17 dezembro 2025

Minha opinião

Tapando o sol com a peneira 
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65  

O surgimento da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à presidência da República de imediato produziu, a um só tempo, o agravamento da postura indecisa do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, tido como preferido pela elite dominante; e o assanhamento da extrema direita mais inconsequente.

Daí, o segmento de centro-direita vê-se empurrado para a indecisão e a perda de iniciativa.

Nesse contexto, colunistas do complexo mediático dominante batem cabeça, alguns defendendo a retirada do filho do ex-presidente encarcerado, outros especulando que assim mesmo o governador paulista seria o melhor nome da oposição a Lula, por suposta competitividade num eventual segundo turno. 

Na verdade, tenta-se tapar o sol com a peneira e desconhecer a evolução da cena política pré-eleitoral, ainda que lenta, favorável à ampla coalizão democrática governista. 

Aparentemente à margem da polêmica, mas só aparentemente, próceres das grandes legendas conservadoras tentam desviar a discussão para a possibilidade de formarem grandes bancadas, seja este ou aquele candidato à presidência da República, no intuito de preservarem o atual impasse institucional no qual bancadas mais numerosas postam-se em oposição ao governo e tentam boicotá-lo sistematicamente, provocando crises sucessivas. 

Hipótese real, é verdade, mas o que não podem é colocar para debaixo do tapete a tendência ao fortalecimento da candidatura de Lula à reeleição, detectada nas mais recentes pesquisas - o fato mais alvissareiro do momento.

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Leia: A influência que fica https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/minha-opiniao.html

Fotografia

 

Pierre Verger

O PCdoB ocupa o seu posto https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/minha-opiniao_66.html 

Enio Lins opina

Assombro e desespero no velho sistema da elite criminosa
Enio Lins  

PRESIDIÁRIA NA ITÁLIA, a ex-deputada Carla Zambelli “renunciou” a um mandato que já não tinha, pois havia transitado em julgado a decisão do STF, determinando a perda da cadeira da apenada. Um pouco antes, a Câmara Federal havia votado, irregularmente, posto não cabia tal apreciação, pela permanência da condenada entre seus integrantes, numa tentativa de burlar a Constituição e testar o Supremo Tribunal.

OUTRORA ARMADA E BELICOSA, a ex-deputada deu um show público de ameaça a vida alheia ao perseguir, de pistola em punho, um adversário incidental, rua abaixo, rua acima, deliciando-se em ser filmada num crime que estava certa de seu direito a praticá-lo. Desarmado, ao reagir com uma bicuda contra um provocador contumaz, o deputado Glauber Braga quase perde o mandato e vai amargar seis meses de suspensão. A ex-deputada, além da ameaça de morte detalhadamente filmada e amplamente divulgada, cometeu o crime de invadir o site do Supremo Tribunal Federal para introduzir no portal documentos falsificados. Pegou duas condenações no lombo pelo cometimento desses dois delitos, penas que implicam na perda da cadeira, pelo fato da pena em regime fechado ser superior ao tempo restante do mandato.

PAULO MALUF FOI CONDENADO
 pelo STF, em 2017, a uma pena de sete anos, nove meses e dez dias, excedendo o tempo do mandato. A mesa diretora da Câmara Federal, presidida então pelo deputado Rodrigo Maia, corretamente (apesar das resistências internas), formalizou a cassação, corretamente, sem colocar a questão para o plenário. A marmota do Hugo Mota em benefício da condenada, foi uma tentativa explícita de garantir impunidade a seus pares condenados por crimes que não estão cobertos pelo instrumento da imunidade parlamentar. Registre-se que a cassação da condenada obteve 227 votos ao lado da Lei, mas 170 votaram pela ilegalidade que beneficiaria a criminosa. 170 que insistem no sonho da impunibilidade para integrantes do Parlamento e, por tabela, invulnerabilidade estendida para outros privilegiados, sejam milionários ou militares de alta patente. Empolgado por essa ilegalidade tentada pela Câmara, Maluf acionou imediatamente seus advogados para pleitear a recuperação do mandato(!), e indenização(!), lógico, pois o que vale para Carla deve valer para Paulo. Sonhos delinquentes de uma noite de verão.

TAIS ARATACAS REFLETEM 
o assombro e o desespero de uma parcela (imensa) dos parlamentares ao se descobrirem vulneráveis à Lei. Não são reações emocionais, mas movimentos de uma política traçada de busca pela impunibilidade perdida. A banda podre do parlamento – e da elite nacional – procura fugir das mãos da Lei que agora se mostram firmes e fortes, capazes – pela primeira vez na quinquicentenaria história deste nosso Brasil – de pegar nos smokings, fraques e gandolas. Em sua defesa, o velho sistema corrupto e corruptor vai buscar todo tipo de artimanha, desde lembrar velhas falhas do Poder Judiciário (que precisam ser sanadas), até tentar anular veredictos corretos, justos, constitucionais. E, lógico, passando pelo planejamento de impeachment de integrantes da Suprema Corte que ousem lhes apontar a Constituição e o Código Penal.

SEJA POR DECISÃO JUDICIAL ESPECÍFICA,
 seja pela aplicação do próprio Regimento Interno da Câmara Federal, perderam seus mandatos – por faltas – a deputada Carla Zambelli e o deputado Alexandre Ramagem (apenados com condenações transitadas em julgado), e deputado Eduardo B (por decisão própria, fugitivo homiziado nos Estados Unidos). Esta é a grande lição de Constitucionalidade e de afirmação do Estado Democrático de Direito nos últimos 40 anos, desde a redemocratização de 1985. Nos quesitos correlatos Justiça e combate aos criminosos de elite: Viva 2025!

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Leia: Lula e Trump: pragmatismo diplomático https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/minha-opiniao_27.html

Presença de Cecília

A arte de amar é a mesma de ser poeta.”

Cecília Meireles 

Leia também: "Canção da moça de dezembro" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/palavra-de-poeta_10.html 

Uma crônica de Abraham Sicsu

Três Senhoras
Abraham B. Sicsu 

Os homens se foram faz algum tempo. Três mulheres de longa vida, passaram dos noventa, uma dos cem. Uma geração que se acaba na vida terrena. Uma missão cumprida na base do afeto. Reverenciadas, sempre serão lembradas.

Bem fazem os mexicanos. A morte é motivo de festa. Muita música, muita comida e bebida. A memória homenageada. Dizem eles, quem é lembrado sempre estará no reino divino.

Três guerreiras de origens diferentes. A vida fez com que se unissem em São Paulo. As uniões de filhos as tornaram grandes amigas. Encontrar uma delas trazia, obrigatoriamente, a primeira pergunta. Como está sua mãe?

Lideraram três famílias. Com carinho e muita compreensão. Enfrentaram as adversidades da vida e souberam conduzir seus descendentes. Filhos, netos e bisnetos.

Lembro das festas familiares. Sempre as três numa mesa. Juntas cercadas por todos. Contando suas aventuras, seus momentos felizes. Como nós hoje, lembrando os que se foram sem deixar de transmitir orgulho e saudades. E mostrar a alegria da vida.

Nina, a espanhola que veio do Marrocos. De dona de casa virou comerciante de sucesso. Sempre simpática, sempre divertida. Inventava histórias que nem ela acreditava, nos fazia felizes. Comer em sua casa era sinal de fartura. Quatro filhos, oito netos, onze bisnetos.

Pina, paulistana de família de origem italiana, muito carinhosa. Foi minha grande amiga. Gostava de escutar minhas andanças, perguntava tudo de todos. Com ela comia as massas à moda de seus antepassados, com ela escutava canções da “Velha Bota”. Uma filha, dois netos, três bisnetos.

Leucipe, que agora se foi. Nordestina, orgulhosa das origens. Franca como ninguém. Às vezes até demais. Cozinheira de mão cheia. Jamais esquecerei nossas conversas, seu modo peculiar de ver a vida, de amar plantas e animais. Quatro filhos, seis netos, sete bisnetos.

Enterros mechem comigo. Sempre me desestruturam, talvez, para me reestruturar. Acabo de vir de um deles, da última das velhas senhoras. As lágrimas da morte marcam. A dor da perda, momento para reviver tudo que juntos vivemos.

Lembrei de um belo filme. “Por quem os sinos dobram”, com Gary Cooper e Ingrid Bergman. Baseado na obra de Hemingway. Livro que também li. Tendo como cenário a guerra civil espanhola.

A mensagem que me vem à mente é clara. A morte de qualquer um de nós afeta a todos. A humanidade tem desígnio comum. Somos todos dependentes. De geração em geração.

O “tocar dos sinos”, anunciando a morte, prenuncia o continuar que seus entes queridos devem dar à vida.

Não é um fim em si, é caminho da vida que nossa civilização ainda não aprendeu a tornar algo natural. Faz com que novos grupos assumam o sentido a dar ao mundo. Lembrando que a herança de ensinamentos e princípios que recebem é que poderá dar o real significado.

A conexão de gerações se faz presente. Respeitar os que se foram sem deixar de ter esperança nos que ficaram e começam a enfrentar os duros caminhos que se lhes apresentam. Os que terão como missão nos liderar. Com dignidade, com empatia, com muita esperança.

O suceder de gerações traz responsabilidades. Agora, na minha família expandida, é a vez do meu grupo assumir o papel de anciões conselheiros. De dar afeto e apoio aos que nos sucedem. Não se tem mais as “bisas”, os jovens não serão contemplados mais com a doçura das velhas senhoras. Verdade, nas lembranças guardarão seus ensinamentos.

Dá sentido à vida que nos resta na Terra. Viver para acolher, viver para transmitir o que nos foi dado, viver para aprender, um mundo que não é o nosso, mas que faça sentido para os que nos sucedem.

Leucipe, Pina e Nina, estarão sempre presentes. Muitas saudades.

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A vida segue https://lucianosiqueira.blogspot.com/ 

16 dezembro 2025

Palavra de poeta

Soneto
Carlos Pena Filho  

O quanto perco em luz conquisto em sombra.
E é de recusa ao sol que me sustento.
Às estrelas, prefiro o que se esconde
Nos crepúsculos graves dos conventos.

Humildemente envolvo-me na sombra
que veste, à noite, os cegos monumentos
isolados nas praças esquecidas
e vazios de luz e movimento.

Não sei se entendes: em teus olhos nasce
a noite côncava e profunda, enquanto
clara manhã revive em tua face.

Daí amar teus olhos mais que o corpo
com esse escuro e amargo desespero
com que haverei de amar depois de morto.

[Ilustração: Edgar Degas]

Leia também um poema de Pablo Neruda https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/08/palavra-de-poeta_2.html 

EUA x América Latina

A América Latina diante da ameaça Trump
Análise da nova Estratégia de Segurança Nacional da Casa Branca. Enfraquecidos, EUA renunciam a dirigir instituições globais. Querem controlar o antigo “quintal”. Agressão à Venezuela pode ser só o começo. Brasil precisa estar atento
Jeffrey Sachs | Tradução: Rôney Rodrigues/Outras Palavras  


A Estratégia de Segurança Nacional (ESN) de 2025, recentemente divulgada pelo presidente Donald Trump, apresenta-se como um projeto para o renovado fortalecimento da América. Ela é perigosamente equivocada de quatro maneiras.


Em primeiro lugar, a ESN está ancorada na grandiosidade: na crença de que os Estados Unidos desfrutam de uma supremacia inigualável em todas as dimensões-chave do poder.

Em segundo lugar, baseia-se numa visão francamente maquiavélica do mundo, tratando outras nações como instrumentos a serem manipulados em benefício dos Estados Unidos

Em terceiro, assenta-se num nacionalismo ingênuo que desconsidera o direito e as instituições internacionais como entraves à soberania do país, em vez de quadros que fortalecem a segurança estadunidense e global em conjunto.

Em quarto lugar, sinaliza uma atitude de gangster no uso que Trump faz da CIA e das forças armadas. Poucos dias após a publicação da ESN, os EUA apreenderam descaradamente um petroleiro com óleo venezuelano em alto mar – com o frágil argumento de que a embarcação havia violado anteriormente sanções norte-americanas contra o Irã.

A apreensão não foi uma medida defensiva para evitar uma ameaça iminente. Tampouco é minimamente legal apreender embarcações em alto-mar com base em sanções unilaterais dos Estados Unidos. Apenas o Conselho de Segurança da ONU detém tal autoridade.

Pelo contrário, a apreensão é um ato ilegal concebido para forçar uma mudança de regime na Venezuela. Ela segue a declaração de Trump de que ordenou à CIA a realização de operações secretas dentro da Venezuela para desestabilizar o regime.

A segurança estadunidense não será fortalecida por alguém agindo como um valentão. Ela será enfraquecida – estrutural, moral e estrategicamente. Uma grande potência que assusta os seus aliados, coage os seus vizinhos e desrespeita as regras internacionais acaba por se isolar. A ESN, em outras palavras, não é apenas um exercício de arrogância no papel. Está sendo rapidamente traduzida numa prática descarada.

Um lampejo de realismo, depois uma guinada para a arrogância

Para ser justo, a NSS contém momentos de um realismo há muito atrasado. Ela admite implicitamente que os Estados Unidos não podem — e não devem — tentar dominar o mundo inteiro, e reconhece corretamente que alguns aliados arrastaram Washington para guerras de escolha custosas, que não atendiam aos verdadeiros interesses estadunidenses. Também recua — ao menos no plano retórico — de uma cruzada exaustiva entre grandes potências.

A estratégia rejeita a fantasia de que os Estados Unidos podem ou devem impor uma ordem política universal.

Mas a modéstia é de curta duração. A ESN reafirma rapidamente que a América possui “a maior e mais inovadora economia do mundo”, “o principal sistema financeiro mundial” e “o setor tecnológico mais avançado e lucrativo do mundo”, tudo respaldado pelas “forças armadas mais poderosas e capazes do mundo”.

Essas afirmações não servem apenas como declarações patrióticas, mas como uma justificativa para usar a dominância estadunidense a fim de impor condições aos demais. Ao que parece, os países menores arcarão com o peso maior dessa soberba, já que os EUA não podem derrotar as outras grandes potências, sobretudo porque elas dispõem de armas nucleares.

Maquiavelismo deslavado na Doutrina

A grandiosidade da NSS está soldada a um maquiavelismo explícito. A pergunta que ela coloca não é como os Estados Unidos e outros países podem cooperar para benefício mútuo, mas como a alavancagem estadunidense — sobre mercados, finanças, tecnologia e segurança — pode ser aplicada para extrair concessões máximas de outros países.

Isto é mais pronunciado na discussão da ESN sobre a seção do Hemisfério Ocidental, que declara um “Corolário Trump” para a Doutrina Monroe. Os Estados Unidos, declara a ESN, garantirão que a América Latina “permaneça livre de incursão estrangeira hostil ou propriedade de ativos-chave”, e alianças e auxílio serão condicionados a “reduzir a influência externa adversária”.

Essa “influência” refere-se claramente a investimento, infraestrutura e empréstimos chineses.

A ESN é explícita: “Acordos dos EUA com países ‘que mais dependem de nós e, portanto, sobre os quais temos mais alavancagem’ devem resultar em contratos de fonte única para empresas estadunidenses. A política dos EUA deve ‘fazer todos os esforços para expulsar empresas estrangeiras’ que constroem infraestrutura na região, e os EUA devem remodelar instituições de desenvolvimento multilaterais, como o Banco Mundial, para que ‘sirvam aos interesses americanos’.”

Governos latino-americanos, muitos dos quais mantêm intenso comércio tanto com os Estados Unidos quanto com a China, estão sendo efetivamente advertidos: vocês devem negociar conosco, não com a China — ou enfrentarão as consequências.

Tal estratégia é estrategicamente ingênua. A China é o principal parceiro comercial da maior parte do mundo, incluindo muitos países do hemisfério ocidental. Os EUA serão incapazes de compelir as nações latino-americanas a expulsar empresas chinesas, mas prejudicarão gravemente a sua própria diplomacia na tentativa.

Aliados próximos alarmados

A NSS proclama uma doutrina de “soberania e respeito”, mas sua prática já reduziu esse princípio a soberania para os EUA e vulnerabilidade para o restante. O que torna essa doutrina emergente ainda mais extraordinária é que ela agora assusta não apenas pequenos Estados da América Latina, mas até mesmo os aliados mais próximos dos Estados Unidos na Europa.

Em um desdobramento notável, a Dinamarca — uma das parceiras mais leais dos Estados Unidos na OTAN — declarou abertamente que os EUA representam uma ameaça potencial à segurança nacional dinamarquesa. Planejadores de defesa da Dinamarca afirmaram publicamente que Washington, sob Trump, não pode ser presumido como respeitador da soberania do Reino da Dinamarca sobre a Groenlândia, e que uma tentativa coercitiva dos EUA de tomar a ilha é uma contingência para a qual o país agora precisa se preparar.

Isso é espantoso em vários níveis. A Groenlândia já abriga a Base Espacial de Pituffik e está firmemente integrada ao sistema de segurança ocidental. A Dinamarca não é antiamericana, nem busca provocar Washington. Ela está simplesmente reagindo de forma racional a um mundo em que os Estados Unidos passaram a se comportar de maneira imprevisível — inclusive em relação a seus supostos amigos.

O fato de Copenhague sentir-se compelida a considerar medidas defensivas contra Washington diz muito por si só. Isso sugere que a legitimidade da arquitetura de segurança liderada pelos Estados Unidos está se corroendo por dentro. Se até a Dinamarca acredita que precisa se precaver contra os EUA, o problema já não é mais o da vulnerabilidade da América Latina.

Trata-se de uma crise sistêmica de confiança entre nações que antes viam os Estados Unidos como o garantidor da estabilidade, mas que agora os encaram como um agressor possível — ou mesmo provável.

Em suma, a NSS parece canalizar a energia antes dedicada ao confronto entre grandes potências para a intimidação de Estados menores. Se os Estados Unidos aparentam estar um pouco menos inclinados a lançar guerras trilionárias no exterior, mostram-se mais propensos a instrumentalizar sanções, coerção financeira, apreensões de bens e o confisco — ou roubo — em alto-mar.

O pilar ausente: Direito, Reciprocidade e Decência

Talvez a falha mais profunda da ESN seja o que ela omite: um compromisso com o direito internacional, a reciprocidade e a decência básica como fundamentos da segurança estadunidense.

A NSS encara as estruturas de governança global como obstáculos à ação dos Estados Unidos. Desqualifica a cooperação climática como “ideologia” — e, segundo um discurso recente de Trump na ONU, como uma verdadeira “farsa”. Minimiza a Carta das Nações Unidas e concebe as instituições internacionais principalmente como instrumentos a serem moldados de acordo com as preferências estadunidenses.

No entanto, são precisamente os quadros legais, os tratados e as regras previsíveis que historicamente protegeram os interesses estadunidenses.

Os fundadores dos Estados Unidos compreenderam isso com clareza. Após a Guerra de Independência Americana, treze Estados recém-soberanos logo adotaram uma Constituição para compartilhar poderes fundamentais — sobre tributação, defesa e diplomacia — não para enfraquecer a soberania dos Estados, mas para garanti-la por meio da criação do governo federal dos EUA. A política externa dos Estados Unidos no pós-Segunda Guerra Mundial fez o mesmo por meio da ONU, das instituições de Bretton Woods, da Organização Mundial do Comércio e dos acordos de controle de armamentos.

A NSS de Trump agora inverte essa lógica. Ela passa a tratar a liberdade de coagir outros como a essência da soberania. Sob essa perspectiva, a apreensão do petroleiro venezuelano e as apreensões da Dinamarca são manifestações dessa nova política.

Atenas, Melos e Washington

Tal arrogância voltará para assombrar os Estados Unidos.

O historiador grego da Antiguidade Tucídides registra que, quando a Atenas imperial confrontou a pequena ilha de Melos em 416 a.C., os atenienses declararam que “os fortes fazem o que podem, e os fracos sofrem o que devem”. No entanto, a soberba de Atenas também foi a sua ruína. Doze anos depois, em 404 a.C., Atenas caiu diante de Esparta. A arrogância ateniense, seu excesso de ambição e o desprezo pelos Estados menores ajudaram a galvanizar a aliança que, em última instância, a derrotou.

A NSS de 2025 fala em um registro de arrogância semelhante. Trata-se de uma doutrina que privilegia o poder em detrimento do direito, a coerção em vez do consentimento e a dominação no lugar da diplomacia. A segurança dos Estados Unidos não será fortalecida ao agir como um valentão. Ao contrário, será enfraquecida — estrutural, moral e estrategicamente. Uma grande potência que assusta seus aliados, coage seus vizinhos e despreza as regras internacionais acaba, em última instância, isolando-se.

A estratégia de segurança nacional dos Estados Unidos deveria se basear em premissas inteiramente diferentes: a aceitação de um mundo plural; o reconhecimento de que a soberania é fortalecida, e não enfraquecida, pelo direito internacional; o entendimento de que a cooperação global em áreas como clima, saúde e tecnologia é indispensável; e a compreensão de que a influência global estadunidense depende muito mais da persuasão do que da coerção.

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Contradições aguçadas no mundo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/11/palavra-do-pcdob.html

Minha opinião

Nem tudo o que é digital vale ouro
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65 

É de Nelson Rodrigues a assertiva de que "toda unanimidade é burra". Jornalista, cronista, dramaturgo e escritor, ele tinha autoridade para proclamar a sentença. Cá com meus modestíssimos botões,  nela me inspiro para afirmar que nem toda generalização é errada. 

Mas muitas são — quando tentam simplificar em demasia fenômenos em curso.

"Ninguém se dispõe mais a ler artigos, reportagem ou livros" — errado!

"Amigos, colegas de trabalho ou de escola ou moradores do meu bairro já não topam participar de reunião, comunicam-se exclusivamente pelo celular" — igualmente errado! 

Evidente que a comunicação digital se alastrou e envolve a grande maioria dos viventes mediante muitos atrativos e absurda simplificação da compreensão da realidade. E de estímulo aos sentimentos mais primários do ser humano.

Dizem os especialistas no assunto que um vídeo de 20 segundos, se razoavelmente concebido, vale mais do que centenas de conversas presenciais e de que milhares de palavras escritas. 

Será? Tenho para mim que não. Pelo menos me parece equivocada tão drástica conclusão. 

Conheço gente de todas as gerações, desde os ainda quase analógicos aos viciados em smartphone e memes, que diante de determinados fatos ou fenômenos que nos acometem no cotidiano, desejam o debate, a leitura de opiniões fundamentadas, a reunião presencial. 

Acontece comigo com frequência. Gente que quer discutir e aprofundar a compreensão de determinado assunto, logo sugere um encontro em torno de um cafezinho ou um chopp, que ninguém é de ferro. 

E o bate-papo se estende às vezes para além da conta. Aqui e alhures, como garante o amigo Epaminondas citando o tailandês Sulak Sivaraksa, o paraibano Zé Limeira e o italiano Umberto Eco.

Ou seja, nem tudo o que é digital é ouro. O milenar hábito da conversa olhos nos olhos resiste e se afirma indispensável, levando em sua esteira o afeto e a convergência de ideias e propósitos.

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Leia também A morte e a infelicidade do ministro japonês https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/minha-opiniao_8.html

Palavra de Drummond

Calo-me, espero, decifro./As coisas talvez melhorem./São tão fortes as coisas!”

Carlos Drummond de Andrade 

Leia: Comunicação digital entre a virtude e a culpa e a luta política https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/minha-opiniao_13.html 

Enio Lins opina

O som democrático que emana das ruas contra o golpismo
Enio Lins  

DOMINGO FOI MAIS UM DIA DE LUTA e de festa pela Democracia no Brasil. Manifestações maravilhosas puxadas pela dita Cidade Maravilhosa, com Caetano Veloso, Djavan, Fafá de Belém, Fernanda Abreu, Gilberto Gil, Fernanda Torres, Chico Buarque e tantas outras vozes notáveis em sintonia com a multidão; ruas cheias igualmente em São Paulo, Salvador, Recife, Fortaleza (só para citar as mais comentadas concentrações). Maceió também se fez presente, embora com uma aglutinação menor que o potencial, fez bonito. No apurado do dia, a confirmação da importância vital do povo nas ruas em defesa do Estado Democrático de Direito, e contra todas as formas de golpes políticos – inclusive os perpetrados pelo parlamento, poder que deve representar a população.


NESTA QUESTÃO DA REPRESENTAÇÃO, 
deve-se insistir no óbvio ululante: o quão estratégico é o voto proporcional, até porque os posicionamentos do Congresso Nacional foram o centro da motivação no domingo em tela. As multidões nas ruas em protesto precisam ter capacidade de transformarem-se em massas muito maiores termos de votos nas urnas, ou nada feito. Vejamos o exemplo alagoano das eleições de 2022. Em termos majoritários, resultados coerentes: Lula ganhou em Alagoas com 59% dos votos válidos e Renan Filho foi eleito para o senado com 57% do eleitorado. Rimou. E indicou a necessidade de ser ampliado o percentual de votos contra a direita.

PARA A CÂMARA DOS DEPUTADOS, 
em 2022, entretanto, esse cálculo envolvendo os mandatos – para além da esquerda oficial – fica mais confuso, pois nem todo MDB votou em Lula, assim como nem todas as candidaturas dos partidos em apoio ao candidato do PL votaram em Jair. Deve-se levar em consideração que outras candidaturas, além dos nomes da Federação Brasil Esperança (PT, PV e PCdoB), fizeram campanha para Lula, especialmente, mas não apenas, no MDB liderado por Renan Calheiros. Na base de apoio formal, a Federação, foram eleitos apenas dois deputados federais– Luciano Amaral, com 101.528 votos, e Paulão, com 65.814 sufrágios; e não é um detalhe a constatação de que a votação do primeiro garantiu a vaga do segundo. Luciano, no exercício do mandato, trocou o PV pelo PSD. O que significa dizer que ficou extremamente difícil para a Federação conquistar uma vaga em 2026 para a Câmara Federal, caso não consiga trazer para o grupo uma candidatura com capacidade de obter 100 mil votos ou mais.

POLITIZAR O VOTO PROPORCIONAL
 é vital para o equilíbrio das forças no Congresso, e as forças antibolsonaristas precisam ter isso como lição de casa. As ruas precisam ir até as urnas. As vias precisam se converter em avenidas, evitando rotas e becos vicinais que desviem votos para outros destinos. Não se conseguirá isso sem romper as bolhas e, infelizmente, as recentes manifestações alagoanas têm ficado restritas às siglas que apoiam Lula, sem aglutinar lideranças outras dispostas a votar contra a extrema-direita bolsonarista. A estreiteza fica evidente quando se presta atenção na lista de quem usa a palavra. Inclusive, ao contrário do modelo – de grande sucesso – utilizado no Rio, São Paulo, e outras cidades que conseguem reunir as maiores multidões, em Maceió, a participação de artistas nos microfones tem sido bem menor que o potencial local, como se pode ver pelo grande número de cantores, cantoras, atrizes, atores caminhando no asfalto, longe do palanque, como manifestantes comuns.

POLITIZAR SIGNIFICA AMPLIAR 
nomes e centralizar propostas. Significa ir além das siglas. Alagoas precisa copiar o exemplo carioca, seguir o ótimo exemplo dado por Caetano Veloso, Djavan, Fafá de Belém, Fernanda Abreu, Gilberto Gil, Fernanda Torres, Chico Buarque... basta estender a mão e passar o microfone para uma quantidade maior de artistas locais, sendo coerente com a generosa e ampla alma artística-cidadã alagoana.

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Leia: A mentira como essência de uma estratégia https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/enio-lins-opina.html

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Luciano Siqueira

15 dezembro 2025

Boa notícia

Lula celebra a abertura de 500 novos mercados para exportações brasileiras
Presidente esteve na inauguração da sede própria da ApexBrasil, oportunidade em que foi comemorada a marca alcançada de novos mercados internacionais para produtos do agro
Murilo da Silva/Vermelho 

Desde 2023, com o retorno de Lula à presidência, o Brasil já ultrapassou a marca de 500 mercados internacionais abertos para os produtos da agricultura nacional. A expressiva marca alcançada foi comemorada nesta segunda-feira (15), durante a cerimônia de inauguração da sede própria da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), em Brasília (DF).

Com a presença de produtores rurais e técnicos de comércio exterior, o presidente Lula destacou a volta do crescimento econômico do país sob o seu governo, assim como a maior massa salarial da história e a menor taxa de desemprego já registrada.

Ele também ressaltou que é necessária uma visão compartilhada sobre a questão produtiva e ambiental, uma vez que a derrubada dos vetos presidenciais, pelo Congresso Nacional, no caso do PL da Devastação, prejudica, principalmente, os empresários, ainda que se estendam os malefícios para toda a população.

“Nesse país que estamos construindo, as coisas estão dando certo, os mercados estão aparecendo, o nosso pessoal está tendo mais capacidade de produzir, a mão de obra está se qualificando, a gente está respeitando mais a questão ambiental. Quando o Congresso Nacional derrubou o meu veto, não pense que eu fiquei chateado, porque eu não vou perder um milímetro, quem vai perder são os empresários que exportam produtos agrícolas se estiverem cometendo bobagem de não respeitar a questão climática”, afirmou.

“Quando chegar uma denúncia da União Europeia, ou quando o Xi Jinping [China] disser que não quer comprar porque estão cometendo tal delito na floresta, não sou eu que vou perder, são os empresários que vão perder. Então essa responsabilidade não pode ser só do governo e do Ministério Público”, completou Lula.

Apesar da crítica ao Congresso nessa questão, o presidente agradeceu aos parlamentares por aprovações de importantes medidas como a da reforma tributária e da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.

Lula ainda declarou que não existe no mundo outro país para competir em exportações do agro com o Brasil, dada a fartura vista por aqui, sendo primordial investir em condições que facilitem os negócios.

Parte dessa atuação em prol de novos mercados será vista em fevereiro na Índia e na Coreia do Sul, e em abril, na feira de Hannover, na Alemanha, que terão missões do presidente para articular mais exportações dos produtos brasileiros.

O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, ainda projetou que o Brasil deverá bater recordes de exportações no ano.

“Vamos bater neste ano um recorde, mesmo com o mundo crescendo menos e preços menores. Nós devemos bater um recorde, 345 bilhões de dólares de exportação e 629 bilhões de dólares de corrente de comércio. Até o panetone aumentou a exportação, aumentou 4% a exportação de panetone esse ano”, acentuou Alckmin. 

500 novos mercados

O presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, destacou a importância da integração entre os ministérios para chegar ao resultado, sendo que a marca de novos 500 mercados é fruto da integração de esforços da agência com os ministérios da Agricultura e Pecuária (Mapa), do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), das Relações Exteriores (MRE) e da Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). 

“O governo passado [Bolsonaro] abriu pouco mais de 200 mercados em quatro anos. O nosso governo, em três anos, abriu mais de 500 mercados, já são 506”, celebrou Viana.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, também comemorou o feito: “Tenho certeza de que nenhum país no mundo consegue ampliar dessa forma, em três anos, os seus mercados”.

De acordo com os cálculos do Mapa, os novos 500 mercados representam um potencial de exportação superior a US$ 37,5 bilhões por ano. A marca foi alcançada na semana anterior com a conclusão das negociações sanitárias para a exportação de carne bovina brasileira para a Guatemala.

São 80 países envolvidos nas operações com destaque para as vendas de carne, algodão, fruta e pescados. Entre 2023 e 2025, foram feitas 19 missões oficiais presidenciais e 5 vice-presidenciais, visando aumentar as oportunidades em mercados prioritários. Além disso, o governo Lula junto com a ApexBrasil realizou 170 ações internacionais em 42 países, o que permitiu atender três mil empresas nacionais e reunir mais de 8 mil empresários nas missões.

“O governo passado queria fechar a ApexBrasil. O então ministro da Economia [Paulo Guedes] que acumulou tudo, falou: ‘tem que fechar ou então a Apex tem que gerar recurso próprio com os empresários. Os empresários que promovam o Brasil’. Essa era a visão passada. O senhor [Lula] investiu na Apex, me chamou para cá. Mas o maior investimento na agência é o presidente Lula, porque ninguém vende mais um país do que a diplomacia presidencial, por mais que a gente se esforce”, disse Viana, ao lembrar que a ApexBrasil foi lançada em 2003, no primeiro mandato presidencial de Lula.

[Se comentar, identifique-se]

Leia: PCdoB: obstáculos ao desenvolvimento https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/palavra-do-pcdob-obstaculos-ao.html 

Palavra de poeta

Tudo muda
Bertold Brecht   

Tudo muda. De novo começar
podes, com o último alento.
O que acontece, porém, fica acontecido: e
a água que pões no vinho, não podes mais
separar.

O que acontece, fica acontecido: a água
que pões no vinho, não podes
mais separar. Porém,
tudo muda: com o último alento podes
de novo começar.

[Ilustração: Aydin Aghdashlou]

Leia também: Um milhão de amigos e a trena imaginária https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/minha-opiniao_10.html 

Minha opinião

Felicidade a granel
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65  

Neste sábado nublado e de muitos compromissos, vejo que o Estadão publica matéria cujo título já me deixa cabreiro: "Passei um mês em busca da felicidade. O que aprendi no caminho - e que você pode usar na sua vida."

No lide: "Ela pode ser confundida com euforia e não significa uma vida livre de tristezas, mas o que ‘dispara’ a felicidade na gente? Fui atrás de especialistas e de experiências para descobrir...".

Vale a pena ler? Tenho para mim que não. Até porque um mês é muito pouco para quem diz conquistar a felicidade. Nesse embate, já acumulo quase 80 anos de estrada! 

No vasto e complexo o mundo ocidental, aqui e alhures, a grande mídia dá espaço para esse tipo de abordagem da vida. Nada essencial, nem consequente; apenas conversa para boi dormir com uma elegante roupagem multimídia.

O danado é que muita gente leva a sério. Ou finge. Não fosse isso o tema não seria explorado com tanta superficialidade e inconsequência não apenas na mídia impressa, mas igualmente na TV, no rádio e nas redes digitais 

O Estadão não está só nessa empreitada. Basta ligar o rádio e não demora alguém que se diz psicólogo, ou filósofo, ou terapeuta manda o verbo aconselhando fórmulas e simplificações do que por natureza é complexo — e é instigante que assim seja: a vida. 

Melhor é tocar o barco mirando os propósitos que o tempo nos mostrou serem válidos, com o espírito aberto para renová-los sempre.

Entre o que dizem "especialistas" em felicidade das diversas modalidades e Cecília Meireles, fico com a poeta: "A vida só é possível/reinventada."

E que cada um a reinvente segundo suas crenças, paixões e habilidades. 

[Qual a sua opinião?]

Leia também: “Vivos, lúcidos e ativos" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_18.html 

Fotografia

 

Alexandre Urch

Leia também um poema de Marcelo Mário de Melo: "A coisa que falta" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/11/palavra-de-poeta_26.html 

A orientação do PCdoB

PCdoB define estratégia eleitoral e defesa da democracia com Lula
www.pcdob.org.br  


O Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) aprovou, em reunião realizada entre os dias 12 e 14 de dezembro, em São Paulo, uma resolução política que orienta a atuação do partido diante da conjuntura nacional e internacional e projeta as principais batalhas para o próximo período. O documento reafirma a centralidade da luta pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026, o enfrentamento à direita e à extrema-direita e a defesa da democracia, da soberania nacional e dos direitos do povo brasileiro. 

O documento também aponta diretrizes para o fortalecimento do projeto eleitoral do partido, a ampliação da organização partidária e a intensificação da mobilização social e política, articulando a disputa institucional às lutas populares e à batalha de ideias. Em um cenário marcado por instabilidade global, avanço do neofascismo e pressões do imperialismo, o PCdoB convoca sua militância e aliados a atuarem de forma organizada, ampla e combativa para garantir vitórias políticas e eleitorais nos próximos anos.

Leia a íntegra da resolução abaixo.

Batalhar pela reeleição do presidente Lula, lutar pelo êxito do projeto eleitoral do PCdoB, derrotar a direita-traidores da pátria e inimigos do povo e da democracia!

O novo Comitê Central do PCdoB, em sua primeira reunião ordinária realizada entre 12 e 14 de dezembro na cidade de São Paulo, salienta a realização vitoriosa do 16º Congresso ocorrido em outubro último. O coletivo dirigente e militante está seguro de que o PCdoB, apesar dos desafios que o cercam, soma conquistas para estar à altura dos grandes combates que virão, em especial, as eleições de 2026.

O Comitê Central indica aos comitês estaduais e demais órgãos de direção que realizem iniciativas para disseminar a Resolução Política do Congresso ao conjunto do coletivo militante, ao povo, às forças políticas progressistas. É importante realizar, nos organismos partidários, atividades de leitura e debate. Orienta também que se empenhem para tornar realidade, em processo, as diretrizes e tarefas apontadas. É um instrumento relevante também para a pré-campanha de nossas candidaturas, em especial na formulação de suas plataformas e no diálogo com aliados e apoiadores.

A partir dos eixos da Resolução Política do 16º Congresso, a reunião do Comitê Central focou-se em responder ao que, no presente e no futuro imediato, é o principal ao Brasil e ao povo brasileiro. São três grandes desafios: lutar por uma nova vitória da nação e da classe trabalhadora em 2026, com a reeleição do presidente Lula; batalhar pela realização das mudanças estruturais que removam as amarras neoliberais e neocoloniais que travam o desenvolvimento soberano do país; e revigorar e reposicionar o PCdoB para um novo ciclo de acumulação de forças, tendo como centro, nesta quadra, a vitória do seu projeto eleitoral em 2026.

  I – Os desafios brasileiros sob uma realidade mundial conturbada

Conforme, analisou o 16º Congresso, os desafios brasileiros estão situados no âmbito de uma realidade mundial conturbada, instável, na qual evolui a crise estrutural do capitalismo que envolve o mundo em múltiplas crises, entre elas a ambiental, com as mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, novos paradigmas tecnológicos e de inovação acirram contradições nas relações sociais de produção, na composição e subjetividade das classes sociais, notadamente do proletariado e do conjunto da classe trabalhadora, e impactam fortemente os conflitos geopolíticos, por disputa e bloqueio às tecnologias disruptivas e às reservas de matérias primas estratégicas. Dos paradoxos dessa realidade, adveio o ascenso do neofascismo e da extrema-direita no mundo, cujo epicentro é o imperialismo estadunidense.

A realidade multipolar e recrudescimento de tensões e conflitos

Diante de uma realidade mundial que toma forma, na qual se acentua o declínio da hegemonia dos Estados Unidos em contraface à ascensão crescente e consistente da República Popular da China e da tomada de posição de um conjunto de países do chamado Sul Global em defesa do direito ao desenvolvimento autônomo, o governo Donald Trump responde com guerras, ameaças e as agressões aos povos e países. Neste mês de dezembro, o Conselho de Segurança dos Estados Unidos divulgou um documento no qual esquadrinha ambições imperialistas em todos os continentes, tendo como vértice a política de enfrentamento com a China socialista. Arrogantemente, traça uma linha imaginária segundo a qual o Hemisfério Ocidental seria uma área de influência sob o seu absoluto domínio e controle.

Em relação à América Latina e o Caribe, escancara a ambição de impor o monopólio dos interesses do Estado e oligopólios estadunidenses sobre a economia e recursos naturais estratégicos dos países e, assertivamente, repelir e expulsar a presença econômica e política de potências extra hemisféricas. Para tal, indica o deslocamento de parte considerável de seu poderio bélico à região. O Brasil, detentor da maior floresta tropical e da maior biodiversidade do planeta, da maior reserva de água doce, imensas reservas minerais, incluindo terras raras, é alvo, por óbvio, dessa ofensiva do imperialismo estadunidense.

As contradições entre os Estados Unidos e a União Europeia abalaram os alicerces da Aliança Atlântica e impulsionaram uma corrida armamentista no velho Continente e em outras partes do mundo. Potências capitalistas europeias sabotam as tentativas de paz, incentivam e financiam, via Otan, a continuidade da guerra entre Ucrânia e a Rússia, com o objetivo de debilitar o poder nacional russo. Na Ásia, o governo de direita do Japão proclamou respaldo a Taiwan, aumentando as tensões na região.

América Latina e Caribe sob ataque e avanço da direita

Como consequência, agrava-se, em relação à América Latina e Caribe, a escalada de interferência, ameaças e agressões à soberania dos países, com o nítido objetivo de impor à região, a ferro e fogo, o status neocolonial de quintal dos Estados Unidos, uma área sob sua tutela, incompatível com a autonomia dos países de empreender parcerias com outras nações que julguem benéficas ao seu desenvolvimento. Esse projeto de plena hegemonia hemisférica dos Estados Unidos se choca diretamente com os objetivos do Brasil de construir e fortalecer a unidade e a integração da América Latina e Caribe, bem como de estabelecer parcerias com países de outros continentes.

Isto se estampa num rol de agressões, entre elas o implacável bloqueio à Cuba, as pressões contra o Panamá, o tarifaço contra o Brasil e a agressão militar crescente à Venezuela. Sob pretextos espúrios, Trump investe para derrubar, pela via da força, o governo de Nicolás Maduro e impor um regime fantoche. Trata-se de uma variável das velhas guerras de saque e pilhagem. No caso da riqueza venezuelana, a maior reserva de petróleo do mundo. A Colômbia também é atingida por sanções em linha ascendente.

As recentes eleições em Honduras se deram sob intervenção escancarada de Trump. Na Bolívia, diante da implosão do campo progressista, venceu a direita neoliberal. No Chile venceu Antônio Kast, da extrema-direita, que vangloria a ditadura de Augusto Pinochet. Os governos democráticos e patrióticos da região, em especial o do Brasil, têm grande relevância enquanto referências e polos de defesa da paz e da soberania.

O hediondo genocídio do povo palestino tem gerado crescente indignação dos povos do mundo. A imensa maioria do povo brasileiro quer o fim imediato desse genocídio, a paz e a criação do Estado da Palestina, soberano e independente, no âmbito da solução de dois Estados. O cessar-fogo foi uma conquista da resistência do povo palestino e do movimento de solidariedade internacional, que levou a política de ocupação do Estado de Israel a um inédito isolamento político. Todavia, o cessar-fogo, ao completar pouco mais de dois meses, enfrenta um momento crítico. As tropas israelenses controlam 53% de Gaza e os bombardeios prosseguem. Trezentos e setenta e três palestinos foram mortos e quase mil ficaram feridos. Segue a marcha pela anexação colonialista da Cisjordânia. O chamado plano de paz de Trump não garante o fim da ocupação e tampouco a criação do Estado palestino. Pretende, na verdade, transformar Gaza em um protetorado internacional dos Estados Unidos e seus aliados europeus.

Defesa da paz, combate ao neofascismo e solidariedade aos povos agredidos

Diante deste quadro, é uma necessidade e um dever internacionalista dos comunistas reforçar o combate ao neofascismo. Impõe-se também a defesa da democracia, da paz, da soberania nacional dos países, o combate às guerras imperialistas e a ativa solidariedade ao povo palestino, vítima de hediondo genocídio, à Cuba, à Venezuela, à Colômbia e aos demais países agredidos pelo imperialismo.

II – Objetivo da tática: reeleição do presidente Lula

A dez meses das eleições de 2026, o que se vê na arena da disputa é o confronto entre dois campos políticos antagônicos: as forças patrióticas, democráticas e populares versus o consórcio da direita e da extrema direita. Se antevê um enfretamento político-eleitoral acirrado pela correlação de forças e, a qualquer possibilidade de derrota, a direita, como já o fez, pode recorrer a todo tipo de expedientes criminosos e antidemocráticos. O governo Trump também seguirá afrontando a soberania nacional, interferindo ilegalmente nas eleições brasileiras, fazendo uso das big techs e de outros expedientes, com o objetivo de eleger um governo que lhe seja servil.

Diante desse cenário de intensa luta de classes e de pressões do imperialismo estadunidense, o objetivo tático é conquistar, em 2026, a reeleição do presidente Lula, impondo derrota ao consórcio da direita e da extrema-direita, e descortinando a perspectiva de um novo governo que avance na direção do desenvolvimento soberano, da ampliação e fortalecimento da democracia, de forte progresso social para desencadear a jornada pelas reformas estruturais democráticas. Seja para assegurar maioria parlamentar ao futuro governo, ou para se pautar as reformas, o campo democrático, popular e patriótico deve empreender grande esforço para eleger o maior número de senadores/as e deputados/as federais, bem como de governadores/as.

Bolsonaro e generais golpistas na cadeia e a contraofensiva da direita

O trânsito em julgado no STF da condenação por tentativa de golpe de Estado do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, de generais e de outros militares de alta patente, e o início do cumprimento das penas, rompeu a execrável tradição de se premiar com a impunidade os inimigos do regime democrático e representa importante vitória da defesa da democracia ao renitente golpismo das classes dominantes.

A extrema-direita bolsonarista, debilitada por essa derrota, que lhe retirou força e lhe impôs relativo isolamento, sacou o instrumento da chantagem sobre o Centrão, sobre a direita, e lançou a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro. Em busca de uma repactuação, o consórcio da direita e da extrema-direita firmou consenso e, valendo-se da maioria que detém, aprovou, na madrugada no último dia 10, na Câmara dos Deputados, com episódios de truculência contra parlamentares e profissionais da imprensa, o projeto que reduz as penas de Bolsonaro, dos generais golpistas e de todos os condenados pelo infame 8 de janeiro. Trata-se de um grave retrocesso. Além de beneficiar os golpistas, uma espécie de abjeto perdão parcial, favorece, também, outros tipos de criminosos de tipologias graves. Enfraquece a defesa da democracia, posto que as penas para novas tentativas de golpe de Estado, segundo o crivo de juristas, passam a serem comparáveis às de crimes corriqueiros, como roubo ou furto. A bancada do PCdoB na Câmara dos Deputados votou coesa e de forma contundente, em conjunto com a esquerda e outras forças progressistas, contra este ultraje ao regime democrático. Mas, a batalha não terminou. Haverá a fase de votação no Senado Federal. Impõe-se denunciar, mobilizar o povo, as forças progressistas, a exemplo das manifestações convocadas para este 14 de dezembro, para barrar esse grave retrocesso. Sem anistia para golpistas!

No Congresso Nacional, a direita tenta tirar proveito, explorando contradições que emergem no arranjo instável que apoia o governo e, também, dos conflitos entre os poderes, como no episódio de choque entre o STF e o Senado Federal em relação à Lei do Impeachment, de 1950.

Formam-se convergências de ocasião que resultam no velho estratagema de tentar impedir o governo de governar. Recorrem ao expediente das pautas bombas, aprovando leis para detonar as contas públicas e travar, mitigar ou adulterar projetos de interesse do povo, como o que dispõe sobre o combate às facções criminosas, o Projeto de Emenda à Constituição (PEC) da segurança, do devedor contumaz ( aprovado somente agora, graças a pressão democrática e o impacto de investigações da Polícia Federal que revelaram sonegadores vinculados ao crime organizado), e o fim da escala 6×1, grande necessidade e aspiração dos/as trabalhadores.

Tentam cercear as prerrogativas do presidente da República, como se vê agora na indicação do Advogado-Geral da União, Jorge Messias, para ministro do STF. Derrubam-se vetos do presidente em matérias de interesse do desenvolvimento nacional, sustentável, como no caso da Lei Geral do Licenciamento Ambiental. Aprova-se o Marco Temporalcontra os direitos constitucionais dos povos indígenas.

No momento, direita se fragmenta

Na configuração das candidaturas, apenas o campo do Brasil, da democracia, do desenvolvimento soberano, do povo, ainda que informalmente, está definido, com a pré-candidatura à reeleição de Luís Inácio Lula da Silva. Já o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é o predileto para ser o candidato da direita – vale explicitar, do capital financeiro, da maioria da burguesia agrária, do imperialismo e dos setores entreguistas e mais reacionários das classes dominantes e camadas médias. Enfim, do que há de pior na Casa Grande.

Mas o governador paulista posterga a decisão. Teme a força da candidatura do presidente Lula. Espera melhor aferição quanto às suas chances. E, agora, é confrontado com a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro, que provoca rejeição no âmbito do chamado Centrão e dúvidas sobre o rumo que o bolsonarismo tomará. A pré-candidatura de Flávio buscará atenuar as tensões e divisões no próprio clã Bolsonaro e em suas bases estaduais. Tentará preservar o cacife do clã no âmbito do consórcio direitista, barganhando-a ou mantendo-a. É que claro a direita e a extrema-direita poderão se unificar já no primeiro turno, ou, com certeza, no segundo turno. Por isso, não se pode subestimar sua força e competividade.

Campo patriótico, democrático e Lula se fortalecem

A liderança do presidente Lula segue em posição competitiva, de acordo com as pesquisas de intenção de votos. A seu favor está um conjunto de realizações e conquistas, a exemplo do Imposto de Renda Zero para quem ganha até R$ 5 mil reais, redução para quem ganha até R$ 7.350, além da taxação de rendas elevadas. Há ainda a queda da inflação, o recorde do índice de emprego, as realizações da Nova Indústria Brasil (NIB), o avanço da ciência, da tecnologia e da inovação no país, pelo trabalho do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e o crescimento da economia, apesar da criminosa política de juros elevados do Banco Central, agora, uma vez mais mantida. Problema que exige redobrada pressão política e social para que a Selic comece a baixar imediatamente.

O presidente Lula conta ainda com uma série de exitosas políticas sociais, assim como o seu prestígio no cenário internacional, destacado pelos êxitos da COP30 em Belém, Pará, e sua protagonista participação na 20ª Cúpula de Líderes do G20 em Joanesburgo, na África do Sul. E, também com grande importância, há a sua postura altiva, não se curvando à agressão do governo Trump, que resultou em redução considerável do tarifaço, bem como à defesa pública que faz da América do Sul como uma região de paz, se postando contra as agressões, na prática uma política de guerra contra a Colômbia e, em especial, à Venezuela.

Aliança ampla em torno de um programa que faça o país avançar

As eleições presidenciais de 2026 têm uma dimensão tático-estratégica de grande importância não somente para o Brasil, mas para a América Latina. Para o PCdoB, a tática correta é a construção, desde já, de uma larga aliança que tenha o protagonismo da esquerda, engaje o conjunto das forças progressistas e que agregue, necessariamente, o máximo do centro e centro-direita, e busque dividir e isolar o consórcio da direita e da extrema-direita, explorando suas contradições. Efetivar essa tática demanda a construção de um programa de campanha que reflita as grandes potencialidades e os grandes desafios capazes de abrir caminho à agenda dos interesses da soberania nacional, da democracia, do desenvolvimento e valorização do trabalho. Um programa que mobilize o povo e contribua para reunir o máximo de força. Será necessário, também, travar intensa luta política e ideológica para enfrentar a guerra cultural, o que demanda preparar a campanha e os militantes para essa tarefa indispensável.   

Para que essa perspectiva desponte, o PCdoB se empenhará para constituir, no âmbito da aliança para 2026 e na sociedade, o consenso possível, a convergência de um bloco de forças direcionado a formar maioria política, econômica, social e cultural em torno deste objetivo. Os comunistas apresentarão um conjunto de propostas ao programa de reeleição do presidente Lula. Será necessário formar convicções que superem concepções reféns do receituário neoliberal ou mesclas dele.

Apesar da disputa presidencial se apresentar acirrada, com relativo equilíbrio de forças, o presidente Lula ganha crescente autoridade, o que eleva a possibilidade de vitória. O PCdoB está convicto de que uma nova vitória está ao alcance da nação e da classe trabalhadora, com a reeleição do presidente Lula, livrando o país da grave ameaça de retorno da direita e do neofascismo, mas não sem muita luta, amplitude e sagacidade.

III – Empenho total pelo êxito do Projeto Eleitoral do PCdoB em 2026

O 16º Congresso destacou que o êxito do projeto eleitoral dos/as comunistas de 2026 reveste-se de grande importância para elevar a influência do PCdoB no curso da vida política, reforçar, na Câmara dos Deputados, a defesa dos direitos do povo, da democracia, da soberania nacional, da bandeira do socialismo. Os mandatos comunistas são instrumentos decisivos para a construção e crescimento do Partido.

As metas e a urgência da pré-campanha

A formatação do projeto eleitoral avança pelas mãos dos comitês estaduais, sob a direção do Comitê Central, pois se trata de um plano nacional. Fator-chave para o processo de revigoramento da legenda comunista, o projeto deve ser estruturado e posto em movimento desde já. A pré-campanha, tão importante quanto a própria campanha oficial, que começa em agosto, já está a pleno vapor. É o momento de se planejar e se movimentar, angariar e engajar apoios. Cuidar com eficácia do uso e presença nas redes sociais.

O objetivo central do projeto eleitoral é manter as atuais nove cadeiras na Câmara dos Deputados, batalhar para a conquista de mais cadeiras, e elevar o número de votos com lançamentos de candidaturas nos estados e no Distrito Federal.

Filiar lideranças, reforçar o elenco de candidaturas

A existência da Federação Brasil da Esperança (FE Brasil) e a participação neste novo ciclo político, podem contribuir para que o partido atraia novas lideranças e aumente o protagonismo.

Obviamente, a construção desse projeto prossegue, precisa ser expandido, reforçado. As direções estaduais, com apoio do Comitê Central, devem empreender esforços para tal, especialmente com filiações democráticas. Deve ter agilidade e empenho para que sejam lançadas candidaturas competitivas nos estados, no Distrito Federal, esforço concentrado que somente se encerra em 4 de abril de 2026, data limite de filiação.

Em sinergia com essa meta central, o Partido irá batalhar para manter e ampliar suas bancadas nas assembleias legislativas. Mandatos de deputados/as estaduais orgânicos são importantes alavancadores da organização e do crescimento partidário nos estados. Examinada a conveniência caso a caso, o Partido também deverá buscar a participação nas chapas majoritárias, com candidaturas ao Senado Federal e suplências, e a vice-governador/as.

A jornada pelo êxito do projeto eleitoral do PCdoB se realizará em interação com a reeleição do presidente Lula e com a batalha para que a ampla aliança que venha apoiá-lo obtenha maioria no Congresso Nacional. O Partido precisa se empenhar para ter protagonismo na Federação Brasil da Esperança, participando das articulações políticas das chapas majoritárias. Neste âmbito, deve buscar estabelecer protocolos políticos nos quais constem presença na coordenação das campanhas, participação na elaboração do programa de governo etc., apoio político para o projeto específico de eleição ao parlamento e, em caso de vitória, acerto de participação na gestão pública. 

 Campanha ampla, massiva, propositiva, o Partido como força motriz e dirigente

O Partido, o conjunto de seus órgãos de direção – Comitê Central, comitês estaduais, municipais, intermediários e organizações de base e outras estruturas –, é chamado a ser a força dirigente e motriz da pré-campanha e da campanha, buscando engajar o coletivo militante, os filiados, sob a diretriz de realizá-las com amplitude, larga base social, política e cultural de apoio. Ao mesmo tempo, é importante que o Partido cuide, de forma mais ampla e consequente, da sua estruturação partidária, articulando o projeto eleitoral com o fortalecimento da presença militante dos comunistas na luta de ideias e na luta de massas, de modo que essas frentes de atuação se retroalimentem e tenham como objetivo comum a elevação da autoridade política e social da legenda comunista.

Uma campanha combativa, alegre, criativa, nas ruas, de casa em casa e nas redes sociais. Propositiva consoante ao perfil de cada candidatura e que responda com uma plataforma de compromissos aos anseios do povo de cada local, que proponha a superação de desigualdades e se oponha a todas as formas de opressão, tendo como bandeiras gerais a defesa da soberania nacional, da democracia, do desenvolvimento e da valorização do trabalho.

Questão decisiva e desafiadora é solucionar as demandas da sustentação financeira e material. Trata-se de um problema essencialmente político e que deve ser enfrentado com busca de apoio e doações, nos termos da legislação vigente, no arco amplo de relações que o Programa do Partido e das candidaturas ensejam. Como se sabe, os recursos do Fundo Eleitoral somente serão disponibilizados em agosto, o que impõe uma exigente travessia até lá.

Campanha impulsionada pela mobilização do povo

Além das alianças, de um programa avançado, de novas entregas de benefícios e conquistas, a campanha da reeleição do presidente Lula precisa empolgar o povo, incorporar milhões de pessoas. As centrais sindicais e os movimentos sociais como um todo devem associar e canalizar suas jornadas e agendas de atividades em prol da vitória do candidato presidencial que é filho de suas lutas, bem como eleger parlamentares comprometidos com a sua pauta. A maioria de direita que controla o Congresso Nacional seguirá bloqueando os projetos do governo. Somente a pressão popular poderá arrancar novas conquistas.

Vincular a agenda de eventos e lutas com a campanha eleitoral

Na esteira da vigorosa campanha do Plebiscito Popular, unitariamente conduzida pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, e pelas centrais sindicais, que contribuiu para a grande conquista do imposto zero para quem ganha até R$ 5 mil, se destaca a continuidade, ainda com mais ímpeto, da campanha pelo fim da escala 6×1. Nesse sentido, tem relevância o Projeto de Lei 67/2025, de autoria da deputada federal Daiana Santos (PCdoB-RS), que propõe a redução da jornada para 40 horas semanais, incluindo a adoção da escala 5×2. Destacam-se, também, outras jornadas a serem abraçadas ainda com mais empenho pelo conjunto dos movimentos e frentes de atuação do Partido: fortalecer as ações e mobilizações contra o feminicídio e a violência digital que recrudescem no país; prosseguir a batalha contra a política de juros altos do Banco Central; taxação das grandes fortunas; pressionar o Congresso Nacional pela aprovação da PEC da segurança pública e pela PEC da Reparação, relatada pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP); e pela regulamentação das mídias digitais. No esforço para mobilizar o povo, bem como elevar seu nível de consciência, se impõe atuar, desde as bases, territórios, locais e espaços de trabalho.

Na esfera do movimento sindical, estão na agenda, além das batalhas pelo fim da jornada 6X1, o combate à precarização e à liberação da pejotização; a luta contra a reforma administrativa que põe fim a estabilidade, cessa a realização de concursos e promove terceirização generalizada; a luta para manter a política de valorização do salário mínimo e o combate à tentativa de desvincular essa política da Previdência Social e de outros benefícios sociais; a batalha pela aplicação da lei do trabalho igual para salário igual; a busca da ampliação do apoio, financiamento, assistência técnica à agricultura familiar; e a meta de legalizar e regulamentar a taxa assistencial nas convenções e acordos coletivos.

III – A atualização do Programa Socialista do PCdoB

Os comunistas brasileiros, conforme decisão do 16º Congresso, têm como tarefa disseminar entre o povo, com mais intensidade e diversidade de formas e meios, a alternativa do socialismo, diante do capitalismo em crise. Essa diretiva é diretamente vinculada a um desafio impostergável: a atualização do Programa Socialista para o Brasil. De acordo com o Informe Político da presidente Luciana Santos, deve começar, desde já, o trabalho de pesquisas e estudos para que se planeje e execute essa tarefa, que deverá ser concluída em 2027.

A Fundação Maurício Grabois irá coordenar o labor de estudos e debates. Como ponto inaugural deste processo, já está em debate o documento Subsídios à elaboração das reformas estruturais democráticas, indispensáveis ao desenvolvimento soberano e à luta pelo socialismo. Se propõe ao Comitê Central que aprove a iniciativa de atualização do Programa e que a Comissão Política Nacional indique a Comissão ad hoc da próxima reunião do Comitê Central responsável pela tarefa e que esta elabore e apresente o roteiro de realização.

São Paulo, 14 de dezembro de 2025

Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)

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Luciana Santos e Nádia campeão compartilham a presidência nacional do PCdoB https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/pcdob-luciana-e-nadia.html