29 novembro 2018

Complexo de inferioridade


Subserviência explícita
Luciano Siqueira, no portal Vermelho

"As palavras têm canto e plumagem", escreveu Guimarães Rosa. 

E o gesto, mais que as palavras, traduz emoções e vontades com nitidez.

Sobretudo na cena política.

Ao sair de uma reunião na Casa Branca, em Washington, onde teria dialogado com estrategistas do governo, um filho do presidente eleito exibiu serelepe um boné alusivo à campanha de Trump.

A conversa do sr. Eduardo Bolsonaro com elementos do governo norte-americano, segundo se registra, teria o duplo objetivo de tentar uma aproximação pessoal entre os dois presidentes e de afinar o tom do combate comum às forças progressistas na America Latina, além de reafirma a temerária decisão de transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

Tudo muito esquisito. 

A leitura óbvia é de um sinal explícito de subserviência.

Na contramão da transição a uma nova ordem mundial, que reclama postura minimamente altiva e soberana das nações. 

Desgraçadamente, no governo Bolsonaro o Brasil aprofundará o realinhamento automático com os Estados Unidos, que vem sendo gradativamente praticado desde que José Serra assumiu o ministério das Relações Exteriores no início do governo Temer.

E sinaliza para o enfraquecimento do Mercosul e conflitos abertos com a China é o mundo árabe.

Curioso que as tratativas na Casa Branca e a pantomina entreguista tenha sido praticada por um filho do presidente eleito, Eduardo Bolsonaro, e não pelo já escolhido futuro chanceler, o auto-denominado “antiglobalista” Ernesto Araújo.


Mas isso não tem tanta importância, faz parte do estilo primário e desencontrado que, parece, caracterizará o governo Bolsonaro.

Assim, a defesa da soberania nacional vai ser confirmado com o pedra de toque da plataforma de resistência das forças democráticas e progressistas.

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Humor de resistência

Vasqs vê a onda obscurantista que assola o País

Ninho de aventureiros


Bolsonaro não tem ideia do que seja governar um país
Por Wanderley Guilherme dos Santos, Brasil 247

Estava certo o que se pensava antes da vitória de Jair Bolsonaro: ele não tem ideia do que seja governar um país. Igualmente apropriada era a tese de tratar-se de político periférico, com discurso rotineiro para dois nichos de eleitores: os conservadores brutamontes e os fardados – do Exército, bombeiros, policiais militares – além da polícia civil, delegados e demais autoridades coatoras. Ou seja: franca expressão do aparelho repressivo em suas nuances bélicas. Reacionário em costumes, Bolsonaro ganhou palco adicional com a restrição legal às decisões e liberdades privadas da população sobre o próprio corpo: direitos reprodutivos, orientação sexual, vestuário, hábitos de consumo (álcool e maconha, principalmente), bem como a abordagem médica aos vícios pesados.
A redução do tratamento discriminatório da mulher no mercado de trabalho, algo mal desembarcado no litoral, revelou ao combativo então parlamentar novo contingente de entidades malignas: mulheres ativistas, índios, quilombolas, religiões afroassimiladas. Em sua longa carreira parlamentar não há registro de projetos promovendo algum valor ou ideal. Sempre foi do contra, à exceção do apoio ao impedimento de Dilma Rousseff, ocasião em que homenageou o oficial que a torturara durante a ditadura. Uma atitude que, longe de qualificar a altivez do parlamentar, desqualifica o indivíduo. E não seria o poder obtido na mais estranha das eleições presidenciais brasileiras que o tornaria uma pessoa humanamente mais respeitável.
Percebe-se a inexistência de projeto de governo representado pelo candidato Jair Bolsonaro. Ele não conhecia nada nem círculos de profissionais, afora a família e dois ou três marginais à vida acadêmica e política que a ele se juntaram por falta de opção. Ninguém estava interessado em Paulo Guedes ou Onyx Lorenzoni e o candidato a candidato só obteve legenda à última hora. À medida que o processo eleitoral se mostrava estranho, teve a candidatura transformada em saco de gatos e ratos. A vitória não recompensou senão aos eventos bizarros da história humana a que se procura ficcionalmente creditar estratégias ocultas e movimentos tectônicos da sociedade brasileira.
Por isso o presidente eleito terceiriza o governo e se cerca de militares. Só se pronuncia para desmentir ministros não empossados ou vetar algo. Nada produtivo ou animador. Espera-se que Paulo Guedes, Sergio Moro e os militares saibam o que fazer com o governo terceirizado. E se eles não estiverem de acordo entre sí? Já imaginaram o ex-capitão Jair Bolsonaro arbitrar uma disputa entre o general Humberto Mourão e Paulo Guedes? Ou entre Sergio Moro e o general Augusto Heleno? Pois, é.
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28 novembro 2018

Sinais trocados

‘O futuro ministro Paulo Guedes diz que o também futuro ministro Onyx Lorenzonni não perdeu prestígio com Bolsonaro, em razão do esvaziamento da Casa Civil, com a passagem da gestão dos ministérios para a Secretaria de Governo.’ [Uma espécie de “prestígio” às avessas, só pode ser.]

Causa justa e oportuna


Menos violência, mais igualdade
Cida Pedrosa*, no Diário de Pernambuco

Em 1991, 23 mulheres de diferentes países, reunidas pelo Centro de Liderança Global de Mulheres (Center for Women’s Global Leadership - CWGL), lançaram a campanha 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher. A ideia era promover o debate e denunciar as várias formas de agressão que elas sofrem mundo afora.  A campanha começaria no dia 25 de novembro - Dia Internacional da Não Violência Contra as Mulheres - e terminaria  em 10 de dezembro - Dia Internacional dos Direitos Humanos. Hoje, mais de 150 países participam desse movimento.
No Brasil, onde o movimento só começou a ser realizado em 2003, encabeçado pelas feministas, o início foi antecipado para o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. E não poderia ser diferente. Afinal, historicamente, são as mulheres negras as vítimas preponderantes da violência de gênero, além de estarem mais sujeitas à opressão e exploração que as brancas. O Atlas da Violência 2018 mostra que o assassinato de mulheres negras aumentou 15% no período de dez anos entre 2006 e 2016 no Brasil, enquanto o de brancas caiu 8%.
No Recife, os 16 dias têm sido marcados por atividades como rodas de diálogos, palestras e panfletagens em locais públicos.  Mas, este ano, a Prefeitura do Recife, através da Secretaria da Mulher, traz novidades: o lançamento da campanha “Nem mais, nem menos: iguais”. Algumas peças já podem ser vistas pelos quatro cantos da cidade.
Com “Nem mais, nem menos”, pretendemos promover a igualdade entre homens e mulheres, evocando velhas reivindicações da nossa agenda de luta: equiparação salarial, divisão justa das tarefas domésticas, direito à livre escolha. O próximo filme será sobre o Centro de Referência Clarice Lispector, um equipamento voltado para o acolhimento e orientação de mulheres em situação de violência.
Nas redes sociais da Prefeitura, entramos com o mote #Sozinhavocênãofica, mostrando as pessoas que fazem parte da rede municipal de enfrentamento à violência de gênero. Profissionais de equipamentos como o Centro de Referência Clarice Lispector, Centro Sony Santos e do Ambulatório LBT do Hospital da Mulher dão depoimentos de suas lutas no acolhimento das recifenses e na construção de uma sociedade mais justa.   
Não custa lembrar que a busca por igualdade de gênero está sintonizada com os objetivos do milênio, definidos pela ONU no ano 2000, além de estar assegurada pela Constituição federal. Há cerca de um século as mulheres lutam para garantir direitos essenciais ao custo de muito sangue, suor e lágrimas. E essa batalha vai continuar sem esmorecimento até que consigamos construir uma sociedade mais justa e menos violenta, machista e patriarcal.
*Secretária da Mulher do Recife
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Apoio ao Barão de Itararé



Barão lança campanha solidária para manter sede física

Do Barão de Itararé

Com oito anos de vida e muito acúmulo de atividades ligadas à luta pela democratização da comunicação, o Centro de Estudos da Mídia Alternativa passa por dificuldades. Para ajudar a manter as suas atividades, o Barão optou por centrar esforços em uma de suas principais frentes: a manutenção de sua sede física, localizada na Rua Rego Freitas, 454, em São Paulo, e que já se tornou patrimônio de movimentos, militantes e ativistas brasileiros. 

O presidente do Barão, Altamiro Borges, falou um pouco sobre a campanha. Confira o vídeo e, na sequência, entenda a situação da entidade e por que é tão importante ajudá-la.

Um pouco da nossa história

O Barão de Itararé completou, em 2018, 08 anos de vida. Nossa entidade nasceu para se somar à luta por uma comunicação mais democrática no Brasil, mas com um foco importante: fortalecer a comunicação dos movimentos sociais, encontrar caminhos para potencializar a produção jornalística realizada por blogs e sites do que se convencionou chamar de mídia alternativa. Mas que também pode ser chamada da mídia comunitária, popular, colaborativa, independente, social. O que importa aqui é fortalecer os instrumentos que dão voz aos setores historicamente excluídos pela mídia hegemônica, pelos grandes conglomerados privados-comerciais de comunicação que monopolizam a comunicação no Brasil.

Nesse esforço, o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé abriu um espaço físico para compartilhar ideias, realizar debates e reuniões para discutir a situação do Brasil. A sede do Barão de Itararé já funcionou em duas salas no mesmo endereço: a Rua Rego Freitas, 454. Primeiro, 01 de março de 2012, inauguramos nossa casa no primeiro andar do edifício, que abriga outras entidades da área cultural e da comunicação. Ficamos 2 anos no primeiro andar, e em 2014 "subimos de vida"! Passamos a ocupar, com muita alegria, a sala do 8º andar, que durante anos foi a casa da Oboré. O querido Serjão Gomes, que se mudou de lá, nos ofereceu o espaço. Não pensamos duas vezes e fizemos nossa mudança.

A inauguração da nova sede foi em 30 de outubro de 2014, uma festança regada com comidinhas e bebidinhas para parceiros da nossa luta por uma comunicação mais democrática.

E se a sede do primeiro andar já tinha uma vida agitada, com muitas reuniões e debates, a do oitavo andar ficou muito mais concorrida. Muitas entidades do movimento social passaram a usar a nossa casa para fazer suas reuniões e planejar suas lutas por uma Brasil melhor para todos.

Além disso, foram centenas de atividades promovidas pelo Barão de Itararé nestes últimos quatro anos, entre seminários, debates, coletivas de imprensa, cursos.

Quem já passou pela sede do Barão

Passaram pela nossa sede nomes como os do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, do linguista e filósofo norte-americano Noam Chomsky, do relator para a liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, Edson Lanza, e de inúmeros intelectuais, artistas, economistas, lideranças sociais, entre os quais: Bresser Pereira, Luiz Gonzaga Belluzo, Laura Carvalho, Celso Amorim, Samuel Pinheiro Guimarães, Tico Santa Cruz, Sérgio Mamberti, Fernando Haddad, Jessé de Souza, Manuela D'Ávila, Roberto Requião, Luciana Santos, Jandira Feghali, Wadih Damous, Dilma Rousseff, Eugênio Aragão, Sérgio Gabrielli, Emiliano José, e muitos mais.

Jornalistas, blogueiros, comunicadores

A sede do Barão é a casa dos jornalistas, blogueiros e comunicadores que lutam por uma comunicação mais democrática. Paulo Henrique Amorim, Mino Carta, Bob Fernandes, Rodrigo Vianna, Renato Rovai, Luis Nassif, Maria Inês Nassif, Laura Capriglione, João Franzin, Eduardo Guimarães, Conceição Oliveira, Luiz Carlos Azenha, Paulo Moreira Leite, Palmério Dória e mais uma dezena.

Aqui também é a casa do movimento social

Já utilizaram a nossa sede entidades como: MST, MTST, Frente Brasil Popular, UNE, UBES, UEE-SP, UJS, Levante Popular da Juventude, Cebrapaz, vários sindicatos (Jornalistas, Arquitetos), federações e confederações.

Mas esse espaço corre o risco de fechar. Para impedir que isso aconteça e que nossa casa continue sempre aberta para todos, estamos pedindo a sua contribuição.

Ajude a sede do Barão de Itararé e seja sempre bem-vindo à nossa casa!

Orçamento

Os recursos arrecadados nessa vaquinha serão destinados para cobrir as despesas de aluguel e manutenção da sede do Barão de Itararé por 1 ano (12 meses).

Aluguel: R$ 2.500,00
Condomínio: R$ 1.750,00
Limpeza: R$ 300,00
Luz: R$ 300,00

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Poesia sempre


O sonho
Clarice Lispector

Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.

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Destrambelhado, doloroso e ridículo


DESENCONTRO ENTRE PALAVRAS E GESTOS 
Luciano Siqueira

Desde criança escutamos dizer: — Em boca fechada não entra mosquito.

Diz-se de quem fala em demasia e sem critério.

O ato de dizer algo é precioso, desde que a Humanidade engatinhou na criação da linguagem.

Futuros ministros do novo governo abusam de falar e desdizer, na medida em que desagradam grupo de pressão ou próprio presidente eleito.

Claro que o que se questiona no futuro governo da República é mais do que o gesto e palavras desconectadas da realidade e mesmo das intenções do novo governante. 

O que se questiona é, na essência, o rumo que pretende imprimir ao País, em diversas dimensões — seja na observância dos preceitos constitucionais, no trato da soberania nacional, no manejo de reformas que retiram direitos e precarização relações de trabalho, seja também no que se refere à condução da economia.

O ultraliberalismo em toda a sua radicalidade, próprio da extrema direita mundo afora, parece ganhar aqui status de ideologia ou mesmo religião, pétrea na observância dos seus dogmas.

Entretanto, vale observar o bate cabeças quase diário entre integrantes do futuro novo ministério e o próprio presidente eleito. 

O escolhido para a Saúde, afirma e repete que deseja estabelecer reavaliações periódicas dos médicos envolvidos com a rede pública, apesar dos desmentidos do capitão Bolsonaro.

Outro antecipa o fim do ministério do Trabalho, para em seguida o chefe desdizer — não se sabe por discordância ou por recuo.

Depois de escolhido futuro chanceler, um diplomata de segundo escalão de ideias primárias e preconceituosas, não é ele mas um dos filhos do presidente que viaja aos EUA para afinar os ponteiros com o governo Trump no combate aos governos e às forças progressistas no subcontinente sul-americano

E assim por diante.

Que governo teremos? 

Provavelmente mais do que um governo direitista, submisso aos desígnios dos EUA, contrário aos interesses e aos direitos dos que vivem do próprio trabalho. Também um poço de contradições e disse que disse.

Ruim para a nação e para o povo brasileiro.

Uma festa para analistas internacionais e cartunistas e humoristas tupiniquins. 

Governo deplorável pelo que pretende fazer, pelo modo de agir e de dizer as coisas. 

Não morrerá pela boca, pois constitucionalmente terá direito a quatro anos de contradições e maldades. 

Mas com certeza fará um papelão a um só tempo doloroso e risível.

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Lição de vida


Contra a censura em sala de aula


Manual orienta como enfrentar a "Escola sem Partido"
Portal Vermelho

Mais de 60 entidades e organizações que atuam na área da educação lançaram, nesta terça-feira (27), o Manual de Defesa Contra a Censura nas Escolas. A iniciativa oferece estratégias pedagógicas e jurídicas para professores e instituições em casos de perseguições, intimidações e ataques originados em projetos ligados ao "Escola Sem Partido".

Com base em 11 casos de cerceamento das liberdades dos docentes, o manual, além de destacar formas de enfrentamento políticas e jurídicas, reforça o pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela análise de inconstitucionalidade, adiada na semana passada, da lei estadual aprovada em Alagoas (Lei 7.800/2016), que implanta projeto semelhante ao Escola Sem Partido no estado. 

Em São Paulo, entidades de professores também criaram uma frente pela defesa da educação, liberdade de cátedra e contra a Lei da Mordaça. De acordo com os sindicatos, o principal objetivo da frente é unificar a luta dos professores da rede pública e privada, e de todas as esferas de governo – municipal, estadual e federal – do ensino fundamental ao superior, com movimentos e ativistas da educação.

“Quando colocam 'Escola Sem Partido', o que na verdade querem é a ideologia deles, é o partido deles, a escola de um partido só. É matar a escola e amordaçar o professor”, diz o presidente do Sindicato dos Professores do ABC (Sinpro), José Jorge Mággio, 

Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e especialista na área, elucida que "a falta de confiança nas relações entre os atores escolares seja discutida, prioritariamente e como sempre foi, nas escolas, a partir do marco de uma gestão democrática comprometida com a defesa do direito à educação de todos e todas". 

"Qual é o papel das instituições de ensino (públicas e privadas) diante do assédio individual sofrido pelos seus professores? Há uma dimensão coletiva, da esfera do trabalho (e da justiça do trabalho), que deve ser invocada quando professores e professoras são agredidas. As escolas precisam defender seus professores de tentativas de cerceamento de suas liberdades constitucionais. No caso da educação pública, o Estado precisa começar a defender seus professores", defende Daniel Cara.

Além da Rede Escola Pública e Universidade, do QuatroV, do Coletivo de Advogad@s de Direitos Humanos e da Ação Educativa, assinam o Manual diversas associações científicas ligadas à educação, sindicatos nacionais da educação como CNTE e CONTEE e ANDES-SN, e entidades representativas das redes municipais como Undime e UNCME. Destacamos o apoio importantíssimo da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal (MPF) e do Fundo Malala.

No próximo dia 6 de dezembro as entidades sindicais divulgarão um manifesto contra a Lei da Mordaça. 
(Do Portal Vermelho, com informações da RBA e do Brasil247)

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Uma crônica (minha) para descontrair


“Minha ostra, minha vida”
Luciano Siqueira

Uma verdade absoluta, consagrada pela sabedoria popular, vira e mexe a comprovamos no cotidiano: Tem gente que morre pela boca!

Nem sempre morre, é verdade — mas passa mal.

Por pura gulodice ou por uma irrefreável preferência por certas guloseimas.

Caso da amiga que, apesar de bem posta na vida e nas relações sociais — podemos dizer, estrela no high society da classe média —, depois de não menos que dez sofridos dias de desarranjo intestinal, a ponto de emagrecer mais de três quilos e quedar com fisionomia desmilinguida, ainda convalescente, portanto, deu-se ao exagero de consumir só de uma tacada, numa manhã ensolarada em Boa Viagem, quarenta ostras!

E não eram ostras quaisquer. Importadas sabe-se lá de onde, devidamente temperadas com azeite de oliva, limão, cominho e uma pitada de sal.

Um prazer indescritível, garante. Sobretudo combinado com drinques de ciriguela.

Pois bem. A dita cuja, sem perder o charme, cabelos soltos e levemente tingidos de lilás, compareceu ao trabalho na segunda-feira pedindo perdão a Deus, aos orixás e todas as divindades que a Humanidade já criou.

É que voltara a frequentar o trono com a assiduidade e a disciplina de um suicida. Um misto de dor abdominal, gases de odor incômodo e fraqueza pálida.

— Gente, infelizmente não consigo permanecer no trabalho. Corro pra casa, ou melhor, para aquele lugar de odor desinfetante — a privada —, de onde espero retornar quem sabe depois da meia noite.

— Menina, você não se arrepende de ter cedido à tentação da Crassostrea gigas?, perguntou o colega advogado, metido a erudito em situações de sofrimento alheio.

— Nada disso, respondeu a indigitada. Por uma boa ostra vou longe, as ostras fazem parte da minha vida!

Aqui com meus botões, apenas um observador da cena, me pergunto como alguém pode se arriscar tanto a uma salmonelose? Por prazer, certamente. O risco não se mede quando não se controla o desejo.

E assim caminha a Humanidade.

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27 novembro 2018

Ridículo

‘Olavo de Carvalho, guru de Bolsonaro, diz que não existem intelectuais da esquerda do seu nível’ [Além de retrógrado, ridiculamente pretensioso].

Gesto ousado


PCdoB e PPL: unidos para superar a cláusula e fortalecer a resistência
O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o Partido Pátria Livre (PPL) emitiram comunicado conjunto em que anunciam a unidade entre as duas legendas para enfrentar o desafio de superar a cláusula de desempenho e fortalecer a oposição ao governo Bolsonaro. O caminho prático para realizar os objetivos propostos é a incorporação do PPL ao PCdoB, diz a nota. Com esse propósito, será realizada uma reunião conjunta das duas legendas no próximo domingo (2), em São Paulo.

Leia a íntegra do comunicado:

A eleição de Jair Bolsonaro, da extrema direita, coloca em alto risco a democracia, a soberania nacional e os direitos do povo brasileiro.

Face a essa realidade, impõe-se a união das mais amplas forças políticas, sociais, econômicas e culturais para empreender a resistência e exercer a oposição, tendo como convergência a defesa da democracia, da Constituição de 1988, dos direitos dos trabalhadores e dos interesses nacionais.

Diante desse quadro e visando a cumprir suas responsabilidades com o Brasil e seu povo, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o Partido Pátria Livre (PPL) iniciaram um elevado diálogo, buscando uma solução política e jurídica para atender às exigências, na forma da lei, de superação da cláusula de desempenho - e assim criar as condições para seguir cumprindo um papel relevante na busca de soluções para o Brasil, particularmente nesse período de resistência democrática em que ingressamos.

Desse diálogo frutífero, veio a convicção de que as duas legendas, em relação ao presidente eleito e ao seu futuro governo, têm o entendimento comum, a visão tática confluente de que é preciso agregar, sem hegemonismos ou imposições, um leque amplo de forças para empreender a resistência, a oposição e a luta contra o retrocesso e o obscurantismo. As conversações também ressaltaram as afinidades programáticas entre os dois partidos.

De comum acordo, as direções das duas legendas concluíram, então, que o caminho para realizar os objetivos propostos é o da unidade, cujo encaminhamento prático, legal e imediato é a incorporação do PPL ao PCdoB. Esse processo, assentado na legislação e nos estatutos das duas legendas, se efetivará simultaneamente em suas instâncias de decisão e deliberação.

Para concretizar esse processo, acontecerá, no próximo dia 2 de dezembro, uma reunião conjunta de instâncias máximas das duas legendas, na qual será comunicada a decisão tomada. O evento ocorrerá às 10 horas no auditório do Sindicato dos Eletricitários, na cidade de São Paulo, rua Thomaz Gonzaga, 50, Liberdade.

Luciana Santos
Presidenta do Partido Comunista do Brasil – PCdoB
Sérgio Rubens de Araújo Torres

Presidente do Partido Pátria Livre (PPL)

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Sob pressão rentista


A dívida pública e a tergiversação bolsonarista
O grande dilema econômico do governo Jair Bolsonaro será a forma de lidar com o Orçamento Federal. Nele, o nó górdio é a dívida pública, um sistema de empréstimo-papagaio de R$ 4 trilhões a juros que custam os olhos da cara para a população. Em resumo, ele pode ser definido como mecanismo que drena uma dinheirama dos recursos que entram nos cofres do Estado para a especulação rentista mundial.

Por Osvaldo Bertolino*, portal Vermelho

O problema ganhou dimensões gigantescas desde a instituição do controle da inflação por meio da taxa de juros, em meados da década de 1990, o que resultou da chamada “herança maldita” da “era” Fernando Henrique Cardoso (FHC).

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida pública brasileira — a soma de tudo o que o Estado gasta — corresponde a 77,3% do PIB e pode chegar a 92,7% até 2020. A dívida em si não é um problema, segundo o economista Amir Khair, mestre em finanças públicas pela Fundação Getúlio Vargas e ex-secretário de finanças da cidade de São Paulo na gestão da então petista Luiza Erundina (1989-1993). Em países como o Japão ela corresponde a 200%. A diferença é que, enquanto no Brasil essa dívida é girada com juros escorchantes, fazendo do país o paraíso da agiotagem, lá a taxa é negativa.

A aridez do assunto — que se relaciona a conceitos complexos, como superávits primário e comercial, balanço de pagamento e taxa Selic — pode afastar a compreensão popular, mas é fácil apontar suas consequências, como a elevação dos índices de violência e de pobreza, além da degradação dos serviços públicos. Contribui para isso também a forma como a mídia trata a questão, apresentando as metas macroeconômicas desse modelo de gestão da economia como passaporte para um imaginário mundo róseo.

Bolsonaro, mesmo sabendo que não tem margem de manobra para administrar esse imbróglio fora dos parâmetros do rentismo, tem tergiversado quando o assunto aparece, ziguezagueando em suas posições ao falar de temas como “reforma” da Previdência Social e privatizações, cruciais para a consecução da parte econômica do seu programa de governo, pilotada pelo “superministro” Paulo Guedes. É a receita para fazer o Estado funcionar como uma máquina a serviço do fluxo de capitais financeiros, com tecnocratas ocupando cargos centrais de poder, determinando suas metas, procedimentos e meios.

Independente dessas encenações bolsonaristas, pode-se dar como certa a repetição do resultado — talvez numa proporção maior — de outros governos que enveredaram por esse caminho, entre eles FHC no Brasil. Como lembrou o historiador Eric Hobsbawm em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo no dia 15 de agosto de 2004, a mudança para a esquerda na América do Sul, naquela ocasião, foi uma reação ao fracasso, dramaticamente evidente, da política econômica de “livre mercado”. “Sem esse fracasso, é quase certo que Lula não teria sido eleito", disse ele.

O problema precisa ser entendido em âmbito mundial, consequência da acumulação financeira que se acelerou desde que os Estados Unidos deixaram para trás preceitos da Conferência de Bretton Woods, realizada em 1944 para dar ordenamento econômico ao que se chamava de “mundo ocidental”, sobretudo com a criação do Banco Mundial e do FMI. Como informou recentemente Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, a dívida global bateu novo recorde e atingiu US$ 182 trilhões. Essa é, aliás, a causa fundamental dos grandes dilemas vividos pelas economias da União Europeia.

Paul Krugman, em recente artigo no jornal norte-americano The New York Times — reproduzido pela Folha de S. Paulo —, intitulado “Por que a economia brasileira deu errado?”, disse que uma das causas do agravamento da crise foi a intensificação da política monetária “bruscamente contracionista, elevando muito as taxas de juros”.
 
Para esse mundo da agiotagem, foi a festa, o principal fator da mais recente explosão da dívida pública. Com esse patamar de endividamento do Estado e com a facilidade do setor financeiro de esparramar capital rentista pelo mundo e manipular as economias, fica impossível imaginar algo para o Brasil, com a política bolsonarista, que não seja o início de mais um dramático ciclo de crise econômica e consequentemente social.  
 *Osvaldo Bertolino é jornalista, escritor e editor-excutivo do Portal Grabois.

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Retrocesso trabalhista


A agenda de Temer e Bolsonaro e a regressão das relações de trabalho
O receituário neoliberal do atual governo, a ser aprofundado pela presidente eleito, substitui a construção de um ambiente de trabalho digno pelo ganho indecente de produtividade.

Por Marcio Pochmann*, portal Vermelho

O ingresso passivo e subordinado na globalização durante a era dos Fernandos – Collor (1990-92) e Cardoso (1995-2002) – empurrou o Brasil para o emparedamento entre dois tipos de saídas nacionais. A primeira em referência às nações de alta renda per capita de organizada e regulada exploração econômica do trabalho por meio dos investimentos em educação, ciência e variada inovação (tecnológica, institucional, produtiva e outras) – geradora de ganhos sistêmicos da produtividade.

E a segunda saída associada aos países de baixa renda per capita deliberada espoliação econômica do trabalho que busca alcançar a produtividade espúria na forma da regressiva dos custos de produção, sem maiores investimentos em educação, ciência e inovação.

A experiência nacional do início da década de 2000, de ganhos sistêmicos de produtividade que permitiram combinar democracia com crescimento econômico e justiça social, foi interrompida com a retirada da presidenta Dilma, eleita democraticamente.

Desde 2016, uma nova convergência de interesses dominantes apontou pela via liberal da espoliação econômica do trabalho, em busca dos ganhos espúrios de produtividade.

As reformas em fase de implementação tratam da secundarização das regras de sustentabilidade ambiental, da liberalização no uso de agrotóxicos, da privatização de empresas públicas, do corte nos gastos sociais, da desregulação do trabalho, entre outras medidas.

Diante disso, o Sistema de Relações de Trabalho Corporativo (SRTC) passou a sofrer o maior e principal ataque desde sua implementação pela Revolução de 1930 que marcou a transição para a sociedade urbana e industrial no Brasil.

Ainda que o Sistema de Relações de Trabalho tenha amenizado suas características corporativas, sobretudo as de natureza autoritária com o fim da Ditadura Militar (1964-1985), parece inegável, no período recente, o avanço em direção ao modelo contratualista.

Pelo receituário neoliberal recuperado pelo governo Temer e, possivelmente, a ser aprofundado pela vertente ultraliberal do presidente eleito Bolsonaro, o trabalho deixa de ser identificado como uma espécie de mercadoria especial. Ao ser tratado como mercadoria qualquer, o segmento do mercado por onde ocorrem suas transações deixa de merecer atenção especial, conforme consagrado pela diversidade de instituições atuantes no Sistema Relações de Trabalho Corporativo.

Em síntese, a especialização própria gerada pela necessidade da regulação contratual (direito do trabalho), resolução de conflitos (Justiça do Trabalho), organização de interesses coletivos (sindicatos, diretorias de recursos humanos), fiscalização de normas e implementação de políticas públicas (Ministério do Trabalho, Secretarias Estaduais do Trabalho e Ministério Público do Trabalho), entre outras.

Em função disso, o governo Temer estabeleceu nova legislação que destrói as instituições próprias do SRTC. Com a aprovação da "reforma" trabalhista e da Lei Geral da Terceirização, em 2017, vem transcorrendo uma série de declínios, conforme registrados na negociação coletiva entre sindicato e entidade patronal, na regulação dos conflitos pelos processos na Justiça do Trabalho, na estrutura de representação de interesses através da asfixia do financiamento obrigatório, redução na fiscalização do trabalho, na expansão da informalidade e precarização das ocupações e outras situações de rebaixamento do trabalho enquanto mercadoria especial.

O próximo governo Bolsonaro aponta para a desconstituição do Ministério de Trabalho, assim como suas funções de reconhecimento das instituições de representação de interesses, da fiscalização das condições e relações de trabalho e da formulação e implementação de políticas públicas.

Na mesma direção, a introdução da carteira de trabalho verde e amarela, a prevalecer acima do que estabelece a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), tende a estimular fundamentalmente relações de trabalho de natureza contratualista.

O afastamento do caminho previsto na legislação trabalhista favorece a substituição da Justiça do Trabalho pela justiça comum e a mediação externa ao sindicato nos conflitos que se explicitam.

A desregulação neoliberal no Brasil gera ainda maior desequilíbrio na relação entre o capital e trabalho, indicando, como já observado por inúmeros estudos e pesquisas internacionais, que o caminho livre para a maior espoliação econômica do trabalho e dos recursos naturais, fontes da produtividade espúria.

Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas 

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