Nomes diferentes, resistência em comum
Zanzul Alexandre*
Neste último final de
semana encontrei, numa dessas salas virtuais que utilizamos para fazer reunião
nesse momento de isolamento, uma mulher que me trouxe muitas boas lembranças.
Há quem ainda hoje não acredite que meu primeiro nome é Zanzul, e ela foi uma
das mulheres que me ajudaram a compreender os motivos e a revolução que é
colocar um nome incomum, porém com uma origem que a maioria do nosso povo
carrega, a origem negra, africana.
Esse nome surgiu de
um conceito dos meus pais: ter filhos que mostrem para a sociedade nomes
diferentes dos ingleses, americanos e portugueses... Existem nomes de origem
iorubá, como é o do meu caso, que tem significados tão lindos como qualquer
outro nome, porém são desvalorizados por termos, ainda, uma cultura de
menosprezar tudo que vem da periferia, do povo, do negro.
Zanzul em português
significa personalidade forte, entretanto meus pais encontraram esse nome num
acaso muito oportuno: contando histórias enquanto ainda estava na barriga de
Mainha. O livro infantil se chama, “História de dois amores”, do grandioso
escritor e poeta Carlos Drummond de Andrade. Pronto, era o que faltava para
combinar um casal com uma filha e a ideia de colocar um nome diferente.
Confesso que esse
nome me deu muito trabalho na infância, porém hoje em dia acho maravilhoso, um
nome diferente, contar a história dele e o que ele significa é sempre muito
gratificante.
Há um tempo atrás
achei uma família oriunda da Síria, refugiados de guerra, que se mudaram para a
Argentina que lá se chamavam Yanzul, porém quando chegaram na imigração, em vez
do "y" colocaram o "z" e ficou exatamente como meu nome:
Zanzul. A gente se encontrou no facebook, até hoje conversamos, para eles eu
seria uma esperança da família deles aqui, porém mesmo não sendo, surgiu a
amizade virtual e eles confirmaram: todos da família tem personalidade
forte.
Ter um nome diferente
carregado de história e significados é um ato de resistência. Lembro-me
incontáveis vezes, as pessoas que mal me conheciam falando "que nome esquisito"
"muda esse nome, você tem direito sabia?!" e eu simplesmente não me
cabia, afinal como pode um nome ser tão bonito e ser tão entranho para
alguns?!
A verdade é que hoje,
entendo, assimilo e sei do que um ato de resistência é capaz de fazer. Ele muda
a percepção das pessoas no seu entorno, fazem perceber que há coisas mais
importantes para serem debatidas e defendidas. A história do povo brasileiro
vai muito mais além de um encontro feito por Portugal. Somos um país com
índios, imigrantes, um povo negro com história de resistência e muita luta até
hoje.
Por isso, que venham
mais "nomes esquisitos" pra gente resistir e contar a nossa história.
*Zanzul Alexandre é formada em Gestão de Turismo e pós-graduanda em
Sustentabilidade Urbana pelo Instituto Federal de Pernambuco.
Com um livro à mão para resistir https://bit.ly/3cAI1te
Nenhum comentário:
Postar um comentário