Leia também: "Carnaval: rebeldia e prazer" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/meu-artigo-para-o-portal-grabois-4.html
A construção coletiva das idéias é uma das mais fascinantes experiências humanas. Pressupõe um diálogo sincero, permanente, em cima dos fatos. Neste espaço, diariamente, compartilhamos com você nossa compreensão sobre as coisas da luta e da vida. Participe. Opine. [Artigos assinados expressam a opinião dos seus autores].
17 abril 2025
Palavra de poeta
Fotografia
Minha opinião
Desafio militante cotidiano
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Em
frações de segundo a informação bate e volta, às vezes surpreende, na maioria
das vezes nem tanto. A superficialidade confunde.
Basta um
smartphone à mão para se conectar com o mundo. E, sobretudo, receber na forma
de vídeos curtos — os de até 20 segundos são os mais competentes, dizem os
especialistas na matéria — toda sorte de informação. Em geral carregadas de
imagens e sons destinados a despertar os instintos mais primários do ser humano
— a frustração, a revolta, a intolerância, a agressividade, o ódio.
Segundo a Câmara Brasileira do
Livro, mais da metade dos brasileiros não lê livros. País perde quase 7 milhões de leitores em quatro
anos, segundo a 6ª. edição da Retratos da Leitura no Brasil, única pesquisa
nacional que avalia o comportamento leitor dos brasileiros; queda aparece em
todas as classes, faixas etárias e escolaridade.
Entretanto,
quem não lê se confunde. Militantes de ativistas das lutas sociais e não se dão
ao trabalho do conhecimento sistematizado, teórico ou político prático, atuam
quase às cegas e até em certas circunstâncias se fazem massa de manobra.
A paixão
e o entusiasmo não são suficientes para substituir o conhecimento.
A leitura
nos permite entender as complexidades dos problemas, analisar diferentes
perspectivas e desenvolver argumentos sólidos.
Pode ser
facilmente influenciado por opiniões superficiais e não distinguir entre fatos
e ficção.
A leitura
estimula o pensamento crítico, indispensável ao bom desempenho na luta
concreta. E na vida.
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Leia: Nada é necessariamente definitivo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/minha-opiniao.html
Uma crônica de Ruy Castro
Longa vida a Bolsonaro
Nem os
que mais o odeiam querem vê-lo morto num hospital. Não, ele precisa viver, para
pagar
Ruy Castro/Folha de
S. Paulo
Jair Bolsonaro volta ao hospital em decorrência da facada
que lhe foi aplicada por um desequilibrado em Juiz de Fora na campanha de 2018.
Naquele dia, Bolsonaro foi salvo pelos médicos. O que não impediu que, como
presidente, escarrasse o seu desprezo por eles na pandemia, levando-os a
trabalhar sob altíssimo risco de vida nas UTIs improvisadas, sonegando-lhes as
vacinas, zombando dos pacientes que eles lutavam para salvar e nomeando o
repugnante Pazuello como ministro da Saúde.
Só por isso,
Bolsonaro justificaria que se soltassem foguetes a cada nó nas tripas que o
acomete. É o que, neste momento, ele parece estar pedindo, ao descrever-se como
em situação quase terminal e desfilando alegremente pelos corredores como um
moribundo. Mas nem os que têm os piores motivos para odiá-lo querem que ele
morra num leito de hospital. Não. Bolsonaro precisa viver.
Espera-se que
se recupere logo da nova cirurgia, fique firme e volte à invejável forma que
ostentava nos jet skis e motociatas enquanto o Brasil enterrava os mortos.
Precisará disso para encarar os rigores do julgamento pelos crimes de que é
acusado. Enfrentará um processo demorado, em que terá de ficar sentado horas
por dia num banco duro de madeira –o banco dos réus–, enquanto seus acusadores
desfiam as infâmias que cometeu e pedem punição adequada.
Bolsonaro terá
amplo direito de defesa e seus advogados entrarão com todos os recursos
possíveis para protelar sua condenação —o que não será nada mal, já que só
prolongará sua agonia. Milhares de pascácios fantasiados de amarelo voltarão a
acampamentos em Brasília, não mais defronte aos quartéis, mas nos arredores do STF, rezando para pneus por sua absolvição.
Será um espetáculo e tanto, e a que, se fosse preciso, muitos pagariam para
assistir.
Que os médicos
de Bolsonaro garantam a desobstrução intestinal que o aflige e o devolvam o
mais rápido possível à vida pública —ou, pelo menos, à privada. Bolsonaro
precisa viver, e quanto mais, melhor —para pagar.
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Postei no X
IBGE registra 19,5 milhões vivendo em ruas sem pavimentação, 11,2% do total de moradores em áreas urbanas em 2022. Falta dizer que investimentos públicos em infraestrutura são praticamente impedidos pelo "fiscalismo" imposto pelo mercado financeiro.
Leia: O saneamento como um direito social na Constituição https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/george-camara-opina.html
Minha opinião
A
militância nossa de cada época*
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Certa vez, como ocorre com certa
frequência, um grupo de estudantes me entrevistou demoradamente (à época, no
meu gabinete de vice-prefeito do Recife) acerca do período do regime militar.
Perguntas várias, curiosidade
comovente, misto de surpresa diante da descoberta de fatos dramáticos da vida
brasileira (dos quais sequer suspeitavam — haviam lido alguma coisa, adiantam,
mas não tinham ainda conversado com ninguém que os tivesse vivido pessoalmente);
e de alumbramento, por chegarem "tão perto" (no dizer de um deles),
através do meu relato, de coisas "quentes" de nossa História recente.
(O bom dessas entrevistas com jovens
é isso: o despertar para o conhecimento da História real e a descoberta do povo
como protagonista).
Mas eis que, ao término da conversa,
uma jovem de rosto sardento e jeito tímido, óculos de aros escuros, que me
chamara a atenção pelo quase mutismo e pelo olhar grave, pergunta:
- É muito mais fácil ser militante
hoje do que naquele tempo, não é mesmo?
- Não. Hoje, sob certos aspectos, é
até mais difícil.
Diante do ar surpreendido dela e dos
seus colegas, esclareci:
É certo, sim, que a militância
partidária, especialmente no Partido Comunista do Brasil, sob a ditadura, era
muito difícil. Atuávamos clandestinamente, sujeitos a privações e a riscos, com
a cabeça colocada a prêmio. A qualquer momento podíamos ser presos e
torturados, como de fato aconteceu com muitos de nós; ou a perder a vida nas
masmorras ou em embate aberto com as forças da repressão policial.
Porém, como a militância é uma opção
consciente, uma atitude subjetiva — era relativamente simples justificá-la: o
regime de exceção, o povo sufocado, vilipendiado e submetido a um modelo de
desenvolvimento excludente. Lutar era, assim, um imperativo de consciência.
Hoje já não temos nossas cabeças
colocadas a prêmio. Não corremos o risco de agravos à integridade física.
Mas, do ponto de vista subjetivo, a
militância implica encontrar respostas para uma gama enorme de problemas
teóricos e políticos — da perspectiva socialista aos intricados assuntos
relacionados com a situação política atual, os obstáculos à superação das
políticas neoliberais e a regressão civilizatória intentada pelo neofascismo.
Antes sofríamos a pressão dos tanques
e das baionetas, hoje, o torpedeamento da mídia, a complexidade do debate de
ideias sob pressão das redes digitais.
Nesse sentido, a militância comunista
será sempre um desafio instigante. E também uma fonte de felicidade pessoal,
quaisquer que sejam as circunstâncias — em qualquer época.
[Crônica ligeiramente modificada de texto original publicado em 3 janeiro 2015]
*Minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho
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Leia: Honrar a história de luta do povo brasileiro para elevação da consciência libertadora https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/pcdob-direitos-humanos.html
Arte é vida
Leia: Diálogo nada confortável https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_13.html
Gaza, marco histórico
Gaza sob fogo da fundação de Israel ao genocídio palestino em curso
Com apoio do Ocidente e raízes em décadas de violência, a ofensiva de Israel contra os palestinos em Gaza revela a continuidade de um projeto de limpeza étnica
João Quartim de Moraes/Portal Grabois www.grabois.org.br
Das “limpezas étnicas” aos horrores de Gaza – Com o apoio de Trump e o silêncio hipócrita da maioria dos governos da Europa liberal, o Estado sionista prossegue, dia após dia, mês após mês, desde outubro de 2023, sua lenta e implacável operação de genocídio do povo palestino de Gaza. As imagens e os relatos que de lá chegam refletem o horror em estado quimicamente puro.
Já foram massacrados mais de 50.000 civis indefesos; cerca de 120.000 foram feridos, entre os quais muitas crianças que mal tiveram tempo de começar a viver e velhos que não chegaram a conhecer uma vida melhor do que a do grande ghetto em que estavam encurralados por Israel. Para avaliar as dimensões genocidas da agressão em curso basta levar em conta que a população total da faixa de Gaza estava em torno de 2,1 milhões de habitantes.
No final da primeira década deste século, a opinião pública israelense uivou escandalizada quando o escritor português José Saramago declarou que o que estava ocorrendo na Palestina era “um crime que podemos comparar com o que ocorreu em Auschwitz”. Amos Oz, escritor israelense que às vezes posava de pacifista (sempre que Israel não estava em guerra, limpa ou suja), acusou Saramago de ser “anti-semita” e de dar prova de uma “incrível cegueira moral”. Quanta insolência! A cegueira moral não está onde ele disse, mas em usar a memória das vítimas do extermínio hitleriano para encobrir o terrorismo de Estado israelense.
O chefe do governo de Tel Aviv, B. Netanyahu, é um dos personagens políticos mais execráveis de nosso tempo. Nem por isso se lhe pode atribuir responsabilidade muito maior do que a de seus predecessores pelas recorrentes violências cometidas contra o povo palestino.
As violências começaram com a trapaça colonial, orquestrada pelo Império Britânico, que viabilizou a criação do Estado de Israel. Durante a Primeira Grande Guerra, o governo inglês, para golpear o Império Otomano, aliado da Alemanha, prometeu independência aos árabes – que, na época, constituíam 92% da população da Palestina -, caso se erguessem contra o jugo turco. Os árabes confiaram na promessa e, cumprindo sua parte no acordo, lutaram de armas na mão contra a dominação otomana. Mas, em 1917, lorde Balfour, ministro do Exterior do Império Britânico, prometeu também ao multimilionário lorde L. W. Rothschild, financiador do sionismo, um “lar nacional” para os colonos judeus estabelecidos na Palestina.
Terminada a guerra, desmantelado o Império Otomano, os britânicos e seus parceiros franceses vencedores repartiram entre eles o controle da região. A Palestina foi subordinada ao Mandato Britânico, que logo pôs em execução a trapaça do lorde Balfour, autorizando a entrada em massa de judeus europeus nas terras árabes. A composição demográfica alterou-se consideravelmente a favor dos judeus: eram 10% da população em 1922 e, em 1946, haviam atingido cerca de um terço dos habitantes da Palestina – mais de 600 mil em números absolutos.
A ONU fixara para o dia 15 de maio de 1948 o término do mandato britânico. Decididos a conquistar o máximo de território para o Estado que pretendiam proclamar, os grupos armados sionistas intensificaram, entre setembro de 1947 e março de 1948, os ataques às aldeias palestinas – muitas das quais foram eliminadas do mapa pela Haganah (principal organização armada clandestina sionista) e pelos grupos Stern e Irgun, esquadrões da morte especializados nas modalidades mais cruéis e tenebrosas de ação terrorista.
Na madrugada de sexta-feira, 9 de abril de 1948, os dois esquadrões atacaram de surpresa a aldeia de Deir Yassin, chacinando sua população indefesa em uma orgia de bestialidade que sequer poupou mulheres grávidas, cujos ventres foram abertos a facadas. Duzentos e cinquenta e quatro palestinos foram trucidados; dezenas de meninas foram estupradas – uma, de seis anos, literalmente rachada ao meio. Os depoimentos dos poucos sobreviventes e os relatórios de policiais ingleses foram reunidos por Sir R. C. Catling, diretor-geral adjunto do Criminal Investigation Department, na pasta ‘secreta e urgente’ nº 179/11017/65. Um dos relatos mais objetivos e completos da chacina de Deir Yassin está no livro Ô Jerusalém, escrito pelos jornalistas Dominique Lapierre e Larry Collins (edição francesa: Paris, Laffont, 1971, pp. 363-369).
Begin, chefe máximo do Irgun e, nessa qualidade, um dos mais hediondos criminosos políticos do século XX, foi recebido em dezembro de 1948 por sionistas de Nova York. Indignados, membros eminentes da comunidade judaica local — não contaminados pelo vírus facho-sionista — lançaram um manifesto no qual se dissociavam firmemente dos algozes de Deir Yassin:
“Esta localidade não participou da guerra e até recusou-se a servir de base para grupos armados árabes. No dia 9 de abril, os terroristas [dos grupos Stern e Irgun] atacaram esta aldeia tranquila. […] Massacraram […] quase a totalidade dos habitantes, deixando alguns vivos para exibi-los como prisioneiros nas ruas de Jerusalém. A maior parte da comunidade judaica ficou horrorizada com este ato. […] Mas os terroristas […] mostraram-se orgulhosos do massacre, convidando todos os correspondentes estrangeiros […] para ver os cadáveres amontoados […].”
A fundação do Estado israelense beneficiou-se desses métodos de ‘limpeza étnica’ perpetrados por esquadrões da morte tão abomináveis quanto as Sturmabteilungen hitlerianas. Os palestinos que permaneceram nos territórios ocupados por Israel foram submetidos a um regime de ‘apartheid’ ainda mais severo que o imposto aos povos originários da África do Sul por uma minoria de colonos de origem europeia. Quem o diz são sul-africanos que foram submetidos a essa abominável discriminação. As atuais operações de extermínio contra os palestinos de Gaza horrorizam sem chegar a surpreender: elas se inscrevem na lógica do ódio e do desprezo do colonizador pelo povo que ele subjuga.
João Quartim de Moraes é professor universitário, formado em Filosofia e em Direito na Universidade de São Paulo. Em 1968-69 participou da resistência clandestina à ditadura militar. Passou os anos setenta exilado na França. Após a anistia, voltou ao Brasil. Professor de Filosofia na Unicamp Publicou vários livros e muitíssimos artigos no Brasil e na Europa. É pesquisador sênior do Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Seus temas centrais: história do pensamento político, materialismo antigo e moderno, marxismo, instituições brasileiras.
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Leia também: O mundo cabe numa organização de base https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/05/minha-opiniao_18.html
16 abril 2025
Palavra de poeta
'Gabinete' entrevista Luciano Siqueira
Bom sinal
Economia aquecida e estímulo do governo fazem MEIs saltarem 35%
Micro e pequenas empresas também tiveram aumento no primeiro trimestre, com 28%. Taxa de empreendedorismo atingiu maior nível dos últimos 4 anos, saindo de 31% para 33% em 2024
Priscila Lobregatte/Vermelho
Com a economia aquecida e programas federais de fortalecimento e estímulo aos empreendedores, o Brasil registrou alta na abertura de pequenos negócios. No primeiro trimestre de 2025, o volume de microempreendedores individuais (MEIs) cresceu 35% em comparação com o mesmo período de 2024. Já as micro e pequenas empresas tiveram um aumento de 28%.
Até março, o número de novos CNPJs ultrapassou 1,4 milhão — neste universo, as MEIs correspondem a 78%. Os dados fazem parte de levantamento realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Em março, o setor de Serviços obteve o melhor desempenho, com mais de 257 mil pequenos negócios abertos (63,7% do total), seguido por Comércio, com quase 84 mil (20,8%), e Indústria da Transformação, com quase 31 mil (7,6%).
Quando os dados são desdobrados em atividades econômicas, os MEIs tiveram mais força em transporte rodoviário de carga (20,5 mil), atividades de malote e entrega (20 mil) e cabeleireiros/beleza (18,2 mil).
No caso das MPEs, destacam-se as atividades de saúde, exceto médicos e odontológicos (5,6 mil), atenção ambulatorial executada por médicos e odontológicos (5,3 mil) e serviços de escritório e apoio administrativo (4,8 mil).
De acordo com Márcio França, ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte , “a Política Nacional de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas é um marco importante para fortalecer quem mais gera emprego e renda no Brasil: os pequenos negócios. Estamos levando essa política para cada canto do país, com foco em produtividade, inovação e inclusão econômica”.
Outra iniciativa do governo Lula voltada a esse público é o ProCred 360, linha de financiamento focada nos pequenos negócios. Até o momento, cerca de 70 mil microempreendedores individuais já foram beneficiados com a contratação de R$ 2 bilhões.
Empreendedorismo em alta
A taxa de empreendedorismo no país atingiu o maior nível dos últimos quatro anos, saltando de 31,6% para 33,4% em 2024, segundo o Monitor Global de Empreendedorismo (Global Entrepreneurship Monitor – GEM 2024), elaborado, no Brasil, pelo Sebrae em parceria com a Associação Nacional de Estudos e Pesquisas em Empreendedorismo (Anegepe).
Segundo o estudo, o país possui 47 milhões de pessoas à frente de algum negócio, formal ou informal. Entre os fatores que justificam o indicador está o aumento na Taxa de Empreendedores Estabelecidos (com mais de 3,5 anos de operação). Esse indicador saltou de 8,7%, em 2020, para 13,2% no ano passado.
Cenário favorável
O desempenho do país — tanto do ponto de vista econômico quanto no que diz respeito à estabilidade política — também tem ajudado quem deseja empreender.
De acordo com o mis recente IBC-Br do Banco Central — que corresponde à prévia do PIB —, a atividade econômica avançou pelo segundo mês seguido, registrando 0,4% em fevereiro.
Na comparação com mesmo mês do ano passado, houve crescimento de 4,1%. Quando analisado o acumulado em 12 meses, o indicador também ficou positivo em 3,8%.
O cenário atual a também têm levado ao aumento geral do número de pessoas empregadas. Em 2024, o país registrou apenas 6,1% de desemprego, a menor taxa desde 2012, segundo o IBGE. (Com agências)
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Postei no X
Chega a ser escandalosa a discrepância entre as pautas atuais da Câmara dos Deputados e do Senado e os reais problemas do país. Que fazer?
Leia: Quem defende o quê? https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/minha-opiniao_27.html
Palavra de poeta: Guimarães Rosa
Correr da vida
Guimarães Rosa
O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem…
[Ilustração: Charles Spencelayh]
Leia também um poema de Wisława Szymborska https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/palavra-de-poeta-wisawa-szymborska.html
Postei no Threads
Quando o líder precisa reafirmar que continua líder — como faz Bolsonaro agora —, no mínimo sua liderança está se dissolvendo. E está mesmo.
Ex-presidente encurralado https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_33.html
Uma crônica de Urariano Mota
O partido mandou me chamar
No compasso do frevo e da memória, um escritor cruza o samba com a revolução e encontra no afeto e na história o impulso para entrar no Partido Comunista.
Urariano Mota
Se a vida pudesse ter a imagem de um ponto da curva, de inflexão num só instante, eu diria que me aconteceu um no sábado de carnaval de 2018. Estávamos eu e Francêsca no Mercado da Boa Vista, ali por volta de uma da tarde, sentados a uma mesa, quando vi na multidão que ondulava as pessoas de Alanir Cardoso e Nevinha. O quê, eram eles?
A sua visão transmitia um sentido bom que acenava para o melhor da gente na tarde: casal de militantes comunistas, cabelos brancos, provados e sobreviventes da ditadura. Então nós os convidamos para que dividissem um pequeno espaço da mesa onde estávamos, espremidos na multidão que sorria e gritava e bebia.
“Me segura senão eu caio”, entre muitos frevos estrondava, e bêbados, ou quase bêbados, mulheres e homens davam impulsos brincalhões na mesa como se estivessem a cair. Ali não era nem seria ambiente de se discutir política, revolução, história, onde já se viu? O barulho e a ocasião impediam. Mas como se pode pedir a um escritor e a um presidente do PCdoB em Pernambuco, que não falem sobre a ponte de um militante que partira ainda outro dia? Então me veio à conversa como um raio do qual não se escapa: ali, naquele mesmo espaço eu estivera com Marco Albertim a rir e sorrir para a diversidade humana no Mercado da Boa Vista, em alguns sábados. Nós não precisávamos mais, no mercado, pedir lata de sardinha com cachaça, enquanto o dono do boteco me torturava com a música de Waldick Soriano, eu não sou cachorro não, como numa noite desesperada. Ali, no mercado, na última vez, Marco Albertim ia até um boxe e de lá voltava com um prato de frios, queijo do reino, salaminho, mais uns queijos finos, e podíamos beber uísque. Que diferença das sardinhas com aguardente à noite sob a ditadura.
Eu lembrava isso e Alanir, com voz muito baixa, abafada pelos clarins da banda que circulava pela multidão, respondia, mas dele só me chegavam palavras isoladas e sua expressão, que, traduzidas por Nevinha e Francêsca se traduziam em síntese neste convite:
– Por que você não entra para o Partido?
No Mercado da Boa Vista, então começaram a cantar o compositor e cronista Antônio Maria:
“Sou do Recife
Com orgulho e com saudade
Sou do Recife
Com vontade de chorar
E o rio passa
Levando barcaça
Pro alto do mar
E em mim não passa
Essa vontade de voltar
Recife mandou me chamar
Capiba e Zumba
Esta hora onde é que estão?
Inês e Rosa
Em que reinado reinarão?
Ascenso me mande um cartão
Rua antiga da Harmonia
Da Amizade, da Saudade e da União
São lembranças noite e dia
Nelson Ferreira toque aquela introdução”
– Por que você não entra para o Partido?
Respondi ao convite com ressalvas, mas eu já estava alcançado e ferido na sensibilidade. Esses sábados de carnaval, esses frevos, essas memórias do que passamos, esses lugares hoje de felicidade coletiva, como fugir do seu irresistível apelo? Eu olhava de lado, me furtava. Então expus razões substantivas, pois haveria um programa partidário a seguir, havia conflitos na política prática do partido com governos aliados, que não me deixavam à vontade. Como viver sob a disciplina partidária?
Eu me lembrava do que Graciliano Ramos falou um dia em 1946, na célula comunista Teodoro Dreiser:
“Não somos, entretanto, contrários ao desempenho de quaisquer tarefas intelectuais, e, muito menos, ao de tarefas práticas. Gostaríamos, apenas, de que a execução destas e daquelas nos deixassem margem para a confecção de nossos contos e romances… Apenas desejamos resguardar um pouco nossas horas e de nossa solidão para gastá-lo em nossa literatura, em nossa incoercível necessidade de criar nossos personagens e nossa histórias – coisa que muitos de nós nunca mais conseguiram, desde que se filiaram ao Partido. O horário de trabalho dos demais militantes, operários, camponeses, funcionários públicos…é estritamente respeitado pelo Partido. Gostaríamos, nós também, de dispor de alguns momentos para nossa literatura. Mesmo as ‘duas horas pela manhã’ que um companheiro dirigente ofereceu a Jorge Amado seriam bem recebidas por alguns de nós, que têm a sua espera, na gaveta, um romance de que só falta alinhavar o último capítulo…”
É claro que cito Graciliano Ramos assim enquanto escrevo, mas na hora eu estava com o sentimento do que li, sabia dos conflitos que houve entre um mestre da literatura brasileira e a direção partidária. Então Alanir, como se fosse uma lembrança da fala de Graciliano Ramos, falou a mim, em tudo tão diferente do clássico, eu que sou menor e menor. Então ele falou a este escritor medíocre:
– Você terá respeitada sua liberdade de pensamento e opinião.
Isso eu ouvi. Já antes desse sábado de carnaval, lembro que os camaradas me haviam feito uma recepção calorosa em São Paulo, na Fundação Maurício Grabois, quando fui lançar o romance “A mais longa duração da juventude”. Depois, no Recife, a UJS Pernambuco ocupou a livraria no lançamento do romance. Foi comovente saber que a linda bebê do presidente da UJS e companheira se chama Helenira. Depois, a brava juventude ergueu o braço e gritou que era herdeira do Araguaia. Não sei mais o que falar sobre tão humanas recepções.
Mas sei que a frase “você terá respeitada sua liberdade de pensamento e opinião” foi decisiva. E se assim era, pensei, por que não ia me integrar às filas, às fileiras de companheiros vivos e falecidos? Cada vez mais, tenho a compreensão de que sou memória. E quero estar com os companheiros que vi e vejo, estou com eles, porque assim manda o coração. E respondi que sim, que iria à sede do partido assinar minha ficha. Ao falar dessa maneira, eu pensava que iria preencher e assinar um cartãozinho, feito cartão de autógrafos de abertura de firma em cartório. E teria que reconhecer meu garrancho depois. Mas o partido está informatizado, sem fichários de lata cheios de cartõezinhos como antes. O certo é que respondi “vou lá assinar”.
Mais adiante, no outro dia, refleti: na atual conjuntura reacionária, como o chamado mundo literário irá reagir a um escritor que se filia ao Partido Comunista do Brasil? No mínimo, de um ponto de vista de prêmios, isso não é exatamente uma recomendação literária. O julgamento de estetas e cultores da pura estética não premia filiação ao partido comunista. Não bastasse o que escreve, ainda entrou no partido! Mas acreditem, amigos, poucas vezes me senti tão feliz com a perda de prêmios que um dia talvez quem sabe eu viesse por hipótese remotíssima ganhar. O prêmio que importa é este: socialistas e camaradas, estamos juntos. Na felicidade e na tristeza. Na saúde e na doença.
Eu, que tanto penso em literatura, nos romances, no mundo da cultura, nos amigos e nas mulheres heroicas da luta socialista, fui me encontrar com um comunista que só pensa na revolução. É no que dá um encontro de sábado de carnaval. Entrei no Partido na sexta-feira 16 de fevereiro deste 2018. Entrei atrasado, porque deveria ter entrado bem antes, mas há muito eu já estava em pensamento com os bravos e fundamentais companheiros de geração.
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Leia também: Os muitos reencontros no Encontro do PCdoB https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/minha-opiniao_23.html
Brasil diante do tarifaço de Trump
“Reciprocidade econômica”: Brasil ganha poder de resposta a tarifas de Trump
Nova legislação autoriza o governo brasileiro a adotar medidas retaliatórias contra práticas comerciais consideradas abusivas, incluindo sobretaxas e suspensão de concessões. Saiba como o país pode reagir às pressões externas.
Cezar Xavier/Vermelho
Entrou em vigor nesta segunda-feira (14) a “Lei da Reciprocidade Econômica”. Aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Lei nº 15.122/2025 dá ao Brasil instrumentos legais para responder a medidas comerciais unilaterais impostas por países ou blocos econômicos, como os Estados Unidos. A norma estabelece critérios claros para suspender concessões comerciais, aplicar sobretaxas e até suspender obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual em situações específicas.
A lei surge em um contexto de tensões comerciais globais, especialmente após a imposição de tarifas pelo governo do presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros. O objetivo? Garantir que o Brasil tenha mecanismos para defender sua economia e soberania diante de práticas consideradas desleais ou prejudiciais.
Por que isso é importante?
A “Lei da Reciprocidade Econômica” reafirma a soberania brasileira e garante que o país tenha ferramentas jurídicas para enfrentar pressões comerciais e ambientais no cenário global. Além disso, a legislação busca preservar os interesses econômicos nacionais sem comprometer parcerias estratégicas.
Em um mundo marcado por disputas comerciais e mudanças climáticas, o Brasil agora tem um instrumento robusto para defender seus interesses e promover um comércio internacional mais justo e equilibrado.
A “Lei da Reciprocidade Econômica” representa um passo importante para fortalecer a posição do Brasil no cenário global. Ao adotar medidas proporcionais e estratégicas, o país pode responder de forma assertiva a práticas comerciais abusivas, como as tarifas impostas por Trump, garantindo que sua economia continue competitiva e resiliente.
Quando o Brasil pode agir?
A nova legislação define três cenários principais em que o Brasil poderá adotar contramedidas:
1. Interferência nas escolhas soberanas do Brasil
Se um país ou bloco econômico tentar influenciar decisões brasileiras — seja por meio de ameaças ou imposições comerciais —, o Brasil poderá reagir. Isso inclui casos em que outros governos buscam pressionar o Brasil a alterar políticas ambientais ou econômicas.
2. Violação de acordos comerciais
Caso um parceiro comercial viole acordos internacionais dos quais o Brasil faz parte, ou negue benefícios previstos nesses tratados, o país está autorizado a adotar medidas retaliatórias.
3. Imposição de exigências ambientais excessivas
A lei também protege o Brasil contra pressões internacionais relacionadas a questões ambientais. Se outro país impuser requisitos mais rigorosos do que aqueles já adotados pelo Brasil — como as metas do Código Florestal ou do Acordo de Paris —, o governo poderá responder com contramedidas econômicas.
Como o Brasil pode responder?
A “Lei da Reciprocidade Econômica” oferece três tipos principais de contramedidas, que podem ser aplicadas de forma isolada ou combinada:
1. Sobretaxas sobre importações
O governo brasileiro pode impor novos tributos sobre bens e serviços importados de países ou blocos econômicos que tenham adotado práticas prejudiciais ao Brasil. Por exemplo, se os EUA aumentarem tarifas sobre produtos brasileiros, o Brasil poderá retaliar com sobretaxas sobre produtos americanos.
2. Suspensão de direitos de propriedade intelectual
O Brasil também pode suspender concessões relacionadas a patentes, marcas e outros direitos de propriedade intelectual. Essa medida poderia impactar empresas estrangeiras que dependem desses direitos para operar no mercado brasileiro.
3. Suspensão de obrigações em acordos comerciais
Outra possibilidade é suspender obrigações previstas em acordos comerciais multilaterais. Isso significa que o Brasil pode deixar de cumprir determinadas cláusulas de tratados enquanto durar a disputa.
Importante ressaltar que essas medidas devem ser proporcionais ao impacto econômico causado pelas ações externas e evitar custos administrativos excessivos ou prejuízos à economia nacional.
Exemplo prático: Como o Brasil pode responder ao “tarifaço” de Trump?
Recentemente, os EUA anunciaram tarifas de 10% sobre todos os produtos brasileiros exportados para o mercado norte-americano. No caso do aço e do alumínio, a sobretaxa foi ainda maior: 25%. Essas medidas afetam diretamente empresas brasileiras, que são os terceiros maiores exportadores desses metais para os EUA.
Com base na nova lei, o Brasil poderia:
- Impor sobretaxas sobre produtos agrícolas ou industriais americanos, como soja, milho ou automóveis;
- Suspender licenças de uso de tecnologias ou patentes de empresas dos EUA que atuam no Brasil;
- Revisar compromissos assumidos em acordos comerciais com os EUA, como o Mercosul ou tratados bilaterais.
Além disso, a lei permite a adoção de contramedidas provisórias antes mesmo da conclusão de consultas diplomáticas, desde que o caso seja considerado excepcional.
Qual o papel do setor privado?
A implantação das contramedidas será feita em coordenação com o setor privado, garantindo uma abordagem colaborativa. Consultas públicas serão realizadas para coletar sugestões e avaliar os impactos das medidas. A Câmara de Comércio Exterior (Camex) terá um papel central nesse processo, monitorando os efeitos das contramedidas e ajustando-as conforme necessário.
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Leia: Efeito bumerangue faz Trump recuar com “tarifaço”
https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/tarifas-de-trump-idas-e-vindas.html
Humor de resistência
Leia: Apenas pirotecnia https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/minha-opiniao_28.html
Postei no Threads
Mano Menezes, do Fluminense e agora Pedro Caixinha, do Santos. Qual será o próximo técnico de clube da série A a ser demitido ainda no início da competição? Ai de ti, futebol brasileiro!
Leia: Leitura instantânea e imperfeita https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/china-russia-no-contexto-global.html
Segurança pública, crime organizado e milícias
Com
coordenação de Marta Alves e moderação de José Carlos Pires, a Mesa 15 "Segurança
Pública, Crime Organizado e Milícias" reúne três importantes especialistas
para debater os dilemas e os caminhos da segurança pública no Brasil: Luiz
Eduardo Soares, Marcelo Godoy e Thiago Rodrigues. 👉 Em pauta:
O
avanço do crime organizado e das milícias;
As
práticas autoritárias nas polícias;
A
descoordenação entre os entes federativos;
E a
urgência de uma política de segurança eficaz, democrática e comprometida com a
justiça social.
Leia: O mundo cabe numa organização de base https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/05/minha-opiniao_18.html
George Câmara opina
O saneamento como um direito social na Constituição
Incluir o saneamento como direito social na Constituição é passo decisivo para garantir dignidade, saúde e igualdade a milhões de brasileiros excluídos.
George Câmara/Vermelho
Tramita no Congresso Nacional uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com o objetivo de incluir o saneamento básico entre os direitos sociais previstos no artigo 6º da Constituição Federal.
Já aprovada recentemente no Senado em dois turnos, a matéria segue para a Câmara dos Deputados, onde também será apreciada. Para sua efetivação, é exigida a aprovação em dois turnos também na Câmara.
Quando foi promulgada, em 05 de outubro de 1988, a Constituição reconhecia como direitos sociais enumerados no seu artigo 6º: a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados.
Até hoje, três Emendas Constitucionais acrescentaram, nesse rol de direitos sociais: a moradia (EC nº 26, de 14/02/2000), a alimentação (EC nº 64, de 04/02/2010) e o transporte (EC nº 90, de 15/09/2015).
Foram avanços significativos, criando as condições efetivas para a implementação de programas de elevado alcance social como o Minha Casa Minha Vida, na moradia popular (habitação de interesse social), combatendo o triste déficit habitacional, sobretudo para as famílias mais pobres.
Na alimentação, programas como o Bolsa Família (transferência de renda) e o Fome Zero (segurança alimentar), tiram da faixa de miséria e pobreza inúmeras famílias pelo país afora. Programas com forte componente compensatório, porém fundamentais para combater as vergonhosas desigualdades sociais em que o Brasil figura com os piores índices do planeta.
No transporte, já é um fato a implementação da Tarifa Zero em algumas cidades brasileiras. Muito poucas, ainda, porém o tema está na agenda e já reúne as condições para se ampliar a conquista numa abordagem em âmbito nacional, como ocorre com o SUS, na saúde, com o SUAS, na assistência social e com o FUNDEB, na educação.
Muita gente pergunta: o que muda na vida das pessoas se o saneamento básico for incluído no rol dos direitos sociais no artigo 6º na Constituição? Muda muito. Fortalece a ideia de cidadania e reforça que o saneamento dialoga profundamente com ser ou não ser um cidadão de primeira classe. Ou ser marginalizado na sociedade, caso lhe seja negado esse direito.
Se a gente for analisar, quem tem mais dinheiro, tem saneamento. Quem é mais pobre tem menos ou nenhum acesso. Portanto, quando se define o saneamento como um direito de cidadania, caminha-se para a universalização no acesso a esse direito.
Desde o ano de 2010, a Organização das Nações Unidas (ONU) define o direito ao saneamento como um direito humano fundamental. A Agenda 2030 da ONU, por meio da formulação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelece, no Objetivo 6, “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e do saneamento para todos”.
O acesso à água e ao saneamento básico figuram como direitos elementares, entrelaçados com a saúde pública e com a defesa de um meio ambiente equilibrado, para as atuais e futuras gerações. O citado Objetivo 6, entre as suas 8 metas, aponta, na meta 2:
“Meta 2 – até 2030, alcançar o acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para todos, e acabar com a defecção a céu aberto, com especial atenção para as necessidades das mulheres e meninas e daqueles em situação de vulnerabilidade”.
No Brasil, a política pública de saneamento básico apresenta um quadro assustador, marcado fortemente pela exclusão na cobertura dos serviços, tanto na coleta como no tratamento dos esgotos, revelando um cenário ainda muito distante das metas dos ODS.
A aprovação da PEC do saneamento, dentro da maior brevidade possível, pela Câmara dos Deputados, vai criar as condições para a retomada nos investimentos em saneamento básico em todo o Brasil, elevando os níveis de cobertura tanto na coleta como no tratamento de esgotos, beneficiando transversalmente a saúde pública e o meio ambiente.
Vamos à luta, mobilizar a sociedade para a urgente aprovação da PEC do saneamento na Câmara dos Deputados.
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Leia: IA, nem
inteligente, nem artificial https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/ia-o-que-e.html
15 abril 2025
Palavra de poeta
Integrações
Pablo Neruda
Depois de tudo te amareicomo se fosse sempre antescomo se de tanto esperarsem que te visse nem chegassesestivesses eternamenterespirando perto de mim.
Perto de mim com teus hábitos,teu colorido e tua guitarracomo estão juntos os paísesnas lições escolarese duas comarcas se confundeme há um rio perto de um rioe crescem juntos dois vulcões.
[Ilustração: Blanche Augustine Camus]
Leia também: 'Promessa de uma
noite' https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/palavra-de-poeta-mia-couto.html
Leia também: 'Promessa de uma noite' https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/palavra-de-poeta-mia-couto.html
Enio Lins opina
Semana Santa, saúde da democracia, e anistia pecaminosa
Enio Lins
COMO SEMPRE, quando algum perigo se aproxima, o ex-capitão acha melhor jair apelando ao vitimismo. A receita é simples: ao se ver numa enrascada, anuncia-se com um pé na cova e se refugia no hospital mais próximo. Busca gerar renovadas ondas de compaixão entre seus seguidores e substituir sua presença no noticiário policial pelo destaque na seção de pré-obituário. Verdade é que alguma anormalidade existe desde a operação feita às pressas, em 6 de setembro de 2018, em Juiz de Fora, a da tão famosa quanto misteriosa facada “milagrosa”. Apesar do dito mito esfaqueado não ter sangrado, nem ter tido sequer a camiseta canarinho perfurada (ou não foi apresentada na ocasião), uma cirurgia de urgência foi realizada. Aquele acontecimento altamente suspeito, além de ter lhe salvado da derrota nas urnas naquele pleito, tem possibilitado à tão escatológica criatura essa rota de fuga: a mesa de cirurgia. Já são seis, na conta oficial, os procedimentos cirúrgicos, sem contar as hospitalizações eventuais.
VAMOS TORCER por sua recuperação. Não se deve desejar para ele o que ele desejou para Dilma e para Lula quando doentes. Da mesma forma é incorreto sugerir que o mito seja atendido por um profissional do quilate do Dr. Tibiriçá – seu maior ídolo. Entretanto, é indispensável perceber que o doente em tela quer medicamento além do ser anistiável. O mito quer-se inimputável ad aeternum. E nesta luta tremenda, hercúlea, para poder seguir saudável no cometimento de todo tipo de crime (dos delitos milicianos aos golpes de Estado, passando pela multiplicação patrimonial), é utilíssimo jair se fazendo de coitadinho. Aos moribundos sempre são dirigidos gestos de condescendência, complacência e comiseração. É isso o que o falso messias mais almeja: inspirar dó até que suas tripas em nó ; se desfaçam em evacuações sobre a Constituição, sobre o Estado Democrático de Direito e sobre o Código Penal. Mas prisão de ventre não deve ser desejada a ninguém, muito menos como réquiem. Que o ex-capitão recupere integralmente seu funcionamento intestinal, e que, quando de seu retorno à prisão (pois já viu o sol nascer quadrado, em 1986) possa usufruir de equipamentos adequados, como um higiênico vaso sanitário turco, conforme rezam as regras para penitenciárias.
É ATITUDE CIDADÃ lutar contra a utilização de qualquer tipo de doença como tática para solapar a Constituição, o Estado de Direito Democrático e o Código Penal. Até porque se a moda pega, as penitenciárias vão virar enfermarias e antessalas da impunidade, e teremos gente como Marcola e Fernandinho Beira-Mar exigindo anistias por conta dos intestinos presos ou inconveniências do tipo. Nessa temática, o Brasil passa, nas proximidades desta Semana Santa, por um grande risco para a sua saúde democrática: a anistia licenciosa, codelinquente, cúmplice de um crime recorrente, que é a conivência para com golpes de Estado. Pela primeira vez em seus 525 anos de existência, o Brasil está prestes a expelir uma hipóstase que tem obstruído os intestinos da história nacional há séculos: a coone stação para com líderes criminosos golpistas.
JAIR MESSIAS QUER USAR de sua doença para manter o Brasil doente. Quer travar os intestinos da República impedindo que dali seja extirpado o tumor maligno do qual a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023 é apenas uma metástase. Pela primeira em sua sofrida história com mais de meio milênio, a nação brasileira assiste a Justiça chamar à responsabilidade penal golpistas de alta patente, incluídos nesse rol de réus um ex-presidente da República e alguns oficiais subversivos. Isso sim é redenção, salvamento. Que não seja esse processo interrompido por anistias corruptoras, e que esses dejetos sejam, enfim, expelidos pelo organismo democrático. E, repetindo, saúde ao mito para que ele possa responder por seus crimes sem desconfortos extras. Amém.
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Ex-presidente encurralado https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_33.html