Questão de perspectiva
Luciano Siqueira
Era o grupo "de sempre", se é que o termo ainda se aplica ao grupo, pois já fazia meses que não sentavam à mesa do bar para jogar conversa fora.
Mas aquele reencontro era especial, uma espécie de saideira de 2019 e de bons agouros para 2020.
O Moreira havia levado uma boa cachaça de São José de Mipibu (RN) e depois
da terceira rodada, a turma já animada, começaram os intermináveis brindes com chope. Para lavar.
Aí o Gouveia, assessor de imprensa de uma empresa estatal do município, introduziu a pergunta:
— Respondam todos, qual o seu principal desejo para 2020?
Dois disseram de pronto que gostariam de ver o Bolsonaro transferido para o Inferno. Um pediu que o Santa Cruz ganhasse o campeonato pernambucano. E os demais (eram sete no grupo) se dispersaram em questões estritamente pessoais.
— Não nego — falou emocionado o Belarmino —, queria mesmo era a volta da Marineide, referindo-se a ex-esposa que um dia cansara de suas farras fenomenais e batera em retirada.
O Epaminondas, então, sempre ele, resolveu baixar o nível das pretensões e sapecou:
— Para mim basta que jamais uma mosca caia na minha tulipa de chope!
Meio que recolhido a posição de mero observador, neutro e atento, preferi não participar do certame e me pus a refletir sobre aquela manifestação de desejos movida a oxidrilas.
— Uma questão de perspectiva, pensei comigo mesmo. Dos rumos da nação a questiúnculas domésticas, em confidências de mesa do bar tudo vale a pena quando a sinceridade não é pequena.
É assim se dá entre os mais de duzentos milhões de brasileiras e brasileiros, submetidos a tremenda crise econômica, que lhes cria quase insuportáveis condições de sobrevivência — pelo menos para a maioria.
Quando um povo perde a perspectiva tudo fica mais difícil, sobretudo numa situação como a atual em que a dita correlação de forças no terreno da política segue desfavorável ao campo popular e democrático.
Estivesse entre aqueles sete amigos, a confraternizar com cachaça e chope, algum dirigente partidário da estirpe de um Lula ou de um Ciro Gomes, eu teria dito:
— Ouçam o governador maranhense Flavio Dino, do PCdoB, que defende uma ampla união das oposições para que o Brasil possa se livrar da praga bolsonarista!
Isto posto, segui mais uma rodada de chope apoiada numa excelente dobradinha.
E que venha um 2020 de muita luta e novas conquistas!
Luciano Siqueira
Era o grupo "de sempre", se é que o termo ainda se aplica ao grupo, pois já fazia meses que não sentavam à mesa do bar para jogar conversa fora.
Mas aquele reencontro era especial, uma espécie de saideira de 2019 e de bons agouros para 2020.
O Moreira havia levado uma boa cachaça de São José de Mipibu (RN) e depois
da terceira rodada, a turma já animada, começaram os intermináveis brindes com chope. Para lavar.
Aí o Gouveia, assessor de imprensa de uma empresa estatal do município, introduziu a pergunta:
— Respondam todos, qual o seu principal desejo para 2020?
Dois disseram de pronto que gostariam de ver o Bolsonaro transferido para o Inferno. Um pediu que o Santa Cruz ganhasse o campeonato pernambucano. E os demais (eram sete no grupo) se dispersaram em questões estritamente pessoais.
— Não nego — falou emocionado o Belarmino —, queria mesmo era a volta da Marineide, referindo-se a ex-esposa que um dia cansara de suas farras fenomenais e batera em retirada.
O Epaminondas, então, sempre ele, resolveu baixar o nível das pretensões e sapecou:
— Para mim basta que jamais uma mosca caia na minha tulipa de chope!
Meio que recolhido a posição de mero observador, neutro e atento, preferi não participar do certame e me pus a refletir sobre aquela manifestação de desejos movida a oxidrilas.
— Uma questão de perspectiva, pensei comigo mesmo. Dos rumos da nação a questiúnculas domésticas, em confidências de mesa do bar tudo vale a pena quando a sinceridade não é pequena.
É assim se dá entre os mais de duzentos milhões de brasileiras e brasileiros, submetidos a tremenda crise econômica, que lhes cria quase insuportáveis condições de sobrevivência — pelo menos para a maioria.
Quando um povo perde a perspectiva tudo fica mais difícil, sobretudo numa situação como a atual em que a dita correlação de forças no terreno da política segue desfavorável ao campo popular e democrático.
Estivesse entre aqueles sete amigos, a confraternizar com cachaça e chope, algum dirigente partidário da estirpe de um Lula ou de um Ciro Gomes, eu teria dito:
— Ouçam o governador maranhense Flavio Dino, do PCdoB, que defende uma ampla união das oposições para que o Brasil possa se livrar da praga bolsonarista!
Isto posto, segui mais uma rodada de chope apoiada numa excelente dobradinha.
E que venha um 2020 de muita luta e novas conquistas!
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