A construção coletiva das idéias é uma das mais fascinantes experiências humanas. Pressupõe um diálogo sincero, permanente, em cima dos fatos. Neste espaço, diariamente, compartilhamos com você nossa compreensão sobre as coisas da luta e da vida. Participe. Opine. [Artigos assinados expressam a opinião dos seus autores].
31 dezembro 2020
Entrevista: dois ciclos na gestão pública
Após
16 anos, Luciano deixa cargo de vice no Recife
O comunista afirmou
ao LeiaJá que não pretende se aposentar da política: 'volto a ser cidadão comum
e militante com toda honra'
Giselly Santos, LeiaJá
Dezesseis
anos. Este é o tempo que Luciano Siqueira (PCdoB) completa, nesta quinta-feira
(31), como vice-prefeito do Recife, tendo um intervalo de apenas quatro anos
(2008 a 2012). De 2001 a 2008 foi vice do então prefeito João Paulo, filiado na
época ao PT e hoje ao PCdoB, já de 2013 até agora, foi auxiliar de Geraldo
Julio (PSB) na condução da capital pernambucana. Siqueira, que entra para
história da gestão pública em Pernambuco pelo marco de 16 anos como vice, será
substituído pela primeira mulher a ocupar o cargo no Recife, Isabella de Roldão
(PDT).
Com 74 anos de
idade, o potiguar que mora na capital pernambucana desde os 15, afirmou
ao LeiaJá que
não vai se aposentar da política e a partir desta sexta-feira (1º) se dedicará
mais ativamente à militância e às suas atividades partidárias, já que integra
as direções nacional e estadual do PCdoB.
“Fiquei os 20
anos mais recentes nessa esfera institucional, 16 como vice, dois como vereador
do Recife e dois como deputado estadual. Tenho responsabilidades nas direções
nacional e estadual no partido, provavelmente não exercerei mais função nenhuma
em governos”, disse.
“A militância
tem sido uma fonte permanente de aprendizado e felicidade pessoal. Meu plano é
não parar. Dia 1º de janeiro vou colocar nas minhas redes sociais: a partir
deste instante volto a ser cidadão comum e militante com toda honra”, completou
o comunista.
Um
vice nada figurativo
Para ser
vice-prefeito por tanto tempo, Luciano Siqueira afirmou que não tinha fórmula
pronta, mas garantiu que durante este período não deixou o estereótipo de
“cargo meramente figurativo” valer.
“Um vice ativo
pode ajudar em tudo, tanto nas relações internas no governo - e essa foi a
minha maior experiência - como também na relação com a sociedade e seus
diversos segmentos”, afirmou, pontuando ainda uma particularidade: “tenho
contato diário com o povo do Recife”. Luciano contou que durante os últimos
anos compartilhou seu único contato pessoal com os recifenses que o buscaram e
contava com a ajuda da sua equipe para não deixar nenhum sem resposta.
“Aprendi muito
com os dois prefeitos, mas aprendi muito mais com a população. Ousaria dizer
que o que há de melhor no Recife é o seu povo. O povo enfrenta muitas
dificuldades, mas é também um povo guerreiro e generoso. Aprendi com Arraes,
converse sempre olhando nos olhos das pessoas e seja sincero. Dizer não com sinceridade
não contempla o pleito, mas o nosso povo se sente respeitado”, enfatizou.
Questionado
sobre o balanço que fazia dos anos em que esteve auxiliando a gestão do Recife,
Luciano Siqueira enalteceu João Paulo e Geraldo Julio.
“Tive a
felicidade de ter mantido com os dois prefeitos um relacionamento muito amigo e
solidário, pude trabalhar intensamente tanto nos oito anos com João Paulo como
com Geraldo, creio que a avaliação que eu possa fazer em boa parte se confunde
com a própria avaliação desses dois governos. O de João Paulo promoveu uma
inversão estratégica na prefeitura, reaproximou a gestão do povo da cidade,
realizou intervenções e programas de muita expressão, basta lembrar da
urbanização da orla de Brasília Teimosa, expandimos também a rede básica de
atenção à saúde para a população e na educação zeramos o déficit de crianças
sem acesso à escola. Foi um conjunto de intervenções e conquistas muito
importantes”, listou.
“Com Geraldo
pudemos comemorar muitas conquistas, costumo sublinhar principalmente a
recuperação do planejamento urbano como um dos vetores principais da gestão
pública, algo que havia se perdido desde o tempo de Pelópidas Silveira, nas
gestões que se sucederam, a despeito de méritos que todas elas podem ostentar,
o planejamento urbano ficou em segundo plano, e com Geraldo se recupera.
Praticamente em quase todas as áreas temos um sucesso administrativo
expressivo”, emendou.
Passando
o bastão
Desde 2016,
com um vice (Michel Temer) assumindo o comando do país após o impeachment da
então presidente Dilma Rousseff, o cargo tomou mais expressividade na política
nacional e estadual. Em Pernambuco, o que vimos com frequência nos últimos anos
foram prefeitos e vices rompendo politicamente, causando desgastes na condução
das cidades. Indagado sobre quais conselhos daria para quem assume o cargo de
vice a partir de amanhã nas cidades, Siqueira pontuou que a lealdade ao titular
deve ser característica base de quem ocupa o posto.
“Não tenho
fórmula, apenas quando converso com os vices, e tenho oportunidade de fazer
isso com certa frequência com os do meu partido, costumo dizer que o PCdoB
orienta seus vices para em primeiro lugar contribuírem para a unidade do
governo em torno das propostas apresentadas na campanha eleitoral e segundo
lugar o vice tem o dever de lealdade ao titular. Sempre disse a João e Geraldo,
se eu tiver divergências secundárias com suas decisões, vou trabalhar para
fazer como decidiu. Se eu tiver divergências essenciais só nós dois vamos
saber. Nunca expus qualquer divergência, nem nunca farei isso. Não pode brigar,
se brigarem, o vice deixa de trabalhar e não foi para isso que ele foi eleito”,
aconselhou.
Quanto a
Isabella de Roldão, que será a nova vice-prefeita do Recife, Luciano disse que
se sentia feliz em passar o cargo para ela. “Sou feminista militante desde os
anos 80, estou muito feliz em passar o cargo para Isabella. Além do que, confio
muito nela. Ela reúne qualidades que poderão fazer não apenas a primeira mulher
vice-prefeita, mas uma vice competente”, afirmou.
Veja: Obstáculos à existência de
partidos de base popular https://bit.ly/34vKu7c
Dois pesos...
Governo Bolsonaro foi ágil na produção de cloroquina, porém segue inoperante quanto à vacina contra a Covid. Por que?
30 dezembro 2020
Genocida
— Vi na ‘Folha’ agora.
— !?
— ‘Sem máscara, Bolsonaro provoca aglomeração em praia de SP, abraça banhistas e pega crianças no colo‘.
— Péssimo exemplo.
— Pior. Comportamento genocida.
Criminosos ambientais
Terra arrasada
Agenda ideológica de Bolsonaro faz retroceder as políticas ambiental e fundiária
Não se pode alegar surpresa diante da sanha destruidora do governo Jair Bolsonaro em áreas naturais e rurais do país. Trata-se quase de compromisso de campanha.
Bolsonaro investe contra políticas de preservação ambiental escorado na doutrina ultrapassada de que a regulação impede o desenvolvimento econômico. Não extinguiu o Ministério do Meio Ambiente, como pretendia, mas acabou por entregá-lo a um sabotador.
Ricardo Salles, mantido no cargo, ao que parece, por pirraça do presidente, realiza a missão de implodir a pasta com a empáfia dos que não conhecem limites. De mais grave, manietou o Ibama, principal órgão de controle capaz de estancar o desmatamento —e responsável, no passado, pela aplicação de multa a Bolsonaro por pesca ilegal.
Em 2021 a agência ambiental combalida terá orçamento 4% menor. Penúria de recursos e assédio de fiscais por chefias aliadas ao ministro fizeram despencar 60%, de 2019 para 2020, os termos de embargo de propriedades que perderam vegetação natural sem autorização, repetindo retrocesso do primeiro ano do atual governo.
Política de devastação bem-sucedida: 11.088 km² de floresta amazônica desapareceram pelas mãos de grileiros, garimpeiros e madeireiros ilegais, princípio da cadeia que ao final beneficia pecuaristas e fazendeiros. Caíram ainda 7.340 km² de cerrado, que tem menos da metade da área da Amazônia e, por isso, sucumbe a ímpeto destruidor ainda mais grave.
As queimadas avançaram 12% no ano, concentrando-se no Pantanal, onde o incremento foi de 120% (de 10 mil focos, em 2019, para 22 mil). No conjunto dos seis biomas do país, os mais de 222 mil incêndios detectados por satélite ainda não alcançaram a média anual tenebrosa da década 2001-2010 (287 mil), porém seguem firme nessa direção.
Não admira que o Ministério Público Federal tenha oficiado já cinco vezes para defenestrar Salles, investidas até aqui rejeitadas pelo Judiciário. A parcela mais moderna do agronegócio, algo tardiamente, se mobiliza contra a gestão ecocida que corrói a imagem do país exportador de commodities.
A condição de pária internacional se agrava com a recusa presidencial em implementar políticas fundiárias. Não houve terra indígena identificada, declarada ou homologada; os recursos para reconhecimento e indenização de territórios quilombolas praticamente foram eliminados.
São direitos e obrigações constitucionais que Bolsonaro teima em descumprir à vista do mundo todo, começando pelos brasileiros.
Veja: Obstáculos à existência de partidos de base popular https://bit.ly/34vKu7c
Exclusão
Desemprego aumenta e atinge 14,1 milhões de brasileiros. Segundo a Pnad Contínua do IBGE, a taxa de desocupação ficou em 14,3% no trimestre encerrado em outubro, um crescimento de 0,5 ponto percentual em relação ao trimestre anterior. Leia aqui https://bit.ly/3aTb1zp
Luzes da cidade
A foto eu a fiz ontem, do alto do terraço do edifício-sede da Prefeitura do Recife. Os versos de Cacaso me vieram à mente no mesmo instante...
Drama
Seguem os obstáculos à vacinação contra a Covid no Brasil. Ontem, frustrou-se um pregão e o governo federal adquiriu apenas 3% de 331 milhões de seringas necessárias.
29 dezembro 2020
Crônica do meio da manhã
Enfrentei o isolamento com coragem e resignação, mas só sobrou a resignação
Atravesso a savana árida, procuro manter a calma que já não possuo, evito o charco, a queda e o jacaré
E eis que o mundo se transformou nesse imenso Titanic, com 7 bilhões de pessoas na fila, a espera de um bote salva vidas que talvez demore mais de ano para ser lançado ao mar.
Em março de 2020, enfrentei o isolamento com coragem e resignação, agora, só sobrou a resignação. E para aplacar o sentimento de que nasci em hora errada, passo e repasso as grandes crises da humanidade, aceitando que as catástrofes são mais regra do que exceção.
Assisti a um excelente documentário na CNN sobre a gripe espanhola. Nossos avós e bisavós encararam não só uma guerra, como uma epidemia de influenza disseminada por jovens soldados que conseguiram chegar vivos em casa.
Confesso, com certa vergonha, que a retrospectiva daquela desgraça toda me trouxe uma estranha sensação de consolo. Esse horror não é privilégio nosso.
As imagens em preto e branco exibem um paralelo perturbador com o agora. Negacionismo, máscaras penduradas no pescoço, aglomerações insanas e ondas sucessivas de contágio, cada vez mais violentas, também fizeram parte do menu macabro de 1918.
Quando, no início deste ano, a OMS oficializou a pandemia, meu clínico geral definiu a situação como a terceira guerra mundial com internet e algum conforto. Agarremo-nos às poucas vantagens da vida moderna.
A gripe espanhola podia matar em menos de 24 horas. Sem antibióticos, cortisona ou anticoagulantes para combater a peste, os médicos não sabiam nem sequer que a doença era transmitida por vírus.
Desconhecia-se também a ação oportunista das bactérias, que provocavam pneumonia nos pacientes debilitados. Enfermeiras cobriam a boca com panos dobrados, mas deixavam o nariz a descoberto, ignorantes de que a transmissão acontecia pelas vias respiratórias.
Para agravar, a gripe espanhola deixava sequelas neurológicas em muitos dos sobreviventes. O comprometimento das faculdades mentais da maioria da população terminava apenas por engordar as estatísticas; mas ao acometer o líder de uma potência como os Estados Unidos, e isso em meio às negociações de paz da Primeira Guerra, um indivíduo enfermo ajudou a alterar o rumo da história.
Falo do presidente Woodrow Wilson, que sucumbiu à moléstia durante os debates que antecederam a assinatura do Tratado de Versalhes.
Decretado o fim da guerra, Wilson desembarcou na Europa pregando moderação. Convencido de que a Alemanha não poderia sofrer retaliações proporcionais ao ódio dos países vizinhos, o americano defendia um acordo que possibilitasse a recuperação econômica alemã.
Pouco depois de chegar em Paris, Wilson caiu de cama com sintomas da espanhola. Ele se recuperaria a tempo de voltar para a mesa de negociação, apresentando, no entanto, um preocupante quadro de fadiga, confusão mental, lapsos de memória e delírio paranoico. Frágil e atordoado, ele acabaria por se alinhar aos que exigiam uma punição exemplar dos perdedores.
Uma década depois, Hitler seria eleito com a promessa de vingar seu povo da humilhação imposta pelo Tratado de Versalhes.
Tolstói acredita que os grandes líderes não são os principais agentes da história. O povo é que os empurra, para lá e para cá, seguindo o desejo inexorável da massa. Pode ser. Mas certas decisões equivocadas, certas falhas trágicas dos que estão no comando, bem como a ignorância, a cegueira e a loucura, ajudam a conduzir a manada para o abismo.
E é como me sinto hoje, como gado, nesse funil insano do isolamento natalino negacionista de 2020, seguindo o fluxo cego da multidão, na dependência de gestores do nível de Marcelo Crivella.
Procuro manter a calma que já não possuo, evito o charco, a queda e o jacaré. Atravesso a savana árida, repleta de micro e macro bestas feras.
Do outro lado da campina, verdejam, nos seringais, a promessa do tão ansiado antígeno. Meu grupo de antas, pacus e queixadas ainda se encontra muito atrás, seguindo lentos, entre queimadas e mutações.
Ao longe, já escuto o alvoroço dos ursos siberianos, dos cavalos mongóis, das águias gringas e dos veados alpinos, a um passo da imunização.
Encerro esse 2020 recém saída de uma Covid branda, torcendo para que um mínimo de IgG me proteja na travessia. Já perdi a conta dos amigos e parentes acamados. Exausta de tanta notícia ruim, peço perdão ao leitor por essas linhas um tanto erráticas. É que anda difícil manter um raciossímio lógico.
Que 2021 nos dê uma trégua.
Veja
uma dica de leitura: Raimundo Carrero https://bit.ly/3pCHkXY
Triste lugar no ranking
Mortos pela Covid-19 no Brasil são 300 vezes superiores aos da China e 9 vezes aos da Índia – os países mais populosos do ano -, por 100 mil habitantes. Isso a despeito de termos o SUS. Mas o presidente da República segue achando tudo natural e inevitável...
Perspectiva
O capital não sairá do palco da história mundial sem luta. Nascido “pingando da cabeça aos pés, por todos os poros, sangue e sujeira”, não deixará o mundo de outra forma. Duzentos anos após o nascimento de Marx, olhando para trás, de nosso ponto de vista do século 21, até meados do século 19, perguntamos: quão útil é o marxismo como ferramenta para compreender a sociedade hoje? Este artigo é baseado nas ideias do filósofo marxista Thomas Metscher, conforme exposto em sua entrevista “A coragem é necessária em tempos de derrota” – escreve Jenny Farrell. Leia aqui https://bit.ly/34RoYKk
Linguagem
Mesmo quem ainda viveu pouco há que reconhecer: o gesto é essencial – na vida, no amor, na política. Vale mais do que um milhão de promessas.
Luz
Na mídia, retrospectivas do ano que finda se parecem com “campanha de desânimo geral”, porém pela convergência dos que resistem podemos iniciar 2021 com uma luz, ainda que tênue, visível no fim do túnel.
28 dezembro 2020
Vice-prefeito por 16 anos: entrevista
Entrevista a Elizabeth Souza, Diário de
Pernambuco
No dia 01 de janeiro, o vice-prefeito Luciano Siqueira
(PCdoB), passa o bastão para Isabella de Roldão (PDT), encerrando um ciclo de
16 anos.
Potiguar, militante, médico e 16 anos como vice-prefeito da
cidade do Recife, durante as gestões de João Paulo (2001-2008) e Geraldo Julio
(2013- 2020). São esses alguns pontos importantes que permeiam a biografia de
Luciano Siqueira (PCdoB), que no próximo dia 1º de janeiro passará o bastão
para a primeira mulher vice-prefeita da capital pernambucana, Isabella de
Roldão (PDT).
Com 74 anos de idade, Luciano possui uma trajetória amplamente
atravessada pela militância, caminhada que começou ainda na cidade de Natal,
Rio Grande do Norte, onde nasceu. Ele conta que quando ocorreu o primeiro
contato coma causa social tinha apenas 11 anos, época em que estudava no
Colégio Estadual Atheneu Norte Riograndense.
“Descobri ali algo fantástico: a luta pelo interesse coletivo”, lembra.
A vinda para o Recife, aos 15 anos, o aproximou do Movimento de Cultura
Popular (MPC) desenvolvido durante a gestão municipal de Miguel Arraes. Período
que contribuiu com seu processo de amadurecimento político. Já no primeiro ano
como aluno do curso de Medicina, na UFPE, em 1967, foi eleito para o diretório
acadêmico, período em que também ingressou na organização clandestina de
resistência ao regime militar AP (Ação Popular).
A aproximação com a política partidária veio em 1972, quando a AP se
autodissolveu fazendo com que diversos integrantes do grupo ingressassem no
Partido Comunista do Brasil (PCdoB), onde está até hoje. Membro da direção
nacional do PCdoB desde 1982, Luciano Siqueira era um nome de destaque dentro da
sigla.
Em 2000, ano de eleições municipais, o Partido dos Trabalhadores, que
tinha João Paulo como indicação para candidato a prefeito no Recife, insistiu
para que o PCdoB indicasse um nome para vice-prefeito, sendo Luciano Siqueira o
escolhido. “De maneira surpreendente ganhamos as eleições naquele ano, e a
partir daí começa a minha história como vice-prefeito na capital”.
Após o encerramento do mandato de João Paulo na capital, João da Costa
(PT) assumiu a prefeitura entre 2009 e 2012, época em que Luciano Siqueira foi
eleito vereador na capital pernambucana e, posteriormente, deputado estadual,
em 2010, cargo que assumiu até 2012, quando concorreu a vice-prefeito na chapa
de Geraldo Julio, alcançando a vitória e retornando ao cargo de vice-prefeito por
mais oito anos. “Da mesma forma como minha relação com João Paulo sempre foi
excelente, a mesma coisa posso dizer de Geraldo Julio. São lados políticos de
características bem distintas, mas com ambos tive um ótimo relacionamento, de
muita cumplicidade e confiança mútua”, destacou.
Após 16 anos como vice-prefeito na cidade do Recife, Luciano Siqueira
presenciará um momento histórico para a Capital. No próximo dia 1º de janeiro,
o atual vice passará o bastão para a primeira mulher vice-prefeita da história
do Recife, Isabella de Roldão. “Tenho convicção de que terá um papel saliente
na cena política recifense”.
Questionado sobre os planos para 2021, Luciano disse que agora terá mais
tempo para se dedicar à militância partidária. “Já que provavelmente não
participarei de governos, vou ter mais tempo para me dedicar à militância, sem
a pressão cotidiana das gestões, vou ficar mais livre para poder opinar sobre
política”, disse. “Eu tenho dito brincando que em 1º de janeiro vou colocar em
todas as minhas redes sociais ‘A partir de hoje volto a ser cidadão comum e
militante, com toda honra’”, finalizou.
Veja: Partidos políticos são
necessários https://bit.ly/38YmQTT
Palavra de poeta
O Natal, o amor e seus presentes
Chico de Assis
Talvez o Natal
seja só um pretexto
pra lhe dar um presente
(eu que não gosto de dar presentes).
Talvez o presente
seja outro pretexto
pra dizer que a amo
(eu que não sei bem o que é amar).
Talvez o Natal
o amor e seus presentes
sejam meros pretextos
pra continuar vivendo
(eu que não sei
se gosto de viver).
[Ilustração: Joan Miró]
Veja uma dica de leitura: Raimundo Carrero https://bit.ly/3pCHkXY
Condenados
Em crise sanitária associada à brutal queda da produção e serviços, o auxílio emergencial salvou da fome e da pandemia mais de setenta milhões de brasileiros. As crises seguem, o auxílio será suprimido. E a população deserdada, como fica?
Evoluindo em quê?
Futebol brasileiro melhorou em 2020, mas nem tanto
Houve evolução, só que não temos 'melhor liga do mundo' como disse Jorge Jesus
Apesar da ausência da torcida, de vários jogadores e técnicos infectados pela Covid-19, do calendário com excesso de partidas e de tantos problemas físicos e emocionais com vários atletas, existe, na média, uma evolução na qualidade e na maneira de jogar dos times brasileiros. É muito bom ver equipes trocarem mais passes, jogarem com intensidade, marcarem em todo o campo e variarem os esquemas táticos, de uma maneira eficiente e agradável.
O futebol brasileiro melhorou, mas nem tanto. Existem hoje muitos treinadores jovens, estudiosos e que contam com a ajuda de bons profissionais científicos nas comissões técnicas. Em consequência da pandemia e da necessidade, os atletas jovens foram mais escalados e amadureceram mais rapidamente.
Existem ainda muitas coisas a fazer. Diminuiu o tamanho dos espaços entre os setores, mas eles continuam muito grandes. A maioria dos zagueiros e dos goleiros tem enorme dificuldade de dar um bom passe. Os zagueiros jogam colados à grande área. Os centroavantes são muito fixos, e os jogadores pelos lados vão e voltam, encostados à linha lateral. Há um excesso de chutões e de bolas lançadas à área pelo alto.
Parte da imprensa continua refém da audiência, dos resultados, das redes sociais e de dar aos técnicos uma importância excessiva nas vitórias e nas derrotas, além da importância que verdadeiramente têm.
As partidas são ainda muito tumultuadas, com briguinhas, ofensas, gritos, xingamentos dos técnicos e paradas excessivas do jogo. Acham que isso faz parte do futebol. É o contrário. Piora a qualidade do espetáculo.
A CBF deveria ser mais exigente, presente. O uso do VAR precisa ser aperfeiçoado, mas, ainda mais importante, é melhorar a qualidade dos árbitros e auxiliares em campo. É inadmissível que algumas partidas, de todas as séries, sejam jogadas em péssimos gramados.
O futebol brasileiro melhorou, mas nem tanto. Não acredite no que disse o excelente e narcisista treinador português Jorge Jesus. Encantado com si mesmo, Jesus, ao falar à imprensa de Portugal que o Brasil possui o melhor campeonato do mundo, quis dizer que ele é tão bom, tão espetacular, que foi o rei da melhor competição de todas.
No ano, muitos jogadores brilharam intensamente. É difícil escolher o melhor. Daniel Alves é um deles. As pessoas que ficaram decepcionadas com Daniel Alves esperavam que ele fosse um clássico camisa 10 (é apenas o número que ele usa na camisa) e que deveria fazer e dar muitos passes para gols. Elas desconhecem o que é um meio-campista, um construtor, um organizador, que joga de uma intermediária à outra e que comanda um time. É a alma de uma equipe.
Se a Copa fosse hoje, Daniel Alves deveria ser titular da Seleção. Ele poderia jogar no lugar de Danilo, como um lateral construtor, como Tite deseja. Danilo não tem nenhuma condição para isso. É um bom jogador, marcador, rápido, e que avança encostado à lateral. Na Juventus, ele é um terceiro zagueiro.
Outra posição que Daniel poderia jogar é a mesma em que atua no São Paulo, no lugar de Arthur, de Douglas Luiz, de Bruno Guimarães ou de qualquer outro que tem sido chamado pelo técnico Tite. Daniel Alves é melhor que todos. Além disso, para ele, jogar na seleção brasileira ou no São Paulo não faz nenhuma diferença. Apresentará a mesma qualidade.
Mas se o São Paulo não ganhar a Copa do Brasil nem o Brasileiro, muitos vão dizer que Daniel Alves decepcionou, que ele não deu os títulos que o clube precisava.
Prefeituras têm como enfrentar a violência criminal? https://bit.ly/3nATqzc
Ameaça
Diante da TV é preciso tirar as crianças da sala em que situação? Quando aparece Bolsonaro mostrando como NÄO se deve usar a máscara.
27 dezembro 2020
Desalento
Estamos na primeira fila entre os países no mundo em que a economia segue cercada de incertezas e desconfianças. Sem uma luz no fim do túnel.
26 dezembro 2020
Vendo e vivendo
Doce mistério da vida
Cícero Belmar
Para nós,
escritores e escritoras, que somos capazes de retirar os leitores da realidade
objetiva para acreditarem em vidas e histórias de ficções, deveríamos
estar acostumados com os doces mistérios que parecem uma expressão das nossas
energias. Com os fatos inesperados do dia a dia, que poderiam render um bom
roteiro. Afinal, as coincidências e as fantasias não são feitas da mesma
substância? Pois eu ainda me espanto e fico bastante reflexivo com certas
ocorrências.
Os leves mistérios do
cotidiano existem onde queremos vê-los. Vamos aos fatos: o interfone tocou na
tarde do dia 26 de novembro. Era o porteiro informando que uma encomenda
acabara de chegar pelos Correios. No pacote, o mais novo livro da escritora
paulista Mariana Ianelli. Dia
de Amar a Casa é uma coletânea de crônicas escritas entre 2017 e
2020, publicada pela Ardotempo. Superlivro, cuja capa tem uma reprodução de
óleo sobre tela, da década de 1950, do famoso Arcângelo Ianelli, avô de minha
amiga.
Não é preciso acreditar nas
coisas invisíveis, mas também não somos obrigados a enxergar apenas as
concretas: a chegada do livro de Mariana era um prenúncio de que, três horas
mais tarde, teríamos uma grande notícia. As redes sociais bombaram, informando
que a poetisa Cida Pedrosa recebeu o Prêmio Jabuti de Melhor Livro do Ano e o
de Melhor Poesia com o livro-poema Solo
para Vialejo, editado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).
É o maior prêmio da literatura brasileira, jamais ganho por uma pernambucana.
Eu, Cida e Mariana somos
amigos em comum. Fui eu quem apresentei uma à outra e as duas se entrosaram
muito bem, pois ambas têm muita facilidade de comunicação, e de ver o lado bom
das pessoas. Ficaram próximas a ponto de Mariana ter escrito o prefácio
de Solo para Vialejo,
a obra vitoriosa de Cida. Com formação de crítica literária, Mariana Ianelli
arrasou na apresentação e ainda foi quem divulgou o livro-poema, pela primeira
vez, em 2019, quando o colocou na página “Poesia Brasileira”, do jornal de
literatura Rascunho, do qual é colunista.
Como sou eu quem faz o
prefácio do livro de Mariana, e ela faz o de Cida, achei que tudo está
interligado e que existem pequenos mistérios do dia a dia, nada demais, mas que
é preciso ter olhos para senti-los. Apenas estou enxergando os laços que nos
une e, como escritor, exercito aqui a minha capacidade de criar um bom motivo
de leitura. Mas as coincidências não acabam aqui. Eu tive a alegria e a graça
de ler ambos os livros (tanto o de Mariana quanto ode Cida) nos originais. Ouvi
as angústias e alegrias das duas escritoras, cada uma a seu modo, durante o
período que estavam produzindo essas grandes obras. Viver já é, em si, um doce
mistério.
Só para encerrar, o que
esses dois livros têm em comum? A capacidade de resgatar a vida, por meio das
palavras, com rigor técnico e beleza estética; a força de traduzir de forma tão
genuína as nossas verdades. O Solo
para Vialejo, de Cida Pedrosa, conta, em poema, uma viagem que ela
faz do mar para o Sertão. Viagem para fora e para dentro de si, que também tem
a ver com as diásporas dos negros e índios. E com os sons que os acompanharam.
O Dia de Amar a Casa são
crônicas poéticas, ou poemas em prosa, sensíveis, fortes, que têm
musicalidade nas palavras. E falam um pouco do que é ser mãe, filha, neta,
cidadã, criatura do planeta Terra, como bem observa o texto explicativo que há
na quarta capa da edição. Enfim, são duas obras de muita sensibilidade
artística, escritas por duas mulheres fantásticas.
*Cícero Belmar é
escritor e jornalista. Autor de contos, romances, biografias, peças
de teatro e livros para crianças e jovens. Membro da Academia Pernambucana
de Letras.
[Ilustração: Manabu Mabe]
Veja uma dica de leitura: Raimundo Carrero https://bit.ly/3pCHkXYRejeição crescente
Bolsonaro chega à metade do mandato com 46% de rejeição. Não há registro de presidente que, nos dois anos iniciais de seu primeiro mandato, tenha índice tão elevado de desaprovação. Leia aqui https://bit.ly/2Jjeuvw
Palavra de poeta
Marcelo Mário de Melo
Chefe
dá a ordem
determina
encaixa
enquadra
puxa a rédea
dá receita
dá o tranco
dá a nota.
Líder
atrai
envolve
orienta
demonstra
dá a dica
dá exemplo
tira a prova
dá a mão.
O líder chefia.
O chefe não lidera.
[Ilustração: João Câmara]
Veja: Obstáculos à existência de partidos de base
popular https://bit.ly/34vKu7c
MPB4 e Chico Buarque para inspirar o fim de semana
Veja uma dica de leitura: Raimundo Carrero https://bit.ly/3pCHkXY
Perdi a noção do tempo...
O mundo gira na pandemia
Luciano Siqueira, no Portal Vermelho
Aqui em casa Luci sempre recomenda que eu aborde nesta coluna, durante o mês de dezembro, temas mais leves, se possível crônicas, como uma espécie de gratidão pela paciência dos meus certamente poucos e persistentes leitores de todas as quintas feiras.
E assim faço ao longo de 15 anos…
Tanto que uma coletânea dessas crônicas chegou a ser reunida no livro “Como o lírio que brotou no telhado”, publicado pela editora Anita Garibaldi.
Porém quinta-feira passada falhei clamorosamente. Confundi hora e data e não enviei o texto da coluna ao nosso competente e estimado editor Inácio Carvalho.
Mas tenho uma atenuante: cruzam-se a pandemia e o final do meu mandato de vice-prefeito na Prefeitura do Recife e, creio que para uma boa parcela da população da cidade, o mundo pode acabar justamente no dia 31 deste atribulado mês de dezembro!
Entre as providências próprias de fim de governo e a tentativa de cumprir o dever até o fim, vejo-me submetido a pressão do volume de providências a tomar em tempo tão curto. Muita gente quer resolver pendências agora, seja como for.
Já tive fim de governo outra vez, quando entre 2001 e final de 2008 fui pelos primeiros oito anos vice-prefeito da cidade. Naquela época não houve tanto tumulto, que eu me lembre.
Se agora há, deve ser por por efeito da pandemia do novo coronavírus, que submete a humanidade a riscos e instabilidades sem precedentes.
Uns têm medo (nunca excessivo), cuidam de se protegerem; outros tantos não estão nem aí para o vírus e praticam com toda sorte de desatenção para com as normas sanitárias, principalmente agora em que, apesar de tudo, o clima é de festa.
Enquanto isso, a gente fica sabendo por estudos baseados em informações do IBGE e de outras fontes, que em torno de 93 milhões de brasileiros (53% da população em idade de trabalhar) ficaram sem trabalho em 2020.
E não há sinal de melhora substancial da economia.
Prenunciam-se muito desespero e luta, certamente.
Mas sobre isso a gente escreve a partir de janeiro. Melhor experimentar a descontração possível, valorizando cada instante neste fim de ano de tensões e incertezas, sem perder a esperança.
Veja: Obstáculos à existência de partidos de base
popular https://bit.ly/34vKu7c
Sem trabalho
Em torno de 93 milhões de brasileiros (53% da população em idade de trabalhar) ficaram sem trabalho em 2020. E não há sinal de melhora substancial da economia. Perspectiva de desespero e luta, sim.
Sonhos
Agora dei pra sonhar acordado no meio da madrugada. Pode ser a idade. Ou pode ser a força do sonho mesmo.
25 dezembro 2020
Truque
Peraí!... O que você não conseguiu resolver até agora ponha na gaveta e volte a tentar apenas na segunda-feira. Garanto que funciona.
Colega de trabalho
Usar máscara resolve
Conhecimento sobre máscara contra coronavírus evolui e afasta dúvida sobre eficácia
Acessório de tecido de algodão com três camadas têm eficácia semelhante à do cirúrgico.
Não há mais dúvidas de que as máscaras são capazes de diminuir a transmissão do coronavírus Sars-CoV-2 quando bem feitas e usadas adequadamente. As pessoas que ainda resistem à medida ignoram provas científicas robustas, registradas desde muito antes da atual pandemia e que aumentaram substancialmente nos últimos meses.
“Nas fotos da época da gripe espanhola (1918) é possível ver as pessoas nas ruas cobrindo o rosto com máscaras ou lenços. Já sabíamos que as máscaras são eficazes, são uma barreira para impedir a propagação de infecções”, diz Viviane Alves, microbiologista e professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG).
Hoje, as principais autoridades em saúde do mundo recomendam o uso universal das máscaras para combater a transmissão do vírus.
Durante entrevista coletiva no dia 16 de dezembro, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, afirmou que o uso da máscara é recomendado pelo ministério e fundamental para diminuir a transmissão do vírus.
A primeira evidência do uso das máscaras em espaços hospitalares data do fim do século 19, quando máscaras de gaze eram usadas por pacientes para evitar que a infecção se espalhasse, relata um artigo publicado por pesquisadores da Austrália em 2013 na revista científica International Journal of Infection Control (IJIC).
O Instituto para Doenças Infecciosas de Chicago, nos Estados Unidos, foi a primeira instituição do tipo a recomendar o uso de máscaras para proteger profissionais da saúde.
Um hospital da cidade, o Durand Hospital, implementou, em 1913, o uso do equipamento por seus funcionários e viu as taxas de infecções respiratórias caírem entre os trabalhadores.
Quando o Sars-CoV-2 emergiu e a Covid-19 se espalhou rapidamente pelo mundo, uma das principais missões da comunidade científica era decifrar como o vírus se propagava e passava de uma pessoa para a outra. Só então seria possível construir uma recomendação eficaz para prevenir o contágio.
Mas a ciência precisa de tempo para ser feita, e somente em julho cientistas do mundo todo e instituições como a Organização Mundial de Saúde (OMS) passaram a reconhecer a transmissão do coronavírus pelo ar através de aerossóis —gotículas muito pequenas de saliva que ficam suspensas no ar por mais tempo e podem transportar o vírus até que ele seja inalado por outra pessoa.
Até então, acreditava-se que as principais vias de transmissão do vírus eram as superfícies contaminadas e as gotículas maiores de saliva.
Estudos com o Sars-CoV-2 mostraram que o vírus pode infectar células da boca e nariz. Nessas áreas, ele usa o maquinário das células humanas para se multiplicar e se espalhar para outras partes do corpo.
Um artigo publicado em novembro na revista científica The Lancet Microbe mostrou que os pacientes da Covid-19 têm a maior quantidade de vírus ativos no nariz e na garganta nos primeiros cinco dias após o início dos sintomas, o que indica que esse período é o de maior contágio já que dessas regiões o vírus pode sair para o ar através da fala, tosse ou espirro.
O reconhecimento da transmissão pelo ar reforçou a necessidade do uso das máscaras e impôs um grande desafio: lidar com a alta demanda pelos equipamentos destinados ao uso profissional, como as máscaras cirúrgicas ou a N95, que ameaçava o suprimento dos hospitais.
Segundo Viviane Alves, os estudos com máscaras preconizavam os modelos voltados para uso profissional e uma recomendação de uso universal no começo da pandemia poderia levar a falta do equipamento para os grupos que mais precisavam, como os profissionais de saúde.
Para enfrentar o desafio, cientistas do mundo todo se mobilizaram para rapidamente testar e estudar diferentes desenhos e materiais para as máscaras.
Hoje, a Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (Abimo) afirma que não há risco de desabastecimento de máscaras, mas o conhecimento adquirido pelos pesquisadores nesse período foi fundamental para combater a pandemia e devem ser úteis no enfrentamento de outras doenças infecciosas.
Artigos científicos que citam os termos “máscara facial” cresceram 420% em 2020 em relação ao ano passado, segundo a Scopus, uma das mais importantes bases de artigos científicos do mundo. É a maior produção acadêmica de todos os tempos com os termos, passando de 700 artigos publicados.
Estudos ao longo dos últimos meses comprovaram que máscaras feitas com tecido de algodão com três camadas têm eficácia semelhante à de máscaras cirúrgicas.
Um dos artigos mais recentes, publicado neste mês na revista científica Aerosol Science and Technology por cientistas do CDC (Centros para o Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos), mostrou que máscaras feitas com três camadas de tecido de algodão têm poder para barrar 51% dos aerossóis que uma pessoa pode expelir em uma tosse. Uma máscara cirúrgica pode bloquear 59% dos aerossóis em uma mesma situação.
No Brasil, o desafio motivou um grupo de pesquisadores da USP de diversas áreas a se unirem no projeto (respire! para testar e projetar uma máscara que, inicialmente, pudesse ser usada pelos profissionais do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/USP) em uma possível escassez do equipamento.
A união deu certo, e o projeto já soma mais de 1 milhão de máscaras produzidas, distribuídas para uso da universidade —250 mil delas feitas artesanalmente por costureiras.
"Aprendemos muito e ainda conseguimos gerar renda", diz Vanderley John, professor e pesquisador do Inova.USP (centro de inovação da USP) e da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) e um dos responsáveis pelo projeto.
O grupo, que avaliou mais de 200 tipos de máscaras diferentes, planeja ainda usar o conhecimento adquirido para elaborar um documento com orientações gerais para guiar a produção de máscaras mais eficazes.
Segundo o pesquisador, as máscaras devem ser leves e confortáveis para não tornarem a respiração difícil. As máscaras feitas de TNT (tecido não tecido) costumam ter eficácia superior à das de algodão, e o clipe nasal, um pedaço pequeno de metal que ajuda a manter a máscara ajustada sobre o nariz, confere maior eficácia ao equipamento por evitar aberturas.
O cientista sugere ainda que as máscaras tenham cores claras para evitar o desconforto no calor.
Veja: Obstáculos à existência de partidos de base popular https://bit.ly/34vKu7c