03 outubro 2025

Palavra de poeta

NUDEZ

Alexandre Bonafim   


Uma nudez
capaz de clarificar
os objetos
adensando-os
em pura fantasia
concretude selvagem
intensa presença

Uma nudez
de ângulos precisos
perfeita
como prisma
peixe esguio
talhado em pedra
em sêmen

Um corpo
de contornos
em êxtase
jorro pleno do real
geometria
em vertiginosa
febre

Uma nudez
irmã gêmea
da sede
mãe de todo
o existente
pupila do fogo
espelho estilhaçado
pela luz das flores

Um corpo
despido até a ausência
capaz de purificar
o pensamento
concentrando-o
em maciça precisão
correnteza fixa
cortante delírio

[Ilustração: imagem produida em IA]

Leia também "Fresta", poema de Cida Pedrosa https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/palavra-de-poeta_1.html 


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Segundo a ONU, atualmente, 1,2 bilhão de pessoas têm mais de 60 anos. Expectativa de vida global sobe e mundo terá mais idosos que crianças em 2080, ainda sob enorme carência de políticas públicas específicas. 

Leia também: “Crise de quê?” https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/minha-opiniao_28.html

PCdoB, XVI Congresso

Socialismo no século 21: resistência, recomposição e novos horizontes
www.pcdob.org.br  

Quase 34 anos após o colapso da União Soviética, em dezembro de 1991, os partidos comunistas ao redor do mundo continuam a se orientar pelo marxismo-leninismo como bússola teórica. O Projeto de Resolução Política (PRP) do PCdoB, documento central do 16º Congresso do partido, programado para 16 a 19 de outubro em Brasília, oferece uma leitura estratégica do momento atual.

“As forças comunistas e revolucionárias ainda enfrentam um período de defensiva estratégica, todavia em um estágio positivamente distinto daquele de três décadas atrás”, afirma o PRP, elaborado em meio a intensas plenárias e debates internos. Este diagnóstico aponta para um cenário de transição: o neoliberalismo, corroído por recessões prolongadas e desigualdades crescentes, abre brechas para experiências socialistas, como a da China, e para uma ordem mundial multipolar, onde potências emergentes crescem diante da perda do dinamismo econômico e da hegemonia dos Estados Unidos e da Europa.

Um período histórico de acumulação de forças

O conceito de “defensiva estratégica”, adotado pelo PCdoB, descreve uma fase de reorganização metódica em condições adversas, longe de significar paralisia. Ana Prestes, secretária de Relações Internacionais do PCdoB, esclarece que “a ‘defensiva estratégica’ caracteriza-se por essa fase prolongada de resistência imposta às forças progressistas e revolucionárias desde o final da Guerra Fria e da queda do Leste Europeu. Nesse contexto, a correlação de forças é desfavorável a rupturas bruscas ou riscos não controlados – qualquer ação precipitadamente ofensiva poderia resultar em derrotas ainda mais profundas e agravar a fragilidade das organizações.” Para Prestes, a prioridade recai sobre a organização dos movimentos sociais, mobilização popular,  ; a formação militante, o aprimoramento teórico e a clareza ideológica, com vistas a acumular forças para uma futura retomada da iniciativa, construindo bases sólidas para um projeto socialista sustentável.

Sinais da quadra histórica

O cenário global reflete os desafios dessa fase. Ana Prestes aponta “ataques a instituições democráticas, apologia a regimes ditatoriais, promoção de russofobia, sinofobia e sanções econômicas que visam manter as periferias do sistema mundial sob pressão” como sinais de uma correlação de forças desfavorável. Contudo há indicadores que essa conjuntura pode se alterar.

Raul Carrion, historiador, membro da Secretaria Nacional de Relações Internacionais e da Comissão de História da Fundação Maurício Grabois, identifica três fatores que impulsionam a reorganização do movimento comunista: “A crise do neoliberalismo, que agrava a precarização do trabalho e o desmonte de proteções sociais; os progressos do ‘socialismo renovado’ em países como China, Vietnã, Laos, Cuba e Coreia do Norte; e o declínio da hegemonia unipolar dos Estados Unidos, que favorece a multipolaridade e amplia a autonomia de nações periféricas.”

Vitórias táticas em meio à resistência

Apesar das dificuldades, conquistas táticas marcam o caminho. “Essa defensiva nunca significou a impossibilidade de vitórias táticas em diferentes países, entre as quais podemos citar o processo bolivariano na Venezuela e a vitória de Lula e das forças populares e de esquerda no Brasil, mas sob um cerco implacável da contrarrevolução”, destaca Carrion.

Na Europa, o Partido Comunista Português (PCP) anunciou, em junho de 2025, a candidatura de António Filipe à Presidência da República em 2026, buscando unir a esquerda contra uma “direita que controla todos os órgãos de soberania”, segundo o secretário-geral do Partido, Paulo Raimundo. Na Grécia, o Partido Comunista da Grécia (KKE) liderou uma greve geral em 28 de fevereiro de 2025, paralisando transportes e serviços públicos no segundo aniversário do desastre ferroviário de Tempi, após uma campanha com centenas de reuniões para “intensificar a luta operária”.

O movimento comunista global

Os números desafiam as narrativas de declínio ideológico. O Partido Comunista Chinês (PCCh) alcançou 100,3 milhões de membros ao final de 2024, com crescimento de 1,1 milhão em relação ao ano anterior, liderando avanços tecnológicos e parcerias comerciais com mais de 120 países sob princípios de “ganha-ganha”. No Vietnã, o Partido Comunista do Vietnã (PCV) conta com cerca de 5 milhões de integrantes em uma população de 100 milhões.

Em Cuba, o Partido Comunista de Cuba (PCC) reúne aproximadamente 1,3 milhão de militantes, incluindo 600 mil na União da Juventude Comunista (UJC), em um país de 11 milhões. Somando Laos (400 mil membros em 8 milhões) e Coreia do Norte (estimados 4 milhões em 26 milhões), o movimento comunista global ultrapassa 113 milhões de militantes. “Partidos que não arriaram a bandeira do socialismo e da revolução, mas souberam tirar lições da história e renovar as suas concepções, começam a colher os frutos de sua luta”, afirma Carrion.

O neofacismo surge como contraponto

Os avanços em alguns países convivem com retrocessos ferozes. Os comunistas constroem frentes amplas contra o neofascismo, que Ricardo Alemão Abreu, economista mestre em Integração da América Latina pela USP, compara ao fascismo dos anos 1920: “O neofascismo surge como necessidade do capital financeiro internacional, sobretudo o estadunidense, e como contraponto ao socialismo renovado, a exemplo do genocídio em Gaza e dos governos de Javier Milei na Argentina e Nayib Bukele em El Salvador, que aplicam políticas autoritárias misturando demagocia e repressão,” afirma. 

Enquanto Javier Milei na Argentina e Nayib Bukele em El Salvador aplicam políticas autoritárias que misturam populismo e repressão, no Chile, o Partido Comunista do Chile (PCCh) ganha terreno: Jeannette Jara, ex-ministra do Trabalho, venceu as primárias de esquerda em junho de 2025 com 60% dos votos, tornando-se candidata única do bloco para as eleições presidenciais de novembro.

No Uruguai, o Partido Comunista do Uruguai (PCU) apoia a Frente Ampla, que elegeu Yamandú Orsi presidente em novembro de 2024 com 70% no segundo turno. Contudo, na Bolívia, divisões à esquerda levaram a um segundo turno inédito em 19 de outubro de 2025 entre Rodrigo Paz (32,08%) e Jorge “Tuto” Quiroga (26,94%), encerrando duas décadas de hegemonia progressista.

O Brasil no contexto atual

No Brasil, a vitória de um governo de frente ampla com liderança de esquerda não elimina os desafios. “Apesar da vitória de um terceiro governo de Lula, torna-se evidente que temos um movimento social ainda fragmentado e um Parlamento resistente às reformas sociais. É nesse impasse que prospera uma extrema direita resiliente, que capitaliza com crises econômicas”, explica Prestes. A obstrução sistemática a pautas sociais no Congresso, somada a narrativas de medo e descrédito nas redes digitais, agrava o quadro.

A saída estratégica apontada pelos PCdoB visa assegurar uma vitória eleitoral em 2026 para neutralizar a extrema direita; intensificar a mobilização social por meio de movimentos populares e da formação política; e construir uma frente político-social ampla em apoio ao governo Lula, visando reconquistar vagas no Congresso. Juntas, essas iniciativas visam não apenas sustentar a resistência, mas acumular forças “ para desencadear uma ofensiva capaz de avançar na luta por um projeto socialista efetivo”, conclui Prestes.

A juventude como força transformadora

A juventude emerge como pilar central nesse cenário. “Derrotar o neofascismo é tarefa histórica da juventude; sem a juventude revolucionária, não há socialismo”, afirma Abreu. Carrion complementa: o socialismo se reposiciona como alternativa viável frente a um capitalismo que perpetua desemprego, miséria e conflitos. Para Prestes, “acumular forças é construir hegemonia comunista no bloco popular”, o que exige uma conscientização ideológica robusta, sustentada por formação política e debates que engajem as novas gerações.

Horizontes para o socialismo no século 21

Em um mundo em transição, o socialismo não é apenas uma herança histórica, mas um instrumento de análise e ação para os desafios contemporâneos. “São novos tempos, que indicam uma virada histórica, que ainda se encontra nos seus albores!”, resume Carrion.

Partidos que preservaram sua identidade ideológica, adaptando-se às lições do passado, apontam para um futuro de recomposição e resistência. Nas condições do mundo atual, o socialismo se reafirma como um horizonte possível, construído a partir da luta coletiva e da clareza estratégica.

Foto: instagram.com/lucianosiqueira65

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O XVI Congresso do PCdoB https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/06/xvi-congresso.html 

Postei nas redes

Mulheres militares da Marinha do Brasil conquistam permissão para operar submarinos e participar de operações de alto risco. Um passo na luta pela igualdade de gênero. 

Segurança e soberania na era digital: o exemplo da China

https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/china-soberania-digital.html  

Minha opinião

Mais do que detalhe
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65    

A Câmara dos Deputados aprovou por unanimidade a proposta do governo Lula que amplia a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até cinco mil reais por mês. 

Tudo bem.

Mas é preciso sublinhar que as aparências não enganam. 

O placar está muito longe da vontade majoritária dos deputados, marcadamente de direita e de extrema direita.

Dias antes, como se sabe, a mesma Câmara havia aprovado por maioria a chamada PEC da impunidade. Uma vergonha!

Parcela expressiva da sociedade reagiu de modo contundente, com ampla repercussão midiática. 

O desgaste foi imenso! Inclusive do presidente da Casa, deputado Hugo Motta (Republicanos).

Agora a maioria buscou reduzir a taxa de desmoralização.

É um fenômeno recorrente, conforme a conjuntura política: decisões avançadas são eventualmente tomadas por uma maioria circunstancial, sob pressão popular.

O exemplo mais marcante foi a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral montado pela ditadura militar para referendar o escolhido, Paulo Maluf. A pressão das ruas provocou fissura na maioria conservadora, transformando minoria em maioria.

E a ditadura acabou do modo que ninguém imaginava.

Daí a necessidade e seguir adiante pondo na cena política a voz das ruas.

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A unidade é multicolor https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/minha-opiniao_38.html

Humor de resistência

 

Miguel Paiva

Segurança e soberania na era digital: o exemplo da China

Sylvio: viva!

De parabéns o governo Lula pela aprovação da isenção de imposto de renda para quem ganha até 5.000 reais e aumento da contribuição dos mais ricos. É uma tentativa válida para diminuir a brutal concentração de renda no País.

Sylvio Belém 

Veja: Reforma tributária e desenvolvimento nacional https://www.youtube.com/watch?v=wNAWnBHyEOg&t=13s