Uma semana marcada pelas articulações golpistas, envolvendo a Operação Lava
Jato em cumplicidade com a mídia reacionária e a fragilidade política do
governo. Ambiente pleno de riscos. Leia análise de Luis Nassif http://twixar.me/6PP
A construção coletiva das idéias é uma das mais fascinantes experiências humanas. Pressupõe um diálogo sincero, permanente, em cima dos fatos. Neste espaço, diariamente, compartilhamos com você nossa compreensão sobre as coisas da luta e da vida. Participe. Opine. [Artigos assinados expressam a opinião dos seus autores].
29 fevereiro 2016
Apesar da crise
Só em 2015, o governo federal aplicou R$ 251,7 bilhões no
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2015-2018, em parceria com estados,
municípios e o setor privado. O valor equivale a 24,2% do total que deverá ser
investido até 2018, estimado em R$ 1,04 trilhão. Leia mais http://twixar.me/7PP
Ação fascista
O Partido Comunista do Brasil-PCdoB de Sergipe repudiou o
ato de vandalismo praticado contra a sua sede estadual, em Aracaju, no último
final de semana. O muro do prédio, localizado no centro da capital, foi pichado
com a frase “Volta CCC”, numa referência ao grupo paramilitar Comando de Caça
aos Comunistas, que atuou no período da ditadura militar e foi responsável pelo
sequestro e assassinato de pessoas contrárias ao regime de exceção no
país. Leia mais http://twixar.me/PPP
Rasgando a Constituição
A Operação Lava Jato e a disseminação do fascismo
Aldo Fornazieri, no Jornal GGN
Hoje em dia é quase proibido ser petista no Brasil. Qualquer pessoa que
seja identificada como militante ou simpatizante do PT é agredida verbalmente e
corre o risco de ser agredida fisicamente. As agressões verbais de que foi alvo
Chico Buarque são apenas um exemplo do que vem ocorrendo com milhares de
pessoas pelo país a fora. Esse clima de violência verbal e física, de
linchamento, vem sendo estimulado pelo juiz Sérgio Moro, pelos procuradores da
Lava Jato, por setores da Polícia Federal, por políticos como Aécio Neves,
Carlos Sampaio e Ronaldo Caiado, por grupos de extrema direita que pedem a
volta dos militares e por setores da mídia. Petistas e simpatizantes honestos,
que não praticaram nenhum crime, são criminalizados e perseguidos por essa onda
fascista que se alastra na opinião pública.
É certo que o PT, pelos seus erros e pela arrogância exclusivista de se
pretender a expressão da verdade num passado recente, também contribuiu para a
geração desse ambiente. A virulência com que atacou Marina Silva na campanha,
por exemplo, deixou muitos ressentimentos. Mas em favor dos petistas há que se
dizer que não criaram um movimento persecutório e excludente, verbal e
fisicamente, de adversários como este que se vê agora.
A operação Lava Jato, de ação mais republicana da Justiça brasileira,
por ter prendido ricos poderosos envolvidos com a corrupção, descamba
rapidamente para uma ação persecutória a serviço de interesses partidários e
econômicos. O juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato são, cada vez mais,
a expressão de um paradoxo que mistura terror jacobino e reação termidoriana.
Em nome do moralismo, por um lado, agem cada vez mais como um grupo de
Robespierres, deixando de lado a técnica jurídica, a imparcialidade, a
prudência que se requer de suas funções e a conduta comedida. Emitem juízos e
prejulgamentos em despachos, ofícios e justificativas de operações e prisões,
promovendo uma verdadeira suspensão das garantias individuais e do direito à
defesa, atribuindo-se um poder excepcional que fere claramente o Estado de
Direito. Neste lado da coisa, é como se o juiz Moro se elevasse à condição de
“presidente do Comitê de Salvação Pública”.
Robespierre à luz do dia, o juiz Moro nega esse personagem à noite e se
transveste de Paul Barras que quer instaurar um governo do Diretório através de
um golpe de Estado para restituir o poder às elites com o apoio da Polícia
Federal. Quer liquidar toda a ameaça representada pela “revolução petista”,
pela participação do povo, coisas identificadas com a corrupção.
As decisões de Moro e de seu grupo são politicamente orientadas. As
operações visam provocar dano político ao PT e ao governo. Na semana passada
era aniversário do PT e desencadeou-se a operação para prender João Santana
logo depois deste ter-se oferecido para depor. Não foi a primeira coincidência.
Entre outras, na véspera da viagem de Dilma aos Estados Unidos em 2015,
divulgou-se que os ministros Edinho Silva e Aloísio Mercadante estariam
envolvidos com o escândalo da Petrobrás.
Moro e os procuradores assumiram um ativismo político e moral
incompatível com a imparcialidade que se espera de um juiz e do Ministério
Público. Transformaram a Lava Jato numa peneira, com vazamentos calculados,
seletivos e politicamente orientados, num conluio inescrupuloso com setores da
mídia, com o objetivo de produzir danos políticos ao governo e ao PT e de
estimular o processo de impeachment.
O caminho da violência política
A estratégia de Moro e dos procuradores consiste no seguinte: lançam-se
suspeitas, desencadeia-se operações, prende-se pessoas, promove-se uma pressão
psicológica visando delações, e, em muitos casos, quando a pescaria é frustrada
pelos fatos, liberta-se os presos sem maiores explicações. A síntese:
primeiro acusa-se, depois buscam-se provas. Na boa técnica policial e jurídica,
antes buscam-se fatos e depois acusa-se. Em muitos casos da operação Lava Jato,
isto tudo está invertido.
Por tudo o que se sabe acerca do processo penal, o Ministério
Público não pode ser visto nunca como parte formal do processo. A finalidade do
Ministério Público não é obter a condenação, mas a de conduzir-se pela
objetividade estrita dos fatos. Moro e os procuradores não só se toraram parte
da operação Lava Jato, mas se alçaram à condição de juízes subjetivos dos
suspeitos emitindo condenações, antes do devido processo legal. Moro foi mais
longe: tornou-se o juiz universal da corrupção no Brasil.
Se é verdade que o juiz precisa ter garantida a sua independência em
face do poder político e da estrutura administrativa superior do próprio
judiciário, ele está submetido também aos sistemas de impedimento e suspeições
para que seja garantida a sua imparcialidade. No caso do juiz Moro, pelos
juízos subjetivos emitidos e pelas decisões politicamente orientadas que vem
adotando, parece evidente que ele se coloca cada vez mais na linha de suspeição
de que não é imparcial. É legítimo, portanto, que se questione a sua presença
no processo.
O terror moralista dos condutores da Lava Jato e seu engajamento
político tem como face complementar o clima de linchamento político e de
violência verbal e física que cresce e se dissemina em vários setores sociais.
As pregações persecutórias dos grupos de extrema-direita a la Bolsonaro, de
Aécio Neves, de Ronaldo Caiado e de Carlos Sampaio são como a infantaria de
vanguarda das atitudes e condutas protofascitas que se verificam tanto em
setores sociais, quanto em setores de mídia. Na mídia, os suspeitos também são
previamente condenados.
As práticas fascistas se viabilizam pelas ameaças veladas ou abertas, acusações
sem fundamento, afirmações infundadas, condenações subjetivas, violação ao
direto de argumentar e interdição ao debate. Os xingamentos a quem
pondera as decisões dos operadores da Lava Jato, a quem cobra a imparcialidade
da Justiça, a quem defende a investigação igual de todos os partidos e de todos
os casos de corrupção são consequências desse movimento articulado dos
operadores da Lava Jato e do sentimento de poder absoluto que eles emanam e que
setores da mídia promovem. O estado de exceção que eles instauraram no processo
investigatório e judicial se dissemina como direito excepcional que a mídia se
dá de condenar previamente e que as pessoas se dão de agredir verbal e
fisicamente os que pensam de forma diferente sobre a Lava Jato ou que simpatizem
com o PT e o governo.
No século XX, os movimentos e práticas fascistas sempre se viabilizaram
em confronto com a lei. A violência verbal e física, o clima de linchamento
político e moral, a intepretação própria do conjunto de leis estabelecidas, a
parcialidade de juízes e de agentes públicos foram práticas que visaram negar
os consensos jurídicos, legitimar a ilegalidade e viabilizar a arbitrariedade e
o medo. Em nome da justiça e da condenação da corrupção, caminha-se para negar
a legalidade. O legado destes processos, todos sabem: é a violência política e
a desmoralização do próprio judiciário enquanto instrumento da justiça e da
legalidade. Parece que é isto o que querem os protofascistas incrustrados no
judiciário, no Ministério Público, em setores da política, da mídia e da
sociedade.
Aldo Fornazieri –
Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Leia
mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFDMesmo sob fogo cerrado...
Em qualquer cenário, seja com
Aécio Neves, Geraldo Alckmin ou José Serra como candidato do PSDB, o
ex-presidente Lula aparece no segundo turno pelo PT, segundo novo levantamento
Datafolha, com 20% das intenções de voto, em média; dados marcantes da pesquisa
são o mau desempenho dos tucanos e a rápida ascensão do deputado Jair Bolsonaro
(PP-RJ), que figura como quarto colocado; ele deve ir para o PSC para se
candidatar; em um quarto cenário com 3 tucanos na disputa, caso Alckmin se
lance pelo PSB e Serra pelo PMDB, Aécio ficaria tecnicamente empatado com Lula
na liderança, com 20 e 19%, respectivamente; Alessandro Janoni, diretor de
pesquisas do Datafolha, destaca a capacidade de recuperação do ex-presidente:
“A taxa de rejeição dele é alta hoje, mas ainda há um contingente grande (37%)
que o considera o melhor presidente que o país já teve e uma percepção do
eleitor de que haverá melhoras na economia". Leia aqui http://twixar.me/2RP
28 fevereiro 2016
Radioatividade
Há um tópico no vasto currículo da radioatividade
que nem todos conhecem: esse fenômeno nuclear, descoberto em 1896, vem, nos
últimos cerca de 100 anos, ajudando profissionais da saúde a salvar um
sem-número de vidas. Leia no artigo publicado na CH 333. Há pouco mais de 250
isótopos estáveis na natureza, e são conhecidos mais de 3 mil deles instáveis.
Entre estes últimos, pouco mais de 80 são de ocorrência natural, e o
restante é produzido artificialmente. Chama-se isótopo radioativo ou
radioisótopo aquele que é instável, ou seja, passível de sofrer um processo
chamado decaimento radioativo ou desintegração radioativa. Leia
aqui http://twixar.me/XRP
Ameaça
Após Pré-Sal, direita já possui planos de
privatizar a Petrobras = Poucos dias depois da aprovação, no Senado, do projeto do senador José
Serra (PSDB-SP) que determina o fim da participação obrigatória da Petrobras na
exploração do pré-sal, o que abre o negócio para empresas estrangeiras, a
direita brasileira, empolgada, já quer privatizar a estatal. Leia aqui http://twixar.me/SRP
Presença de Umberto Eco
Apocalípticos e integrados
Eduardo Bomfim, no portal Vermelho
O mundo
literário lamenta o falecimento do grande pensador italiano Umberto Eco
(1932-2016) e ao mesmo tempo celebra a rica produção intelectual de homem
lúcido no mundo ocidental e dos tempos contemporâneos.
Especializado
em filosofia, semiologista, medievalista, autor de vários tratados, obras de
ficção de repercussão, Umberto Eco também foi, de várias maneiras, um crítico e
ensaísta sobre a globalização, a matriz neoliberal e a ideologia dominante no
atual período Histórico que vivenciamos.
Autor de O
Nome da Rosa e o Pêndulo de Foucault, entre vários best-sellers, lançou em 2015
outro livro polêmico, Número Zero, uma narrativa ácida sobre o atual papel da
grande mídia hegemônica global.
Com
Apocalípticos e Integrados (1964) traça uma crítica à grande mídia mergulhada
numa visão elitista e nostálgica da cultura, ao tempo em que numa atitude
cúmplice divulga os produtos culturais ocultando o modo como são produzidos.
Em Número Zero
mostra como a chantagem política seria o motor de um jornal que jamais seria
publicado, mas sua edição experimental era o próprio mote de uma sórdida trama
que, embora ficcional, correspondeu, de fato, à vida política italiana no final
do século XX.
Para um dos seus personagens, essa grande mídia não é feita para revelar mas para encobrir as notícias que interessam aos grupos oligarcas que em última instância ditam as regras na sociedade.
As reflexões de Eco têm valor universal já que a preponderância das forças do Mercado financeiro, das corporações legais, ou mais ou menos subterrâneas, continuam dando as linhas editoriais da mídia hegemônica.
É o que acontece no Brasil, e na América Latina, quando os mesmos atores arquitetam o retorno econômico para a via ultraliberal e o democrático rumo a um Estado de Exceção.
Sob a idealização de que a retomada da democracia por si só resolveria os nossos grandes problemas, o País procura agora, imerso em substancial crise institucional, o norte que afirme um projeto nacional de desenvolvimento estratégico, as grandes reformas sociais inadiáveis, o Estado de Direito indeclinável, a soberania ameaçada.
Assim, nessa peleja não há uma terceira via. Ou se está com o progresso social, a autonomia nacional, ou, de um jeito ou de outro, alinha-se com o retrocesso econômico e institucional.
Para um dos seus personagens, essa grande mídia não é feita para revelar mas para encobrir as notícias que interessam aos grupos oligarcas que em última instância ditam as regras na sociedade.
As reflexões de Eco têm valor universal já que a preponderância das forças do Mercado financeiro, das corporações legais, ou mais ou menos subterrâneas, continuam dando as linhas editoriais da mídia hegemônica.
É o que acontece no Brasil, e na América Latina, quando os mesmos atores arquitetam o retorno econômico para a via ultraliberal e o democrático rumo a um Estado de Exceção.
Sob a idealização de que a retomada da democracia por si só resolveria os nossos grandes problemas, o País procura agora, imerso em substancial crise institucional, o norte que afirme um projeto nacional de desenvolvimento estratégico, as grandes reformas sociais inadiáveis, o Estado de Direito indeclinável, a soberania ameaçada.
Assim, nessa peleja não há uma terceira via. Ou se está com o progresso social, a autonomia nacional, ou, de um jeito ou de outro, alinha-se com o retrocesso econômico e institucional.
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Moro hoje como os ditadores de antes
Na República de abril
Nagib
Jorge Neto*
Nesta República do “teje preso”,
ou de “um abril sem fim”, em tempos de ditadura ou de democracia, os
intérpretes ou guardiões da lei agem quase sempre certos de que as suas
decisões ninguém questiona ou deixa de cumprir. Assim a deusa “Themis, que nada
teme” tentou reagir aos atos arbitrários do governo militar, com cassações de
parlamentares, prisões e torturas de servidores públicos, professores,
religiosos, líderes sindicais e estudantis.
Diante da violência, o presidente do Supremo, Ministro
Ribeiro da Costa, entregou as chaves ao General Presidente, Marechal Castelo
Branco, por discordar da “intenção de fazer com que o STF desse a impressão de
ser composto por onze carneiros, que expressam sua debilidade moral, fraqueza e
submissão”.
O General Castelo não aceitou o
fechamento do STF, mas sob pressão de seus aliados - Costa e Silva, Carlos
Guedes e Mourão Filho - decidiu aumentar para 16 o número de ministros. Depois
puniu os ministros Victor Nunes Leal, Hermes Lima, Evandro Lins e Silva
(cassados); Gonçalves de Oliveira, Lafayette de Andrada (saíram por discordar
das cassações); e Adauto Lúcio Cardoso (deixou a corte por discordar da
lei de censura prévia).
Na época o STF ficou com 11 ministros, que aceitaram
passivamente as denúncias, prisões, torturas, desaparecimentos e mortes em
tiroteios simulados. Os “revolucionários” aceitavam qualquer delação, prendiam
sem provas ou forjavam provas, numa espécie de aceitação do “domínio do fato”,
teoria do alemão Klaus Roxim, que exige provas e entre nós foi deformada pelo
ex-ministro Joaquim Barbosa, que condenou com base em indícios, testemunhos,
com aprovação de quase todos integrantes da corte.
Essa medida, tal como no regime
militar, vem sendo a norma das ações do juiz Sérgio Moro, dos procuradores, que
agem à revelia da lei, da Constituição, com base em denúncias típicas do regime
militar, agora sob a forma de “delação premiada”. A rigor são bandidos que
atuam na base do ouvi dizer, ou que ele ou alguém tem provas e daí são louvados
como heróis, pessoas de bem, pela mídia e pela oposição, por políticos como
Aécio Neves, Ronaldo Caiado, Roberto Freire, Jarbas Vasconcelos, Eduardo Cunha
e Agripino Maia. Eles são partidários de um golpe de Estado pelo Congresso ou
pelo Tribunal de Contas da União, com respaldo do STF – Corte com a primazia de
errar por último, segundo Nelson Hungria – e que de forma
subliminar vem tentando forçar o governo a aceitar um aumento absurdo
para os servidores do judiciário. Enfim persiste a república do “teje
preso” ou do país que começa e termina em “um abril sem fim”, visto
como um país ocupado, criticado pelo grande poeta Joaquim Cardozo.
* Nagib Jorge Neto é jornalista, Prêmio Esso
Nacional de Informação Econômica, bacharel em direito e escritor.
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Boi na linha
Agenda classista
André Singer
Ao dar
centralidade à reforma da Previdência, o governo força divisão que dificultará
a formação do pacto pró-retomada do desenvolvimento. Sindicalistas e
empresários produtivos, que haviam se reaproximado no final de 2015, tenderão a
se dividir. Não é para menos: a seguridade social está no centro da luta de
classes contemporânea.
Marx
demonstrou que, no capitalismo, a mais-valia, parcela do trabalho não paga e
que aparece sob a forma de lucro, contrapõe de modo inconciliável patrões e
empregados. Onde há venda da força de trabalho, existe exploração. Poder-se-ia
dizer, então, que o assalariamento, em si, seria o pomo da discórdia.
Ocorre
que o desenvolvimento histórico real deslocou a peleja para mecanismos que, sem
eliminar o salário, compensam parcialmente a exploração. Usa-se parte dos
fundos públicos para devolver ao assalariado algo do que lhe foi sonegado no
processo de produção. A disputa fica em torno de quanto do recurso comum será
destinado a essa compensação.
O
empresariado quer limitar a expansão do total disponível (corte de impostos) e
carrear a maior parcela do mesmo para a remuneração do próprio capital, por
exemplo, via juros (superavit primário). Os sindicatos buscam sempre aumentar a
parcela destinada a proteger os que vivem apenas do próprio labor.
Analistas
de diversas tendências advertem, sem prejuízo de alguns reconhecerem as
premissas acima, que a parcela da riqueza destinada ao fundo público tem
limitações físicas. Não adianta tentar distribuir o que não existe. Acentuam,
também, que o aumento da expectativa de vida implica gastos crescentes pelo
simples fato de as pensões terem que ser pagas por muito mais tempo. Somados os
dois fatores –disponibilidade real e envelhecimento prolongado–, concluem pela
necessidade de repactuar o tema previdenciário.
Do
ponto de vista teórico, eles têm parcela de razão. O que não nega o caráter
classista que o debate vai, inevitavelmente, adquirir. Constatado que o tamanho
relativo do bolo diminuiu, fica mais acirrada a disputa pela parte que cada um
vai receber.
Será
que o melhor momento para deflagrar este embate de soma zero –os que uns
ganham, outros perdem– é o de uma economia em profunda recessão? Não seria
melhor esperar período de expansão para, com maior margem, impor perdas menores
a quem quer que seja? Ou será que o capital avalia que, em virtude do
desemprego, a resistência do trabalho será agora menor? Neste caso, compete a
um suposto governo de trabalhadores cumprir o papel de aríete?
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Golpismo
O caminho e o desaste
Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo
O Brasil experimentou uma democracia frustradamente
reformista, passou por golpe de estado, sofreu a tragédia da ditadura militar,
voltou à democracia caótica, e chegou. Chegou outra vez aos primeiros anos da
década de 1950. O golpismo, o "entreguismo" ameaçador e a
"república do Galeão" foram os estigmas daqueles anos. O golpismo
volta no estilo PSDB; acompanha-o o "entreguismo" apontado na
retirada de pré-sal da Petrobras, aprovada pelo Senado; e a versão civil da
"república do Galeão", sob o nome insignificante de Lava Jato,
evidenciam juntos o estágio em que o Brasil de fato está.
Mas, se é desculpável a imodéstia de quem se
aproximava da vida de adulto naquela década, o pequeno Brasil que não era então
menos discriminatório e menos elitista, no entanto era mais inteligente, culto
e criativo, menos incivilizado em suas cidades e muito, muito menos criminal.
O mundo se mediocriza, é verdade. A França o prova
e simboliza. Mas o Brasil exagera, iludido por uns poucos e duvidosos avanços
econômicos. Como a indústria automobilística, por exemplo, que sufocou os
transportes públicos e deformou as cidades, dois efeitos antissociais no
sentido menos classista da palavra. A degenerescência entra, porém, em fase nova.
E acelerada.
São já os esteios do esboço de democracia a
sofrerem investidas corrosivas. Ainda que sob outras formas, são prenúncios de
repetição, se não contidos em tempo, dos desdobramentos lógicos que períodos
como os anos 50 produzem, historicamente.
É melhor, e é urgente, que se comece a forçar o
Congresso a ser menos infiel às suas finalidades institucionais e mais
responsável com suas funções, seja em apoio ou oposição ao governo. Muitos
poucos estão ali, em especial entre os deputados, para serem parlamentares.
Dividem o seu tempo entre ser massa de manobra de interesses alheios e agir por
interesses subalternos próprios. Uns e outros cada vez mais contrários à
instituição e à democracia pretendida pela maioria do país.
A ministra Cármen Lúcia foi muito aplaudida pela
invocação, em seu literário voto por liberdade biográfica, ao bordão "cala
a boca já morreu". Ninguém observou que o complemento foi omitido:
"quem manda aqui sou eu". O bordão é, na verdade, de extremo
autoritarismo. Amputá-lo valeu como definição pessoal.
Mas não é o meio bordão, é o autêntico, realista,
que os fatos já justificam: partes do Judiciário e do Ministério Público agem
como se respondessem aos direitos civis (e por tabela a quem os defenda): cala
a boca já morreu, quem manda aqui sou eu. E mandam mesmo, pela reiteração e
pela indiferença, porque as instâncias com autoridade e meios de corrigir as
deformações não o fazem, acomodadas no seu próprio poder ou intimidadas pela
parcela da sociedade adepta do bordão. E os direitos e a Justiça se esvaem.
Crises políticas não se agravam sem imprensa.
Crises econômicas expandem-se menos e menos depressa sem imprensa. Hoje em dia
a imprensa brasileira pratica uma solidariedade de modos com as deformações no
Congresso, no Ministério Público e no Judiciário. Assola-a nova onda de
relaxamento dos princípios éticos, para não falar em qualidade jornalística. E
cresce a cada dia uma grande dívida de autocrítica, para relembrar as
responsabilidades dos jornalistas profissionais. Com medo da internet, a
imprensa brasileira foge de si mesma.
O Brasil
não é bem-vindo aos anos 1950.
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Na luta
Lula, na festa de aniversário do PT, ontem, no Rio deJaneiro: “Eles pensam que, com essa perseguição, vão me tirar da luta. Eles não conhecem o PT. Se quiserem me derrotar, não vão me derrotar mentindo. Terão que me enfrentar nas ruas, conversando com o povo brasileiro”, disse Lula. “Se eles quiserem voltar ao poder, vão ter que aprender a ser democráticos, disputar eleições e acatar o resultado. Se eles quiserem, se preparem para 2018. Afiem suas garras."
27 fevereiro 2016
Boa notícia
Embraer na contra mão da crise: investe R$ 6,8 bilhões e lança nova família de jatos comerciais.
Quem é ele
. O nome dele é Newton Ishii, mas ficou mais conhecido como o "japonês da federal", porque tem aparecido em praticamente todas as fotos ao lado de empresários e políticos investigados na Operação Lava Jato. Segundo informações levantadas pelo jornalista Marcelo Auler, em seu blog, Ishii foi preso, em março de 2003, na primeira entre as grandes operações policiais do governo Lula, chamada Sucuri.
. O japonês e outros 22 agentes da PF, sete auditores da Receita Federal e três Policiais Rodoviários, junto com contrabandistas e intermediários, foram acusados de participar de um esquema, em Foz do Iguaçu, na fronteira do Paraná com o Paraguai, que permitia a entrada de veículos no país com valores altos em dólares sem o pagamento de impostos. (Brasil 247)
. O japonês e outros 22 agentes da PF, sete auditores da Receita Federal e três Policiais Rodoviários, junto com contrabandistas e intermediários, foram acusados de participar de um esquema, em Foz do Iguaçu, na fronteira do Paraná com o Paraguai, que permitia a entrada de veículos no país com valores altos em dólares sem o pagamento de impostos. (Brasil 247)
26 fevereiro 2016
O peso da juventude
UJS: com nossos princípios, pelo Brasil
Nilson Vellazquez, em seu blog
Nestes momentos, as ideias são como bússolas. Umas a indicar
orientação firme e duradoura; outras, impotentes frente à violência do
maremoto, conduzem para o naufrágio
Aldo Rebelo - primeiro presidente da UJS
Em meio à
gravidade de crises como a que o Brasil vive atualmente, cujos riscos de
desmantelamento da economia nacional, de perda de direitos conquistados a duras
penas e, principalmente de perda dos direitos democráticos, é muito comum,
sobretudo entre os mais jovens, reações radicalizadas, longe do equilíbrio
necessário para entender a natureza da crise. De um lado, aqueles que sucumbem
às pressões da ideologia neoliberal, que, no caso do Brasil atualmente ignoram
os fatores externos e atribuem todas as mazelas ao "mal da
corrupção"; do outro, os que acreditam que uma "guinada à
esquerda" que faria todas as mudanças que os povos e trabalhadores
precisam depende única e exclusivamente da vontade, desprezando-se a correlação
de forças e as idiossincrasias nacionais e sua história.
A UJS, organização de jovens fundada em
1984, assim como o PCdoB, nunca agiu para que fossem agradados os ânimos do
senso comum, mas em comunhão com seus princípios, de defesa da juventude, do
socialismo e do Brasil. Esses princípios permitiram que durante, seus mais de
30 anos de história, essa organização, embora jovem, buscasse o equilíbrio,
ousadia e táticas corretas para enfrentar os desafios de seu tempo. Segundo
Aldo Rebelo, "a UJS nasceu como necessidade da retomada de um projeto de
organização da juventude em torno das ideias avançadas, da luta pela
democracia, pela independência nacional e pelo socialismo."
Esses princípios permitiram que a UJS,
sempre que necessário, assumisse a linha de frente nos mais variados episódios
da história recente de nosso país em que foi chamada à luta. Mesmo que vários
brasileiros tenham sucumbido à micropolítica da "popularidade", ou às
pressões midiáticas que diuturnamente jogaram contra os projetos de mais
liberdade, justiça social e soberania nacional.
Assim, sem titubear, a UJS apoiou a
candidatura de Lula em 89, assim - entendendo o papel central da defesa da
soberania nacional - promoveu diversas campanhas em defesa da Amazônia, assim
defendeu o impeachment de Collor, por entender o projeto que o mesmo tentava
aplicar - o neoliberalismo. Foi através da prática que foram demonstrados os
princípios em defesa do socialismo, nos diversos atos anti-imperialistas,
contra a guerra do Iraque, contra G.H Bush, etc.
Essas decisões políticas estão
centradas num inquebrantável sentido de classe dado às decisões políticas que a
organização toma. É na justa comunhão das palavras juventude, socialismo e
Brasil que se impulsiona a defesa de Lula, da figura valiosa que o mesmo
representa para o Brasil, para a esquerda e para a juventude. Foi por entender
o caráter de classe das lutas políticas travadas no Brasil desde a eleição de
Lula que defendemos o seu governo em 2005 no auge da crise do mensalão.
Por isso, mais do que nunca, as ideias
são como bússolas. Em tempos de dificuldade, ter certeza do projeto que
pretendemos construir é central, para não sucumbir a posturas liberais,
esquerdistas ou pragmáticas. Os princípios de classe, anti-imperialistas e nacionalistas
precisam estar acesos para fazer explodir ainda mais a vontade de milhares de
jovens invadirem as ruas em defesa do Brasil. Dias assim valem por anos.
Exércitos como a UJS valem por milhões. Com nossos princípios, pelo Brasil,
vamos à luta!
Bom sinal
O
comércio eletrônico registrou crescimento nominal de 15% no faturamento,
movimentando R$ 41,3 bilhões em 2015. A previsão é que, até o fim do ano, o
e-commerce nacional fature R$ 44,6 bilhões, o que representa um acréscimo
nominal de 8%, em relação ao período anterior, de acordo com a 33ª edição do
relatório WebShoppers, elaborado pela E-bit/Buscapé http://migre.me/t6haT
25 fevereiro 2016
Anti terror?
Os deputados rejeitaram, nesta quarta-feira (24), o texto do Senado ao projeto antiterrorismo, mantendo o texto aprovado pela Câmara em agosto do ano passado. O projeto tipifica o terrorismo como a prática, por um ou mais indivíduos, de atos por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia ou religião. A bancado do PCdoB rejeitou o projeto do Senado, mas critica a nova lei. Leia aqui http://migre.me/t68jb
"O petróleo é nosso"
Petrobras é do povo
Jandira Feghali, no portal Vermelho
“O que será
da Petrobras?”, questionam muitos. Ler os jornais faz crer que a estatal, uma
das maiores petrolíferas do mundo e com reservas para mais de quatro centenas
de anos, está próxima da derrocada. Depreciação que só interessa à oposição
entreguista e às empresas estrangeiras. É o motivo da pancadaria sistemática.
É uma
imoralidade alegar que a estatal – maior vítima de uma operação construída de
forma subliminar a atingir o Governo Federal e a Esquerda brasileira – tenha se
desvalorizado. Empresa forte e estratégica, a Petrobras impulsionou o Brasil a
patamares exclusivos de autossuficiência energética e soberania a partir dos
governos Lula e Dilma.
Alcançou
esse cenário confortável e de respeitabilidade internacional com investimentos
diretos. Os que se assustam e alardeiam a dívida da Petrobras se esquecem que
ela é fruto de uma estratégica guinada para potencializar suas atividades em
território nacional e internacional, com visão de futuro – e isso incomoda
muita gente. Não só aqui, mas em vários países desenvolvidos, essas empresas
são parte central da estratégia de poder da nação. Aqui, a mesma prática é
vista com um desprezo cínico e oportunista.
Em 2002, no
pós-FHC, nosso país ainda era covardemente dependente de energia importada da
Bolívia e da OPEP. Era explícito que o governo tucano resultou em desastre no
que se refere à estatal. Sua inabilidade na condução das políticas de matriz
energética no país durante a década de 90, aliada ao entreguismo do patrimônio
nacional, fez da Petrobras um gigante de “pés de barro”. Éramos dependentes de
tudo nesta época quanto à geração de energia, por exemplo, reféns de
fornecedores externos e até da boa vontade de “São Pedro” para sustentar nossa
principal matriz hidroelétrica.
O que se
seguiu na gestão de Lula foi a aposta no conteúdo nacional e o fortalecimento
da estatal como motor do desenvolvimento nacional. Ampliação de recursos na
estatal, aumento da competitividade no mercado externo, a construção de uma
malha de dutos ampla, como o gasoduto-tronco que interliga todo o território
nacional (do sul à Fortaleza), o aproveitamento de grandes reservas de óleo e
gás natural das águas ultra-profundas que banham Sergipe, três terminais de
regaseificação, um gasoduto de 650 km através da floresta amazônica ligando as
reservas da Província de Urucú a Manaus e as imensas e famosas reservas do
pré-sal no litoral atlântico. Isso é apenas parte dos avanços obtidos.
Ainda há
uma imensa rede de pesquisa em parceria com universidades públicas para
química, gás, petróleo e engenharia e, até 2019, estima-se investir mais de R$
400 bilhões em seu Plano de Negócios. Mais de 80% direcionados à exploração e
produção da matéria prima, inclusive no exterior, além de abastecimento
interno. A saúde da Petrobras é um pesadelo para quem aposta contra, mas os
ataques se sucedem.
Há alguns
meses, tucanos tramam por meio de projeto do senador José Serra, a modificação do
regime de participação da Petrobras no pré-sal. O mesmo senador que manteve
conversas com a petrolífera Chevron vazadas na internet, em acordo para venda e
ataques à estatal. Na Câmara tentam aprovar um projeto que acaba com o avançado
marco regulatório da partilha. Essas iniciativas integram o pacote de maldades
da oposição com sua desestruturante agenda neoliberal contra o Estado
brasileiro, e vale ressaltar: derrotada nas urnas. Querem impor o projeto
deles.
A bancada
do PCdoB se articula contra essa tentativa e disputará a opinião pública com
coragem e altivez, porque acredita no desenvolvimento do país através de
patrimônio nacional forte, consolidado e competitivo.
Se hoje
alguns jornais contam mentiras em prol de um projeto neoliberal, amanhã os
livros de história revelarão todas elas.
Agenda regressiva
Aprovar na surdina projetos que fragilizam as estatais
brasileiras e abrem caminho para a privatização parece ser a orientação no
Senado Federal. Entre as prioridades da Casa estão a votação dos Projetos de
Lei do Senado (PLS) 555 e 131, este de autoria de José Serra (PSDB), que poderá
ser votado nesta quarta-feira (24). Representantes do movimento social
denunciam a falta de debate. Na opinião deles, é o retorno da pauta neoliberal.
Leia aqui http://twixar.me/SXP
Mídia cúmplice
Miriam Dutra abre o quarto de despejo dos anos 90
A
cumplicidade entre o dinheiro, a soberba e a mídia contém uma atualidade
demolidora. A mídia foge desse garimpo porque é parte indissociável da lama.
Saul Leblon, na Carta Maior
Por que só
agora que o PT está a um degrau do cadafalso?
A suspeição
que o jornalismo tucano consegue balbuciar em meio às alvejantes declarações de
Mirian Dutra sobre a parceria público privada para silenciá-la no governo FHC,
carrega um efeito bumerangue demolidor.
Pode ser
respondida com uma arguição.
‘Quem
publicaria antes, a história que furou um cerco de 23 anos de obsequiosa
cumplicidade da mídia brasileira com esses acontecimentos, para somente agora
vir a público num relato demolidoramente crível? (‘Só eu tenho condições de
levar este país’, dizia o príncipe à jovem plebeia, há um mês da conquista).
Mirian Dutra abriu o quartinho de despejo dos anos 90. E
mostra o que tem lá dentro.
Sua fala carrega a credibilidade de quem –convencida ou
conivente-- fez parte do acervo.
O que avulta nessa visitação retrospectiva são os
bastidores de um projeto de poder e de interesses que se blindaram para mudar a
lógica do desenvolvimento brasileiro.
‘Coveiros do ciclo Vargas’ não era assim que se jactavam aos
mercados? Terceirizar o timão brasileiro ao mercado internacional
requeria um método para vencer a travessia politicamente espinhosa.
O método, baseado num pacto granítico entre a mídia, os
interesses afluentes e o vale tudo ético, é o que guarda o quartinho escuro
escancarado agora.
Mirian, num dado momento, tornou-se um cisco no olho guloso
do visionário do neo- renascimento bancado pelo capital financeiro global, e
que se via como o Micheangelo Buonarroti da Capela Cistina brasileira.
Foi preciso expurga-la. O que se fez com a mesma
determinação ética e a coesão grupal dos interesses que se fundiram na
travessia preconizada para o país.
Surpreende que a mídia isenta tenha fugido dessa personagem
por 23 longos anos, dispensando-lhe uma mordaça de silencio e
dissimulação conivente?
Que veículo ou editor da chamada grande mídia teria bancado
antes, e com o destaque merecido, a nova e demolidora entrevista concedida pela
ex de Fernando Henrique Cardoso, neste final de semana, a um veículo alternativo?
Será necessário lembrar que na anterior, feita pela Folha de
São Paulo, perguntas e nominações essenciais envolvendo a mídia foram
evitadas?
E que depois disso o veículo dos Frias –cumprida a
formalidade das aparências— suprimiu o assunto da primeira página mostrando
estranha inapetência investigativa diante de pautas que gritam?
Quais?
Por exemplo, a história do jornalista lobista, já
falecido, Fernando Lemos. Personagem expressivamente próximo de FHC, cunhado de
Mirian Dutra, foi ele que mediou a participação da Brasif na operação para
tirar Mirian do país e assim salvaguardar o tucano de constrangimentos na
reeleição.
Lemos fez dinheiro no governo FHC com serviços de
consultoria. Muito dinheiro. Participou do círculo estrito do poder que decidia
inclusive as campanhas políticas de FH. Sua viúva, Margrit Schmidt,
segundo a própria irmã contou ao Diário do Centro do Mundo, possui
‘apartamentos, um terreno em Trancoso que vale ‘um milhão’ e conta
no Canadá’.
Mas ainda recebe recursos públicos como funcionária lotada
no gabinete de José Serra, onde nunca comparece. Resquícios da ‘modernização’
das capitanias hereditárias pelo avanço neoliberal.
Eterno aspirante à presidência da República, Serra se
declara velho amigo e parceiro de ideias da funcionária-fantasma, que
brada contra a corrupção e a ‘corja’ do PT’ no
facebook. Serra também é amigo muito próximo do pecuarista Jonas
Barcellos, que bancou Mirian e ganhou rios de dinheiro
com o monopólio dos
freeshops no governo do PSDB.
Guarda esse tipo de álbum de recordações o quartinho de
despejo dos anos 90 agora entreaberto, mas que a mídia quer lacrar e implodir.
A indiferença ética, o tráfico de influência e a
lubrificação do dinheiro público a serviço do interesse particular condensados
no episódio Mirian Dutra, não formam, como se vê, um ponto fora da curva
no modo tucano de governar as relações entre Estado e mercado; entre
capitalismo e democracia, enfim, com papel subalterno ao segundo elemento da
equação.
Se pouco disso transparece ainda no debate político, deve-se
ao protagonista ubíquo dessa trama.
A mídia figura como o grande Rasputin a coordenar os
personagens desse ambiente farsesco em que as aparências não apenas são
avalizadas, mas diretamente modeladas, conduzidas mesmo pelo poder midiático
até a asfixiante rendição à narrativa pronta nas redações.
Ou Mirian Dutra não foi ‘induzida’ a dizer à Veja a frase
para a qual Veja já tinha espaço, lugar e título, antes que a personagem
soubesse que sua boca iria emiti-la?
Esse o paradigma da isenção que ordenava e ainda rege o
sistema do monopólio emissor consolidado sob as asas do ciclo do PSDB na presidência
do Brasil.
O maior conglomerado de comunicação do país e a principal
revista semanal do mercado brasileiro –as Organizações Globo e a semanal Veja--
não apenas informaram um script conveniente à reeleição de FH.
Elas ajudaram ativamente a produzi-lo --a exemplo do que fez
a Folha nos anos 70, quando cedeu carros à repressão.
O tour de
force para despachar Mirian é só um exemplo em ponto pequeno do
empenho que movimentou grandes massas de interesses para o ciclo privatizante
que viria então.
Nenhuma delação extraída pelo método da chantagem
coercitiva, tão bem manuseado pela República do Paraná, carrega a delicadeza
convincente desse desabafo –ao que tudo indica apenas iniciado—de uma mulher
que talvez não tenha mais nada a perder.
Recém demitida pela Globo, Mirian provavelmente perdeu
também a mesada que recebia de FHC e viu a relação com o filho ser trincada
pela intempestiva intervenção do tucano que –em troca de um DNA polêmico--
supriu Tomás com mesada própria, comprou-lhe um apartamento, pagou-lhe os
estudos em caras universidades norte-americanas.
A mãe do filho que FHC lhe dizia que não poderia ter em seu
nome decidiu agora reagir com o que tem de mais letal: a memória.
Mirian Dutra apenas começou a falar. Parece que tem muito a
dizer: ’Serra eu conheço bem...’, cutucou de relance na última entrevista.
Desde o início desse episódio Carta Maior tem insistido em
que as relações entre um homem e uma mulher formam um assunto privado.
Mas a participação da mídia, de concessionárias públicas,
bancos estatais e paraísos fiscais no caso fazem dele um tema público.
Foi a cobiça e a ganância econômica que
politizaram o encontro entre o sociólogo cinquentão e a jornalista jovem;
não o inverso.
A descrição impressionantemente crível, repita-se, do
método tucano que Mirian Dutra relata em detalhes dá materialidade a tudo o que
o PSDB ora denuncia e atribui aos adversários, sobretudo ao PT.
É um revés de dimensões esfarelantes.
As revelações em conta gotas trazem um olhar de dentro do
fastígio das elites no poder nos anos 90.
Um olhar de alguém que circulou nas vísceras do condomínio
cristalizado na farra da privatização, quando se desferiu um dos mais
virulentos ataques à luta pelo direito a um desenvolvimento justo e
soberano.
Conhece-se o custo contábil do desmanche patrimonial que
fragilizou a capacidade articuladora do
Estado e definhou a governabilidade
democrática, subordinada desde então à supremacia dos capitais
desregulados.
Abre-se a possibilidade agora de se iluminar o
interior da engrenagem rapinosa.
Não para produzir uma arqueologia do revide.
Não para se nivelar ao vale tudo dos que buscam aniquilar
as forças e lideranças empenhadas na reversão do desmonte para construir
uma democracia social no coração da América Latina.
O que está em jogo não é o passado; é a urgência de se
devolver esperança ao futuro.
O passo seguinte do desenvolvimento brasileiro enfrenta uma
encruzilhada histórica. Um ciclo de crescimento se esgotou; outro precisa ser
repactuado em novas bases.
Muitos dos personagens e interesses econômicos que atuaram
no episódio Mirian Dutra – FHC, Organizações Globo, Veja, Jorge
Bornhausen, José Serra etc— compõem a linha de frente da
ofensiva conservadora atual, determinada a retomar o poder, custe o que custar,
para concluir o serviço dos anos 90.
O mapeamento dessas peças do xadrez ganha luminosidade
desconcertante nas revelações de Mirian Dutra.
Elas permitem recompor a seta do tempo que une a lógica e a
ética dos anos 90 ao projeto intrínseco ao golpismo em 2016 .
Detalhar essa cruzada é uma das tarefas jornalísticas
mais importantes do momento.
A ela se debruça Carta Maior na matéria ‘Lei para
Todos’, desta edição.
Estão radiografados ali elos explícitos e
dissimulados.
É impressionante como os elementos se interligam e
convergem, muitas vezes para um mesmo espaço: os paraísos fiscais:
FHC, Brasif, negócios e propriedades dos Marinhos, BNDES,
lobistas, empresas de fachada, mansões, helicópteros e personagens referenciais
da extrema direita brasileira, como Jorge Bornhausen.
O colunismo da indignação seletiva não fará esse garimpo do
qual é a parte mais comprometida cascalho.
O ressentimento autoexplicativo de Eliane Cantanhede (‘ que
sempre soube dessa história’, fuzilou Mirian Dutra) mostra como o jornalismo
‘isento’ sentiu o golpe de uma peça lateral do acervo, que mobilizou a parte
graúda do tabuleiro para ser deslocada há 23 anos, e agora volta ao jogo
revirando a mesa.
Ao falar é como se Miriam gritasse: 'O Rei está nu'.
Não só ele, porém; toda a corte ao seu redor e, sobretudo, o
seu projeto de volta ao poder.
Daí o alvoroço dos mensageiros do trono.
Rodolfo
Foto: DP
Lamento a morte, ontem, do artista plástico pernambucano Rodolfo
Mesquita. Permanece viva sua singular e arrojada obra.
Quase milagre
A ligeira melhora – de 8,8 a
11,4% - na avaliação do governo Dilma, na última pesquisa CNT/MDA, chega a ser
uma proeza, tamanha a carga diária de combate em todas as mídias.
Reincidentes
Circula que a banda do PMDB liderada por Eduardo Cunha
estaria estudando novo pedido de impeachment da presidenta Dilma, com base nas
denúncias contra o publicitário João Santana. Articulações com o PSDB e aliados
estariam em andamento. Golpismo explícito.
Debater e resistir
Nossa sina, nosso rumo
Luciano Siqueira, no portal Vermelho
Não está fácil, amigos: as vinte
e quatro horas do dia, por todas as mídias, a ofensiva da direita é total.
Feito operação militar de cerco e aniquilamento.
O mote inarredável é: o Brasil
vai inevitavelmente para o buraco, a culpa é da presidenta Dilma, as finanças
públicas estão falidas porque o PT roubou as estatais e até o galinheiro do
vizinho!
Tem comentarista de rádio que
começa assim: “Este é mais um caso de deterioração de nossa economia, vou
explicar... Mas é preciso dizer logo: a culpa é do governo” e por aí vai.
A crise global, para estes, é
como se não existisse. Toda a desgraça se passa tão somente aqui.
Os jornais trazem em si um
defeito congênito: abandonaram a notícia e se assumiram propandista das oposições e do mau humor.
Ora, que tomem partido e façam a
campanha oposicionista que optaram por fazer. É lamentável mas até compreensível,
desde que o fizessem com um mínimo de honestidade intelectual e respeito pelo
leitor, telespectador, ouvinte, internauta.
O consolo é que, dialeticamente,
não se afirma consistentemente uma opinião sem confrontá-la com o seu oposto.
Essa cantilena parcial e monocórdica tem alcance limitado na formação da
consciência social.
Basta lembrar que o consórcio
tucano-midiático perdeu quatro eleições presidenciais seguidas, a despeito do
grandioso e sofisticado aparato mobilizado.
Impõe-se o desafio da luta no
terreno das ideias.
Ao militante do PCdoB, então,
essa luta implica pauta ampla, complexa e ao mesmo tempo passiva de ser
abordada de modo compreensível.
Vai desde a peleja pelo
socialismo com feição teórica e política atualizada ao exame dos fatos cotidianos,
passando pela defesa da democracia e do mandato da presidenta Dilma, sem
entretanto abrir mão de nossa opinião crítica.
Defender e desenvolver a teoria
marxista é uma exigência da época atual - proclamou João Amazonas em artigo na
revista Princípios número 20, em plena débâcle da ex-União Soviética.
O militante há de viver pedagogicamente,
a partir da experiência concreta do dia a dia, junto ao povo, a aventura de
conectar fatos locais com o que ocorre em âmbito nacional, identificando nexos
e revelando o sentido geral dos acontecimentos – ensinava Lênin.
Enfim, amigos, a luta no terreno
das ideias é hoje indispensável e decisiva, ao lado da luta social propriamente
dita e da ação nas diversas instâncias que convencionamos chamar “institucionais”.
Escrever é preciso. Debater é
preciso. Esclarecer é preciso. Mobilizar é preciso.
Resistir agora, juntar forças e
passar à ofensiva adiante. É a nossa sina e o nosso rumo.
Nas redes, nos salões e nas
ruas.
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24 fevereiro 2016
Defender a Petrobras
Uma luta urgente e necessária
O plenário do Senado
aprovou na noite de ontem (23) a manutenção do regime de urgência do PLS
131/2015, de autoria do senador José Serra (PSDB/SP). O PLS prevê, dentre
outras coisas, a retirada da garantia da Petrobras atuar como operadora única
da exploração do petróleo nos contratos futuros do pré-sal. Não há dúvida que a
aprovação deste projeto não traz nenhum benefício para a Petrobras e para o
Brasil.
Por André Tokarski*
“A Petrobras, desde a sua criação, foi mais
que uma empresa pública. Surgiu como um emblema da nacionalidade, a sigla
mística que podia abranger e reunir o maior número possível de brasileiros
fiéis à sua pátria. Petrobras era um símbolo que, por si só, despertava
emoções, como se a sua missão fosse a de acender estrelas, para iluminar o céu
do futuro do Brasil”. (Barbosa Lima Sobrinho)
A
pretexto de defender os interesses da empresa, os que buscam retirar a
Petrobras da exploração do petróleo no pré-sal querem é enfraquecê-la. As
imensas jazidas de petróleo localizadas na região do pré-sal são a garantia de
que a Petrobras terá reservas de comprovada produtividade para explorar pelo
próximos 20 anos. Uma empresa produtora de petróleo vive de produzir petróleo e
de buscar repor suas reservas. Por que então retirar essa garantia da
Petrobras?
Não há
nenhuma vantagem tática, muito menos estratégica, na aprovação deste projeto. O
PLS 131/2015 é parte de um pacote de medidas que visam implementar a chamada
“Agenda Brasil”. Nesse pacote incluem-se a autonomia do Banco Central, o PLS
555/2015, que prevê a venda de parte de todas as estatais ao mercado de
capitais, o PL 4330/2004, da terceirização e precarização do trabalho, entre
outros. Aprovar o PLS 131/2015 é dar força para setores da oposição de direita
avançarem em sua agenda neoliberal, além de fragilizar e dividir a base de
apoio ao governo Dilma no Senado. Dilma se comprometeu publicamente em
preservar as regras do regime de partilha, foi um dos principais compromissos
de sua campanha de reeleição.
É
inoportuna também a proposta de flexibilizar a participação da Petrobras no
pré-sal, deixando a cargo do Conselho Nacional de Política Energética definir
quais blocos a estatal seria operadora ou não. Por mais bem intencionada que
seja tal medida, ao deixar a decisão ao governo de ocasião, abre um perigoso
flanco no caso de uma vitória da direita nas eleições presidenciais de 2018. Os
interesses da Petrobras e do país estariam igualmente prejudicados.
Poderia
se argumentar que tal medida visa acelerar a exploração de petróleo no pré-sal,
ao desobrigar a Petrobras de atuar enquanto operadora única. Ocorre que em
nenhum lugar do mundo está se planejando aumentar a produção de petróleo neste
momento. Pelo contrário, Rússia e Arábia Saudita, dois grandes produtores
mundiais, debatem o congelamento da produção e até a redução da oferta, como
meio de recuperar o preço do petróleo no mercado internacional.
A
aprovação do PLS 131/2015, portanto, não se relaciona com a necessária agenda
da recuperação da economia brasileira. Num momento de baixa de preços no
mercado internacional os planos de expansão da produção estão praticamente
paralisados. O principal objetivo das grandes petroleiras no curto prazo é
assegurar novas reservas, para voltar a aumentar a produção quando os preços do
petróleo retomarem uma trajetória ascendente. Portanto é falso o argumento de
que retirar a Petrobras da operação do pré-sal pode reaquecer a indústria de
petróleo e gás no Brasil e ajudar na retomada do crescimento.
Outro
dado flagrante do excesso de oferta de petróleo no mundo, e que atinge o
Brasil, foi a baixa procura pelos blocos exploratórios ofertados na 13ª Rodada
de licitações da ANP, realizada em outubro de 2015. Apenas 14% das ofertas
foram arrematados.
A
pauta prioritária e emergencial para retomar a indústria de petróleo e gás e a
indústria naval, e preservar os milhares de empregos que estas geram, é aprovar
a MP da Leniência e impedir a falência das grandes construtoras envolvidas nos
escândalos da Petrobras, sem prejuízo da punição individual aos agentes que
praticaram atos ilícitos.
A
Petrobras foi envolvida no epicentro da grave crise política que o país
atravessa. É vítima dos desvios cometidos há quase duas décadas por alguns de
seus ex-dirigentes e por empresários. Deve ser ressarcida e não punida. A
jogada no Senado aproveita a fragilidade passageira da empresa para justificar
um atentado aos seus interesses e aos de seus verdadeiros acionistas, o povo
brasileiro.
Como
defende o Programa Socialista do PCdoB, “o Brasil vive uma encruzilhada
histórica: ou toma o caminho do avanço civilizacional, ou se submete ao jugo
das grandes potências e à decadência socioeconômica.” A defesa da Petrobras e
do pré-sal é uma batalha incontornável para o caminho de um Brasil soberano e
desenvolvido.
*André Tokarski é secretário de Juventude e de Movimentos Sociais do PCdoB
*André Tokarski é secretário de Juventude e de Movimentos Sociais do PCdoB
Leia mais sobre temas
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Encarando as dificuldades
Palavra altiva em tempo de crise
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Dias atrás, em artigo no jornal
O Globo, Paulo Nogueira Batista Jr., vice-presidente do Novo Banco de
Investimento, advertiu sobre o pessimismo exagerado predominante na cena
brasileira, em face da crise atual.
Segundo ele, “o
país, que há poucos anos era um sucesso internacional, parece ter perdido a
autoconfiança definitivamente. Esquece seus pontos fortes e proclama aos
quatro ventos seus pontos fracos. E, pior, demonstra satisfação
masoquista em proclamá-los. Em outras palavras, o complexo de vira-lata
voltou com força total. Era de se esperar. Um complexo assim secular não se
supera num passe de mágica, em poucos anos de sucesso.”
Ora a crise é global, pior do
que a grande débâcle de 1929, entra em sua quarta fase, atinge duramente os países
emergentes, inclusive o Brasil. Exige análise multilateral e, sobretudo,
atitude combativa.
Ontem, no Recife, na solenidade
de posse do novo presidente da seção regional do Sinaenco (Sindicato Nacional
das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), tivemos uma mostra dessa
atitude aguerrida tão necessária.
O presidente empossado,
empresário Pedro Pereira, em seu discurso – uma peça consistente e de elegante
estilo – após registrar a gravidade da situação econômica atual, que atinge
inclusive o setor (38.601 postos
de trabalho extintos em todo o país em 2015), sugeriu a seus pares “não vestir
a roupa da crise”.
Para Pedro, “deixar–se
levar pelo redemoinho que a crise causa é se entregar às suas consequências,
permitindo que destrua os nossos ativos pessoais,familiares,profissionais,
empresariais e sociais.”
“Vamos
aproveitar a crise como uma grande oportunidade para criar soluções inovadoras,
deixar morrer o velho e suas mazelas para que o novo surja pujante em outro
patamar de evolução dos preceitos econômicos, ambientais, sociais,
empresariais, profissionais e pessoais.”, disse ele.
E a palavra do
presidente do Sinaenco não é apenas retórica.
Ele anunciou
ontem a instituição do Concurso “Projeto de Intervenções Urbanas Não Solicitadas”,
destinado a “lançar um olhar para a cidade do Recife e propor projetos de intervenções
urbanas com foco em dois cenários: na estruturação de espaços urbanos para
práticas esportivas, de lazer e de educação, visando a transformação social da
comunidade do seu entorno; e na melhoria da mobilidade urbana e transformação
de Recife numa cidade mais saudável.”
Serão premiados
os três melhores projetos, segundo avaliação criteriosa, em parceria com o CREA
e o CAU.
Um belo exemplo
de atitude proativa.
Um sinal de compromisso
com o desenvolvimento de uma cidade mais humana - economicamente progressista, fisicamente
organizada e socialmente justa.
De fato, ao
invés de “vestir a roupa da crise”, cabe a cada um contribuir para superá-la,
contornando a instabilidade política e unindo forças pela retomada do crescimento
econômico a partir da correta exploração de nossas imensas potencialidades.
Leia mais sobre
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Sem caos
A situação da economia
brasileira é difícil, mas está longe do caos. Esta foi a conclusão dos
economistas Luiz Carlos Bresser-Pereira, Leda Paulani e Guilherme Mello, que
participaram, segunda-feira (23), do Ciclo de Debates Que Brasil é Este?.
Cada um deles, contudo, apresentou seu próprio diagnóstico para a crise atual e
propôs distintos caminhos para enfrenta-la. Leia aqui http://twixar.me/czP
23 fevereiro 2016
Semeando o fascismo
Como a mídia cria os fanáticos da Lava Jato
Doutor Sérgio Moro. É assim que muitos incautos pelas ruas se referem ao
juiz que comanda a ação persecutória que recebeu o nome de “Operação Lava
Jato”.
Por Osvaldo Bertolino*, no portal Vermelho
Há um
culto ao doutor no Brasil, especialmente nas camadas médias, envolvidas por
lances patéticos da mídia para divertir o público, como se neles não estivesse
hipotecado nosso futuro como nação. Cria-se, desse modo, legiões de incautos,
cegos e fanatizados, sem a menor noção do que há por baixo de um tapete
cuidadosamente vigiado pelos setores dominantes da sociedade.
Essa
fanatização tem a finalidade de conter o crescente questionamento ao poder
inflado dos setores ideologicamente dominantes, tendência que vem da Abolição,
da Independência, da proclamação da República e da Revolução de 1930. O ciclo
de governos Lula-Dilma deu mais um impulso nessa
tendência ao engajar milhões
de brasileiros que se multiplicavam à margem da sociedade organizada, sem
cidadania e sem poder aquisitivo, ao universo político e econômico do país.
Povo
empreendedor e criativo - Culturalmente, por mais
que certos historiadores e antropólogos digam — corretamente, registre-se — que
nossas antigas raízes coloniais e escravistas continuam crescendo, já mudamos
muito. Somos hoje um povo empreendedor e criativo na vida cotidiana; um povo
informal, iconoclasta, sempre propenso a diluir hierarquias rígidas de status
ou de função. Mas os “doutores” não estão dispostos a entregar a rapadura.
Um
caso recente, que ganhou certa repercussão na mídia, explica porque figuras
obscuras, como Sérgio Moro, de uma hora para outra são alçadas à condição de
autoridade suprema, com direito a pisotear as leis e garrotear o Estado
Democrático de Direito.
Trata-se
do juiz Antônio Merreiros, de São Gonçalo (RJ), que entrou na Justiça exigindo
ser tratado por “senhor”, ou “doutor”, pelos porteiros do prédio onde mora e
ganhou a causa. Se um porteiro tiver a pachorra de chamá-lo de “você”, terá de
pagar multa de 100 salários mínimos. Merreiros (doutor Merreiros, desculpem)
teria dito: “Doutor é uma palavra que significa pessoa formada e é assim que
quero ser chamado.”
Origem
no passado escravagista do país - Antes
de prosseguir, é preciso esclarecer, embora sucintamente, o conceito de
“doutor”. Segundo o doutor Cláudio Moreno, do site “Sua Língua”, só pode ser
chamado assim aquele que cumpriu as etapas constantes no curso de doutorado,
incluindo a defesa de uma tese original diante de uma banca composta por cinco
outros doutores. Fora do mundo acadêmico, ainda segundo o doutor Cláudio
Moreno, são também chamados de “doutores” os médicos e os advogados.
De
acordo com ele, isso deve ser resquício do ensino colonial, quando os jovens
brasileiros abonados iam à Europa estudar medicina e direito. Hoje em dia, em
um ambiente em que historicamente pouca coisa acontece sem a marca da
discriminação social “doutor” também é qualquer um com algum estudo ou cuja
aparência sugira que pertence às classes dominantes. É o “doutor” usado por
guardadores de carro, porteiros, vendedores dos semáforos.
Muitos
desses “doutores” — os acadêmicos e os informais — agem como se o simples fato
de ostentar símbolos de poder desobrigasse alguém de prestar contas, a si mesmo
ou à sociedade, dos passos que executa. O doutor Sérgio Moro é um exemplo
típico. Ele se enquadra naquela categoria de gente que se beneficia da
fragmentação social — que tem origem no passado escravagista do país — para
impor seu autoritarismo. Moro é daqueles que veem a grande massa de brasileiros
pobres como seres primevos, por serem negros, índios, mestiços.
Escravidão
até as barbas do século 20 - Para
eles, os brasileiros pobres devem ser despossuídos a ponto de não ter direito
sobre seu próprio corpo e cuja vida deve ser definida pelo trabalho cruciante e
pelos suplícios impostos pelos patrões. A submissão funciona como sucedâneo da
lei — uma anomalia no Estado Democrático de Direito. Em um país que manteve a
escravidão até as barbas do século 20 — caso único no mundo — é, de certa
forma, natural que esta ideologia esteja impregnada na carne dessa elite.
E por
isso há entre os dois extremos sociais brasileiros uma desconfiança recíproca,
uma indisposição a selar contratos sociais, uma oposição natural a qualquer
tentativa de organização conjunta, nacional. A tradição brasileira é de
rompimento violento desses tratados sempre que a direita se acha no direito de
proteger suas benesses, suas maracutaias. Vem daí o inconsciente coletivo do
país de que a política e a Justiça obedecem sempre a interesses minoritários e
poderosos, de que Estado é sinônimo de opressão, de que pactos democráticos
nunca favorecem o cidadão comum.
Em
dois ou três séculos, pouco mudou na essência do modo como a elite e o povo se
veem e se relacionam. Uns continuam abusando do seu poder inchado, sabotando a
trama social existente no país e nutrindo ódios de classe. Outros continuam
lutando com todas as forças pela sobrevivência. O pobre sentindo muita revolta
por se perceber confinado na base da pirâmide social e o rico achando que a
solução mais eficaz para erradicar a pobreza é o extermínio dos pobres.
Nunca
se denunciou tanto - O mais revoltante, no entanto,
é que brasileiro rico não teme a lei: ou ele salta a barreira ou passa por
baixo, mas poucos se detêm na fronteira do direito. Tomemos como exemplo o
resultado do noticiário da mídia, que certamente leva os incautos — os
fanáticos da “Lava Jato” — a imaginar que logo o Brasil será um dos países mais
honestos do mundo. Isso ocorre porque as redações publicam livremente as mais
duras denúncias em relação a quaisquer denúncias.
Tomemos
ainda a quantidade comissões de inquérito no Congresso Nacional, com poderes
equivalentes e recursos superiores aos da Justiça para convocar pessoas e
requisitar informações, se sucedem na investigação de tudo que se possa
imaginar. E o Ministério Público, que dia sim, dia não, acusa alguém de alguma
coisa. E ainda a Polícia Federal, que está sempre tocando operações com algum
nome de meter medo: Anaconda, Albatroz, Lince, Vampiro, Farol da Colina,
Satiagraha e assim por diante.
Levemos
em conta, por fim, que vimemos em um mundo no qual parlamentares, promotores ou
delegados de polícia têm facilidades inéditas para quebrar o sigilo legal que
protege as contas bancárias, os telefonemas ou as declarações de imposto de
renda das pessoas. Nunca se denunciou tanto, e nunca tantos foram denunciados.
Conclusão: quem é que teria peito, num país como este, de fazer alguma coisa
errada? A resposta é: cada vez mais gente. A prova disso está, precisamente, na
própria quantidade de denúncias que a cada dia surgem no noticiário. O problema
é que há denúncias e denúncias.
Dinheiro,
relacionamentos e esperteza - Quando
se mistura tudo no mesmo balaio de gatos, o resultado desse ambiente de
inquisição geral, irrestrita e permanente, é que o delinquente envolvido de
fato em delitos contra o erário ou a função pública tem aparição fugaz na primeira
página dos
jornais ou no noticiário da TV e do rádio — em contraste com a
superexposição dos presos seletivos com base em acusações de fontes de quinta
categoria surgidas em farsas como o “mensalão” e a “Operação Lava Jato”.
A
seletividade dos chefes das investigações mais o filtro da mídia separam o joio
do trigo. E aí joga-se o trigo na cadeia e libera-se o joio; com estômago
firme, bons advogados e a ajuda da mídia o acusado com indícios de provas
robustas acaba saindo vivo da confusão. Com o passar do tempo, seu caso vai
sendo esquecido e a partir daí tudo se resume a aproveitar as vantagens
incomparáveis que o sistema judicial brasileiro oferece aos acusados que
dispõem de dinheiro, relacionamentos e esperteza. Possivelmente não existe no
mundo civilizado um sistema judicial tão bem preparado para não fornecer
justiça como o do Brasil.
A
parceria de inquéritos malfeitos, promotores e delegados cujo desempenho é
julgado pelo número de acusações que fazem e por suas aparições na mídia, e não
pelas condenações baseadas na lei que conseguem, e tribunais que a própria
legislação tornou paraplégicos só pode mesmo resultar nisso. Resumo da ópera: o
caso já não é de esperar que a aplicação da justiça seja mais rápida; é pedir,
simplesmente, que se torne possível. Que se repeite o Estado Democrático de
Direito.
*Osvaldo
Bertolino é jornalista, editor do Portal Grabois e colaborador da revista
Princípios. Publicado no Blog O Outro Lado da Notícia.
Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD
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