05 fevereiro 2025

Postei no X

EUA deixaram de ser maiores parceiros comerciais do Brasil há mais de 10 anos, perdendo espaço para a China. De todo modo, em 2024 o comércio entre os dois países girou em torno de 40 bilhões de dólares. Por enquanto, Trump ainda não nos atingiu com o seu tarifaço ensandecido. 

Leia: Trump, negacionismo ao extremo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/minha-opiniao.html

Enio Lins opina

Quando o crime impune bate à porta da sociedade globalizada
Enio Lins  


MAGINE SE AL CAPONE (1899/1947) tivesse tido, entre 1929 e 1931, poder para demitir Eliot Ness (1903/1957) e toda equipe dos “Intocáveis”, e deletar as investigações sobre seus crimes. Imaginou? Pois é isso o que está acontecendo neste ano da impunidade americana de 2025. Al Trump, no dia 27, “demitiu todos os procuradores federais de carreira designados para integrar a equipe do procurador especial Jack Smith, que foi encarregada de investigar e processar o então ex-presidente Donald Trump”, conforme noticiou o site conjur.com.br e todos os demais veículos de mídia no mundo.

“DEMISSÃO DE PROCURADORES DE CARREIRA que processaram Trump abre era de retaliações políticas” é o título da reportagem do conjur.com.br. Por sua vez, a circunspecta BBC, em sua versão original, britânica, noticiou: “O governo do presidente dos EUA, Donald Trump, demitiu mais de uma dúzia de advogados do Departamento de Justiça que trabalharam em dois processos criminais contra ele”, e foi além reproduzindo uma declaração da ex-procuradora dos EUA Joyce Vance à NBC News, “Demitir promotores por causa de casos em que foram designados para trabalhar é simplesmente inaceitável. É contra o Estado de Direito; é contra a democracia”. Arremata a BBC que “os advogados [demitidos] faziam parte da equipe do ex-promotor especial Jack Smith, que investigou o suposto manuseio incorreto de documentos confidencia is por Trump e sua suposta tentativa de reverter sua derrota eleitoral de 2020”.

COMO ESTÃO ESSES PROCESSOS contra Donald? Foram pro lixo. Explica a BBC: “os casos foram encerrados após sua vitória eleitoral em novembro. Os promotores escreveram que os regulamentos do departamento de justiça não permitem o processo de um presidente em exercício”. Incrível! O inquilino da Casa Branca está acima da lei. É a farra verdadeira do crime organizado americano. E pensar que os Estados Unidos posavam de modelo mundial... Um desses processos, hoje destruídos, tratava da tentativa de golpe trumpista em 6 de janeiro de 2021, quando hordas de seguidores de Trump, sob orientação do dito cujo, invadiram o Capitólio para tentar impedir a proclamação de Joe Biden como presidente eleito. Daquela fuzarca, resultaram cinco mortes (dois terroristas e três policiais) e 140 agentes de segurança feridos. O Departamento de Justi&ccedi l;a dos Estados Unidos indiciou mais de 725 tumultuadores trumpistas, e desses “Ao menos 225 indivíduos foram indiciados por agressão ou impedimento da aplicação da lei e 165 se confessaram culpados de crimes federais – dos quais 22 cometeram crimes graves, segundo informações oficiais do governo” relatou a CNN em reportagem veiculada em 6 de janeiro de 2022, quando o inusitado atentado completou um ano. Em janeiro de 2025, Trump passou a borracha em seu crime, apagando o delito dos anais jurídicos, perdoando a si próprio e a todos os seus cúmplices.

EM JANEIRO DE 2025, Trump não só perdoou a si mesmo, mas condenou quem ousou lhe aplicar a lei. É o exemplo mais eloquente da desenvoltura de um delinquente no poder. Igualmente, é o exemplo mais escandaloso de um Estado frágil, vulnerável, de uma nação que expõe a supremacia da Lei e da Ordem como mera cenografia e peça publicitária de campanha enganosa. Isso seria um desastre ético em qualquer país, mas estamos falando da principal potência militar do planeta, de uma das duas economias mais pujantes da terra, de um país que espalha sua cultura e seu modo de vida como paradigmas para a civilização contemporânea. É a supremacia da barbárie, cujas consequências são preocupantemente previsíveis.

Leia: Trump toma posse com ameaças externas, tensões internas e apoio à extrema-direita mundial https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/editorial-do-vermelho_18.html 

Postei no Threads

Queda do dólar e safra recorde devem ser os pilares da redução dos preços dos alimentos, afirma o ministro Fernando Haddad. Porém há dois fatores de perturbação em potencial, acrescento: a especulação financeira e a ação gananciosa do agronegócio exportador. Veremos. 

Leia: Lula na frente, mas ainda é cedo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/minha-opiniao_4.html

China x EUA & IA

DeepSeek prova que 'quintal pequeno, cerca alta' não pode atrapalhar a inovação
Global Times  


A empresa chinesa de inteligência artificial (IA) DeepSeek lançou seu mais recente modelo grande, DeepSeek-R1, que alcançou avanços em várias áreas a um custo inesperadamente baixo, ganhando popularidade entre usuários em vários países. Este é um desenvolvimento positivo no campo da IA, mas alguns setores e indivíduos nos EUA mostraram hostilidade e agressão ao DeepSeek. No entanto, se o governo dos EUA tentar bloqueá-lo com tarifas, controles de exportação ou reivindicações de propriedade intelectual, tais ações não apenas prejudicariam o progresso geral da tecnologia de IA, mas também seriam prejudiciais ao desenvolvimento saudável e ordenado da tecnologia de IA nos próprios EUA.
O surgimento do DeepSeek realmente prova que, sob o pretexto da chamada segurança nacional, as tentativas de monopolizar a tecnologia e suprimir o progresso tecnológico da China estão fadadas ao fracasso. Desde 2022, o governo dos EUA restringiu a exportação de chips de ponta da Nvidia para a China em uma tentativa de atrasar o desenvolvimento da IA ​​da China por meio da estratégia de "quintal pequeno, cerca alta". No entanto, o DeepSeek conseguiu um avanço sob baixo poder computacional, o que mais uma vez valida o paradoxo de "sanções impulsionando a inovação". 

Como o economista Tyler Cowen declarou, embora a proibição de chips tenha atrasado o acesso da China ao hardware, ela forçou o desenvolvimento de alternativas mais eficientes, criando "consequências secundárias não intencionais". Além disso, esse fenômeno de "igualdade tecnológica" prejudica a estratégia dos EUA centrada no controle de chips. Outros países poderiam imitar o modelo do DeepSeek, obrigando os EUA a reavaliar o equilíbrio custo-benefício de suas sanções.

O nascimento do software de IA carrega atributos nacionais, mas os benefícios derivados de conquistas tecnológicas pertencem a toda a humanidade. Divisões internas surgiram dentro de think tanks em relação à estratégia dos EUA para a China: uma facção defende a colaboração para aproveitar "sinergias", enquanto a outra insiste em escalar o confronto e o "desacoplamento". No entanto, o CEO da Microsoft, Satya Nadella, e outros líderes da indústria reconhecem que os avanços do DeepSeek tornarão a IA mais acessível. Se os EUA insistirem em um jogo de soma zero, acelerarão seu próprio isolamento. Em última análise, a competição tecnológica sem regras estabelecidas só evoluirá para "confronto". Somente por meio da cooperação tecnológica podemos buscar o bem-estar de toda a humanidade. 

Usar métodos geopolíticos do século XX para abordar a revolução tecnológica do século XXI só fará com que os EUA percam oportunidades valiosas de desenvolvimento. Se focar em bloqueios e cercos ou buscar novas maneiras de se destacar da competição levará a resultados totalmente diferentes. 

É importante reconhecer que a pressão trazida pelo DeepSeek provavelmente se tornará um catalisador para o avanço tecnológico - a Microsoft e a OpenAI estão acelerando iterações de modelos, a Meta anunciou otimizações para treinamento de consumo de energia e até mesmo alguns gigantes da tecnologia tecnologicamente fechados do Vale do Silício estão começando a reavaliar suas estratégias de código aberto. Quem pode dizer que dentro da auto-reforma desses gigantes da tecnologia americanos, um novo avanço não surgirá? Ao mesmo tempo, é certo que o "desacoplamento" da China inevitavelmente levará a uma reação contra as empresas americanas.

Nos últimos anos, apesar de enfrentar bloqueios e repressões externas, a China ainda alcançou realizações tecnológicas notáveis. Isso justifica a reflexão de certos indivíduos em Washington: o que as tentativas de impedir o progresso da China por meio de restrições e supressão trouxeram para a China e os EUA? A legislação de restrição de chips prejudicou repetidamente as empresas de tecnologia americanas, a Emenda Wolf criou barreiras para a pesquisa espacial dos EUA e o bloqueio contra a Huawei não interrompeu seu ritmo de pesquisa e inovação. Esta verdade, repetidamente comprovada pela história, foi mais uma vez demonstrada a Washington pelo DeepSeek hoje: nunca subestime a inteligência e a engenhosidade do povo chinês, e nunca subestime a firme determinação da China pela abertura e autoaperfeiçoamento.

Agora, à luz de avanços tecnológicos como o DeepSeek, alguns nos EUA continuam a se apegar a uma mentalidade de bloquear o progresso tecnológico de outros países, revelando sua ansiedade em manter a hegemonia e suas estratégias míopes. De uma perspectiva de economia política, as sanções falharam em conter a inovação; em vez disso, elas catalisaram caminhos alternativos. Do ponto de vista do sistema de comércio internacional, o unilateralismo acelerou a reestruturação das regras e a revolução das cadeias de suprimentos. Washington deve reconhecer que uma abordagem de "quintal pequeno, cerca alta" não pode obstruir o ritmo de inovação da China. No avanço da tecnologia de IA, a China e os EUA estão na vanguarda. Os dois países podem explorar a cooperação em áreas como formulação de padrões éticos de IA, governança de dados transfronteiriços e respostas conjuntas a ataques cibernéticos, o que beneficiaria ambas as nações e o mundo.

Leia também: Luciana Sabtos diz que conceito do plano brasileiro de IA é ser inclusivo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/08/palavra-da-ministra-luciana.html

Palavra de poeta: Lila Ripoll

CANÇÃO DE AGORA
Lila Ripoll  

Ontem meu peito chorava.
Hoje, não.
Também cansa a desventura.
Também o sol gasta o chão.

Estava ontem sozinha,

tendo a meu lado, sombria,
minha própria companhia.
Hoje, não.

 

Morreu de tanto morrer
a pena que em mim vivia.
Morreu de tanto esperar.
Eu não.

 

Relógios do tempo andaram
marcando o tempo em meu rosto.
A vida perdeu seu tempo.
Eu não.

 

Também cansa a desventura.
Também o sol gasta o chão.

[Ilustração: imagem gerada por IA]

Leia também: Percepção turva e decadente https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/minha-opiniao_28.html  

Cláudio Carraly opina

Uma abordagem para um Brasil mais seguro

Cláudio Carraly*  

Nos últimos 30 anos, a segurança pública tem sido uma das principais preocupações dos brasileiros, o aumento da criminalidade, a sensação de insegurança e a violência nas ruas afetam profundamente a qualidade de vida de milhões de pessoas. Para compreender a complexidade desse problema, é essencial adotar uma abordagem multidisciplinar, que vá além da perspectiva policial e integre análises sociológicas, econômicas e culturais, bem longe das retóricas politiqueiras e das soluções simplistas.

A evolução da criminalidade no Brasil nas últimas décadas está intrinsecamente ligada à expansão das facções criminosas e às crescentes desigualdades sociais, ancoradas pelo enorme abismo de renda entre os mais ricos e os mais pobres no Brasil. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam que o país apresenta uma taxa de homicídios de cerca de 27 por cada 100 mil habitantes, uma das mais elevadas do mundo. Além disso, estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) demonstram a forte correlação entre falta de renda, altos índices de desemprego, baixa escolaridade e a perpetuação da violência.

Fatores estruturais como a desigualdade social, a exclusão econômica e a educação precária são determinantes na dinâmica do ciclo da criminalidade. A falta de oportunidades formais e a vulnerabilidade dos jovens em contextos de informalidade favorecem o aliciamento por organizações criminosas, nesse sentido, políticas públicas integradas, envolvendo habitação, saúde e assistência social, são imprescindíveis para romper o ciclo de exclusão e violência.

Esses fatores da diminuição de violência não são nada desconhecidos, porém lamentavelmente a incompetência dos governos estaduais, cuja responsabilidade formal da segurança pública foi determinada na constituição de 1988, isso agravado pelo desinteresse dos municípios e das sucessivas administrações federais, ressaltando que os demais entes políticos da República não querem trazer esse “problema para o seu colo”.

Casos internacionais demonstram que políticas integradas podem transformar realidades marcadas pelo crime. Medellín, na Colômbia, por exemplo, investiu em infraestrutura urbana, educação e programas culturais, conseguindo reduzir os índices de homicídios em mais de 80% ao longo de duas décadas, Em Los Angeles, a presença efetiva de um policiamento comunitário, bem como o uso inteligente dos dados coletados, melhoraram substancialmente os níveis de sensação de segurança no estado. Tais exemplos oferecem lições valiosas, mas devem ser adaptados à realidade brasileira, considerando as especificidades regionais e a diversidade cultural do país.

Para que iniciativas como o policiamento comunitário e os programas de prevenção à violência em escolas se tornem sustentáveis, é necessário definir etapas claras de implementação, como monitoramento contínuo da segurança, com indicadores reais que permitam avaliar a eficácia das políticas adotadas. Ainda a criação de fundos específicos para projetos de prevenção, garantindo recursos constantes em uma ação de Estado que não possa sofrer solução de continuidade pela administração seguinte, além do envolvimento de lideranças populares, ONGs e universidades na concepção, execução e monitoramento das políticas, garantindo maior aderência e adaptação às necessidades locais.

A corrupção e a impunidade corroem a eficácia das políticas de segurança. Para reverter esse cenário, a criação ou fortalecimento de entidades existentes que fiscalizem a gestão dos recursos públicos destinados à segurança, além da implementação de tecnologias que garantam a transparência dos processos e agilizem a aplicação da lei, reduzindo assim a sensação de impunidade. Estabelecendo mecanismos rigorosos de responsabilização e prestação de contas, onde agentes públicos e privados respondam civil e criminalmente por desvios e má gestão dos recursos.

A tecnologia desempenha um papel crucial na modernização da segurança pública, as novas tecnologias utilizadas de forma eficiente e respeitando os direitos individuais e a privacidade dos cidadãos são e serão cada vez mais fundamentais. A aplicação de algoritmos para identificar padrões de criminalidade, garantindo assim a atuação preventiva fundamental, assim como o uso ético de câmeras e sistemas inteligentes para mapear áreas de risco, utilizando a identificação facial de condenados pela justiça, além de otimizar o patrulhamento, remanejando-o para áreas de perigo iminente.

A segurança pública é uma responsabilidade coletiva. É necessário garantir a participação ativa da população, a criação de espaços de diálogo entre governo, forças de segurança e comunidade, onde as demandas e sugestões sejam discutidas e implementadas. O incentivo à educação cidadã sobre os direitos e deveres na defesa da paz e da não violência, promovendo a colaboração entre todos os segmentos da sociedade, garantindo ainda mecanismos que permitam à população opinar sobre as políticas de segurança e sugerir melhorias de forma estruturada.

O Brasil precisa repensar sua política de segurança pública de maneira abrangente e integrada. É fundamental que os governos e a sociedade atuem de forma conjunta para promover reformas estruturais, combater a corrupção e implementar soluções inovadoras, como a desmilitarização das polícias estaduais e consequente unificação à polícia civil, para que o sistema de segurança tenha apenas um corpo e comando diretivo único. Cada cidadão tem um papel essencial nessa transformação, seja participando de conselhos comunitários, pressionando por maior transparência ou engajando-se em iniciativas locais de prevenção à violência. Somente com um esforço coletivo e coordenado poderemos construir um país mais seguro, justo e solidário.

*Cláudio Carraly - Advogado, ex-secretário executivo de Direitos Humanos de Pernambuco.

Leia também: A polarização e a radicalização do debate público é a essência do modelo de negócio das redes sociais https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/o-brasil-e-as-big-techs.html?m=1

Minha opinião

A oposição faz o que quer e o governo deve fazer o que precisa 
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65

Em breve comentário no ICL Notícias, um especialista que monitora redes sociais, Pedro Barciela, diz que na esteira da pequena queda de aprovação do governo Lula registrada na pesquisa Quaest, a oposição de direita vem explorando na esfera digital o tripé "impopularidade", "custo de vida" e "impeachment".

Isto repercutido por certos sentimentos da grande mídia dominante, porém ainda sem maior dimensão nas redes.

Ou seja, bem ou mal e a seu modo a oposição faz o trabalho que lhe cabe. Até sem o cuidado de se referir a fatos concretos, muitas vezes alimentando sua mensagem de fake news.

Ao governo cabe fazer a sua parte. Melhorar a comunicação em geral e o desempenho nos meios digitais em particular. 

Mas não só isso. 

Falta ainda demonstrar a coesão política em torno do presidente e da plataforma de governo. 

Falta também a retomada do trabalho ativo e permanente — olhos nos olhos, como se diz — junto ao povo.

Não cabe defensiva. Nem dispersão. 

Virar o jogo é preciso — para o êxito da ação de governo e na perspectiva das eleições vindouras.

[Ilustração: Imagem gerada por IA]

Leia sobre a resistência ao trabalho precarizado https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/resistencia-ao-trabalho-precarizado.html

Postei no Threads

México e Canadá resistem às imposições tarifárias de Trump e o obrigam a suspendê-las para negociação. Autodeterminação é a palavra chave. 

Leia: Negacinimso ao extremo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/minha-opiniao.html 

Plano brasileiro de IA

Brasil precisa investir mais em infraestrutura e energia limpa para avançar com Inteligência Artificial soberana
Em entrevista à TVGGN, Isabela Rocha avalia plano brasileiro de IA e cita parceria com BRICs para desenvolver infraestrutura necessária
Jornal GGN 


Em meio a discussões sobre o DeepSeek ascendendo e superando o ChatGPT e outros chatbots de mega empresas ocidentais de tecnologia, fica no ar a pergunta: onde o Brasil está situado nesse tabuleiro? O que o país está fazendo para desenvolver suas próprias ferramentas de Inteligência Artificial e garantir soberania tecnológica para a segurança do seu povo?

O tema foi abordado no programa TVGGN 20 Horas [assista abaixo], conduzido pelo jornalista Luis Nassif na noite de segunda-feira (3), com transmissão ao vivo pelo canal do GGN no Youtube.

Para Nassif, o Brasil já foi líder nesse campo, mas está perdendo terreno para as Big Techs. Ele criticou o lobby das empresas de tecnologia e a aparente falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento no Brasil.

A convidada do programa, Isabela Rocha, doutora em ciências políticas pela Universidade de Brasília (UNB), e atual coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Estratégia, Dados e Soberania da instituição, falou da importância da soberania tecnológica e a necessidade de proteger os dados dos brasileiros. De acordo com Isabela, a soberania tecnológica é importante porque garante a proteção dos dados dos cidadãos e o desenvolvimento de ferramentas open source soberanas.

Ela mencionou o plano brasileiro de inteligência artificial, que prevê investimentos em infraestrutura e data centers, mas alerta para a necessidade de garantir que a energia utilizada seja sustentável. Afinal, não adianta ter inteligências artificiais que gastam muita energia se essa energia for suja. A inteligência artificial gasta muita energia, e essa energia precisa ser limpa. O Brasil tem a possibilidade de fazer parcerias econômicas com os BRICS para desenvolver essa infraestrutura. 

Isabela também comentou sobre a importância de desenvolver ferramentas open source e citou exemplos de iniciativas como o monitor do debate público da USP e o grupo de pesquisa em segurança internacional da UNB. Ela destacou o projeto de inteligência artificial do Piauí, que visa auxiliar os cidadãos em processos burocráticos e utiliza dados processados localmente.

Ferramentas open source são softwares que não possuem direitos autorais e podem ser desenvolvidos por comunidades.

A geopolítica da IA

Na entrevista, Nassif e Isabela Rocha também abordaram a geopolítica da inteligência artificial, analisando a disputa entre Estados Unidos e China pelo poder global. Nassif traçou uma linha do tempo sobre a política externa dos Estados Unidos em relação à China, desde a política de portas abertas até a guerra comercial atual. Ele argumentou que o presidente Donald Trump está tentando reconquistar a influência americana na América Latina para combater a China.

Em meio aos conflitos, Isabela reafirmou a importância de proteger os dados dos brasileiros e de investir em pesquisa e desenvolvimento de ferramentas open source. Isabela criticou o uso de ferramentas como Teams e Zoom, que são de empresas estrangeiras, e defendeu o uso de ferramentas open source como a Conferência Web, da Rede Nacional de Pesquisa.

A primeira parte do programa termina com uma discussão sobre a necessidade de investir em educação digital e de desenvolver cursos de programação para preparar as futuras gerações para a era da inteligência artificial.

Trump e a nova guerra comercial com a China

Na segunda parte do programa, o cientista político e colaborador do GGN, Pedro Costa Jr, fez uma análise sobre a disputa pelo poder global entre os Estados Unidos e a China.

Ele argumentou que a política externa dos Estados Unidos sob Trump passou por diferentes fases em relação à China: a política de portas abertas, a política de contenção e a política de engajamento.

Para o especialista, Trump rompeu com a política de engajamento e adotou uma política de guerra comercial contra a China. Trump está reestruturando a Doutrina Monroe para pressionar a China na América Latina, que é a principal zona de influência dos Estados Unidos.

Costa acredita que o Trump está tentando fortalecer a influência estadunidense na América Latina para combater a China, que se tornou o principal parceiro econômico da região.

[Nota da redação: Este texto, especificamente, foi desenvolvido com auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial na transcrição e resumo do programa veiculado no Youtube. A equipe de jornalistas do Jornal GGN segue responsável pelas pautas, produção, apuração, entrevistas, revisão ou edição do conteúdo publicado, para garantir a curadoria, lisura e veracidade das informações.]

Leia também: Luciana Sabtos diz que conceito do plano brasileiro de IA é ser inclusivo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/08/palavra-da-ministra-luciana.html 

Arte é vida: Piet Mondrian

 

Piet Mondrian

Leia: O globo da morte mais perigoso do Brasil https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/12/minha-opiniao_16.html 

Humor de resistência: Gilmar

 

Gilmar

Leia: O que tem de tão especial no DeepSeek? https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/deepseek-surpreende.html 

Postei no X

O Ministério da Saúde possui um dos maiores orçamentos do governo federal, R$ 241,61 bilhões este ano. Sempre sob cerco de emendas parlamentares nem sempre tecnicamente criteriosas. 

Leia: Transição energética e ética: o dilema do petróleo na Margem Equatorial https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/jose-bertotti-opina.html 

Uma crônica de Ruy Castro

Paul Newman aos trinta
Ele foi o mais longevo de uma geração que tinha Montgomery Clift, Brando, Dean e Steve McQueen
Ruy Castro/Folha de S. Paulo 

Paul Newman, um dos grandes de Hollywood, teria feito cem anos no dia 26 último. Paul Newman, cem anos! Não combina. Aos cem anos, o sujeito é levado a tomar sol sentado numa cadeira e com uma manta xadrez nas pernas. Eu sei, é só um clichê, e eu próprio tenho amigos que estão perto da marca e longe dessa descrição. Mas Paul Newman não foi feito para ter cem anos, e sim, sempre, trinta. Minha amiga Rita Kaufman, jornalista, me disse certa vez: "Se Paul Newman, aos trinta anos, tocasse o meu interfone pedindo para subir, eu já o receberia de baby doll."

Mas os trinta anos de Paul Newman sempre foram uma fantasia. Mesmo em seus primeiros e grandes papéis, como Billy the Kid em "Um de Nós Morrerá", o Brick de "Gata em Teto de Zinco Quente" (ambos 1958), o Eddie de "Desafio à Corrupção" (1961), o Chance de "Doce Pássaro da Juventude" (1962) ou o Hud de "O Indomado" (1963), já tinha deixado os trinta para trás. Aliás, quando fez seu primeiro filme para valer, "Marcados pela Sarjeta", em 1956, como o boxeur Rocky Graziano, já tinha 31.

Com alguns anos de diferença entre eles, Newman fez parte de uma geração única: Montgomery Clift, de 1920; Marlon Brando, de 1924; ele, de 1925; Steve McQueen, de 1930; e James Dean, de 1931. Todos estudaram teatro em Nova York com Lee Strasberg ou Stella Adler, todos fizeram o gênero "rebelde" em Hollywood e, na tela, todos usavam os mesmos truques: mãos nos bolsos de trás, queixo enterrado no peito, longos silêncios antes de falar e uma dicção abafada, como se falassem com as gengivas.

No cinema ou no teatro, Brando herdou papéis de Clift, Dean herdou papéis de Brando, Newman herdou papéis de Dean, e McQueen, que não herdou papéis de ninguém, devia sofrer horrores ao ver seus colegas consagrados enquanto ele ainda filmava besteiras, como "A Bolha Assassina", de 1958, e custava a estourar.

Newman foi, disparado, o mais longevo. Trabalhou até morrer, em 2008, com 83 anos. E, de alguma forma, era como se ainda tivesse trinta.

Leia também: Percepção turva e decadente https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/minha-opiniao_28.html 

04 fevereiro 2025

China x EUA: jogo duro

China retalia tarifas de Trump e lança ofensiva contra empresas dos EUA
Pequim impõe tarifas sobre energia e indústria dos EUA, investiga Google e ameaça acionar OMC, enquanto Washington poupa México e Canadá, mas intensifica guerra comercial
Lucas Toth/Vermelho  

A guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos entrou em uma nova fase de escalada nesta terça (4), com Pequim anunciando uma série de tarifas retaliatórias contra produtos norte-americanos. A medida ocorre em resposta à decisão do presidente Donald Trump, que impôs tarifas de 10% e 15% sobre importações chinesas, agravando o cenário de tensão econômica entre as duas maiores economias do mundo.

O Ministério das Finanças da China informou que a partir de 10 de fevereiro produtos energéticos e industriais dos EUA serão sobretaxados. O carvão e o gás natural liquefeito (GNL) sofrerão tarifas de 15%, enquanto petróleo bruto, equipamentos agrícolas e alguns automóveis serão taxados em 10%. 

Pequim argumenta que a ofensiva tarifária dos EUA prejudica a estabilidade global e viola as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).

A decisão chinesa também deve impactar diretamente o setor energético no mundo, uma vez que os EUA são o maior exportador de GNL e têm ampliado suas exportações de petróleo para a Ásia. Segundo analistas, as novas taxas devem redirecionar a demanda chinesa para outros fornecedores, como Austrália e Catar, além de aumentar a volatilidade nos preços do petróleo no mercado global.

O governo chinês também anunciou controles mais rígidos sobre a exportação de metais estratégicos, incluindo tungstênio e outros elementos essenciais para a indústria tecnológica e militar dos EUA.

China amplia retaliação com investigação antitruste e sanções contra empresas dos EUA

Além das tarifas, a China iniciou uma investigação antitruste contra o Google e colocou empresas norte-americanas, como PVH Corp. (Calvin Klein, Tommy Hilfiger) e a biotecnológica Illumina, em sua lista de “entidades não confiáveis”. Essas medidas ampliam a resposta de Pequim e sinalizam um endurecimento das relações comerciais.

Segundo Pequim, a medida visa restringir operações de empresas que supostamente adotam práticas comerciais desleais ou representam riscos para a segurança nacional chinesa.

As ações ampliam a resposta chinesa e sugerem que Pequim utilizará outros mecanismos além das tarifas para retaliar as sanções de Trump, impactando diretamente setores estratégicos da economia norte-americana. 

China já havia alertado sobre impactos no combate ao fentanil

Antes mesmo da oficialização das novas tarifas, Pequim já havia reagido à ameaça de taxação feita por Trump no último sábado (2). O Ministério da Segurança Pública da China alertou que uma ofensiva tarifária baseada no combate ao fentanil “não ajudará a resolver verdadeiramente o problema” e “danificará seriamente a cooperação e a confiança bilateral” na luta contra o narcotráfico.

A pasta rebateu as alegações de Trump afirmando que a raiz do problema do fentanil está no próprio território dos EUA. “A crise dos opioides nos Estados Unidos é um problema interno, causado pela demanda doméstica e pela regulação falha da indústria farmacêutica”, disse a chancelaria chinesa.

Pequim tem reforçado que os Estados Unidos deveriam focar no combate à demanda doméstica e à lavagem de dinheiro ligada ao tráfico, em vez de usar tarifas como ferramenta de pressão. O governo chinês também destacou que tem endurecido seu controle sobre substâncias químicas usadas na fabricação de opióides.

EUA pausam tarifas contra México e Canadá

Enquanto a guerra comercial com a China se intensifica, a administração Trump decidiu suspender temporariamente as tarifas contra o México e o Canadá. O governo norte-americano havia anunciado tarifas de 25% sobre produtos importados dos dois países vizinhos, mas, após negociações com os governos de Claudia Sheinbaum e Justin Trudeau, concordou em adiar a medida por 30 dias.

A decisão de Washington foi tomada após o México e o Canadá aceitarem reforçar o controle de fronteiras, especialmente no combate ao tráfico de fentanil e à imigração. O acordo inclui o envio de 10 mil membros da Guarda Nacional mexicana para a fronteira e um investimento canadense de US$ 1,3 bilhão em segurança. Em troca, os EUA pausaram as tarifas, mas alertaram que a medida pode ser revertida caso não haja progressos nesses compromissos.

A suspensão temporária das tarifas foi comemorada por setores industriais do Canadá e do México, que temiam impactos severos na economia. O primeiro-ministro Justin Trudeau afirmou que o Canadá continuará “defendendo seu mercado” e ressaltou que seu governo seguirá atento às movimentações da Casa Branca. Já a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, reforçou que o México não aceitará medidas unilaterais prejudiciais ao comércio bilateral.

A decisão de Washington de aliviar a pressão sobre seus vizinhos contrasta com a escalada contra a China e reforça a estratégia norte-americana de tentar isolar Pequim.

Setor manufatureiro chinês desacelera, mas mantém crescimento

O impacto da guerra comercial já se reflete na indústria chinesa. O índice de gerentes de compras (PMI) da manufatura caiu para 50,1 em janeiro, o menor nível em quatro meses. O dado indica que, apesar de Pequim ainda registrar crescimento econômico, a atividade industrial vem desacelerando diante das incertezas globais.

Especialistas apontam que a queda na produção está relacionada à redução da demanda externa e ao enfraquecimento das exportações. A crise comercial com os EUA pode aprofundar as dificuldades econômicas do país e pressionar Pequim a adotar novos estímulos para sustentar o crescimento.

Empresas chinesas cogitam transferir produção para os EUA

Diante da escalada tarifária, algumas empresas chinesas já avaliam a realocação de suas operações. Fabricantes de carrinhos de golfe, impactados por tarifas de até 478%, consideram transferir linhas de produção para os Estados Unidos para evitar os custos adicionais impostos por Trump.

A mudança ilustra como a guerra comercial tem forçado adaptações nas cadeias produtivas globais, levando empresas a buscarem alternativas para mitigar os impactos das tarifas.

China levará disputa tarifária à OMC

Em resposta à nova rodada de tarifas, o Ministério do Comércio da China anunciou que recorrerá à OMC contra os EUA. Pequim acusa Washington de violar as regras da organização e comprometer o livre comércio global.

As autoridades chinesas afirmaram que, além da contestação legal, adotarão contramedidas para proteger seus interesses econômicos. A disputa na OMC adiciona um novo capítulo à guerra comercial e pode ter implicações para o equilíbrio das relações comerciais entre as duas potências.

Perspectivas: guerra comercial continua sem sinais de trégua

O novo pacote de retaliações da China demonstra que Pequim não pretende ceder à ofensiva tarifária dos EUA. Ao combinar tarifas, sanções contra empresas e medidas legais na OMC, a China reforça sua estratégia de responder à altura às políticas protecionistas de Trump.

Enquanto isso, o governo norte-americano segue ampliando sua pressão comercial, sinalizando que novas sanções podem ser adotadas caso Pequim não ceda às exigências de Washington. Com um cenário de incerteza crescente, os mercados globais aguardam os próximos desdobramentos desse embate econômico que já impacta o comércio internacional e a estabilidade financeira global.

China rechaça política tarifária dos EUA https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/china-x-eua-guerra-tarifaria.html

Editorial do portal 'Vermelho'

Ainda Estou Aqui hasteia a bandeira da democracia no Oscar
Para além de suas qualidades técnicas e artísticas, filme de Walter Salles, baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, reforça e amplia a convicção da jornada pela memória, verdade e justiça
Editorial do 'Vermelho' 


 

A presença de Ainda Estou Aqui no Oscar 2025 tem elevado significado cultural e político não só para o Brasil – mas também para o mundo. Nesta quinta-feira (23), o longa-metragem dirigido por Walter Salles recebeu três indicações da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas: melhor atriz (Fernanda Torres), melhor filme internacional e melhor filme. A nomeação à principal categoria da premiação é particularmente histórica. Pela primeira vez em 97 edições do Oscar, uma produção do Brasil (e da América do Sul) disputa a estatueta de melhor filme.

Já Fernanda Torres, recém-premiada como atriz em drama no Globo de Ouro, pode se tornar a primeira latino-americana a receber o Oscar de melhor atriz. A própria indicação como uma das cinco melhores atuações femininas de 2024 já é um contundente reconhecimento à sua entrega ao papel de Eunice Paiva, viúva do ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello), um dos mais conhecidos desaparecidos políticos do regime militar (1964-1985). Fernanda encarna a fibra de uma mulher que – assim como muitas mães, avós, esposas, irmãs e filhas de vítimas da ditadura – escreveu páginas importantes da histórica luta por justiça, memória e verdade.

Para retratar o drama da família Paiva, Ainda Estou Aqui se baseia no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e Rubens, além de autor de Feliz Ano Velho (1979). Das páginas para a tela, a história ganhou o mundo. Foi vista por mais de 3,6 milhões de brasileiros desde sua estreia nos cinemas do País, em novembro passado. Fora do Brasil, já arrecadou mais de e R$ 5,8 milhões em bilheteria, tendo lotado salas em países como Estados Unidos, Portugal e França. Italianos, espanhóis e ingleses serão os próximos a terem a oportunidade de conhecer sua potente mensagem.

É um êxito do cinema brasileiro – de sua força e de suas virtudes, de sua história e de sua resistência, de seus artistas e seus profissionais. Interpretações como as de Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro demonstram também a qualidade singular de atrizes e atores do País, sob a sensível direção de Walter Salles, que leva ao público, de forma realista, um drama com conteúdo humanista e senso de justiça.

O prestígio de Salles é outro trunfo do filme. Seu Central do Brasil, indicado em 1999 ao Oscar de melhor filme estrangeiro e melhor atriz (Fernanda Montenegro), é uma das obras mais premiadas do cinema nacional. Diários de Motocicleta (2004), sobre uma viagem do jovem Ernesto “Che” Guevara pela América do Sul, venceu o Bafta de melhor filme estrangeiro e conquistou o Oscar de melhor canção original.

Agora, com Ainda Estou Aqui, o diretor ajuda a demonstrar que o cinema brasileiro voltou à cena sob o governo de reconstrução do presidente Lula, depois do refluxo obscurantista da extrema direita bolsonarista. Apesar dos danos causados às artes em geral e ao cinema em particular, o ex-presidente Jair Bolsonaro não conseguiu promover totalmente o desmonte.

A bem-sucedida política de Estado para o audiovisual erguida durante o ciclo progressista liderado por Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016) sobreviveu. Notadamente no período em que o cineasta e produtor Manoel Rangel foi diretor-presidente da Ancine (Agência Nacional do Cinema), de 2006 a 2017, essa política deixou legados como o Fundo Setorial do Audiovisual (Lei Nº 11.437/2006), a Lei da TV Paga (Lei 12.485/2011) e o programa Cinema Perto de Você (Lei 12.599/2012).

Ainda Estou Aqui é, ainda, um marco político. Suas indicações ao Oscar ocorrem três dias após a passagem dos 54 anos do sequestro de Rubens Paiva, em sua residência, no dia 20 de janeiro de 1971, por homens armados do 1º Exército, no Rio de Janeiro. O ex-deputado foi posteriormente executado no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).

Os responsáveis por sua morte jamais foram punidos. Da mesma maneira, a Procuradoria-Geral da República (PGR) segue sem responder ao ofício que recebeu do Supremo Tribunal Federal (STF), cobrando que o órgão se manifeste sobre a perseguição a Rubens Paiva. Nesta quinta-feira, porém, a família teve uma vitória: a certidão de óbito do ex-deputado foi mais uma vez retificada, para incluir a informação de que ele teve morte “não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964”.

Para além de suas qualidades técnicas e artísticas, o filme de Walter Salles reforça e amplia a convicção da jornada pela memória, verdade e justiça. Impulsiona a luta de familiares pelo direito humanitário de sepultar os restos mortais de seus entes queridos, assim como das organizações sociais e dos partidos políticos na busca do paradeiro dos desaparecidos, da abertura dos arquivos da ditadura e da punição aos que cometeram torturas, assassinatos, ocultação de cadáveres e outros crimes hediondos.

Ainda Estou Aqui cativa o público por trazer à reflexão a defesa da democracia num momento em que o País luta contra os efeitos dos ataques bolsonaristas à legalidade constitucional. Também remete à lembrança de que o ex-presidente é um ativo cultuador da tortura e de torturares, fazendo, recorrentemente, apelos pela volta dos métodos daquele regime tirano. No governo Bolsonaro, artistas e outros expoentes da cultura foram duramente atacados. O ex-presidente e outros brutamontes do bolsonarismo enxovalharam a cultura nacional.

O sucesso internacional do filme também confronta a onda neofascista, sobretudo na Europa e nas Américas, hasteando a bandeira da democracia no Oscar. Seu conteúdo interage com as preocupações diante da ascensão da extrema direita em âmbito mundial, cujo exemplo mais proeminente são as medidas e promessas do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de viés racista, xenofóbico, misógino, homofóbico e belicista. Não é à toa que Trump, com sua negação cultural, já ameaçou intervir na poderosa Hollywood, ao nomear “embaixadores especiais” para serem seus “olhos e ouvidos” na indústria cinematográfica.

Seja qual for o resultado da cerimônia do Oscar, em 2 de março, em Los Angeles, Ainda Estou Aqui é uma obra de arte vitoriosa, que representa os partidários da paz, da civilização, da democracia. Espectadores de todo o mundo acompanharão a entrega das estatuetas para torcer por mais prêmios ao filme. É a prova de que a cultura mantém seu papel de expressão da consciência e dos sentimentos do povo, como um rosto do país no mundo e parte dinâmica da economia nacional, integrante de um projeto nacional de desenvolvimento.

Leia: Fernanda Torres do nosso cinema https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/fernanda-do-nosso-cinema.html 

Humor de resistência: Miguel Paiva

 

Miguel Paiva

Perguntei ao DeepSeek quem escreveu o artigo "O mundo cabe numa organização de base". Gostei da resposta https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/minha-opiniao_30.html

Palavra de poeta: Maurílio Rodrigues

A TRILHA
Maurílio Rodrigues*  

Em tempos cansados e sofridos,
Turvos, cinzas e doloridos,
Peguei uma trilha sem sinal,
Sem saber onde chegar, ao final.
Era tempo de desespero e solidão.
 
Pedi ao Senhor pra Ele me dar a mão,
E, sem saber o que iria acontecer,
Pus- me nessa trilha a correr,
Até meu corpo entrar em exaustão.
 
Assim, por horas no chão deitado,
Nada se passava ao meu lado,
Só eu, e meus pensamentos a mil,
Tentando sair daquele funil.
 
Era manhã. O sol a luz acendia.
Em mim, surgiam raios de alegria,
Com alguns  tons de esperança,
Foi o que guardei na lembrança.
 
Passei, então, a me interrogar:
É desse jeito que quero viver?
Assim, o amor vai me encontrar
Maltrapilho e maltratado?
Será que irá ficar ao meu lado?
 
A trilha escolhida surpreendia,
Para as perguntas haviam respostas.
Era como se a mesa estivesse posta,
Com travessas de compaixão e alegria.
 
Qual não foi minha emoção,
Que a trilha desapareceu.
O amor, em mim renasceu,
Mas, antes do amor veio a paixão.

 
[Ilustração: imagem gerada por IA]
 
*Médico cardiologista, poeta 

Minha opinião

E se eles assumissem o governo?
Luciano Siqueira 

A quem visita diariamente órgãos da imprensa tradicional, sites e portais noticiosos — a chamada mídia corporativa dominante — nada causa estranheza. 

Mas o leitor desavisado bem que poderia imaginar que os críticos midiáticos teriam competência suficiente para governar o país.  

Dobrariam a própria mídia que acicata o governo a cada instante, a propósito de qualquer assunto e sempre em favor do mercado financeiro e do agronegócio exportador; controlariam o rentismo; mudariam a Câmara e o Senado hostis da água para o vinho e assim por diante. 

Pois até o humor do presidente é alvo de crítica. 

Quanto aos ministros, raro encontrar uma menção elogiosa. 

Sobra para leitores, telespectadores, ouvintes e internautas, privados de uma boa cobertura jornalística minimamente responsável.

Perguntei ao DeepSeek quem escreveu o artigo "O mundo cabe numa organização de base". Gostei da resposta https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/minha-opiniao_30.html

Postei no Threads

Sentidos opostos: Trump faz cortes no financiamento federal em pesquisa: a China reafirma que o investimento em ciência é irremovível, “intrinsecamente ligado ao projeto de desenvolvimento”. EUA em decadência; China em ascesão. 

Leia: Negacinimso ao extremo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/minha-opiniao.html 

Enio Lins opina

Congresso Nacional sob nova velha direção, com mais dos mesmos desafios
Enio Lins  


HUGO MOTTA E DAVI ALCOLUMBRE foram eleitos, respectivamente, presidentes da Câmara e do Senado. Representam a mesma tendência já manifestada há muitas eleições, quando um semiparlamentarismo (ou semipresidencialismo) monetiza, além da conta, a relação política entre os poderes Executivo e Legislativo.

ESTE PROCESSO COINCIDE com a ascensão irresistível do chamado “baixo clero” ao comando do Legislativo, cuja ponta do iceberg aflorou em 2005, com a eleição de Severino Cavalcanti (1930/2020), do PP, para a presidência da Câmara Federal. Estigmatizado como folclórico, o deputado do agreste pernambucano foi torpedeado em seu primeiro ano no posto, acusado da prática de “mensalinho” (rudimentar cobrança de propinas, envolvendo, inclusive, uma suposta mensalidade de R$ 10 mil ao restaurante da Câmara). O dito “alto clero” retoma o poder com dois alagoanos muito respeitados como expoentes da elite intelectual do parlamento, José Thomaz Nonô (interino) e Aldo Rebelo (eleito em seguida). Os termos “alto e baixo clero” sempre tiveram um tom preconceituoso, referindo-se às características de formulação política reconhecidas num parlamentar. Como ninguém, fora de seus estados de origem, havia ouvido falar de Motta e Alcolumbre, quando de suas primeiras eleições para as presidências das duas casas, ambos confirmam a supremacia desse estamento antes marginalizado pela crônica dos poderes.

LULA, COMO QUALQUER presidente sob um Congresso encabeçado pelo baixo clero, seguirá enfrentando a insaciabilidade aberta das duas casas. Poderá ter alguma vantagem – pouca – do descaramento desses procedimentos, pois a exposição dos objetivos próprios ao dito fisiologismo parlamentar, vez por outra, funciona como freio. O processo é simples e cruento, mais ou menos como num pesque-pague sem limites: para colocar na sacola uma piaba, paga-se um tubarão. Essa dificuldade é ampliada pelo fato dos partidos de sustentação política para Lula da Silva terem conquistado menos cadeiras no Congresso que o necessário para garantir algum conforto para o governo federal, e dentre as vagas obtidas para matizes ideológicos mais aproximados ao presidente da República, os destaques deixam a desejar na peleja com uma extrema-direita tão espalhafatosa quanto competente nas redes sociais e no plenário. Como se isso não bastasse, os órgãos governamentais encarregados da intermediação com o Poder Legislativo parecem escorregar na maionese desde o início da gestão. Nesse cenário para o derradeiro biênio de seu mandato, o filho de Dona Lindu vai ter de se esfalfar ainda mais num chão de fábrica inóspito, e ter muito mais cuidado para não perder mais dedos.

COM ZERO SURPRESA, as eleições de Motta e Alcolumbre confirmam também o aguçamento de uma pauta perigosa para a Democracia, para além do apetite nas milionárias emendas (pretendidas secretas). No horizonte assombram as sombras da busca pela impunidade ampla, geral e irrestrita para delitos cometidos por políticos. Ao fundo, podem-se ouvir acordes (desafinados) de uma trilha sonora com a Cavalgada das Valquírias mais ou menos como usada por Francis Ford Coppola no filme Apocalypse Now, quando uma esquadrilha de helicópteros americanos decola para massacrar uma aldeia vietnamita. O sonho dessa turma é despejar napalm sobre os tribunais, especialmente o STF, que ousem cobrar Justiça. Mas, em verdade, nada disso é novidade, embora no quadro atual se destaquem mais as cores tenebrosas. Desafios piores já foram enfrentados e vencidos. E Motta, Alcolumbre e Lula são profissionais que entendem a política como uma via cheia de curvas, onde o radicalismo quase sempre é sinônimo de derrapagem – para quaisquer clérigos, sejam dos altos ou dos baixos círculos.

Leia: Lula na frente, mas ainda é cedo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/minha-opiniao_4.html