‘Amanhã é o nosso dia, o Dia do Trabalhador’ — diz Temer na TV. Dia de quem, cara-pálida!?
A construção coletiva das idéias é uma das mais fascinantes experiências humanas. Pressupõe um diálogo sincero, permanente, em cima dos fatos. Neste espaço, diariamente, compartilhamos com você nossa compreensão sobre as coisas da luta e da vida. Participe. Opine. [Artigos assinados expressam a opinião dos seus autores].
30 abril 2018
Desafio tático
Unidade
da esquerda é possível e necessária, afirma Flávio Dino
Em
entrevista ao jornal O
Estado de S. Paulo, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) reafirmou
a defesa de uma frente ampla na eleição presidencial e enfatizou que a garantia
do direito de candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é
fundamental para o processo democrático.
Portal Vermelho
Flávio Dino
avalia que o quadro eleitoral ainda é muito fragmentado e com a indefinição
sobre a eleição de Lula "todo mundo fica ali no mesmo patamar" e
todas as candidaturas que lideram nas pesquisas podem desmanchar, casos do
Bolsonaro, da Marina, do Joaquim.
"Temos dificuldade de prognosticar a presença do Lula na urna. Defendo o direito de ele concorrer porque acho que ele foi vítima de uma arbitrariedade. Ainda há muito em jogo, muita perspectiva, e acho fundamental que o Lula se mantenha no debate. Levo em conta dois cenários: se Lula for candidato, todos com Lula; se não for é uma eleição aberta", argumentou.
Para Flávio Dino, a unidade da esquerda não só é possível como necessária "para polarizar setores sociais mais amplos e também setores políticos".
"Se tiver uma eleição fragmentada pode ser que nenhum de nossos candidatos tenha viabilidade e isso pode resultar numa tragédia: ficarmos fora do segundo turno. Por isso acho importante, por exemplo, Ciro e Haddad conversarem", disse.
Segundo ele, a prisão do ex-presidente Lula num processo sem provas e recheada de irregularidades criou uma incerteza no processo eleitoral. E esse foi o objetivo da prisão de Lula antes da findar os recursos que a sua defesa apresentou ao tribunal de segunda instância.
"Essa dúvida que paira sobre o Lula acaba impedindo esse debate porque a opção objetiva da sociedade, as pesquisas mostram, é em torno do Lula. Enquanto fica a hipótese do Lula você não consegue avançar em uma alternativa".
O governador maranhense destacou que a prisão arbitrária de Lula deixou o debate eleitoral para segundo plano. "É uma prova de generosidade de todos nós compreendermos que não seria leal neste momento descartá-lo e dar como fato consumado que ele vai ficar preso e não será candidato. Tem que esperar esse processo decantar. É um trauma muito profundo encarcerar o maior líder político da história brasileira", destacou.
Segundo ele, as decisões recentes do Supremo Tribunal Federal são indícios da fragilidade do veredicto. "É tão frágil que precisa produzir outros presos para se legitimar. É um negócio tão mal arrumado que é difícil de se sustentar por muito tempo", acredita.
Como é de praxe, o Estadão buscou o factoide. Uma das perguntas foi sobre a aliança de partidos em torno da candidatura de Flávio a governador, em 2014, que reuniu os três principais candidatos a presidente: Dilma, Aécio e Eduardo Campos. "Agora sete dos 14 partidos que apoiam seu governo anunciaram pré-candidaturas, inclusive o PCdoB. O senhor pretende repetir a estratégia?", questionou o jornalista Ricardo Galhardo.
"A fórmula é a mesma. Tenho meu voto pessoal que obviamente é na candidata do meu partido, a Manuela D’Ávila, mas ao mesmo tempo cumpro o papel de acolher os candidatos de partidos da nossa aliança", salientou Flávio Dino.
Na linha de tentar constranger a aliança, o Estadão questionou se o governador se arrependia de ter dado palanque para Aécio. "Não, porque a conjuntura naquele momento indicava que tínhamos o apoio do PSDB que indicou o vice-governador e, atendendo a um pedido do PSDB, eu participei de
eventos com o candidato Aécio contra o qual não existia nenhuma
denúncia. Você não pode julgar o passado com os olhos de hoje". "Temos dificuldade de prognosticar a presença do Lula na urna. Defendo o direito de ele concorrer porque acho que ele foi vítima de uma arbitrariedade. Ainda há muito em jogo, muita perspectiva, e acho fundamental que o Lula se mantenha no debate. Levo em conta dois cenários: se Lula for candidato, todos com Lula; se não for é uma eleição aberta", argumentou.
Para Flávio Dino, a unidade da esquerda não só é possível como necessária "para polarizar setores sociais mais amplos e também setores políticos".
"Se tiver uma eleição fragmentada pode ser que nenhum de nossos candidatos tenha viabilidade e isso pode resultar numa tragédia: ficarmos fora do segundo turno. Por isso acho importante, por exemplo, Ciro e Haddad conversarem", disse.
Segundo ele, a prisão do ex-presidente Lula num processo sem provas e recheada de irregularidades criou uma incerteza no processo eleitoral. E esse foi o objetivo da prisão de Lula antes da findar os recursos que a sua defesa apresentou ao tribunal de segunda instância.
"Essa dúvida que paira sobre o Lula acaba impedindo esse debate porque a opção objetiva da sociedade, as pesquisas mostram, é em torno do Lula. Enquanto fica a hipótese do Lula você não consegue avançar em uma alternativa".
O governador maranhense destacou que a prisão arbitrária de Lula deixou o debate eleitoral para segundo plano. "É uma prova de generosidade de todos nós compreendermos que não seria leal neste momento descartá-lo e dar como fato consumado que ele vai ficar preso e não será candidato. Tem que esperar esse processo decantar. É um trauma muito profundo encarcerar o maior líder político da história brasileira", destacou.
Segundo ele, as decisões recentes do Supremo Tribunal Federal são indícios da fragilidade do veredicto. "É tão frágil que precisa produzir outros presos para se legitimar. É um negócio tão mal arrumado que é difícil de se sustentar por muito tempo", acredita.
Como é de praxe, o Estadão buscou o factoide. Uma das perguntas foi sobre a aliança de partidos em torno da candidatura de Flávio a governador, em 2014, que reuniu os três principais candidatos a presidente: Dilma, Aécio e Eduardo Campos. "Agora sete dos 14 partidos que apoiam seu governo anunciaram pré-candidaturas, inclusive o PCdoB. O senhor pretende repetir a estratégia?", questionou o jornalista Ricardo Galhardo.
"A fórmula é a mesma. Tenho meu voto pessoal que obviamente é na candidata do meu partido, a Manuela D’Ávila, mas ao mesmo tempo cumpro o papel de acolher os candidatos de partidos da nossa aliança", salientou Flávio Dino.
Na linha de tentar constranger a aliança, o Estadão questionou se o governador se arrependia de ter dado palanque para Aécio. "Não, porque a conjuntura naquele momento indicava que tínhamos o apoio do PSDB que indicou o vice-governador e, atendendo a um pedido do PSDB, eu participei de
Sobre a volta do ex-presidente Sarney, que após 28 anos transferiu o domicílio eleitoral de volta ao Maranhão, Flávio disse que a mudança significa mais para a política do Amapá do que para o Maranhão.
"Eu diria que não foi um gesto de vontade. Ele chegou a ensaiar uma candidatura no Amapá mas aparecia mal nas pesquisas. Ficou evidente que não tinha mais nenhum papel a jogar lá. O certo é que ficou em uma situação frágil lá", afirmou o governador comunista.
E acrescenta: "Mas ele tem articulado para tirar partidos da base do senhor. Ele fez isso mas, graças a Deus, com escasso êxito. São ciclos históricos. No Livro do Gênesis, na Bíblia, quando a mulher de Ló olha para trás ela vira estátua de sal. Acho que isso se aplica também aos ciclos políticos. É um ciclo esgotado no Maranhão porque ninguém quer virar estátua de sal".
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Um olhar a ser considerado
Superficialidade da imprensa na análise do acordo coreano
José Carlos Assis*
A suprema imbecilidade da imprensa internacional em relação
ao acordo entre as duas Coréias - com destaque para a imprensa brasileira e, em
especial, a imprensa televisiva -, se revela no mantra recorrente de que os
líderes coreanos do norte são inconfiáveis. Em outras palavras, o acordo não é
muito relevante porque por Kim Jong-un ou seus antecessores já descumpriram
promessas de paz outras vezes. Com isso estaríamos assistindo a uma palhaçada
internacional sem valor objetivo.
Há um estúpido desconhecimento, nesse jogo, das
circunstâncias atuais e das próprias condições coreanas internas. Inicialmente,
trata-se de um desconhecimento da parte norte-americana, que faz um jogo tão
decisivo quanto o de sua contraparte. Creio que, no Brasil, tenho sido dos
poucos comentaristas que vêem um lado positivo em Donald Trump no campo
internacional. É um homem de negócios, não um geopolítico. Isso, na campanha
eleitoral, o distinguiu radicalmente de Hillary Clinton, senhora da guerra,
inclusive do assassinato de Kadafi no contexto da chamada Primavera Árabe, ou
da matança árabe.
O assassinato de Kadafi, e a derrubada de outros governantes
árabes, inclusive do Egito, na chamada Primavera, alertou os coreanos sobre o
que os esperava caso afrouxassem as cordas nas relações com Washington. Como
consequência aceleraram seu projeto nuclear. A estratégia oficial que
prevalecia nos Estados Unidos era de "regime change", ou seja, de
mudança de regime dos países adversários conduzida por Barak Obama. A resposta
de Trump, contra os geopolíticos belicistas, ainda na campanha, era a de
respeitar as escolhas políticas dos países. Isso foi consagrado na nova
estratégia dos EUA anunciada há alguns meses.
Creio que o ataque à Síria, sob pretexto de que esta última
bombardeou uma cidade de rebeldes com armas químicas, foi um gesto puramente
simbólico de Trump. Na verdade, ele pretende apenas fazer o que um oficial
havia recomendado para o fim da guerra do Vietnã no início dos anos 70:
Declarar vitória e pular fora. Se a situação no Oriente Médio não fosse tão
complexa, com tantos interesses envolvidos, países, curdos e terroristas, o
presidente norte-americano já teria pulado fora, pois sabe que não tem como
vencer a guerra.
Para saber o que quer Kim Jong-um, é preciso saber o que
quer Trump. No meu entender, ele quer simplesmente fazer negócios, beneficiar o
capital americano. Diante do status já consagrado da Rússia e da China no plano
do poder internacional, não há muito o que fazer em geopolítica. E sua contraparte
coreana, pensando no legado da família, provavelmente pensa em desenvolvimento
e bem estar de sua população.
Claro, para chegar ao desenvolvimento é preciso despertar o
interesse americano num acordo que vai alem da questão militar, embora com
algum conteúdo geopolítico residual.
Na verdade, a Coréia do Norte é a grande oportunidade de
mobilização de mão de obra disciplinada e abundante para exploração do capital
no mundo atual. Um empresário como Trump sabe que não se pode deixar a Coréia
em mãos exclusivas da China. O país dito miserável tem um tremendo
desenvolvimento em informática capaz de invadir sistemas virtuais no mundo
todo. Em pequena escala, a Coréia pode ser a China das próximas décadas,
oferecendo ao apetite do grande capital internacional, sobretudo
norte-americano, uma alta temporária na taxa média de lucro que atenderia seus
interesses econômicos.
Não há acordo entre duas partes se elas não têm interesses
próprios a serem atendidos. É uma grande tolice achar que a Coréia do Norte vai
abrir mão de seus arsenais atômicos de graça. Também é tolice imaginar que
Trump fará um acordo que não passe pelo total desarmamento de mísseis de longo
alcance da Coréia. Um acordo paralelo poderá ser feito com o Japão nas mesmas
bases. Mas a Coréia tem que ser compensada no campo econômico por suas
concessões geopolíticas. Enfim, vejo com perspectivas bastante favoráveis o
desenvolvimento dessas negociações, ao contrário da grande mídia superficial.
*Economista, doutor em
Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da
UEPB
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Assim é
No futebol, muitas vezes quem dá a ‘assistência’ tem mais mérito do que quem faz o gol. Na política, idem: quem une forças às vezes é mais decisivo do que o candidato ao Executivo quando por si mesmo frágil.
Mídia parcial
Globo “faz documentário” sobre tinta em prédio, gasta
3 minutos com passeios de barco em Londres mas desconhece atentado a tiros em
Curitiba
Viomundo
“Se arremessam tinta, em um prédio,
querem fazer documentário sobre como vivem as pessoas que limparam as calçadas
do lugar”, ironizou Fausto Rocha notwitter.
Ele se referia à extensiva cobertura
que a TV Globo fez em seus telejornais do protesto em que integrantes do MST
atiraram tinta vermelha no prédio onde mora a presidenta do Supremo Tribunal
Federal, Cármen Lúcia, em Belo Horizonte.
A limpeza da calçada por gente ligada
ao MBL e a colocação de flores no local foram destaques na mídia brasileira.
Porém, o telejornal Hoje,
da Globo, desconheceu completamente neste sábado o atentado ao acampamento
Marisa Letícia, em Curitiba, onde apoiadores do ex-presidente Lula fazem
vigília.
“Para a Rede Globo pessoas de esquerda
não são dignas de direitos, no caso do homem empurrado na frente do instituto
Lula eles foram entrevistar até a família, Globo prega o genocídio da esquerda
ao desumanizar as pessoas justificando ataques e qualquer tipo de violência”,
escreveu Rafael Martelo sobre a omissão da Globo, também no twitter.
Duas pessoas ficaram feridas a bala em
Curitiba.
O militante que recebeu um tiro no
pescoço está internado na UTI.
“Ele estava consciente, sem risco de
vida, perdeu bastante sangue, a bala perfurou, mas não ficou alojada. No
acampamento estávamos na porta na segurança, um carro passou e voltou
atirando”, descreveu testemunha ouvida pelo Brasil de Fato.
O ataque foi registrado em áudio e
vídeo (ver acima). Há o som de disparos e, também, o que parece ser o
lançamento de rojões.
A Secretaria de Segurança Pública do
Paraná emitiu nota dizendo que cápsulas de projéteis de 9 mm foram recolhidos
no local.
A mulher que se feriu levemente foi
atingida por estilhaços de um tiro que acertou um banheiro público, segundo a
nota.
Porém, o Jornal Hoje desconheceu
tudo isso: estava preocupado mesmo é com o clima ameno em Londres.
Dedicou mais de 3m30s, tempo imenso
para os padrões de TV, a passeios de barco na capital britânica.
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Trabalho desvalorizado
O número de trabalhadores com carteira assinada no país atingiu o menor patamar desde 2012. Reflexo direto do ajuste fiscal e da reforma trabalhista. Exclusão + precarização das relações de trabalho.
Esperneio oligárquico
‘Após 28 anos domiciliado eleitoralmente no Amapá, Sarney. transfere título para o Maranhão para fortalecer clã e impedir reeleição do governador do PCdoB’. [Mas falta combinar com o povo, que está com Flávio Dino].
Mundo real
Brasil só cria vagas de emprego formal de até 2 salários. Sinal da fragilidade da (suposta) recuperação da economia.
Delações (sempre) suspeitas
Acordo e desacordo,
suspeitos os dois
Motivo de serem as
"revelações" de Palocci rejeitadas pela Lava Jato e validadas pela PF
é obscuro
Janio de Freitas
O acordo de delação muito premiada
acertado entre Antonio Palocci e a Polícia Federal é um caso especial, mas não
pelo que contenha contra Lula e diretores de bancos, tema de excitada
especulação e presumidos temores.
Tanto a PF como a Lava Jato, que recusou
o acordo com Palocci,
põem-se sob indagações e suspeitas por suas atitudes ante Palocci e entre si.
Essa história, em que também o Supremo toma parte —o que já insinua complicação—,
não tem chance de escapar a mais um entrevero degradante.
Como preliminar, o Supremo parou a meio caminho e deixou em suspenso seu iniciado reconhecimento a direito da PF de negociar acordos de delação, rompendo a exclusividade que os procuradores exercem e exigem.
Assim como há anos se vê nas delações à Lava Jato, o vende-e-compra de acordo policial precisa passar pela concordância ou recusa do Supremo. A indefinição das condições em que a PF fará acordos e premiações, porém, deixa o seu entendimento com Palocci pendurado em futuro impreciso.
O motivo de serem as “revelações” de Palocci rejeitadas pela Lava Jato e validadas pela PF é obscuro. A defesa e mais de um procurador repetiram, várias vezes, que Palocci não disse o que os procuradores dele exigiam.
Neste caso, ou eram exigências que a PF considerou descabidas, ou tinham cabimento e a PF, por motivos descabidos, curvou-se à concessão de dispensá-las. Inúmeros precedentes autorizam suspeitas sobre um lado e sobre o outro. Situações assim tiram a legitimidade do inquérito e do processo. A da delação, tratando-se de Palocci, nem se cogite.
Por bastante tempo, insisti em referências à casa alugada pela turma de Palocci em Brasília, durante sua permanência como ministro da Fazenda. Tanto quanto a dinheirama por ele acumulada em pouco tempo, ou a função dessa casa é contada pelo delator, ou já a priori sua delação de nada vale.
A casa não foi alugada só para receber moças bem remuneradas. Foi, como uma fortaleza de bicheiros, lugar em que se arquitetaram negócios sigilosos. Inclusive com a presença de figurões do empresariado.
Ao assumir o ministério, Palocci fez se mudarem para Brasília, mas não para integrar o governo, ao menos cinco da sua turma quando prefeito de Ribeirão Preto.
Na Justiça de São Paulo, o acusado ex-prefeito conseguiu contornar os processos sobre suas atividades paulistas com a turma. O possível acordo premiado é a oportunidade de que não se passe o mesmo com as atividades originadas da ligação entre o Ministério da Fazenda e a casa dos encontros.
Da delação de Palocci pode-se esperar qualquer coisa. Mas se espera também, e mesmo antes, a explicação da Lava Jato e da PF sobre os motivos das respectivas aceitação e rejeição das mesmas e alegadas confissões.
Afinal, esse Antonio Palocci lembra uma expressão que não merecia o esquecimento: “Fulano não presta”.
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29 abril 2018
Binóculo invertido
‘Alckmin elabora plano para região Nordeste’. [Como diria Arraes, é o olhar da Avenida Paulista sobre o ‘resto’ do Brasil].
28 abril 2018
Barco furado
Custo de publicidade da reforma da Previdência foi de R$ 110 milhões. Não convenceu o povo, nem conquistou maioria parlamentar suficiente. Rotundo fracasso.
27 abril 2018
Tronchura
‘Sem mencionar Meirelles, Alckmin defende coalizão 'do centro democrático'. Tirante Bolsonaro, a direita veste o disfarce de ‘centro’. Tucano nunca desce do muro para a esquerda, sempre fica aonde está: na direita.
Duas faces
‘Desemprego é de 13,1% e atinge 13,7 milhões de trabalhadores, diz IBGE’. Diria o finado general Figueiredo: A economia vai bem, mas o povo vai mal.
Voo de galinha
‘Investimento público cai para 1,17% do PIB e atinge o menor nível em 50 anos.’ Pode a economia crescer solidamente assim? Claro que não, só na propaganda do governo.
26 abril 2018
Poesia sempre
Gil Vicente
Gosto quando te calas
Pablo
Neruda
Gosto quando te calas porque estás como
ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.
Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.
Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.
Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinquo e singelo.
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinquo e singelo.
Gosto de ti quando calas porque estás como
ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.
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Luta e afeto
Quem se filia agora ao PCdoB nunca chega de mãos vazias. Agrega experiência pessoal e de luta e renovada esperança no futuro do Brasil.
•
Trajetórias militantes que se cruzam https://bit.ly/2r2eOSo
•
Trajetórias militantes que se cruzam https://bit.ly/2r2eOSo
Fora do prumo
‘Temer e PSDB negociam chapa Alckmin-Meirelles para unificar centro.’ [Só se for o centro da direita].
Como assim?
Marina Silva estaria empenhada em conquistar eleitores de Lula no Nordeste. Com discurso diametralmente oposto ao do ex-presidente? Seria misturar alhos e bugalhos.
Bom senso
Chapa majoritária se monta com critério, sensatez e paciência. Igual a escalação de time em final de Copa do Mundo.
25 abril 2018
Ontem e hoje
Arraes e o PCdoB
Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Na trajetória de lutas de uma
nação há combatentes que se salientam em algum momento. Poucos, entretanto, têm
presença marcante por largo período – como Miguel Arraes, influente líder
político por mais de cinco décadas. Oportuno lembrar três das suas melhores
qualidades: a defesa persistente e conscienciosa da soberania nacional; uma
enorme sensibilidade para com as condições de existência do povo e a manutenção de duradoura aliança com os comunistas, mantida em
diferentes situações.
Firmeza na defesa de convicções é
sem dúvida uma virtude, quando não resvala para a intransigência cega ou o
anacronismo infenso às transformações da realidade. A compreensão de Arraes
acerca da questão nacional – nas suas diversas dimensões -, ao contrário de
alguns outros nacionalistas, jamais cheirou a naftalina. Ele cuidou de
atualizá-la no tempo histórico e de fundamentá-la através do estudo acurado dos
problemas.
A paciência para ouvir e a
sensibilidade para captar o sentimento e as necessidades dos habitantes das
periferias urbanas e do meio rural, em muito atenuou, nas três vezes em que
governou Pernambuco, as limitações inerentes a um governante apegado a
concepções e métodos de gestão antiquados, ultra-centralizadores. Isso se
refletia no trato com membros do governo, que considerava ineficientes se
incapazes de aliar a competência técnica ao relacionamento direto com o povo.
Líder inorgânico, praticamente
sem intermediários na sua relação com o eleitor, nunca de empenhou em organizar
partido político. Frequentou alguns e só se ocupou em dirigir, por alguns anos,
o PSB, que presidia. No entanto, queixava-se da fragilidade da estrutura
partidária brasileira e costumava mencionar o PCdoB como exemplo de organização
lúcida e disciplinada. Em ocasiões de crise, quando a dispersão das correntes
populares parecia predominar, sugeria que o Brasil poderia romper com a
dominação estrangeira se se unissem os comunistas e as Forças Armadas em torno
de um projeto nacional capaz de galvanizar o povo e amplos segmentos da
sociedade.
A interlocução constante entre
Arraes e o PCdoB em Pernambuco, por precisos vinte e seis anos, desde que
retornou do exílio, forjou um relacionamento pautado pela confiança mútua e
pela amizade, inabaláveis mesmo quando afloravam divergências e seguíamos caminhos
discrepantes.
Num instante da vida nacional em
que convicções e compromissos programáticos são postos a segundo plano, sob o
predomínio do imediatismo inconsequente, importa reavivar a memória e a
presença de Miguel Arraes.
•
É preciso enfrentar as eleições de outubro com um olho na missa e o outro no padre https://bit.ly/2qSM2U3
•
É preciso enfrentar as eleições de outubro com um olho na missa e o outro no padre https://bit.ly/2qSM2U3
Vale a pena
Ciro
e Haddad, conversar é indispensável
Walter Sorrentino
Boa
a iniciativa de Ciro e Haddad irem ao encontro com Delfim Netto e Bresser
Pereira. Ciro afirma que “combinamos que o que tem de ser feito é dar toda
força às nossas direções nacionais e às nossas Fundações, que já estão operando
juntas, com documentos conjuntos e análises de conjuntura e seguiremos trocando
ideias sobre essas coisas. Nada de chapa”. Haddad, por sua vez, que é preciso
manter fluidas as relações entre os partidos de esquerda e centro-esquerda. E
arremata que também com Manuela e Boulos isso vem se verificando.Custa a crer
que alguém, afora as forças conservadoras, possa ter dúvidas quanto à
necessidade e correção disso.
Como
se sabe, essas forças deram um grande passo ao elaborar um Manifesto assinado
pelas Fundações do PCdoB, PT, PDT e PSOL – também com participação, embora sem
endosso, do PSB – há pouco tempo. É a base para uma convergência programática
para tirar o país da crise apontando para um projeto nacional de
desenvolvimento consistente, articulado e sistêmico, soberano, democrático e de
inclusão social plena. Com ele – e com a determinação da maioria dos
brasileiros – é possível tirar o Brasil da condição de um país semiperiférico
nas cadeias de valor globais e divisão internacional do trabalho, levando-o a
novo patamar civilizatório.
Incrível
é que se trata da primeira vez na história desde a ditadura de 64 que as forças
de esquerda e centro-esquerda logram um pacto formal com essa consistência
programática. Ele dá ensejo a outros passos de entendimentos em comum para as
eleições de outubro, visando a assegurar a presença no 2º turno e ousar vencer.
A resistência ao atual estado de coisas no Brasil logrou êxitos substantivos quanto à análise que fazemos neste campo político. Mas de nada vale ter forças – cerca de um terço da sociedade – se se permite que sejam sitiadas nessas fronteiras.
A resistência ao atual estado de coisas no Brasil logrou êxitos substantivos quanto à análise que fazemos neste campo político. Mas de nada vale ter forças – cerca de um terço da sociedade – se se permite que sejam sitiadas nessas fronteiras.
O
entendimento progressivo é necessário, respeitando o tempo político de cada uma
dessas forças e a legitimidade de suas candidaturas, os objetivos partidários
necessários para assegurar ampla bancada de parlamentares no Congresso
Nacional. As eleições estão aí logo mais, mas até agosto, quando se fazem os
acertos finais, muita água vai rolar, o quadro vai decantar em quase todas as
suas variáveis, tanto no nosso lado quanto do lado de lá.
Manter
abertas as portas do entendimento não enfraquece este ou aquele, ao contrário,
fortalece nosso projeto comum em alcançar de fato o povo, com saídas críveis e
viáveis para a crise, falar de solução aos problemas agudos do cotidiano,
abrindo novas esperanças no futuro. Uma opção frentista sempre é melhor unir
vastas forças, para resistir e lutar contra o arbítrio e a exceção, pela
democracia e pela Constituição de 1988, unindo sobretudo os movimentos
populares em ação e as forças progressistas.
Se
desse combate comum na resistência ativa nascer uma alternativa mais coesa para
as eleições, aumentam as chances de liderarmos a reconstrução da nação. Os
justos interesses partidários não devem nem precisam se sobrepor aos interesses
do Brasil, da democracia e dos direitos do povo. São necessários convergência
de objetivos e pactuação progressiva entre nossas candidaturas, sem
hegemonismos nem vetos. A hora é de destravar esses caminhos.
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Siqueira opina’, no
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Uma crônica para descontrair
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Luciano Siqueira
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Fernando
Sabino diz numa de suas crônicas que o rádio entrou na residência dos
brasileiros pela sala de visitas e, com o advento da televisão, foi parar na
cozinha.
Em minha
casa, não exatamente na cozinha: no banheiro. Porém não relegado a uma
condição inferior, vez que é muito mais ouvido do que vista é a TV.
Desde cinco horas da manhã, quando tomo o primeiro banho antes da caminhada matinal. Ali, sempre presente, de domingo a domingo, anunciando os acontecimentos do dia e difundindo comentários de tudo o que é gente se arvora especialista nos mais variados assuntos. Testemunho assim a importância do rádio na formação (ou deformação) da consciência política do nosso povo. Não só do rádio, mas dos meios de comunicação como um todo: a TV e os jornais, e também os sítios na Internet, guardam uma relação simbiótica com o rádio, um alimenta os demais e vice-versa. O rádio confirma ou antecipa a notícia, dependendo da hora em que o sintonizemos. Na madrugada, os jornais impressos do dia já não terão tempo de registrar o que ocorreu em Estocolmo, Atenas ou Mossoró, naquele instante; mas o rádio sim, pois a informação terá sido captada em tempo real, via Internet e de imediato repassada aos ouvintes. A “antecipação” da notícia às vezes é precipitada pela ansiedade de quem a transmite. Vira premonição. Como aconteceu com um jovem repórter da Rádio Jornal, no Recife, em meados dos anos 80, quando eu exercia o primeiro mandato de deputado estadual colado às lutas populares em ascensão. Uma espécie de plantão permanente, para o que desse e viesse. Um pé na Assembléia Legislativa e o outro nas ruas. Foi na ocupação do conjunto habitacional Montes Verdes, no Ibura. Transmissão ao vivo. O repórter narra a chegada do Batalhão de Choque da Polícia Militar, enviado pelo governador Roberto Magalhães, e o tumulto que se instala – gritaria, corre-corre, choro de crianças, vozes exaltadas: - Há muita confusão, senhores ouvintes, pessoas podem ser feridas. Como sempre acontece, o deputado Luciano Siqueira já se encontra no local e, segundo lideranças comunitárias ouvidas pela reportagem, já teve um entrevero com o capitão Viana. - Então ouça o depoimento do deputado – pede o locutor do estúdio. - Ainda não é possível. O deputado parece estar encoberto pela poeira que se levanta no local do conflito, onde alguns policiais foram agredidos a pedradas. - Ele foi agredido pelos policiais? É importante verificar isso. - Vamos verificar, vamos verificar... e dentro de alguns minutos ele dará entrevista exclusiva para nossa emissora. Mas não tinha jeito de encontrar o deputado, que ouvia tudo pelo rádio do carro, ainda se deslocando de casa para o bairro, agora o mais rápido que podia – para cumprir o dever e não frustrar o repórter e os seus ouvintes. |
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Mais um
Nem o festejado Nelsinho Batista resistiu e o Sport perde seu técnico no início do campeonato. No futebol brasileiro, tudo se desmancha no ar.
Encolhido
“Temer muda discurso sobre reeleição para evitar ataques”. [E aumentar mais ainda a rejeição recorde].
23 abril 2018
Pluralidade
Cada partido há de ter seus princípios, sua linha e suas cores – e todos são livres para escolher por onde e com quem desejam caminhar.
Convivência
Antes de me cobrar sobre o que penso e onde estou, me pergunte 'o que penso' e 'por que' escolhi estar onde estou. Fora disso, o diálogo dá lugar à imposição e à intolerância e a possibilidade de entendimento morre no nascedouro. Vale para o amor, para o trabalho profissional e, sobretudo, para a luta política.
22 abril 2018
Compromisso
"Quando o povo é mais atacado, o artista surge nessa hora, porque ele é o povo. E tem o dever de estar sempre avant-garde, observando o futuro. Na realidade, o papel do artista é esse." (Otto, em entrevista à revista Continente).
Ciência atual
Inovação no combate a doenças neurológicas
Novas estratégias para o transporte de
fármacos até o cérebro abrem portas para o desenvolvimento de terapias para
doenças como a de Alzheimer e tumores cerebrais.
Com o
aumento da expectativa de vida da população, tem sido cada vez maior a
prevalência de doenças neurológicas, atualmente uma importante causa de
mortalidade no mundo. Apesar dos rápidos avanços na tecnologia médica e na
compreensão de como funciona o cérebro humano, várias doenças neurológicas,
como as de Alzheimer e Parkinson e tumores cerebrais, permanecem sem um
tratamento eficaz.
O
problema não se deve à falta de fármacos para essas doenças, mas à dificuldade
que eles têm em atravessar a barreira que separa o sistema circulatório do
sistema nervoso central (chamada barreira hematoencefálica) e chegar ao local
onde devem desempenhar sua ação terapêutica. Embora tenha uma vasta rede de
vasos capilares, o cérebro é provavelmente um dos órgãos menos acessíveis a
substâncias que circulam na corrente sanguínea. Isso porque essa barreira
semipermeável tem como função proteger o cérebro de substâncias estranhas, como
certos medicamentos, vírus e bactérias.
Um
estudo publicado este ano e
financiado em parte pelo projeto internacional Inpact demonstrou que segmentos específicos (chamados
peptídeos) de uma proteína presente na camada que envolve o vírus da dengue
tipo 2 podem ser usados como transportadores de substâncias através da barreira
hematoencefálica, sem precisarem de receptores específicos no cérebro que
‘autorizariam’ sua passagem por essa barreira.
Em testes
com células e com camundongos, observou-se que um peptídeo em particular,
denominado PepH3, consegue penetrar rapidamente no cérebro, assim como ser
excretado, o que é extremamente positivo para evitar possíveis efeitos tóxicos
associados à acumulação do peptídeo nesse órgão. Essa propriedade faz com que o
PepH3 possa ser usado para transportar substâncias tanto para dentro como para
fora do cérebro.
“O que se
pretende com o PepH3 é que funcione como um sistema de liberação controlada
para o cérebro. O que verificamos com esse peptídeo é que ele tem a capacidade
de entrar e sair do cérebro. Isso é vantajoso especialmente para a doença de
Alzheimer, em que se pretende remover os agregados tóxicos que estão associados
à patologia”, explica a líder da pesquisa, a engenheira biotecnológica
portuguesa Vera Neves, atualmente pesquisadora no Instituto de Medicina
Molecular (Lisboa).
Vera
Neves salienta que, na doença de Alzheimer, por exemplo, a terapêutica atual
utiliza inibidores que regulam a transmissão de informação entre
neurônios. “Se fosse possível usar anticorpos que reconhecem a proteína
beta-amiloide [proteína tóxica que se acumula nas placas senis que se formam no
cérebro e são uma das características da doença] e que ao mesmo tempo conseguem
inibir a acumulação da mesma, essa estratégia iria não só melhorar os sintomas
como prevenir a progresso da doença”, diz a pesquisadora. E acrescenta:
“Idealmente, o tratamento deveria ser feito no início da doença para evitar os
efeitos irreversíveis, como a morte celular. Por isso, é também importante
encontrar meios de detectar a doença em estágios iniciais.”
O
obstáculo ao uso de anticorpos para combater doenças do cérebro é também a
dificuldade dessas proteínas em transpor a barreira hematoencefálica. “Os
anticorpos, devido às suas características e ao seu tamanho, são incapazes de
atravessar a barreira”, explica Vera Neves.
Na
tentativa de ultrapassar essa limitação, pesquisadores tentam desenvolver
anticorpos biespecíficos, ou seja, capazes de reconhecer, por um lado, a
barreira hematoencefálica (para conseguir atravessá-la), e, por outro, o alvo
terapêutico (para agir contra a doença). Esses esforços, descritos por Neves e
colaboradores em artigo de revisão publicado em
2016 e também financiado em parte
pelo projeto Inpact, poderão dar origem a estratégias terapêuticas tanto para
doenças neurológicas como para determinados tipos de câncer, especificamente os
tumores cerebrais.
Margarida
Martins
Instituto de Medicina Molecular (Lisboa/ Portugal)
Especial para CH On-line
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Em movimento
Como acontece comumente no casamento, na política não existe a obrigatoriedade da união "até que a morte nos separe". Alianças são conjunturais e devem ser
sempre mutuamente proveitosas - e, para que tenham consistência, feitas em torno de propostas programáticas.
Factóide mais do que suspeito
Operação contra milícias no RJ foi show para TV
A polícia chegou na festa na madrugada de 7
de abril, quando a casa de shows estava lotada. Santa Cruz, Zona Oeste do Rio
de Janeiro, de onde as milícias partiram, em meados dos anos 1990, para dominar
a cidade e se tornar uma força mais potente do que as históricas facções do
tráfico de drogas.
The intercept, reproduzido no Vermelho
Formadas por
policiais, bombeiros, vigilantes, agentes penitenciários e militares, fora de
serviço ou ainda na ativa, elas dominam bairros inteiros e, além de atuar no
tráfico, cobram também por serviços como gás, luz, televisão a cabo, vans do
transporte alternativo e proteção.
Na ação daquela madrugada, os agentes mataram quatro pessoas ainda do lado de fora da festa. Os tiros causaram pânico e correria. Ao entrar, mandaram todas as mulheres embora, ordenaram que os homens deitassem no chão, de bruços e sem camisa. Poucas horas depois, imagens de ônibus cheios de jovens tranquilos e sem algemas já estavam nos jornais matinais de TV. Sem qualquer questionamento. “A Polícia Civil acabou com a festa da milícia.” À noite, foi destaque no Jornal Nacional. Sem investigação própria, o programa decretou: “Bandidos que fazem parte da principal milícia do Rio aproveitavam a noite em um sítio, em Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade.”
O secretário de Segurança Pública do Rio, o general Richard Nunes, nomeado pela intervenção militar federal, estava contente. Em uma entrevista coletiva, ele disse:
“Essa é uma semana muito exitosa para a segurança pública do nosso estado. A intervenção federal começa a apresentar resultados positivos. Foram diversas apreensões, diversas operações bem sucedidas e essa, sem sombra de dúvida, foi a mais exitosa.”
É difícil saber o que o general acredita ser “exitoso”. Fato é que “a maior operação contra as milícias” já feita no Rio de Janeiro foi apenas mais um show para a televisão, como tem sido a intervenção. A polícia não prendeu 159 milicianos. A polícia entrou em uma festa – promovida por uma estação de rádio, com ingresso, anúncio nas redes, pulseirinha – e prendeu indiscriminadamente todos os homens que nela estavam.
O que menos há, entre os presos, são milicianos: talvez uma dúzia, ainda não se sabe. Pior: há suspeitas de que o chefe de uma quadrilha estivesse no local. Se realmente estava, Wellington da Silva Braga, o Ecko, fugiu.
The Intercept Brasil foi atrás dos familiares de alguns presos. Oito menores também foram apreendidos e vendidos para a imprensa como milicianos. A Defensoria Pública está cuidando do caso de 25 pessoas, e deve ouvir mais vítimas nesta semana. Um deles é Pablo Dias Bessa Martins, artista de circo que estava com viagem programada para a Suécia, onde iria se apresentar. O ator Marcos Frota o conhece, e fez um apelo para que ele seja solto.
Leia também:
Leonardo Chaves: Intervenção para quem?
Na ação daquela madrugada, os agentes mataram quatro pessoas ainda do lado de fora da festa. Os tiros causaram pânico e correria. Ao entrar, mandaram todas as mulheres embora, ordenaram que os homens deitassem no chão, de bruços e sem camisa. Poucas horas depois, imagens de ônibus cheios de jovens tranquilos e sem algemas já estavam nos jornais matinais de TV. Sem qualquer questionamento. “A Polícia Civil acabou com a festa da milícia.” À noite, foi destaque no Jornal Nacional. Sem investigação própria, o programa decretou: “Bandidos que fazem parte da principal milícia do Rio aproveitavam a noite em um sítio, em Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade.”
O secretário de Segurança Pública do Rio, o general Richard Nunes, nomeado pela intervenção militar federal, estava contente. Em uma entrevista coletiva, ele disse:
“Essa é uma semana muito exitosa para a segurança pública do nosso estado. A intervenção federal começa a apresentar resultados positivos. Foram diversas apreensões, diversas operações bem sucedidas e essa, sem sombra de dúvida, foi a mais exitosa.”
É difícil saber o que o general acredita ser “exitoso”. Fato é que “a maior operação contra as milícias” já feita no Rio de Janeiro foi apenas mais um show para a televisão, como tem sido a intervenção. A polícia não prendeu 159 milicianos. A polícia entrou em uma festa – promovida por uma estação de rádio, com ingresso, anúncio nas redes, pulseirinha – e prendeu indiscriminadamente todos os homens que nela estavam.
O que menos há, entre os presos, são milicianos: talvez uma dúzia, ainda não se sabe. Pior: há suspeitas de que o chefe de uma quadrilha estivesse no local. Se realmente estava, Wellington da Silva Braga, o Ecko, fugiu.
The Intercept Brasil foi atrás dos familiares de alguns presos. Oito menores também foram apreendidos e vendidos para a imprensa como milicianos. A Defensoria Pública está cuidando do caso de 25 pessoas, e deve ouvir mais vítimas nesta semana. Um deles é Pablo Dias Bessa Martins, artista de circo que estava com viagem programada para a Suécia, onde iria se apresentar. O ator Marcos Frota o conhece, e fez um apelo para que ele seja solto.
Leia também:
Leonardo Chaves: Intervenção para quem?
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