China retalia tarifas de Trump e lança ofensiva contra empresas dos EUA
Pequim impõe tarifas sobre energia e indústria dos EUA, investiga Google
e ameaça acionar OMC, enquanto Washington poupa México e Canadá, mas
intensifica guerra comercial
Lucas Toth/Vermelho
A guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos entrou em uma
nova fase de escalada nesta terça (4), com Pequim anunciando uma série de
tarifas retaliatórias contra produtos norte-americanos. A medida ocorre em
resposta à decisão do presidente Donald Trump, que impôs tarifas de 10% e 15%
sobre importações chinesas, agravando o cenário de tensão econômica entre as
duas maiores economias do mundo.
O
Ministério das Finanças da China informou que a partir de 10 de fevereiro
produtos energéticos e industriais dos EUA serão sobretaxados. O carvão e o gás
natural liquefeito (GNL) sofrerão tarifas de 15%, enquanto petróleo bruto,
equipamentos agrícolas e alguns automóveis serão taxados em 10%.
Pequim
argumenta que a ofensiva tarifária dos EUA prejudica a estabilidade global e
viola as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
A
decisão chinesa também deve impactar diretamente o setor energético no mundo,
uma vez que os EUA são o maior exportador de GNL e têm ampliado suas
exportações de petróleo para a Ásia. Segundo analistas, as novas taxas devem
redirecionar a demanda chinesa para outros fornecedores, como Austrália e
Catar, além de aumentar a volatilidade nos preços do petróleo no mercado
global.
O
governo chinês também anunciou controles mais rígidos sobre a exportação de
metais estratégicos, incluindo tungstênio e outros elementos essenciais para a
indústria tecnológica e militar dos EUA.
China
amplia retaliação com investigação antitruste e sanções contra empresas dos EUA
Além
das tarifas, a China iniciou uma investigação antitruste contra o Google e
colocou empresas norte-americanas, como PVH Corp. (Calvin Klein, Tommy
Hilfiger) e a biotecnológica Illumina, em sua lista de “entidades não
confiáveis”. Essas medidas ampliam a resposta de Pequim e sinalizam um
endurecimento das relações comerciais.
Segundo
Pequim, a medida visa restringir operações de empresas que supostamente adotam
práticas comerciais desleais ou representam riscos para a segurança nacional
chinesa.
As
ações ampliam a resposta chinesa e sugerem que Pequim utilizará outros
mecanismos além das tarifas para retaliar as sanções de Trump, impactando
diretamente setores estratégicos da economia norte-americana.
China
já havia alertado sobre impactos no combate ao fentanil
Antes
mesmo da oficialização das novas tarifas, Pequim já havia reagido à ameaça de
taxação feita por Trump no último sábado (2). O Ministério da Segurança Pública
da China alertou que uma ofensiva tarifária baseada no combate ao fentanil “não
ajudará a resolver verdadeiramente o problema” e “danificará seriamente a
cooperação e a confiança bilateral” na luta contra o narcotráfico.
A
pasta rebateu as alegações de Trump afirmando que a raiz do problema do
fentanil está no próprio território dos EUA. “A crise dos opioides nos Estados
Unidos é um problema interno, causado pela demanda doméstica e pela regulação
falha da indústria farmacêutica”, disse a chancelaria chinesa.
Pequim
tem reforçado que os Estados Unidos deveriam focar no combate à demanda
doméstica e à lavagem de dinheiro ligada ao tráfico, em vez de usar tarifas
como ferramenta de pressão. O governo chinês também destacou que tem endurecido
seu controle sobre substâncias químicas usadas na fabricação de opióides.
EUA
pausam tarifas contra México e Canadá
Enquanto
a guerra comercial com a China se intensifica, a administração Trump decidiu
suspender temporariamente as tarifas contra o México e o Canadá. O governo
norte-americano havia anunciado tarifas de 25% sobre produtos importados dos
dois países vizinhos, mas, após negociações com os governos de Claudia
Sheinbaum e Justin Trudeau, concordou em adiar a medida por 30 dias.
A
decisão de Washington foi tomada após o México e o Canadá aceitarem reforçar o
controle de fronteiras, especialmente no combate ao tráfico de fentanil e à
imigração. O acordo inclui o envio de 10 mil membros da Guarda Nacional
mexicana para a fronteira e um investimento canadense de US$ 1,3 bilhão em
segurança. Em troca, os EUA pausaram as tarifas, mas alertaram que a medida
pode ser revertida caso não haja progressos nesses compromissos.
A
suspensão temporária das tarifas foi comemorada por setores industriais do
Canadá e do México, que temiam impactos severos na economia. O
primeiro-ministro Justin Trudeau afirmou que o Canadá continuará “defendendo seu
mercado” e ressaltou que seu governo seguirá atento às movimentações da Casa
Branca. Já a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, reforçou que o México não
aceitará medidas unilaterais prejudiciais ao comércio bilateral.
A
decisão de Washington de aliviar a pressão sobre seus vizinhos contrasta com a
escalada contra a China e reforça a estratégia norte-americana de tentar isolar
Pequim.
Setor
manufatureiro chinês desacelera, mas mantém crescimento
O
impacto da guerra comercial já se reflete na indústria chinesa. O índice de
gerentes de compras (PMI) da manufatura caiu para 50,1 em janeiro, o menor
nível em quatro meses. O dado indica que, apesar de Pequim ainda registrar
crescimento econômico, a atividade industrial vem desacelerando diante das
incertezas globais.
Especialistas
apontam que a queda na produção está relacionada à redução da demanda externa e
ao enfraquecimento das exportações. A crise comercial com os EUA pode
aprofundar as dificuldades econômicas do país e pressionar Pequim a adotar
novos estímulos para sustentar o crescimento.
Empresas
chinesas cogitam transferir produção para os EUA
Diante
da escalada tarifária, algumas empresas chinesas já avaliam a realocação de
suas operações. Fabricantes de carrinhos de golfe, impactados por tarifas de
até 478%, consideram transferir linhas de produção para os Estados Unidos para
evitar os custos adicionais impostos por Trump.
A
mudança ilustra como a guerra comercial tem forçado adaptações nas cadeias
produtivas globais, levando empresas a buscarem alternativas para mitigar os
impactos das tarifas.
China
levará disputa tarifária à OMC
Em
resposta à nova rodada de tarifas, o Ministério do Comércio da China anunciou
que recorrerá à OMC contra os EUA. Pequim acusa Washington de violar as regras
da organização e comprometer o livre comércio global.
As
autoridades chinesas afirmaram que, além da contestação legal, adotarão
contramedidas para proteger seus interesses econômicos. A disputa na OMC
adiciona um novo capítulo à guerra comercial e pode ter implicações para o
equilíbrio das relações comerciais entre as duas potências.
Perspectivas:
guerra comercial continua sem sinais de trégua
O
novo pacote de retaliações da China demonstra que Pequim não pretende ceder à
ofensiva tarifária dos EUA. Ao combinar tarifas, sanções contra empresas e
medidas legais na OMC, a China reforça sua estratégia de responder à altura às
políticas protecionistas de Trump.
Enquanto
isso, o governo norte-americano segue ampliando sua pressão comercial,
sinalizando que novas sanções podem ser adotadas caso Pequim não ceda às
exigências de Washington. Com um cenário de incerteza crescente, os mercados
globais aguardam os próximos desdobramentos desse embate econômico que já
impacta o comércio internacional e a estabilidade financeira global.
China rechaça política tarifária dos EUA https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/china-x-eua-guerra-tarifaria.html