17 setembro 2025

Minha opinião

Dos salões para as ruas 
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65      

O ato público da última segunda-feira, no teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (TUCA), a propósito do Dia Internacional da Democracia, guarda muitos significados. 

Em recinto fechado, sim, e em local marcado por tradição política construída ao longo das últimas décadas. 

Amplo: representantes de diversos segmentos da sociedade — políticos, religiosos, acadêmicos, artísticos — expressaram com nitidez suas convicções na defesa da democracia e da soberania nacional. 

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, a presidente da UNE, Bianca Borges, o reitor Vidal Serrano Nunes, da PUC, dentre muitos expressaram elevada compreensão acerca do momento presente e da dimensão da luta. 

Destaque para Almino Affonso, ex-ministro da Educação no governo João Goulart, militante persistente aos 96 anos.

No atual estágio da mobilização social, eventos dessa natureza além de darem consistência à convergência de ideias, arregimentam energias para que possam, adiante, desembocar em grandes manifestações populares em praça pública. 

Um detalhe relevante, pois o movimento democrático e popular brasileiro ainda não conseguiu encontrar caminhos e formas de superação da nova realidade dos trabalhadores e das grandes massas populares, na qual nem sempre é fácil colocar grandes contingentes de ativistas em praça pública.

A consigna "nas redes e nas ruas" é insuficiente porque omite a necessária etapa da mobilização mais qualificada, em recintos fechados, destinada a consolidar a convergência de opiniões e a disposição comum em mobilizar grandes parcela do povo. 

Melhor propor "nas redes, nos salões e nas ruas".

Na foto, no telão, Walter Sorrentino, vice-presidente nacional do PCdoB

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Leia também Convergência necessária e possível https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/08/minha-opiniao_15.html 

Humor de resistência

 

Aroeira

Encontro com a história https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/encontro-com-historia.html 

Abraham Sicsu opina

Voltando ao tecnofeudalismo de Yanis Varoufakis
Abraham B. Sicsu   

Marx, em discurso de 1856, ao definir as mudanças advindas do novo sistema, o Capitalismo, afirmava:

“Em nossos dias, tudo parece repleto de seu contrário: o maquinário dotado do maravilhoso poder de diminuir e frutificar o trabalho humano, contemplamos esfomeados e estafados; as fontes modernas de riqueza, por algum estranho feitiço, são transformadas em fontes de necessidade; as vitórias da arte parecem compradas pela perda de caráter.”

No Tecnofeudalismo isso se potencializa, mundo em que há uma classe dominadora das nuvens, muito pequena, a qual obtém sua renda, mais que extraordinária, advinda dos feudos nas nuvens. Estes têm que ser arrendados pelos capitalistas que para vender suas mercadorias são forçados a deles se utilizar.

Nesse mundo, os feudos são plataformas de comércio cujos algoritmos são propriedade daqueles que se apropriam dos que os constroem e submetem a todos nós à sua lógica.

Os capitalistas comuns submetem os servos do sistema. Somos dependentes e retroalimentamos os algoritmos. Nós servos, constantemente geramos dados e informações que alimentam e direcionam o sistema fazendo com que se aperfeiçoem os modelos de expropriação fazendo com que   a renda das nuvens vá se avolumando.

Como diz Yanis Varoufakis “sob o tecnofeudalismo, já não temos propriedade sobre nossas mentes. Cada proletário está se tornando um proletário das nuvens durante o horário comercial e um servo no resto do tempo. Cada trabalhador autônomo empreendedor vira um vassalo das nuvens, e cada trabalhador autônomo precarizado se torna um servo das nuvens.”

A internet nos tornou servos no sentido de sua dependência fazer com que o tempo todo estejamos dando informações, ou seja, trabalhando para aqueles que se apropriam. As nuvens têm donos poderosos que sabem tirar proveito de tudo que fornecemos, o tempo todo.

Nesse mundo confuso, nós que vivemos no Hemisfério Sul  e não temos o controle da tecnologia, nem tampouco da financeirização que se baseia no padrão dólar, passamos por dificuldades adicionais.

O mundo está sendo direcionado pelo padrão dólar, ainda não pelo  iuane. Pouco a pouco, para garantir nossa inserção, mesmo que de países periféricos, para garantir um mínimo de padrão de vida para nossas populações, estamos sendo forçados a aderir a um dos dois mega Blocos que vão se consolidando. A esfera de influência estadunidense, a esfera de influência chinesa.

O domínio do capital nuvem está nessas mãos, é quase impossível fugir dessa escolha sempre problemática. O espaço para se ter uma posição independente inexiste, a formação de um bloco alternativo se torna ficção, o papel de ponte entre os dois blocos vai se fechando.

O padrão dólar, alicerçado pelas políticas anticíclicas dos Bancos Centrais dos países mais desenvolvidos, levou a um derrame de moeda que assegura o crescimento exponencial da capacidade financeira do capital nuvem e faz  com que ele não seja facilmente substituível.

Mesmo a China que poderia ter interesse na substituição do padrão monetário, permitindo espaços menos draconianos no comércio internacional, tem reservas imensas daquela moeda e sua desvalorização não é interesse prioritário nas novas alianças que vem construindo. O uso das nuvens, com novas ferramentas na área financeira, para um reposicionamento na geopolítica internacional, tem reservas imensas.

Com o derrame de moeda dos bancos Centrais para resolver crises e o crescimento do capital nuvem, a própria dinâmica de inovações passa a ser influenciada.

Energia renovável, veículos autônomos, educação a distância, nova bioeconomia e todos os outros segmentos da nova matriz tecnológica que se afigura, passam pelo capital nuvem que se expande de maneira exponencial.

A química, a física, a biologia moderna não se assenta em experimentos terrenos, paupáveis, mas no capital nuvem. Com isso, o domínio dos caminhos que se apresentarão na ciência passa necessariamente pelos interesses desses capitais, um mundo orientado pelas grandes corporações de tecnologia, as chamadas Bigtechs.

As ações hiper valorizadas dos capitalistas nuvem fazem com que dominem, também, o capital financeiro. A riqueza de Bezos e Musk, por exemplo, passou de 10 bilhões de dólares em 2010 para 200 bilhões cada em 2021.

A inteligência artificial, os datacenters sofisticadíssimos, as start-ups revolucionárias, são adquiridos e comandados pelo novo capital.  Os empréstimos baratos conseguidos nas crises não foram direcionados para o aumento do capital produtivo propriamente dito, em grande parte, mas sim, para o crescimento astronômico do capital financeiro dos proprietários do capital nuvem.

As crises com as saídas engendradas pelos Bancos Centrais, sempre com um crescimento exponencial do crédito subsidiado, fizeram com que a lógica do novo mundo fosse comandada por esse capital, restrito, exclusivo de poucos, fazendo com que a grande maioria das firmas e da população em geral, não só trabalhasse para eles, mas se submetesse às suas regras que nos tornam reféns de suas vontades.

Novos ativos digitais como os Bitcoins, o derivativos e as NFTs vão criando espaços que podem consolidar o novo feudalismo, mesmo sem o estado como regulador.

Isso é assustador. Será que estamos chegando ao mundo dos impérios empresariais?

Ser servo em um Estado que tem regras mínimas é uma coisa, ser servo num mundo em que as regras serão definidas pelas rendas das Big empresas, um inimaginável pesadelo.

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Leia também: O desafio da dominação das Big Techs https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/enfrentando-as-big-techs.html    

Postei nas redes

Pesquisa Genial/Quaest revela que  55% da população acreditam que houve tentativa de golpe e 54% dizem que Bolsonaro participou do plano. Tomada de consciência crescente. 

Leia: Luiz Fux e as duas faces da moeda https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/minha-opiniao_11.html 

Fotografia

 

Luciano Siqueira

Minha opinião

CALOR AUTOMOTIVO
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65 


 

Nesses dias de clima ensandecido, há momentos em que no Recife o calor é quase insuportável.

Anteontem, na arborizada Rua do Futuro, nas Graças, deu 30 graus às 9:30 da manhã!

Pior é nessa grande oficina em que aguardo um pequeno serviço no meu modesto veículo.

Movimento intenso, mecânicos se cruzam a todo instante enquanto concluem um trabalho e incontinenti iniciam outro.

Quase 40⁰ C, posso apostar.

E uma senhorinha passa vendendo guloseimas e — alardeia em voz alta — um cafezinho quente!

Nem doce, nem café — respondo delicadamente. Adoraria um banho de água fria!

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Leia também: A cidade que amamos https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/minha-opiniao_9.html

16 setembro 2025

Palavra de poeta

Ausência
Pablo Neruda  

Ainda há pouco te deixei,
e vais comigo, cristalina
ou trémula,
ou inquieta, ferida por mim mesmo
ou cheia de amor, como quando os teus olhos
se fecham sobre o dom da vida
que sem descanso te entrego.

Meu amor,
encontrámo-nos
sedentos e bebemos
toda a água e sangue,
encontrámo-nos
com fome
e mordemo-nos
como morde o fogo,
deixando-nos feridos.

Mas espera por mim,
guarda-me a tua doçura.
Dar-te-ei também
uma rosa.

[Ilustração: Alexej von Jawlensky]

"Para te ver é longa toda espera", poema de Jaci Bezerra https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/08/palavra-de-poeta_26.html 

Enio Lins opina

Hermeto Pascoal e a magia de um genial alagoano mundial
Enio Lins  

“GENIAL E INIMITÁVEL, Hermeto Pascoal ampliou os horizontes da música” – do que li do publicado até agora, achei esse título o melhor, o mais aproximado da grandiosidade do mágico musical nascido em Lagoa da Canoa, então povoado de Arapiraca. O autor da frase é Augusto Diniz, músico e jornalista, em artigo publicado na Carta Capital. “O ‘bruxo’ transformava em música os sons de qualquer objeto ou instrumento, sempre com talento e liberdade criativa”, completa com precisão o analista. Ressalte-se: inúmeras reportagens e crônicas têm sido editadas em tributo àquele músico diferenciado por seu excesso criativo e imenso talento instrumental. Escolhi uma dentre muitas.

“LAGOA DA CANOA, MUNICÍPIO DE ARAPIRACA” é o nome de seu disco de 1984. Já celebridade internacional, reafirma ali suas ligações com a terra na qual nasceu. Lembra a alteração político-administrativa ocorrida em 1963, quando o lugar nativo virou município autônomo. Hermeto, universal, referenciado nos principais centros musicais do planeta, jamais se distanciou do ninho, nunca esqueceu – por exemplo – o fole de oito baixos que foi uma de suas primeiras ferramentas profissionais quando do começo como músico. Arapiraca, em iniciativa feliz do prefeito Luciano Barbosa, além de dispor de um conservatório com o nome do ilustre filho, prepara uma agenda de homenagens ao gênio cuja certidão de nascimento crava a capital do agreste como sua terra natal. E propõe o prefeito denominar a duplicação Maceió-Arapirac a como Rodovia Hermeto Pascoal. Ideias excelentes, justas.

ALAGOAS, HOJE COMPLETANDO 208 ANOS da emancipação política, engatinha no aprendizado da valorização de seus ícones. Não pegou gosto ainda pelo reconhecimento dos próprios talentos e no alardeamento dos méritos de sua gente e de sua história. Avanços existem, reconheçamos, e não são poucos, no sentido do autoconhecimento e da autovalorização de tão expressivas trajetórias – mas não estão esses esforços à altura da riqueza alagoana. As denominações dos principais logradouros padecem de um distanciamento inexplicável das personalidades de grande reconhecimento nacional. Em Pernambuco, por exemplo, a rodovia BR 101 tem o nome do pintor Cícero Dias. Quais as denominações de nossas principais vias? Onde estão os nomes – em obras públicas de grande vi sibilidade – de Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Nise da Silveira, Pontes de Miranda, Augusto Calheiros, José Calazans “Jararaca”, Cremilda, Aurélio Buarque de Holanda...? Isso só para citar ícones com reconhecimento nacional. Jofre Soares, felizmente, é nome do teatro do SESC no Centro de Maceió, mas nem Paulo Gracindo, nem Sadi Cabral, contam com lembranças nalgum lugar. Afortunadamente, nosso aeroporto se chama Zumbi dos Palmares (aplausos!). Mas seguimos longe de reconhecer nossos grandes valores de forma adequada.

HERMETO PASCOAL se foi, mas ficou para sempre na história da música mundial. Alagoas precisa reconhecer-se nele, manter ainda mais viva e sonorizada sua herança. A hora é essa, qualquer momento é momento de ir buscar, trazer de volta a memória histórica. Nomes temos de sobra. Além dos já citados, acrescento mais uns, por ora só no campo musical e de comprovada projeção nacional: Maestro Fon Fon, Peterpan, Hekel Tavares, Gerson Filho, Zinho, Joel Bello Soares, Jacinto Silva, José Cândido (coautor de “Carcará”), Carlos Moura, Nelson da Rabeca, Misael Domingues, Antônio Paurílio... Falo aqui apenas de gente que é saudade, por suposto. Nem trisco em artistas em plena atividade, como Djavan e Marcos Maceió. Fugindo do cometimento de injustiças, deixo de citar as estrelas radiosas da constelação que ficaram em Alagoas e merecedoras da lembrança e da preservação de seus nomes em obras públicas relevantes.

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Leia também: "Há palavra que nos beijam", poema de Alexandre O'Neill https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/palavra-de-poeta_14.html

Resistência democrática ativa

Ato reúne frente ampla “Em Defesa da Democracia e da Soberania Nacional”
Com presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, ato em São Paulo reuniu lideranças de diferentes visões ideológicas, movimentos e personalidades religiosas e artísticas para uma celebração da resistência democrática.
Cezar Xavier/Vermelho  

Nesta noite de segunda-feira (15) — Dia Internacional da Democracia —, o Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Tuca) foi palco de um encontro simbólico: o 12º ato do movimento Direitos Já!, intitulado “Em Defesa da Democracia e da Soberania Nacional”. Com a presença de centenas de pessoas, o evento reuniu lideranças políticas, religiosas, jurídicas, intelectuais, artistas e movimentos sociais em um chamado suprapartidário, plural e cidadão pela preservação das instituições democráticas brasileiras.

Organizado pelo Fórum pela Democracia – Direitos Já!, idealizado e coordenado por Fernando Guimarães, o ato ecoou como um alerta: a democracia não é herança, é conquista diária. “Ulysses Guimarães dizia: ‘A história nos consagrará se servirmos e nos repudiará se desertarmos’. Nós não desertamos. E não desertaremos”, afirmou.

“A democracia é um solo onde floresce a justiça e a paz”

A abertura foi marcada por uma forte lembrança histórica: as sombras da ditadura militar, que ceifou vidas, calou vozes e feriu a pátria. Mas também pela celebração da resistência popular — na semana em que a trama golpista foi punida pelo STF com a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e militares aliados.

O manifesto lido por Guimarães foi incisivo: denunciou tentativas de ingerência externa — especialmente a pressão do ex-presidente norte-americano Donald Trump, que impôs tarifas de 50% às exportações brasileiras em defesa de condenados por golpe — e classificou tais atos como “agressões à soberania nacional”.

Conforme o texto, “a família Bolsonaro e parlamentares aliados que apoiam essa ingerência cometem atos de traição aos interesses do Brasil”. O manifesto também rejeitou qualquer anistia aos responsáveis pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023: “Sem anistia. Sem impunidade. A justiça deve seguir seu curso.”

PUC: espaço de memória e resistência

O reitor da PUC-SP, Vidal Serrano Nunes, destacou o papel histórico da universidade como espaço de resistência. Serrano também homenageou o Supremo Tribunal Federal, especialmente o ministro Zanin, ex-aluno da PUC: “Nossas instituições funcionam — e devem ser defendidas.”

Laís Hera, presidente do Centro Acadêmico 22 de Agosto da PUC-SP — nome que homenageia a data da invasão da universidade pela ditadura em 1977. Com voz firme e emocionada, Laís lembrou o martírio dos estudantes que, naquele dia, preferiram se jogar das varandas a serem capturados pelos agentes do regime militar.

Almino Affonso imprescindível

O ato também prestou uma homenagem a Almino Affonso, ex-ministro da Educação no governo João Goulart, exilado político por 12 anos, parlamentar combativo e um dos arquitetos da redemocratização brasileira — aos 96 anos, ainda na luta.

Com voz firme, lucidez aguçada e discurso contundente, Almino lembrou os tempos do exílio, a invasão da PUC em 1977 e a importância da ONU como guardiã da paz mundial — criticando duramente os países que “desrespeitam e esquecem” o organismo internacional.

Ao final, Bianca Borges, presidenta da UNE, entregou-lhe um buquê de flores. Guimarães citou Bertolt Brecht: “Há homens que lutam um dia e são bons. Há homens que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há homens que lutam toda a vida. Esses são imprescindíveis. Almino, você é imprescindível.” 

Bianca lembrou que a UNE — com 88 anos de história — nasceu nas lutas pela soberania nacional e contra a ditadura: “Nascemos da campanha ‘O petróleo é nosso’. Nascemos do combate à ditadura. Nunca abandonamos as ruas. Estivemos nas ruas contra Bolsonaro, pelo seu encarceramento, e agora contra qualquer anistia. A educação é nosso caminho para um Brasil soberano — porque é ferramenta de emancipação e combate às desigualdades.” 

Lembrando a invasão da PUC em 1977 — evento que batiza seu antigo centro acadêmico —, Bianca se conectou à luta histórica dos estudantes à urgência do presente:

Sua fala veio como um grito de guerra para os jovens: “Os jovens devem tomar as ruas novamente. Só através de um movimento estudantil grande e forte que a gente pode aprofundar ainda mais a democracia brasileira e o Estado Democrático de Direito.” 

Alckmin: “Traidor da Constituição é traidor da pátria”

O discurso do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que encerrou o evento com uma fala contundente, citando o líder histórico da Constituição, Ulysses Guimarães. “Traidor da Constituição é traidor da pátria.” 

Alckmin fez um balanço implacável dos retrocessos do governo anterior nas áreas da Saúde, da Educação, do Meio Ambiente e na Economia, contaminadas pelo negacionismo científico, cortes de recursos, pelo desmatamento e incompetência na gestão macroeconômica.

Alckmin deixou um recado aos que atentaram contra a democracia: “Imaginem se quem tentou um golpe teve vencido a eleição… E mesmo fora do poder, continuando trabalhando contra o Brasil, espalhando notícias falsas lá fora para prejudicar nossa economia. Não pode haver delito maior para um político.” 

Partidos de todas as cores unidos: “Fascismo em ascensão exige mobilização” 

Líderes partidários subiram ao palco com discursos curtos, mas de grande densidade política. Representando a presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, Walter Sorrentino subiu ao palco para fazer um dos discursos mais incisivos da noite, transformando o ato num verdadeiro escudo cívico contra qualquer tentativa de anistia aos golpistas. “Celebramos uma grande sentença — a primeira em 136 anos de República contra golpistas. Mas isso continua sendo um ato de mobilização.” 

Conforme Sorrentino, “a anistia, nesse contexto, não é pacificação. A anistia é para acirrar os ânimos nas instituições, dentro do Congresso, contra o Supremo. A anistia é para estimular golpistas. A anistia é para apoiar Trump, que agride o país. Isso não é pacificação — é guerra.” 

Edinho Silva, presidente nacional do PT, também destacou a condenação de Bolsonaro: “Na semana passada, a democracia obteve uma vitória. Mas não vencemos nosso principal inimigo: o fascismo está em ascensão no mundo – e no Brasil. Trump é o maior líder fascista do século 21. O Brasil pode ser exemplo para o mundo – mas só se nos mobilizarmos.” 

A deputada federal Erika Hilton (SP) representou o PSOL: “Estamos num momento feliz da nossa história — mas ainda vivemos numa simulação democrática. Não há democracia plena enquanto as crianças negras morrem no caminho da escola, enquanto travestis são atacadas a pedradas, enquanto há fome num país tão rico”, afirmou. “Aqueles que louvam a tortura, que enaltecem figuras como Brilhante Ustra, agora têm um lugar reservado: a cadeia. Estamos ansiosos para ver o camburão baixar na porta de Bolsonaro — pela democracia, pelos mortos da pandemia, por toda a a covardia que ele praticou.” 

Em vídeo, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede Sustentabilidade), reforçou: “A luta não terminou. Vivemos tempos de radicalização, fake news e ingerência externa. Mais do que nunca, precisamos de vigilância democrática”.

“A democracia não é abstrata”, disse o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome). “Só na democracia é possível tirar o Brasil do mapa da fome. Só na democracia é possível reduzir a pobreza. Só na democracia é possível construir igualdade.”

Sérgio Leite, representando o Fórum das Centrais Sindicais (CUT, Força Sindical, UGT, CTB, CSB, Nova Central), afirmou: “Uma delegação das centrais está agora na OMC, defendendo nossa soberania contra o ‘tarifaço’ americano. Esse 15 de setembro é dia de comemoração: vencemos uma tentativa de golpe. E vamos colocar na cadeia quem atentou contra a democracia. O Brasil é dos brasileiros!” 

Sérgio Fausto, diretor-executivo do Instituto Fernando Henrique Cardoso, fez um reconhecimento estratégico: “Ganhamos uma partida, mas não o campeonato. A próxima batalha é contra a anistia. Ela não passará no Congresso — e, se passar, será barrada pelo STF. Mas precisamos disputar isso na sociedade.” 

Num gesto histórico, Clóvis Carvalho (ex-ministro da Casa Civil de FHC) e José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil de Lula) dividiram o mesmo palco — e o mesmo microfone demonstrando que a democracia não tem dono — tem defensores. “Nosso próximo desafio é mudar o Congresso em 2026. identificar quem não pode voltar — como Hugo Motta — e levar os jovens que decidem que vão mudar o país,” disse Carvalho. 

José Dirceu, por sua vez, fez um balanço histórico: “Vencemos a ditadura várias vezes: em 65, nas ruas, na resistência armada, em 74 com o MDB, em 78 nas greves, na Constituinte, em 2018 e agora, derrotando os golpistas no STF. Mas temos que defender Lula — porque ele representa o Estado e a soberania — e mudar o Congresso em 2026.” 

O recado foi uníssono: as eleições de 2026 serão decisivas. O Senado Federal é a última trincheira institucional contra o retrocesso. E para garantir a sua defesa, o campo democrático — de esquerda, centro e direita — precisa se unir em torno de, no máximo, duas candidaturas por estado, evitando divisões que beneficiam a extrema direita.

Destaques internacionais

O ato recebeu mensagens de apoio de redes internacionais progressistas, reforçando que a luta ecológica brasileira além das fronteiras.

O evento ganhou dimensão internacional, com a leitura de uma mensagem oficial do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, lida por António Almeida e Silva, vice-presidente da Casa de Portugal em São Paulo.

“A democracia é movida pela vontade do povo, por suas vozes, suas escolhas e sua participação. Ela floresce quando os direitos humanos e as liberdades fundamentais de todos são respeitados — especialmente dos mais vulneráveis”, afirmou Guterres, destacando sua própria experiência vivendo sob ditadura em Portugal e ajudando a reconstruir a democracia. 

Em vídeo enviado especialmente para o ato, o filósofo Francis Fukuyama, professor de Stanford, alertou: “Vivemos um período de grande estresse para a democracia. Nas últimas duas décadas, vimos o avanço de poderes autoritários e movimentos populistas que ameaçam o Estado de Direito. O Brasil é um dos líderes em demonstrar a funcionalidade da democracia na América Latina. Os EUA, infelizmente, perderam seu papel de liderança. A solidariedade internacional entre defensores da democracia é essencial.”

Em vídeo, também celebraram a coragem brasileira de punir o golpismo, quando outros hesitaram, Rui Tavares, deputado português e fundador do Partido Livre, Sidney Kennedy-Delvey, deputado norte-americano e co-presidente da bancada do Brasil no Congresso dos EUA, a coordenadora global da Aliança Progressista, Machris Cabreros (que reúne mais de 120 partidos em todos os continentes), Gabriela Rivadeneira, ex-presidente da Assembleia Nacional do Equador e fundadora da Internacional Feminista (atualmente exilada no México), o sindicalista Oliver Röpke, presidente do Comitê Econômico e Social Europeu; e Fábio Porta, deputado italiano pelo Partido Democrático, que parabenizou as instituições brasileiras.

Para Francisco Assis, deputado do Parlamento Europeu, “o Brasil tornou-se um exemplo mundial. Resistiram a um autocrata, revitalizaram a democracia e lutaram pela soberania nacional. No Brasil, não se decide apenas o futuro do país — decide-se, de certa forma, o destino da humanidade.” 

Arte como resistência: Leona Cavalli e Marisa Orth em cena

A atriz Leona Cavalli trouxe poesia e fúria: “Enquanto um mundo morre — com guerras, ódio, autoritarismo —, outro nasce. E esse novo mundo só pode nascer da arte, da cultura, da liberdade. Porque a arte só existe com criatividade. E a criatividade só existe com liberdade. E a liberdade só existe com democracia.” 

Citando Erasmo de Roterdã (século XVI), Leona fez um paralelo contundente com os tiranos contemporâneos: “Erasmo dizia: o tirano é aquele que se acha o único com poder, razão e força. Condena os atos humanos, despreza a ciência, a saúde do povo, e ainda usa o nome de Deus em vão. Se fosse eleição, você elegeria alguém assim?” 

A atriz Marisa Orth emocionou a todos com uma memória pessoal: “Minha mãe me trouxe aqui, criança, para ver o Chico Buarque. Era proibido cantar ‘Apesar de Você’. Ele só podia tocar. Mas quando começou a tocar, todo mundo cantou. Eu achei esquisito que o cantor não cantasse. No colo dela, vi uma lágrima escorrer no rosto da minha mãe. Nunca esqueci. Isso aconteceu aqui. E estou muito feliz de estar aqui hoje — para que isso nunca mais aconteça.”

Ecumenismo político: fé e democracia caminham juntas

Um dos momentos mais emocionantes foi a saudação ecumênica, com representantes de diversas tradições religiosas — católicos, evangélicos, espíritas, muçulmanos, judeus, terreiros de matriz africana — unidos em defesa da liberdade religiosa como pilar democrático. O momento solene do Hino Nacional, interpretado pelo pastor Marcos Valadão e acompanhado ao piano por Johnny Boy, reforçou a unidade espiritual.

Estiveram representados: Dom Odilo Scherer, por vídeo, reforçando que “a democracia é frágil e precisa ser constantemente defendida”; Rabino Alexandre Leone, Imã Mohammed Al-Bukai, Frei Davi (Educafro), Pastor Ariovaldo Ramos (Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito), Juliana Balduíno (Quilombo da Parada), entre outros.

Inúmeras outras lideranças e personalidades religiosas, políticas artísticas e sociais discursaram ou compareceram para prestigiar o ato, que durou mais de três horas e encerrou animado com todos cantando Apesar de Você, de Chico Buarque.

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O artigo de Lula no The New York Times https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/lula-no-new-york-times.html

Arte é vida

 

Marsden Hartley

A cidade que amamos https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/minha-opiniao_9.html 

Urariano Mota opina

A vitória da civilização brasileira contra Bolsonaro
Condenação de Bolsonaro pelo STF reforça a resistência democrática e marca a vitória da civilização brasileira contra o avanço do fascismo e da intolerância.
Urariano Mota  

A tentativa de golpe de Estado de Jair Bolsonaro, condenada pelo STF em 11/09/2025, faz boa a hora de retomar o capítulo que acrescentei na edição norte-americana do romance “A mais longa duração da juventude”.

Nas últimas páginas de “Never-Ending Youth”, a tradução de Peter Lownds para o romance, publiquei estas linhas: 

“Os cartazes tomam conta da cidade nos últimos tempos.
‘Parem o incêndio das florestas no Brasil’
‘Queremos vacinas!’
‘Fora o desprezo pelas mortes do coronavírus’
‘Fora, Bolsonaro’

Eu os vejo e penso. Todos os militantes socialistas do Brasil, nos anos da ditadura, jamais esperaram completar a idade que agora atravessamos ao ver os protestos que voltam às ruas e aos quais voltamos. Antes, a morte estava ali, aqui, já, hoje ou logo amanhã de manhã. As prisões, torturas e assassinatos de companheiros se sucediam, e chegavam cada vez mais perto de nós mesmos, dos camaradas da última sexta-feira de carnaval. Por que nos poupariam o fim? Daí que vivíamos todos sob alta tensão. Daí que vivíamos todos como se ganhássemos as últimas horas do último dia. Mas sobrevivemos, só Deus e o Diabo sabem como.

Agora, sob a influência do fascismo, problemas que julgávamos resolvidos voltam à tona. O que será dos nossos direitos? O que será do trabalho dos nossos filhos? Haverá um mundo digno do nome para as novas gerações? Para essas perguntas bem sabemos a resposta: vamos à luta, não podemos submergir em um mar de angústia e desesperança. O problema é que no contexto geral desse fascismo vêm as perguntas particulares para a nossa idade: como podemos encarar o futuro? Que planos faremos? Que perspectivas temos?

Para quem atinge além dos 70 anos, o futuro a ser vivido é curto, pode até nem atingir o fim deste dia. Nesse aspecto, é uma repetição dos anos de ditadura, em inesperada semelhança. No entanto, a resposta hoje é bem diferente daqueles dias. Hoje, devemos encarar o futuro sem lhe destacar o prazo certo, pequeno de tempo. Para o breve futuro caminhamos na certeza de que até o fim viveremos com a força do que sabemos fazer e acreditamos. Ateus, materialistas, não teremos o céu depois da morte. O céu é nosso trabalho, aqui, agora, de hoje até o último segundo. O inferno é negar o que temos de melhor em nossa alma, porque de ideias e sentimentos somos feitos.

Mas que planos faremos? Para tão curto espaço de horas o plano é amar, beijar as pessoas, dizer-lhes o que nunca lhes dissemos, porque temos a consciência do próximo mergulho que não projetamos. E trabalhar, e trabalhar, e trabalhar para realizar o melhor que somos. Admitamos, esse é um grande plano. Pois devemos dividir e multiplicar as lições que acumulamos.  Queremos aquele alto que Joaquim Nabuco expressou tão genial em seu fim:

– Doutor, tudo, menos perder a consciência!

Se perdemos a consciência, já não somos. E quando a perdermos, não seremos. Não deve haver lágrimas para um corpo inútil corpo, sem identidade. Então o plano é ser, o ser pleno, o plano é pleno. Até onde possamos sorver a plenitude.   

Mas que perspectivas temos? Daqui onde estamos, nesta hora, que olhar podemos lançar para o porvir? Uma resposta está no que vimos há pouco, nas linhas anteriores.

A resistência, que é vida, se faz na brevidade pelas ações e trabalho dos que partiram e partem. Mas nós, os que ficamos, não temos a imobilidade da espera do nosso trem. Nós somos os agentes dessa duração, o trem não chegará com um aviso no alto-falante, ‘atenção, senhor passageiro, chegou a sua hora’. Até porque talvez chegue sem aviso, e não é bem o transporte conhecido. O trem é sempre de quem fica. E porque somos agentes da duração, a nossa vida é a resistência ao fugaz.  

Por isso a nossa mais longa juventude protesta nestes dias. Voltamos às ruas, voltamos à luta, aqui, agora, em palavras, em ações e arte, de todas as maneiras. Canta de novo para todos nós, ó Ella Fitzgerald! Estamos voltando.

Voltamos!

*Texto republicado em inglês no internacional Pressenza https://www.pressenza.com/2023/01/brazilian-civilization-against-bolsonaro/    

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Leia também: Crescente isolamento da extrema direita https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/08/palavra-de-renildo.html 

Humor de resistência

 

Aroeira

Novo slogan esclarece e mobiliza https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/08/minha-opiniao_26.html 

Minha opinião

A velha jogada manjada 
Luciano Siqueira 
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Pré-campanha eleitoral, demonstra a experiência acumulada, sempre é marcada por balões de ensaio e pela tentativa de forçar a barra para dá margem a uma desejada e nem sempre viável tendência. 

É o que a grande mídia dominante vem fazendo em relação à hipotética candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, à presidência da República, no pressuposto de que esta seria a alternativa de centro-direita apta a derrotar o presidente Lula numa hipotética candidatura à reeleição.

A Folha de S. Paulo, na edição de hoje, estampa em manchete que a esquerda estaria enxergando o caminho aberto para Tarcísio e "teme" a interferência de Trump após a condenação de Bolsonaro.

Entre obviedades sem maior importância e meras suposições, a matéria "canta" o jogo desejado sem a menor cerimônia.

Não fica claro que esquerda é essa que, segundo a reportagem, estaria carimbando o cumprimento (sic) das obrigações do governador paulista para com o seu líder Jair Bolsonaro.

Também não há nenhuma referência ao fato de que Tarcísio tem encampado integralmente e discurso da extrema direita, incluindo ataques ao ministro Alexandre de Moraes e ao STF e a defesa da escandalosa tentativa de anistia aos golpistas, tornando-o incômodo ao centro-direita, que busca uma candidatura mais palatável e eleitoralmente competitiva. 

Enfim, o jornal ultraconservador-neoliberal põe na boca de militantes do PT o juízo de valor de que a própria redação faz em favor de Tarcísio de Freitas. Inclusive a suposta ameaça de interferência direta do presidente dos Estados Unidos na cena pré-eleitoral brasileira.

Ridículo, além de trágico e deprimente desrespeito à capacidade de discernimento do leitor. 

[Foto: Luciano Siqueira]

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O artigo de Lula no The New York Times https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/lula-no-new-york-times.html 

15 setembro 2025

Palavra de poeta

Súplica
Miguel Torga  

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada. 

[Ilustração: Márcio Camargo]

Leia: Graciliano Ramos e o texto no tempo das redes https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/06/expoente-da-literatura-brasileira.html 

Tecnologia e transição energética

Brasil precisa de ciência, tecnologia e Estado na transição energética
Maior empresa do Brasil, Petrobras deve ter centralidade nas discussões sobre transição energética, defendem pesquisadores
Leandro Melito/Portal Grabois www.grabois.org.br   
 

A transição energética brasileira deve ser baseada em ciência e tecnologia, com investimento do Estado, e deve ser pensada a partir da Petrobras. Essa foi a avaliação da mesa Tecnologia e Transição Energética Justa, que abriu na quinta-feira (11) o Ciclo de Debates preparatórios para a COP30: “Clima, Desenvolvimento e Transformação Ecológica Justa: Perspectivas do Sul Global”.

Ticiana Alvares, diretora técnica do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep) destaca que a transição energética e a Revolução 4.0 são uma etapa da disputa entre as grandes potências capitalistas e defende que o Brasil precisa pensar a sua inserção nesse cenário com base na autossuficiência das suas cadeias produtivas.

“A gente não pode abrir mão do nosso papel enquanto quinto país que mais emite gás de efeito estufa”, aponta.

Com quase 90% de sua matriz elétrica renovável e quase 50% da matriz energética renovável, Ticiana destaca que as emissões vêm “sobretudo do desmatamento, do uso da terra e do agronegócio”, que somam cerca de 76%. Ela defende que a transição do país deve ser feita levando em conta a importância do petróleo para o desenvolvimento do país, setor responsável por 13% do PIB industrial, que  gera mais de 600 mil empregos com salários maiores do que a média nacional.

“Isso inclui o setor de óleo e gás,  inclui a renda petroleira e a maior empresa do Brasil, que é a Petrobras, que podem ser capazes de alavancar, de fato, a transição energética, revertendo a Petrobras para uma empresa integrada de energia, mas isso planejado ao longo do tempo, sem abrir mão da nossa soberania e da nossa segurança energética, porque senão a gente se enfraquece dentro das nossas riquezas, a gente se enfraquece dentro do próprio sistema internacional”, defende.

Para a diretora do Ineep, a transição energética do Brasil deve ser vista principalmente como uma oportunidade de desenvolvimento de novas forças produtivas. “A transição justa só vai ser possível se houver, de fato, um projeto nacional de desenvolvimento de uma nova indústria verde, que a gente pode chamar de neoindustrialização, associado a esse projeto de transição justa”.

O engenheiro agrônomo Luiz Rodrigues, consultor legislativo do Senado Federal e ex-secretário executivo adjunto do Ministério da Agricultura e Pecuária, aponta que o Brasil já obteve avanços importantes com o uso do etanol e da biomassa para diversificação da produção de energia e destaca a importância dos investimentos estatais em ciência e tecnologia.

“Sem pesquisa e desenvolvimento, o Brasil não teria se tornado um grande produtor mundial de etanol, nem sempre o setor reconhece essa importância do Estado, que foi um dos principais alocadores não só para pesquisa e desenvolvimento, mas também para criação de escala”, pontua.

Rodrigues destaca a necessidade de  coordenação entre o Estado e as empresas que atuam no setor, tanto  públicas quanto empresas privadas. “A gente não pode perder de vista o papel do Estado, não só atuando diretamente, como ele faz magistralmente, como uma empresa tal como a Petrobras, mas também criando regulação e pesquisa, mesmo quando a empresa não é diretamente controlada pelo Estado. O papel do Estado ali também é fundamental.”

O professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Allan Kardec, destaca que frequentemente a Amazônia é tratada como um clichê, ora como um lugar periférico, ora como um lugar exótico e afirma que a discussão sobre a margem equatorial envolve o desconhecimento estratégico que existe sobre a Amazônia em nível nacional e internacional.

“A gente tem que ter a margem equatorial para o desenvolvimento da Amazônia. A gente nunca teve uma oportunidade tão grande para o Brasil e para a Amazônia como é a margem equatorial, como foi para Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo a margem leste do Brasil.”

Kardec considera que a margem equatorial pode contribuir para uma transição energética justa na região da Amazônia.  “Se a gente incorpora isso numa produção, substituindo esse sistema de estações de produção a diesel, com sistemas utilizando biomassa ou também energia solar, fazendo ali um sistema híbrido de produção, principalmente para as áreas remotas, possivelmente esse valor que é pago, utilizado para manter o sistema de geração de produção na Amazônia, nós podemos garantir talvez uma transição justa também para a Amazônia.”

José Bertotti, professor e pesquisador em inovação, e sócio-fundador do Instituto Toró, Clima, Tecnologia e Cultura, defende que  o debate não deve ser sobre transformação energética, mas transformação ecológica com vistas à neutralidade das emissões de gases de efeito estufa.

“O problema das emissões inclusive de gases de efeito estufa no Brasil não está na energia, por um problema básico: a indústria brasileira é pequeníssima para o tamanho das necessidades do Brasil. Agora as oportunidades que surgem para o Brasil são imensas quando a gente sabe que metade da nossa matriz energética é limpa”, defende.

Bertotti chama a atenção para a discussão sobre os créditos de carbono que, na sua opinião, não resolvem o problema:

“Se nós entrarmos na balela do crédito de carbono, para vender crédito de carbono, nós vamos vender o nosso futuro.”

“A transformação ecológica, com segurança energética, aproveitando as potencialidades do Brasil, ela precisa ter em questão que, partindo do pressuposto que eu concordo e a maioria dos cientistas concordam, é que nós vivemos num momento de aquecimento global causado pelo efeito estufa e que sim, a queima dos combustíveis fósseis a junto com a perda da biodiversidade que é causada também por queimadas e aí você tá emitindo CO2, é um dos principais causadores do aquecimento global.”

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Leia: Para além do “economicismo governamental” https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/minha-opiniao_5.html 

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Blog de Luciano Siqueira 
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Postei nas redes

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, ameaça com novas iniciativas contra o Brasil por conta da condenação de Bolsonaro. Petulante, desastrado e ridículo. 

O artigo de Lula no The New York Times https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/lula-no-new-york-times.html 



Arte é vida

 

 Van Gogh 

Um poema de Paulo Mendes Campos https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/palavra-de-poeta_3.html 

Uma crônica de Ruy Castro

O filme que não foi
EUA arquivaram documentário de Hitchcock sobre os campos de extermínio; não ficava bem ofender os alemães
Ruy Castro/Folha de S. Paulo  

Nestes tempos de Trump, uma pulga nos surge atrás da orelha e pergunta: "E se os EUA que sempre admiramos, de Frank Sinatra, Scott Fitzgerald e Marilyn Monroe, só tiverem existido em nossa fantasia? E se nem tudo tiver sido ‘Fly Me to the Moon’, ‘O Grande Gatsby’ e ‘O Pecado Mora ao Lado’?". É uma pulga mal-informada, porque qualquer estudo elementar da história nos ensina que, quando se trata dos EUA, muito do que de fato importa nunca chega ao nosso conhecimento ou só chega quando não faz mais diferença. Eu, por exemplo, secular fã de Alfred Hitchcock e me julgando uma autoridade no mestre, só há pouco soube de uma história que o envolveu e, não por ele, deveria envergonhar toda uma nação.

Em 1945, terminada a Segunda Guerra e abertos os campos de extermínio, Hitch foi convidado por um produtor inglês a supervisionar um documentário sobre as atrocidades cometidas pelos nazistas, a partir de material filmado pelos soldados americanos, ingleses e soviéticos. Aceitou e, já em Londres, passaram-lhe meia hora de filme já montado. O que ele viu obrigou-o a ir para o hotel e ficar de cama por uma semana.

As cenas, então ainda inéditas, mostravam corpos nus e esqueléticos de prisioneiros às pilhas ou sendo desenterrados de covas que eles próprios tinham sido obrigados a cavar e onde foram atirados vivos; quilos de obturações a ouro e cabelo que lhes foram arrancados; e milhares de pijamas listrados de que não precisavam mais e que seriam destinados a novos prisioneiros.

Quando se recuperou, Hitchcock foi orientar os editores do documentário. Recomendou-lhes privilegiar as tomadas longas e à média distância, para não deixar dúvida sobre sua autenticidade, e evitar muitos cortes, para que não fossem acusados de manipulação. O filme foi montado e a narração em off, escrita.

Mas, então, os EUA se deram conta de que a Alemanha reconstruída seria uma aliada fundamental em sua nova luta contra a URSS. Não ficaria bem ofendê-la com essas imagens desagradáveis. O filme foi arquivado.

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"Nosso amado planeta vítima da indiferença" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/08/minha-opiniao_9.htm

Minha opinião

Boa notícia, porém o desafio é mais amplo 
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65 

A China ampliou em 31% suas compras de soja brasileira no mês de agosto tendo como referência o mesmo período de 2024. 

No cenário conturbado do comércio internacional e das restrições tarifárias dos Estados Unidos sobre a importação de produtos do Brasil, em particular, toda ampliação do mercado para destinos alternativos há de ser comemorada. 

Entretanto, importa não perder de vista que “o buraco é mais embaixo”, como se costuma dizer. 

Em artigo recente, Paulo Nogueira Batista Júnior e Manoel Casado https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/pauta-de-exportacoes-em-xeque.html   demonstram a necessidade de se alterar o perfil da pauta comercial brasileira, superando o modelo primário transportador que limita o desenvolvimento econômico e a soberania nacional. 

Estamos agora, portanto, da busca de soluções imediatas e conjunturais e ao mesmo tempo desafiados a abordagem de um novo projeto nacional de desenvolvimento.

Cabe valorizar, sim, cada conquista imediata, mas sem perder jamais a dimensão estratégica da empreitada.  

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Quem defende o Brasil?

https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/minha-opiniao_8.html