ciência, Tecnologia e Indústria

Diversos memorandos reforçaram a cooperação tecnológica, com destaque para:

  • Inteligência Artificial (IA): Criação de um laboratório conjunto em mecanização e IA para agricultura familiar.
  • Energia Nuclear e Fotovoltaica: Parcerias para aplicações pacíficas de tecnologia nuclear e expansão da indústria fotovoltaica.
  • Fonte de Luz Síncrotron: Ampliando o programa sino-brasileiro, Brasil e China buscarão avanços em física e química aplicada.

Educação, Cultura e Comunicação

  • Turismo e intercâmbio educacional: Foi firmado um memorando entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade Tsinghua para envolver jovens em soluções globais.
  • Parcerias culturais: Cooperação audiovisual e cinematográfica por meio de acordos entre o Ministério da Cultura do Brasil e instituições chinesas.
  • Mídias públicas: Assinatura de acordos entre a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e o China Media Group (CMG) para fortalecer o intercâmbio cultural e informativo.

Saúde e Esportes

Plano de Ação para Saúde 2024-2026 busca fortalecer a troca de experiências em políticas públicas e pesquisa médica. Na área esportiva, um memorando visa o intercâmbio de práticas e a promoção de eventos conjuntos.

Impacto geopolítico

A visita de Xi Jinping reflete a crescente influência do BRICS no cenário global e o aprofundamento da parceria sino-brasileira, alinhada ao contexto do bloco. Com esses acordos, Brasil e China reforçam sua posição como atores centrais na busca por um novo equilíbrio geopolítico, baseado na cooperação Sul-Sul e na sustentabilidade.

A ampla gama de iniciativas anunciadas marca uma nova era nas relações bilaterais e reafirma o compromisso de ambos os países com o desenvolvimento econômico, social e ambiental global.

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Brasil+China segundo o olhar chinês https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/brasilchina-sob-o-olhar-chines.html