01 novembro 2025

Palavra de poeta

empatia
Cida Pedrosa    

O bem-te-vi que canta na minha janela
sabe do concreto
Muros
Armadilhas e arames
O bem-te-vi que canta na minha janela
tem a absoluta certeza do espaço nada
dessa cidade que me afoga
em margens de incertezas

O bem-te-vi que canta na minúscula janela do banheiro
sabe que eu
sentada neste espaço 1x2 tenho uma ausência de ninho
tão grande quanto a dele

Leia também: "O cheiro da tangerina", Ferreira Gullar https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/palavra-de-poeta_20.html

Boa notícia

Brasil gera 1,7 milhão de empregos com carteira assinada em 2025
Saldo de 9 meses teve acréscimo de 213 mil vagas formais em setembro. Sob o governo Lula, são 4,8 milhões novos postos e patamar recorde de vínculos ativos: 48,9 milhões
Murilo da Silva/Vermelho  

O Brasil continua a avançar na geração de empregos sob o governo Lula. Dados do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgados na quinta-feira (30), mostram que em setembro o Brasil registrou a criação de 213 mil vagas de trabalho formais, o que totaliza um saldo de 4,8 milhões de vagas criadas desde janeiro de 2023. No acumulado de 2025, 1,7 milhão de empregos com carteira assinada foram criados em nove meses.

Conforme o governo federal, com os resultados, foi alcançado o patamar recorde de 48,9 milhões de vínculos formais ativos.

Segundo o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, os números de setembro contrariaram analistas, que previam um saldo menor de contratações. “Nosso saldo de setembro talvez contrarie os especialistas do mercado, que eu não sei se são tão especialistas assim, porque eles projetaram no máximo 175 mil e o número é de 213 mil”, disse.

O saldo do mês ficou positivo em 213.002 postos formais. Foram 2.292.492 admissões contra 2.079.490 desligamentos.

Nas redes sociais, o presidente Lula destacou as marcas conquistadas: “Alcançamos, em setembro, a marca de 1,7 milhão de empregos com carteira assinada gerados em 2025. Resultado de muito trabalho e de uma economia forte, gerando oportunidade e renda para as famílias em todo o país.”

Setores

O grupamento que liderou a alta foi o de Serviços, com 106.606 postos. Na sequência, vieram os setores da Indústria (43.095), do Comércio (36.280), da Construção (23.855) e da Agropecuária (3.167).

Nestes segmentos, entre janeiro e setembro, o saldo é de:

  • Serviços: 773.385 novos postos;
  • Indústria: 273.231;
  • Construção: 194.545;
  • Comércio: 153.483; e
  • Agropecuária: 107.297.

Jovens trabalhadores

É destaque no Caged o número de jovens trabalhadores. Mais da metade das vagas criadas em setembro foram preenchidas por jovens entre 18 e 24 anos, ao ocuparem 110.953 postos.

Junto aos adolescentes até 17 anos, que ficaram com 31.105 vagas, os grupos correspondem a 67% dos empregos formais criados no mês.

Estados

Entre os estados que mais geraram oportunidades em setembro estão São Paulo (49.052), Rio de Janeiro (16.009) e Pernambuco (15.602). Quando se consideram as variações relativas, com base no tamanho do mercado de trabalho, as maiores altas no mês foram em: Alagoas (+3%), Sergipe (+1,7%) e Paraíba (+1,1%).

Ao se considerar os primeiros nove meses do ano, o acumulado de vagas criadas mantém à frente o estado de São Paulo (485.726 vagas), seguido por Minas Gerais (164.634) e Paraná (121.291).

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Leia tambem: Maior investimento social da História https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/boa-noticia_20.html

Uma crônica de Ruy Castro

Vendem-se prisões residenciais
Construtoras pensam em novos projetos adequados a políticos presos em casa. Collor cumpre pena em seu dúplex para que seu ronco não incomode companheiros de cela
Ruy Castro/Folha de S. Paulo 

Quem diria, a lei pode começar a influir no mercado imobiliário de Brasília. O número de civis e militares condenados por tentativa de golpe de Estado e tendo suas sentenças amenizadas para prisão domiciliar abriu uma oportunidade para as construtoras. Elas já planejam seus novos condomínios em função das necessidades de sentenciados. Até agora, as prisões domiciliares vinham sendo cumpridas nos endereços particulares de cada um —perfeitos talvez para conspirações, mas não para o cumprimento da pena.

Certas instalações que até os valorizavam ficaram ociosas. A churrasqueira, por exemplo, perdeu a utilidade —por determinação da Justiça, o condenado é impedido de promover rega-bofes para seus asseclas, digo, correligionários. Donde, nos amplos espaços para os forrobodós de outrora, a residência poderá dispor de uma academia particular, equipada com esteiras, espaldares, estações de musculação, mesas flexoras e cadeiras extensoras, para que o prisioneiro mantenha, mesmo confinado, uma vida fit.

Impedido de sair à rua para prevenir possíveis fugas ou obstrução da Justiça, o condenado não pode manter sua antiga vida social. Carreatas, motociatas e jet-skíadas estão fora de cogitação, claro. Comícios, nem pensar, nem mesmo discursos em cercadinhos, já que o condenado está proibido de se dirigir ao mundo exterior. Toleram-se, no máximo, papos ocasionais com carteiros, técnicos da Net e entregadores de pizza.

As construtoras sabem que suas residências prisionais não se comparam a algumas já atualmente em uso, como a do ex-presidente Collor. Ele cumpre prisão domiciliar em seu duplex à beira-mar na praia de Jatiúca, em Maceió, avaliado em R$ 9 milhões, com 600 metros quadrados, quatro suítes, adega, piscina e cascata artificial com filhote de jacaré. Collor foi obrigado a esse sacrifício por sofrer de apneia do sono, isto é, roncar. Não seria justo para seus companheiros de cela tê-lo roncando a noite inteira.

Imagine os de Bolsonaro tendo de aturar os seus soluços.

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Leia também: Terror midiático https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/minha-opiniao_24.html 

Arte é vida

 

Keith Haring

Millôr Fernandes: Uma fábula fabulosa https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/millor-fabulas-fabulosas.html 

Minha opinião

O crivo viciado das redes 
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65 

A gente critica — em geral com razão — a excessiva importância dada às redes sociais no tempo presente. 

Porém se faz institucionalizada uma espécie de retroalimentação permanente dessa questionável importância. Qualquer fato relevante, de certa repercussão, enseja a que, dois a três dias após, a mídia dominante dedique espaço à aferição da chamada "repercussão nas redes".

Ou seja, quantas menções positivas ou negativas o aludido fato obteve — sem necessariamente levar em conta a distorção de versões e mesmo fake news.

A coisa se tornou tão importante na paisagem social e política do país que até os mais simples viventes cuidam de documentar a cena, celular à mão, através de vídeos e fotos em que quem fotografa ou filma se faz também personagem. 

Daí em diante, o produto é posto no Instagram e em outras redes e logo em seguida o dito cujo contabiliza quantas visualizações, curtidas e comentários obteve.

Uma espécie de narcisismo mórbido onde pouco se distingue entre o fato e a versão do internauta.

Foi assim que no fatídico 8 de janeiro de 2023, em Brasília, centenas de invasores dos edifícios dos três poderes da República produziram contra si mesmos provas documentais através de selfies em que descreviam os acontecimentos de viva voz e de imediato postavam nas redes. Muitos cumprem pena de reclusão na Papuda.

E a verdade? Ora, entre o que acontece e o que se interpreta nas redes a verdade pouco importa. Ou não?

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Assim age o controle social automágico https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/07/vida-digitalizada.html 

Fotografia

 

Luciano Siqueira

Leia: Uma simpática baleia azulzinha assusta os tubarões monopolistas https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/enio-lins-opina_30.html 

Postei nas redes

Vem aí a Keeta, ostentando 770 milhões de usuários na China, tecnologia avançada e pronta para desbancar o Ifood. Se eu pudesse, confesso, comeria no restaurante mesmo. 

"História estranha", Luis Fernando Veríssimo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/uma-cronica-de-luis-fernando-verissimo.html 

Uma crônica de Antônio Maria

A noite é uma lembrança
Antônio Maria  

BOA VIAGEM, FEVEREIRO. É de principiante isto de o cronista escrever que está numa janela de hotel, vendo a noite e fumando um cigarro. Mesmo havendo mar e sendo Boa Viagem um encontro muito desejado, não gosto da sem-cerimônia com que me faço personagem de mais uma crônica, como se eu, a noite e o cigarro ainda fôssemos novidade.

Entretanto, alguns acontecimentos espirituais do homem podem ser contados e explicados, desde que esse homem seja capaz de transmitir a alguém a beleza de sua solidão. Que ninguém se queixe de falta de ocorrências para escrever melhor. E sim de incapacidade para gritar o seu grande mundo interior.

Eu vim à janela porque conheci uma moça e estou preocupado em como a venho pensando, há um enorme tempo. O cabelo, os olhos, a boca, as mãos e o silêncio. Também a palavra vagarosa, que perguntava de vez em quando sobre uma verdade já velha ou sobre uma mentira mais em moda. Se confiasse em cada um de nós, explicaria à sua maneira o Homem, o Amor, o rio Capibaribe e o compositor João Sebastião Bach. Mas para isso, além de ser preciso confiar, teria que pedir a palavra e se imponentizar de tal maneira que nos assustaria à sua volta, após assustar-se consigo mesma. O que dizia eram curtas perguntas. O que fazia era pouco e casual. Mesmo assim eu a adivinhava sábia e corajosa.

Mais das vezes se escreve assim de uma mulher quando por ela se sente uma dessas súbitas emoções, muito parecidas com o chamado amor à primeira vista. Mas, em meu caso, essas impressões já não me confundem. Uma mulher me empolga assim que a sinto gente; e nela me perco, de descoberta em descoberta, sem me consentir a mínima desconfiança de estar amando-a, em qualquer das maneiras antigas ou atuais de amar alguém. Uma mulher-gente nos atrai aos seus mistérios e, no tempo em que procuramos desvendá-los, só acrescentamos dúvidas à nossa ignorância inicial.

Apesar disso, é dever do homem-gente deixar que o seu pensamento se demore nas lembranças de sua conhecida recente. Amor é outra coisa. Amor a gente espera, como o pescador espera o seu peixe, ou o devoto espera o seu milagre: em silêncio, sem se impacientar com a demora. E o amor a gente não conta pelo jornal a não ser quando quando o sentimento trai a frase, juntando palavras que deviam estar sempre separadas.

Cá estou, porém, nesta janela que não me deixa mentir, em frente à noite de que sou uma espécie de filho de criação, a repassar lembranças de uma moça que, de mim, se muito recordar, recordará meu nome. Eu também a esquecerei, mas daqui a duas ou três mulheres importantes. Agora, faz-me bem, inclusive, sofrê-la um pouco. É tarde. Deveria ir para a cama. Todavia, não seria  direito. Numa moça, a gente pensa na janela.

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Leia também: “Vivos, lúcidos e ativos" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_18.html

31 outubro 2025

Abraham Sicsu opina

Cuidado: o porta-aviões está chegando
Abraham B. Sicsu  

Eventos marcam. Em épocas diferentes. Fazem refletir, repensar posições nada simples, nada cômodas. As supermáquinas pontuam momentos políticos de impasses, de indefinições. Os porta-aviões chegam.

Governo de João Goulart, 1962. Estava acabando o primário e tinha dois colegas de classe sobrinhos de artista famoso. Éramos moleques, metidos a intelectuais, acreditando que fazíamos a revolução.

Seu tio, um músico sátiro, muito dotado, extremamente inteligente: Juca Chaves. Fez uma música que nos foi apresentada em encontro, acredito, na casa dos sobrinhos. A música fez sucesso e marcou época. Um trecho dizia:

“Brasil, terra adorada
Comprou porta aviões
Oitenta e dois bilhões
Brasil, oh pátria amada
Que Palhaçada.”

Crítica feroz ao gasto público em um bem que não se via sentido. Pelo menos, para ele e seus admiradores, e para as crianças que éramos.

A embarcação se chamou Minas Gerais, Foi o primeiro porta-aviões da Marinha Brasileira. Velho, verdade, seria usado na Segunda Guerra, mas nem isso foi, ficou um tempo com a Austrália e compramos de segunda mão.

Tinha sido adquirido em 1956, bem antes do governo da época da música, não importava para os críticos, do governo britânico e ficou na ativa até 2001 quando virou sucata, após muitas tentativas frustradas de venda. Podia levar até 20 aeronaves entre aviões de combate e helicópteros. À época impressionavam os números. Mais de mil pessoas envolvidas em sua operação. Símbolo de orgulho nacional, diziam nossas autoridades engalanadas. Finalmente tínhamos um.

Os críticos, ao contrário, questionavam. Um equipamento cuja explicação era pouco convincente. Uma plataforma de aviões em pleno mar, para quê? Aproximar as aeronaves por mar de quê objetivo?  Ter por ter fazia algum sentido?

A galera delirava e escarnecia de um Governo que já era frágil. Não se sabia o caos que estávamos apoiando e que estava sendo armado.

Agora, no jornal da sexta feira, dia 24 de outubro de 2025, uma notícia chama a atenção. Os Estados Unidos da América autorizam uma missão militar junto com o governo de Trinidad e Tobago. O maior porta-aviões do mundo será deslocado para a região. Mais precisamente para as ilhas em frente à Venezuela.

O Gerald Ford é uma monstruosidade. Movido por um gerador de energia nuclear. Segundo a CNN, tem envolvidos em sua tripulação cerca de cinco mil pessoas, uma mini cidade, e pode transportar noventa aviões. Além, de mísseis balísticos e armamentos ultrassofisticados. É acompanhado por uma frota de navios e equipamentos de guerra de tecnologia avançadíssima e aeronaves ultramodernas.

A justificativa desse deslocamento para o Mar do Caribe não é apenas treinamento militar, envolve um clima de mistérios pouco desvendados. Além de uma posição política assumida, de acusações antes dos fatos serem provados.

Quer-se combater o narcotráfico, sem provas até agora de que este se reconcentra na região norte do continente sul-americano, mais precisamente em dois países andinos. Até já, como teste, atiraram umas bombinhas que afundaram dez embarcações pequenas, sob o dito pretexto, e levaram à morte de 37 pessoas.

A poucos quilômetros da Venezuela, o arquipélago de Trinidad e Tobago, vai receber fuzileiros navais americanos para exercícios de preparação militar. No domingo, 26 de outubro, chegou o USS Gravely, um navio de guerra lançador de mísseis, ancorado a cerca de 10 quilômetros da Venezuela.

Procuram-se os reais alvos. Parece que dois personagens e dois países estão na mira, Petros e Maduro, Colômbia e Venezuela. Implicitamente, para avisar a China e a Rússia que aqui não devem se meter, o território é deles. Não há concessão ou discussão.

Colômbia que foi o principal aliado americano no combate aos cartéis e ao narcotráfico recentemente. Colômbia onde foi anunciado, em conjunto com os americanos, o fim dos grandes cartéis das drogas. Mas, isso não é relevante.

O dito Imperador do Mundo não sabe o que é soberania, não aceita a autodeterminação dos povos, para ele, Sul América é quintal americano, tem que se submeter a seus desejos.

Nos últimos meses os “yankees” inventaram uma nova guerra. Não teórica, mas real, mobilizando caças, submarinos e embarcações em operações de combate às drogas na região.

Mesmo sem ter muita certeza de que os barcos e lanchas atacados tinham efetivamente ligação com o narcotráfico. Nenhuma prova concreta apresentada. Sem limite territorial, nos mares do Caribe e do Pacífico. 

Trump tem o discurso na ponta da língua. Maduro e Petros são líderes de movimentos de narcotraficantes. E deu uma ordem explícita. A CIA tem que atacar os dois países. Mais, mobilizou o comando antiterroristas que matou Bin Laden no sentido de repetir a façanha com os dois dirigentes deste continente.

Evidentemente, tal atitude gera reações. Reservistas estão sendo convocados e exercícios militares são diuturnos no litoral da nossa vizinha Venezuela.

O presidente colombiano também se manifesta. Diz jamais ficar de joelhos. Reafirma a posição contra narcotraficantes. Afirma que se está criando uma guerra para desestabilizar a região e, assim, como afirma também Maduro, se apoderarem das reservas minerais, inclusive do petróleo, na região.

Não tenho nenhuma simpatia por Maduro e suas atitudes antidemocráticas. Mas, impossível aceitar que uma superpotência utilize sua força como mecanismo de impor um projeto personalista de dominação.

O mundo não é e nem deve ser propriedade de uma nação. Criar guerras é uma temeridade que pode custar milhões de vida, simplesmente por um capricho de querer delimitar um continente como sendo seu.  Um senhor, Falso Imperador, que diz querer ser Prêmio Nobel da Paz contradiz a lógica, o bom senso.

Dia 27, os Presidentes do Brasil e dos Estados Unidos se reúnem. Muita mídia, assunto esperado e desejado por quase todos. A pauta é basicamente econômica. Esperemos que venham os resultados.

 O que causa estranheza, pelo menos no que foi veiculado na imprensa, é que os temas Soberania e Autodeterminação dos Povos aparecem marginalmente. Num momento em que mais do que ameaças existem, em que há o risco concreto de intervenção militar nos países que são nossos vizinhos. Algo que mexe profundamente com a geopolítica da região e pode desestabilizá-la, pior, entrar numa guerra cruel e devastadora, talvez sem controle. O máximo que se fala é que o Brasil se dispõe a mediar a crise no norte do continente. Por que não exigir que seja evitada e interrompida? Por que não pedir aos americanos respeito às soberanias nacionais?

Parece que a preocupação única é melhorar nossas relações comerciais, conseguir mercados, mesmo que com o tarifaço já tenhamos provado que o Brasil pode entrar em novas áreas comerciais, que os impactos foram bem menores dos que os anunciados.

Antes que o porta-aviões chegue, bom refletirmos qual deve ser nossa postura frente às crises internacionais, qual o respeito que teremos se continuarmos declarando que somos o país líder na América do Sul, mas nos abstermos de uma posição firme frente ao todo poderoso Senhor das Bravatas, que anuncia invasão sem argumentos sólidos, que desrespeita os povos e sua autodeterminação.

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Leia também: “Catabil sobre o Índico” https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/04/minha-opiniao_13.html 

Fotografia

 

Yavuz Arslan 

Leia: A palavra e o gesto https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/06/minha-opiniao_14.html 

Palavra de poeta

Meditação
Waldir Pedrosa Amorim  

A solidão não seja triste,
deprimida,
nem vazio.
Instantes de solidão
se equivalham
a uma floresta de bambus
onde um monge
trafega
sem temor
de sua própria companhia.

[Ilustração: Emeric Marcier]

Leia também 'O caminho da faca', poema de Cida Pedrosa https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/palavra-de-poeta_27.html

Arte é vida

 

Maurício Arraes

Aos exercícios, tudo? https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/minha-opiniao_28.html 


Minha opinião

Versos inconclusos
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65

No bar ao lado do Restaurante Viena, no Aeroporto de Guarulhos, as mesas são muito próximas. Apenas dois fregueses, ele e eu. Ele, sem bagagem, nem bilhete de viagem visível, zero preocupação com a hora, talvez na quarta ou quinta dose de uísque. Eu, saboreando uma Boêmia long kneck, atento ao relógio, aguardando o momento de embarcar num voo da Gol das vinte três horas com destino ao Recife.

Ao perceber meu interesse, disse chamar-se Floriano e mostrou-me um rabisco no avesso de uma embalagem de cigarro: “Parti para a mais cruenta das guerras/e apenas um olhar distante de lancinante indiferença/nem uma palavra, um aceno que me...”. 

– Um poema?, perguntei. 

“– Ah, amigo tenho os versos aqui no peito e não consigo botar no papel!”, respondeu, com a fala enrolada e os olhos faiscantes.

Tentou me explicar, com dificuldade. A voz grave, engolindo as sílabas, a muito custo mencionou alguém de quem esperava e não obteve a palavra amiga, solidária, afetuosa.

Com todo respeito a Antonio Maria, que dizia acreditar na sinceridade dos bêbados e dos poetas, aviso que os poetas têm de mim admiração e carinho; os bêbados, nem tanto.

Explico. Sem poesia a vida seria cinza e monótona. Os poetas são seres especiais – os grandes poetas e mesmo os médios e os apenas esforçados. 

Estes últimos tentam, e já é alguma coisa. Imagine se nossa existência em meio a verdades, mentiras, pelejas mil, amores e dores, desespero e esperança não pudesse ser iluminada jamais por um Drummond, um Vinícius, um Neruda, uma Cecília Meireles?

Já os bêbados seriam dispensáveis – sobretudo os chatos, barulhentos, conversadores, donos da verdade, tristes, eufóricos e inconvenientes.

Mas confesso que há um tipo de bêbado que exerce sobre mim uma atração irresistível, desperta um profundo sentimento de solidariedade: o bêbado solitário.

Nada é mais comovente do que a imagem do cara ilhado, ele e o copo, ele e a desilusão, ele e o fracasso. 

Nunca vi alguém beber sozinho com alegria. Jamais recolhi de um desses o sorriso que não fosse de discreta vergonha, aquele sorriso sem graça de quem sofre e procura dissimular.

Quando posso, me aproximo: um leve cumprimento, o olhar cúmplice à espera de um grunhido qualquer, um sinal de vida, um laivo de resistência.

Foi assim que travei o breve diálogo com Floriano, o bêbado autor do poema apenas iniciado.

- “Ficou um buraco deste tamanho aqui no peito, que dói, dói uma dor que não quer passar, entende?”

Eu disse “entendo, sim”, e me desculpei por não poder continuar a conversa, tinha chegado a minha hora. Mas a vontade era de retardar a viagem, quem sabe depois de mais uma dose ele viesse a completar os versos amargos e aliviar o sentimento de desamor e perda.

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Veja:”Pra dizer adeus”  https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/edu-lobo-e-maria-bethania-pra-dizer.html 

Thiago Modenesi opina

Chacina no Rio. Não há outro nome
Famílias foram dilaceradas pelo luto e a pergunta que sempre ecoa, mas nunca é respondida, voltou à tona: esta é a única forma?
Thiago Modenesi/Vermelho 

A imagem do Rio de Janeiro como palco de uma guerra urbana se repetiu com crueldade no último 28 de outubro de 2025. Uma operação policial de grandes proporções, justificada sob a égide do “combate ao tráfico”, terminou em mais uma chacina.

Corpos se amontoaram, mais de 130 até a tarde do dia 29 de outubro, que também custou a vida de quatro policiais inclusive, famílias foram dilaceradas pelo luto e a pergunta que sempre ecoa, mas nunca é respondida, voltou à tona: esta é a única forma? A operação, que deixou um rastro de dezenas de mortos, falhou em seu objetivo central se considerarmos a estrutura real do crime organizado, só se justificava se fosse uma operação de retomada de território, planejada e estruturada.

Da maneira que foi feito, não se chega na favela pedindo licença, mas sim arrombando casas e causando o caos no cotidiano de pessoas que já estão na periferia da segunda maior metrópole do país que segue paralisada, com lojas fechadas, escolas e universidades sem aula, movimento  70% menor na cidade, uma violência contra todos. O que vimos foi uma operação desastrosa, trágica, sem planejamento ou inteligência.

É um fato conhecido, mas sistematicamente ignorado nas ações de “choque”: os chefes do tráfico, os verdadeiros donos do poder paralelo, não moram nas favelas e nos morros. Eles residem em condomínios de luxo, frequentam cassinos no exterior e gerenciam seus impérios criminosos à distância, por meio de aplicativos criptografados.

Enquanto isso, a juventude pobre, recrutada pela falta de perspectivas, serve como bucha de canhão e bala perdida, muitas vezes, perdida pela polícia. A operação do dia 28 matou soldados descartáveis, mas a cúpula do comando permanece intocada, operando seus negócios como se nada tivesse acontecido. Esse modelo de intervenção ocorre há mais de 30 anos no Rio de Janeiro, não há nada de novo do ponto de vista técnico, e é comprovadamente ineficaz, o crime não diminuiu.

Diante de um número tão avassalador de mortos, a sociedade tem o direito de saber: quantos mandados de busca e apreensão e, mais importante, quantos mandados de prisão foram efetivamente cumpridos nessa operação? Se a resposta for poucos ou nenhum, a operação não passou de um espetáculo de violência que não mexe na estrutura do crime. Apenas gera novas rodadas de recrutamento para as facções, alimentadas pela vingança e pelo ciclo interminável de violência.

A condução da segurança pública no estado não pode ser analisada sem olhar para seu principal gestor, o governador Cláudio Castro. É emblemático recordar que Castro foi um ferrenho opositor da PEC da Segurança Pública que está no Congresso Nacional desde abril, proposta que visa justamente a integração de dados, inteligência e ações em nível nacional, o que levaria a criação do Sistema Único da Segurança Pública – SUSP. A rejeição a um sistema unificado favorece a fragmentação e o foco em operações espetaculosas em detrimento de um trabalho investigativo de longo prazo.

Mais grave ainda são suas ligações que mancham a credibilidade de qualquer discurso de guerra ao crime. Sua proximidade política com o deputado estadual preso, TH Joias, suspeito de ser fornecedor de armas para o Comando Vermelho, levanta questões inevitáveis sobre conflito de interesses e sobre quem, de fato, se beneficia com essa política de segurança falida. Como se combate uma organização cujo provedor de armas tinha assento no plenário da Assembleia Legislativa e era aliado do governador?

Há um caminho melhor, mais silencioso e infinitamente mais eficaz. O exemplo veio do governo federal com a Operação Carbono Oculto em São Paulo. A estratégia foi cirúrgica: em vez de trocar tiros na favela, sufocar o fluxo de dinheiro. A Receita Federal e as agências de inteligência atacaram o coração do crime organizado – seu sistema financeiro. Contas foram bloqueadas, bens foram apreendidos, e o esquema de lavagem que sustentava a facção foi desmontado. Isso sim é um golpe estratégico. Um chefe do tráfico sem dinheiro é um chefe impotente, incapaz de pagar seus soldados, comprar armas ou corromper instituições. O resultado da operação federal em São Paulo foi estimado em um prejuízo de 30 bilhões ao crime, o do Rio de Janeiro pelo governo do estado foi até agora de 90 e poucos fuzis e meia dúzia de pri sões, nenhuma de chefes de facção.

A chacina de 28 de outubro é a prova definitiva do fracasso de um modelo. Três das quatro operações mais mortais da história do Rio de Janeiro aconteceram no governo de Cláudio Castro, com 1886 mortos desde o início do seu mandato. Enquanto as operações se limitarem a matar pobres nas periferias, estaremos apenas podando galhos de uma árvore venenosa cujas raízes financeiras e políticas permanecem intocadas.

Ninguém no seu juízo perfeito é contra o combate ao tráfico, o crime e as milícias, não se trata disso, o formato do que é realizado até hoje no Rio não resolveu o problema, na verdade o crime se fortaleceu. É hora de transferir o foco dos fuzis para as planilhas, das incursões policiais para as operações de inteligência financeira. O combate ao crime organizado no século 21 não se vence com balas, mas com algoritmos, auditorias e a coragem de cortar o seu suprimento vital: o dinheiro.

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Leia também: "O inimigo principal" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/minha-opiniao_29.html 

Humor de resistência


Aroeira

Leia: A direita convida à política do medo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/rio-de-janeiro-chacina.html 

Postei nas redes

Considerando os elencos de Flamengo e Palmeiras, a final da Libertadores será entre duas "seleções" sul-americanas. Grande jogo. 

Futebol brasileiro: para onde? https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/futebol-brasileiro-para-onde.html 

Barbárie orquestrada

A cabeça que falta
Em artigo ao Portal Vermelho, Luiz Eduardo Soares descreve a decapitação de um jovem no Alemão como símbolo de uma barbárie orquestrada. A violência vira espetáculo, a memória se perde e o Estado balbucia “guerra”.
Luiz Eduardo Soares/Vermelho 

Uma cabeça pendurada na árvore. O corpo intacto. Só a cabeça, o fruto estranho. No Sul dos Estados Unidos, pendiam das árvores os negros enforcados pela KKK. No Alemão, só a cabeça de Iago, 19 anos, trabalhador. Ornamento preservado. Iago Rodrigues era trabalhador. Policiais mantiveram seu corpo intacto. Só queriam a cabeça. Troféu de guerra. Foram mais de 120, quem se lembrará de Iago? Era uma operação policial. Quem perderá tempo com a cabeça que faltava?

Seu Robson viu outro rapaz levado ao beco, andando com dificuldade, apoiado no ombro do policial da Core. A caminhada seria curta. O policial deu alguns passos pra trás e fuzilou o número 93, ou seria o 84? Quem vai se lembrar? Seu Robson cobrou a covardia. Pediram seus documentos, anotaram a placa e arrebentaram seu carro. O recado está escrito com spray na lataria. Alguém vai denunciar à polícia a polícia? Quem vai compilar os relatos do massacre, a memória do horror? 

Na mídia, o nome é operação, operação policial, segurança pública, governo do estado do Rio de Janeiro. Meus colegas, minhas colegas, nós somos ouvidos e denunciamos, vociferamos, criticamos. Educadamente, empilhamos, pela enésima vez, argumentos óbvios. Mas a mídia gosta de entretenimento e do chamado contraditório: há quem contra-argumente pra sugerir que haja controvérsia. Nós não percebemos que o falatório só aumenta o ruído e que o ruído apenas silencia o único som capaz de nos salvar: o sopro sem fim da brisa noturna no crânio do homem que pende da árvore. 

As palavras voam pra lá e pra cá, ornadas com cifras e números, pra lá e pra cá, como o vento que balança a cabeça pendurada na árvore no Alemão. A cabeça de Iago resta como a peça que falta no jogo de armar, o detalhe, o pedaço do corpo, da lógica e da história que ficou de fora, sobrando na política do governador, o excedente em busca d’encaixe n’alguma explicação de autoridade, mas o que são os detalhes num banho de sangue magnífico, mais de 120 mortos, a joia da coroa da barbárie nacional?

O governador embutiu a carnificina na geopolítica trumpista. De caso pensado, falou em terror, promoveu o terror pra balbuciar “narcoterroristas”. Na véspera, membro da família real de nossa triste colônia clamou ao grande irmão do Norte que aspergisse uma gota de sua ira imperial na baía da Guanabara. O jogo está sendo jogado por caçadores de cabeça. Os fascistas precisam desesperadamente de uma saída política, e eles a buscam na morte e no medo. 

[Foto: Tomaz Silva /Agência Brasil]

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30 outubro 2025

Editorial do 'Vermelho'

Chacina no RJ— O modo fracassado de combate ao crime
Governo do RJ repete a velha e fracassada fórmula de combate às organizações criminosas: a carnificina. Direita busca votos empilhando cadáveres.
Editorial do 'Vermelho' www.vermelho.org.br   

 

A Operação Contenção, realizada pelas polícias Civil e Militar na terça-feira (28) nos complexos da Penha e do Alemão, zona Norte do Rio de Janeiro, a mais letal da história da cidade, é condenável e ineficaz por diversos aspectos. A começar pelo número de mortos, segundo dados oficiais superior a 120, incluindo quatro policiais. As cenas de barbárie, mostradas em imagens e relatadas por moradores, caracterizam a ação como carnificina, uma operação espetaculosa, midiática, de esbanjamento de sangue e violência, realizada de forma amadora, sem planejamento adequado e com meios precários.

A manobra de bloquear a fuga pelo alto da mata que circunda as duas comunidades resultou na grande quantidade de corpos mutilados. E até agora as autoridades não explicaram as razões de terem deixados esses corpos abandonados. Foram resgatados por moradores locais e dispostos na Praça São Lucas, na localidade conhecida por Vila Cruzeiro. É uma prática típica das chacinas recorrentes, conforme denunciou a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ). “A política de segurança do Rio é a política da chacina”, afirmou. “É usar o medo e a dor para fazer política eleitoral.”

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu um “trabalho coordenado” que mire a “espinha dorsal do tráfico”. “Não podemos aceitar que o crime organizado continue destruindo famílias, oprimindo moradores e espalhando drogas e violência pelas cidades. Precisamos de um trabalho coordenado que atinja a espinha dorsal do tráfico sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco”, escreveu ele nas redes sociais.

Uma iniciativa nesse sentido foi a criação de um “escritório emergencial de enfrentamento ao crime organizado”. O anúncio ocorreu após reunião do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL). O escritório será coordenado pelo secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos, e pelo secretário Nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo.

O governo do Rio de Janeiro afirmou que a operação foi deflagrada após mais de um ano de investigação e 60 dias de planejamento, tempo que seria suficiente para articulações com o governo federal que resultasse numa operação consistente, com mais meios, efetivos e serviço de inteligência. Mas o governador optou pela aventura e a irresponsabilidade de agir sozinho.

Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal (PF), informou que segue o trabalho no Rio de Janeiro de investigação de polícia judiciária, no cumprimento das diretrizes fixadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, conhecida como ADPF das Favelas.

Em abril deste ano, o STF definiu medidas para combater a letalidade policial durante operações da Polícia Militar contra o crime organizado nas comunidades do Rio de Janeiro. O ministro Alexandre de Moraes determinou que Cláudio Castro envie informações para a audiência sobre a ação em 3 de novembro. “O governador deverá apresentar as informações de maneira detalhada na audiência designada”, disse Moraes.

O governo do Rio de Janeiro também ignorou medidas para asfixiar financeiramente as facções criminosas, conforme denunciou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, referindo-se principalmente ao combate às fraudes com combustíveis, uma das principais fontes de financiamento do crime organizado.

“Eu penso que o governador poderia nos ajudar em relação a isso. O governo do estado do Rio tem feito praticamente nada em relação ao contrabando de combustíveis, que é como você irriga o crime organizado”, disse o ministro, complementando que o Ministério da Fazenda está “atuando forte” no Rio de Janeiro para reprimir o financiamento ilegal, atuado junto à Receita Federal e a outros órgãos no bloqueio de esquemas de fraude no setor de combustíveis.

É óbvio que a conduta do governo do Rio de Janeiro não resulta em combate eficiente ao crime organizado. Sua operação deixou, além do rastro de sangue, possíveis vítimas inocentes, pessoas que vivem nas comunidades sem envolvimento com o crime. Além do mais, essas ações combatem apenas o escalão de baixo das organizações criminosas. Passado o espetáculo midiático de violência, rapidamente, como apontam estudos, a facção criminosa recompõe seu efetivo.

Em busca de impacto e de apoio difuso da opinião pública, Cláudio de Castro optou por expor o aparato policial e a comunidade aos riscos previsíveis, conduta apoiada por outros governadores de direita, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ronaldo Caiado (União-GO), que se reuniram remotamente com Cláudio de Castro. Também se manifestaram a favor do massacre os governadores Romeu Zema (Novo-MG), Jorginho Mello (PL-SC) e Mauro Mendes (União-MT).

Na defensiva desde a condenação de Jair Bolsonaro e seus comparsas, e do episódio sobre o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no qual foram flagrados cometendo crime de traição nacional, o consórcio da direita e da extrema-direita imagina recuperar prestígio popular sob cadáveres.

A vassalagem da direita ao governo Trump, além do tarifaço, se manifesta, também, neste tema, posto que parlamentares bolsonaristas se movimentam para tipificar as facções criminosas como terroristas ou narcoterroristas, o que abriria caminho para o governo estadunidense empreender pressões e agressões contra o Brasil, como faz com outros países.

A hipocrisia desse consórcio fica patente no fato de que eles bloquearam e seguem impedindo a tramitação e aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, protocolada na Câmara dos Deputados em abril, com o objetivo de consolidar um sistema nacional articulado, estável e com financiamento contínuo para enfrentar o crime organizado.

Não resta dúvida de que o direito do povo brasileiro à paz e à segurança pública, imprescindíveis à cidadania, está ferido pela ação das facções criminosas. Segundo o Fórum Nacional de Segurança Pública, essas facções movimentam, conforme dados de 2022, R$ 348,1 bilhões ao ano, dos quais R$ 186 bilhões são de vendas de celulares e golpes virtuais e R$ 146,7 bilhões da venda combustíveis, bebidas, cigarro e ouro. Hoje, apenas um montante minoritário provém do tráfico de drogas. As facções também se incrustaram em diferentes instâncias da gestão pública.

Trata-se de um problema estratégico, posto que o monopólio da força, que pela Constituição deve ser do Estado, foi quebrado. Nos territórios controlados pelo crime, o povo vive sob ameaça, chantagem, violência e roubo permanente, situação de extremo sofrimento e opressão. A maior parte das vítimas é constituída por jovens, negros e pobres. O país também almeja o fim das carnificinas, das matanças que penalizam o povo e mais fortalecem do que debilitam as fações criminosas.

O episódio do Rio de Janeiro demanda uma reação das forças democráticas, populares e progressistas, pela ação do governo federal em conjunto com os governadores no sentido de fortalecer movimento para que o povo tenha direito à paz e segurança pública, pelas armas e instrumentos do Estado Democrático de Direito.

Movimento que deve pressionar o Congresso Nacional para que debata, aprimore e aprove, ainda este ano, a PEC da Segurança Pública e o Projeto de Lei Antifacção de combate às organizações criminosas. Além disso, é preciso que se robusteça os programas e políticas que proporcionem à população das favelas e comunidades um conjunto de direitos sociais e oportunidades de emprego e renda.

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Palavra de poeta

Inscrição na areia
Cecília Meireles 


O meu amor não tem
importância nenhuma.
Não tem o peso nem
de uma rosa de espuma!

Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?

O meu amor não tem
importância nenhuma.

Leia também: "O baile", poema de Cida Pedrosa https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/08/palavra-de-poeta_18.html 

Arte é vida

 

Pablo Picasso

"Flores do mais", um poema de Ana Cristina César https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/palavra-de-poeta_47.html 

Rio de Janeiro: chacina

A direita convida à política do medo
Sobram sinais de que no Rio houve chacina planejada, para levantar governador que, decaído, flerta apenas com o medo. Direita se agarrará à brutalidade das armas, consolo que lhe resta. Para outro Brasil, é preciso propor outra Segurança
Caique Azael  

Título: Entre as chacinas e as urnas: quando a (in)segurança pública vira palanque eleitoral. Este texto é uma parceria entre o WikiFavelas – Dicionário das Favelas Marielle Franco Outras Palavras

O Rio de Janeiro viveu mais uma chacina nesta terça-feira (28/10). A operação mais letal da história do estado, até o momento. Há notícias que mencionam ao menos 110 pessoas mortas e mais de 2.500 agentes da polícia civil e militar envolvidos, tanto do BOPE como da CORE. Não por acaso, um ano antes das eleições para o cargo de governador. Assim como em 2021, quando vivemos uma das maiores chacinas na favela do Jacarezinho, com dezenas de execuções, houve o alastramento do pânico moral em toda a população, fato que se conecta diretamente com a abertura de um período de campanhas para a sucessão do governo.

O governador Cláudio Castro (PL), em franca disputa com o governo federal petista, tentou transformar o debate da chacina que ele conduziu na cidade em palanque para atacar um suposto abandono do presidente Lula (PT) diante da situação do Estado. A política do medo ocupou as ruas, em uma megaoperação que mais parecia um espetáculo, envolvendo milhares de trabalhadores das forças de segurança, com veículos blindados (mais conhecidos como Caveirões), helicópteros sobrevoando casas, escolas e serviços de saúde fechados, vidas sob cerco. Para além dos complexos do Alemão e da Penha, diretamente envolvidos nas operações nesta terça-feira, há relatos de retaliações por parte das facções em toda a região metropolitana, com fechamento de vias e saques em comércios. 

Segurança pública é o tema que mais preocupa os brasileiros, e não por acaso aparece recorrentemente na agenda dos gestores das grandes cidades e estados, em uma certa confusão sobre a atribuição de cada ente do pacto federativo. Um problema que temos observado é que muitos vendem mais violência como solução: na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, o Prefeito Eduardo Paes (PSD) decidiu armar a guarda municipal, treinando-a militarmente, em um ato que contraria as principais indicações de pesquisadores e ativistas na área da segurança pública. Afinal, isso reproduz a lógica equivocada de que o aumento da força policial ou armamento garante segurança, quando, na prática, amplia a violência, reforça desig ualdades e expõe ainda mais a população negra e periférica ao risco de morte. No caso da capital fluminense, o armamento da guarda significa maior repressão aos trabalhadores informais e a completa falência de um modelo de gestão que, incapaz de lidar com os conflitos urbanos cotidianos por meio de esforços intersetoriais, decide incrementar as ontologias militarizadas de governo.

Sem dúvidas, o Rio de Janeiro vive uma grande crise na segurança pública, que merece ser analisada a partir de esforços multidimensionais, intersetoriais e de longo prazo. Pesquisas e experiências nacionais e internacionais mostram que segurança pública efetiva se constrói por meio de prevenção, com políticas sociais, investimento em educação, saúde e infraestrutura comunitária, não com fuzis, blindados e operações espetaculares que transformam o medo em espetáculo. A experiência da Colômbia, por exemplo, demonstra como a redução da violência integra um programa articulado de inclusão social, diálogo comunitário e fortalecimento de instituições locais que promovam o acesso a direitos básicos e a reconstruç& atilde;o do tecido social. Isso mostra que segurança pública é, antes de tudo, um projeto de cuidado coletivo e prevenção, e que políticas baseadas na repressão e na espetacularização da violência só perpetuam ciclos de morte e medo, aprofundando desigualdades e fragilizando a cidadania.

No Rio de Janeiro, na contramão, vemos a intensificação de uma certa agenda de guerra urbana, coordenada pelo Estado, como parte das táticas de governança da extrema-direita, com o terror sendo o principal alicerce de um projeto ultraliberal de retirada de direitos da população. Por um lado, intensifica-se a violência de Estado nas favelas e periferias e, por outro, violam-se direitos dos trabalhadores. 

Aliás, ao abordar o episódio de ontem, a mídia hegemônica deveria usar o nome adequado para se referir ao ocorrido. Não é operação policial, é chacina. E, talvez, a maior da história do país. 

O endurecimento de práticas violentas de Estado ocupa um lugar central nessa agenda de retirada de direitos, como nos lembra Wacquant (em “Punir os Pobres”, livro publicado em 2001), pois a criminalização da pobreza e a militarização das políticas urbanas reforçam a lógica de exclusão social necessária para avançar agendas ultraliberais. Como elucidado pelo autor, o Estado neoliberal desloca seu eixo da proteção social para o controle penal, punindo os pobres em vez de protegê-los. O que se vê, ao longo do dia, são milhares de trabalhadores desesperados sem ter como voltar para suas casas, sem notícias precisas de suas famílias e dezenas de pessoas executadas, inclusive trabalhadores das forças de segurança. O pano de fundo das grandes operações policiais, que se inscrevem em uma agenda de extermínio das populações negras no Brasil, também se relaciona com a desarticulação de quaisquer possibilidades de organização da população, que vive sob cerco, sem direitos e sem perspectivas de uma vida digna e tranquila. Nesse cenário, a segurança pública deixa de ser uma garantia cidadã e se converte em método de controle social, eleitoral e econômico.

O resultado concreto é a morte em escala industrial e o aprofundamento de uma lógica de governança pelo terror. Uma política que substitui direitos por tiros, e cidadania por medo. Qual é o espaço para a esperança em um cotidiano marcado pela suspensão total de direitos — até mesmo do direito de sonhar? Essa militarização crescente, longe de resolver qualquer problema de segurança, amplia os abismos social e racial do Rio de Janeiro. Enquanto as favelas se tornam palco de guerra, outros espaços da cidade assistem, paralisados, ao espetáculo que naturaliza o extermínio como rotina. Será que os moradores de Ipanema viveram as mesmas preocupações que os moradores do Complexo da Penha? 

O padrão da chacina como política de Estado

Pesquisas reunidas pelo Dicionário de Favelas Marielle Franco (Fiocruz) demonstram que o Rio de Janeiro vive há mais de três décadas sob a recorrência de chacinas que se repetem com a mesma lógica, as mesmas vítimas e a mesma impunidade. O verbete Chacinas em favelas no Rio de Janeiro identifica esses episódios como parte de um padrão estrutural de atuação violenta do Estado, voltado especialmente contra populações negras e periféricas. Casos como Acari (1990)Candelária (1993)Vigário Geral (1993)Borel (2003)Complexo do Alemão (2007) e Jacarezinho (2021), entre tantos outros, revelam não eventos isolados, mas uma política contínua de extermínio, sustentada por práticas de militarização e ausência de responsabilização. A sucessão dessas tragédias evidencia que as chacinas não são desvios ou excessos pontuais, mas expressões permanentes de um projeto de segurança pública que naturaliza a morte nas favelas como forma de governo. 

A continuidade da letalidade, mesmo diante de decisões judiciais que tentaram restringir operações (como a ADPF 635, conhecida como ADPF das Favelas), revela a falência da política de segurança pública e a fragilidade da capacidade estatal de controlar suas próprias forças. Não se trata de uma polícia “fora de controle”; trata-se de uma política que, em muitos momentos, escolhe não controlar. 

Enquanto a retórica da guerra ao tráfico insiste em transformar favelas em campos de batalha, o que se observa cotidianamente é que as operações letais e descoordenadas pouco alteram a estrutura do crime organizado. Estudos promovidos por instituições como o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI) ou pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) têm mostrado que as facções e milícias não se sustentam apenas pela venda de drogas nas comunidades, mas por redes complexas de circulação de armas, lavagem de dinheiro e corrupção institucional que operam fora delas, nas fronteiras, nos portos, nas instituições financeiras e nas próprias forças de segurança do Estado. Sufocar as favelas é enxugar gelo: a cada invasão violenta, o Estado reorganiza o próprio terreno da criminalidade, mantendo toda a população sitiada e produzindo medo e insegurança em larga escala, enquanto os verdadeiros fluxos do crime permanecem intocados.

Uma alternativa à política de extermínio passa por recolocar a inteligência e a coordenação entre os diferentes entes federativos no centro da estratégia de segurança pública. Aqui, não convoco a inteligência como uma entidade abstrata, mas justamente como um ator capaz de produzir investigações e métodos de trabalho que sejam menos letais e mais eficazes. Não é possível viver em um dos estados que mais gasta dinheiro com segurança pública (estudos apontam que o RJ é o estado que mais investe nas polícias no Brasil) e, ainda assim, não conseguir apontar horizontes de resolver o problema que se coloca para a população, sem combater os grupos civis armados vinculados ao tráfico de drogas ou a os grupos milicianos que também dominam grande parte dos territórios. Facções e milícias não são o oposto do Estado, mas se relacionam com esse modelo contemporâneo de governar a vida, como efeito de redes que emergem das brechas da corrupção, das desigualdades, da especulação imobiliária e da própria política de segurança pública.

As operações mais eficazes em apreensão de fuzis, drogas e munições, inclusive as que levaram à prisão de agentes como Ronnie Lessa (envolvido na execução da vereadora Marielle Franco, do PSOL), foram conduzidas sem tiros, com base em investigação, cruzamento de dados e cooperação entre órgãos. Por que não seguir sempre assim? Não foram em favelas, tampouco exigiram blindados ou helicópteros. Mostraram, na prática, que o enfrentamento à criminalidade organizada depende muito mais de método e integração do que de uma afirmação midiática de força. Esse contraste revela que o modelo militarizado não é a via mais eficaz, mas é a via que produz visibilidade política. Nossa segurança precisa de coordenação técnica e nitidez política do que deve ser enfrentado — e não de espetáculos de poder. A administração seletiva dos ilegalismos, portanto, permite que as engrenagens lucrativas do crime continuem rodando, enquanto vende soluções falsas para a segurança, associando pobreza e criminalidade em leituras modernas do positivismo criminológico. 

O faroeste é terra sem lei (e não tem preceitos fundamentais)

As megaoperações em favelas do Rio de Janeiro já foram objeto de debate até mesmo no Supremo Tribunal Federal, por força da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental, protocolada pelo PSB em conjunto com dezenas de movimentos sociais e instituições com atuação em favelas. A ADPF das Favelas, proposta em 2019, indicou a gravidade das operações e requereu limites concretos para incidir sobre a escalada de letalidade policial no estado. Entre as decisões preliminares do STF, estava o uso obrigatório de câmeras corporais pelos policiais, aviso prévio ao Ministério Público antes de operações, preservação das cenas do crime e restrições ao uso de helicópteros como plataforma de tiros, atos que reduziram temporariamente as mortes, sobretudo no contexto da pandemia de coronavírus. 

Em 2025, quando concluiu o julgamento da ação, o Tribunal homologou parcialmente o plano do Estado do Rio de Janeiro para redução da letalidade policial, afrouxando certas restrições às operações policiais: por exemplo, foi autorizada a retirada da exigência de excepcionalidade para incursões nas favelas e foi permitida uma maior atuação dos helicópteros e blindados (os Caveirões) em operações rotineiras. Avanços normativos (como uso de câmeras e informes ao Ministério Público) sem monitoramento e responsabilização real tendem a se traduzir em letra morta. 

O Estado do Rio não fornece dados consistentes e detalhados para justificar as operações, justamente porque não há um desenvolvimento com inteligência que as justifique. Não há fiscalização externa efetiva para dizer se helicópteros e blindados são usados conforme regras, ou se os protocolos de preservação de cena são realmente seguidos, pois a decisão final do STF não discrimina protocolos para tais ações ou responsáveis por elas. As próprias operações seguem sob justificativas de combate ao tráfico, como foi nesta terça-feira, que podem driblar a aplicação das regras.

Ainda assim, o governador parece preferir viver em um Estado sem lei, já que tem tratado a ADPF como problema, mesmo com tantas flexibilizações depois da decisão final do STF. Essa postura sinaliza que, para o projeto de poder atual, a lei não serve como mediação, mas como um entrave. O “faroeste” que ele prefere não é apenas terra sem lei; é um território onde a cidadania é permanentemente suspensa para que a governança pelo terror possa operar livremente. Não por acaso, o líder do governo na Alerj, deputado Rodrigo Amorim (PL), propôs que o estado voltasse a pagar a famosa ‘gratificação faroeste‘, que, na prática, instituiria um bônus financeiro para policiais que promovessem a neutralização de “criminosos” durante opera&cced il;ões, além da apreensão de armas de grosso calibre.

Essa emenda ao projeto de reestruturação da Polícia Civil, aprovada pela Alerj em setembro, significaria a legalização da política de extermínio e a transformação da letalidade em meta de trabalho. Ela pretendia institucionalizar um incentivo financeiro para a lógica do abate que a própria ADPF 635 tentava conter. 

O governador, pressionado pelos movimentos sociais, STF e pelo Ministério Público, vetou a emenda na semana passada (23/10). Contudo, a justificativa oficial para o veto não se baseou na defesa da vida ou nos preceitos constitucionais, mas em supostas questões técnicas e financeiras, ligadas ao Regime de Recuperação Fiscal. Isso expõe a controvérsia que tratamos aqui: há um grupo político que tenta institucionalizar um mundo sem leis, com incentivos discursivos e até mesmo financeiros para que mais mortes sejam operadas pelo Estado. Essa encenação compõe um roteiro político. Em entrevistas, o governador preferiu atacar publicamente a ADPF, creditando o seu fracasso como gestor aos mecanismos de contro le da barbárie, em uma certa articulação entre intervenções na cidade e militarização do medo, das favelas ao asfalto. 

Aumentar as mortes para aumentar os votos? Outro mundo precisa ser possível

Por enquanto, as esperanças estão dispersas entre tantas operações. O que precisamos entender, nesse momento, é que a recorrência das chacinas em períodos eleitorais não é coincidência. Nos últimos anos, grandes intervenções militarizadas de alta letalidade se intensificaram em momentos de disputa política. Como esquecer a intervenção militar no Rio em 2018, logo antes de se escancarar os portões do inferno que possibilitaram a eleição de Bolsonaro e Wiztel? Como esquecer cada operação policial, sempre quebrando recordes de letalidade, ao mesmo tempo em que os grupos civis armados (tanto tráfico como milícias) apenas aprofundam seu poderio no Estado? 

A cada ano, a retórica da guerra é reativada porque ela tem a capacidade de reposicionar lideranças políticas diante da opinião pública. Mesmo com a guerra constante, nunca vivemos um período real e duradouro de contenção das dinâmicas do crime organizado por aqui. O pânico moral, pelo contrário, é uma ferramenta de marketing de longa duração: a violência é apresentada como demonstração de força e controle — com megaoperações, enquanto a insegurança cotidiana produzida por essa política ineficaz é transformada em justificativa para o autoritarismo do Estado. Essa tática, característica de um modo bolsonarista de fazer política, reforça o medo como linguagem de governo e alimenta o ciclo que torna a morte uma cena pública legitimada.

Não podemos naturalizar a narrativa de Claudio Castro de que os direitos humanos seriam obstáculos à segurança. O governador diz que “não acredita que segurança se faz politizando”, mas politiza quando segue o padrão de governo no qual o direito de viver é substituído pelas bonificações por atirar. 

Que a gente não se esqueça, contudo, que há frestas de resistência: grupos de mães, movimentos e coletivos constroem lutas por outro mundo, com diversas ações de enfrentamento à violência de Estado. É preciso transformar essa potência em projeto e disputar o sentido da segurança pública.

Superar a lógica da morte exige deslocar o debate da segurança pública do campo da violência para o campo dos direitos humanos. Uma política de segurança cidadã precisa caminhar junto de políticas de educação, cultura, saúde e infraestrutura. Segurança se constrói com confiança, cuidado e proteção, não com Caveirão e fuzil. Isso implica relocalizar a presença do Estado nas favelas, construindo esperança de que a vida pode ser melhor. 

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