Assintomático transmite
coronavírus e, sem teste e rastreamento, quarentena é necessária, diz OMS
Entidade diz que ainda não há números precisos, mas contágio também
ocorre no contato com quem não tem sintomas
Ana Estela de Souza Pinto, Folha de S. Paulo
Pessoas com coronavírus mas sem sintomas (os chamados
assintomáticos) também transmitem o patógeno, afirmou nesta terça (9) Maria van
Kerkhove, líder técnica da OMS (Organização Mundial da Saúde).
A
entidade promoveu uma entrevista extra para esclarecer declaração dada na
véspera pela cientista, que, segundo ela, levou à interpretação incorreta de
que assintomáticos não transmitem o coronavírus.
No
Brasil, o presidente Jair Bolsonaro
também usou a declaração para defender a flexibilização das
quarentenas, mas o diretor-executivo da OMS, Michael Ryan, repetiu nessa terça
que medidas de confinamento devem ser usadas para interromper o contágio
enquanto não for possível testar todos os suspeitos, tratar os contaminados,
rastrear os contatos e testá-los e isolá-los.
“Ainda
não temos estudos suficientes para saber quantos são os assintomáticos.
Trabalhos tem resultados muito variados, e alguns indicam até 40% dos casos.
Sabemos que eles também podem transmitir o coronavírus, mas ainda não
conhecemos a intensidade”, disse Maria.
Ela
disse que era preciso esclarecer que, na entrevista de segunda-feira, estava se
referindo “a dois ou três estudos de alcance limitados, a textos não publicados
e a informações discutidas entre cientistas”, e que ainda não se sabe o
suficiente sobre a transmissão em nível global.
Segundo Ryan, é justamente porque ainda há muitas questões a responder sobre a
Covid-19 que a OMS recomenda a vigilância (por meio de testes, rastreamento e
isolamento) e as medidas de distanciamento físico.
“Mesmo
sem dados precisos sobre a transmissão, vários países do mundo já mostraram
que, quando fazemos isso, suprimimos o contágio”, disse o diretor-executivo.
“Quando
não sabemos onde o vírus está, colocamos todos em suas casas até as chamas
baixarem, e, quando temos um bom sistema de vigilância, reabrimos
cautelosamente”, acrescentou.
Ryan
disse ainda que identificar casos assintomáticos exige estratégias mais amplas
de testes, para as quais muitos países não têm recursos. Por isso, a OMS
defende que os testes sejam priorizados para diagnosticar quem tem sintoma,
casos suspeitos, profissionais de saúde e instituições como asilos e prisões.
Segundo
o diretor-técnico, quando há capacidade para testar suspeitos e rastrear
contatos, todos os contatos devem ficar isolados por 14 dias,mesmo os
assintomáticos. Ele afirmou que, nos países em que o contágio ainda está
acelerado, confinamento é necessário para segurar o coronavírus enquanto se
reforçam as estruturas de vigilância e tratamento.
“Ainda
estamos subindo a montanha desta pandemia, e temos que implementar as medidas
que vimos funcionar em outros lugares. Ninguém tem todas as respostas e todo o
conhecimento, mas adotamos o consenso do momento, com base no que se sabe até
agora. Nós aconselhamos. Mas quem resolve o que fazer são os países”, disse
Ryan.
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