A arte da vida
Thiago Modenesi
Após 60 dias em
casa na quarentena chega-se à conclusão que podemos viver sem shoppings, aviões
e bares, porém sem filmes, seriados, livros, quadrinhos e música teríamos, com
certeza, enlouquecido.
As várias obras
disponíveis, acessadas por milhões, principalmente virtualmente nessa pandemia,
conseguem nos fazer rir, chorar, pensar, refletir, angustiar, dançar, levar
sustos.... Mexem conosco e nos confortam durante o maior acontecimento da saúde
dos últimos séculos.
A quarentena mostra
o quanto é relevante, importante e imprescindível a arte e o incentivo à mesma,
que é uma das principais formas de expressão (se não a principal) do ser
humano. A arte nos acompanha desde a Pré-História: primeiro aprendemos a
desenhar e registramos nas pinturas rupestres toda a vida, conquistas, lutas e
cenas cotidianas já naqueles tempos e só depois de séculos inventamos a
escrita.
A arte atravessa a
edificação das cidades, o Feudalismo, as Revoluções e Guerras, está nas
igrejas, nos contos, nas pinturas, nos afrescos, esculturas. Passou pela
Grécia, Roma, Mesopotâmia, Sumérios, Hititas, Idade Média, Modernidade,
Renascimento, Iluminismo, Revolução Industrial.... registrando sempre o que e
como se deu cada momento histórico, cada traço de uma civilização, imortalizados
através dela.
Por mais que muitos
tentem engajar a arte, que se esforcem para transformá-la em propaganda de
ideias e regimes, a arte é rebeldia, incontrolável, muitas vezes ela cumpre a
função de contestação, em muitos momentos de forma bem-humorada, como nas
charges e cartuns que circulam nos jornais do mundo todo.
Millôr Fernandes,
uma vez perguntado retrucou: “não existe humor a favor!”, a arte transgressora,
contestadora, registrada nos quadrinhos, músicas, poemas, filmes e afins foi
decisiva no combate à ditadura militar do Brasil, na luta por eleições diretas,
no impeachment de Collor e, agora, na luta contra a pandemia e também para pôr
a nu todos os absurdos do governo Bolsonaro.
Não existe arte a
favor mesmo? É emblemático que, no Brasil desse momento, todas as charges se
voltem para a denúncia bem-humorada de Bolsonaro, enquanto isso, aqui do
ladinho na Argentina, o vilão das charges é o Covid-19 e não o governo. Ao
contrário, o presidente Alberto Fernández vai a público agradecer o engajamento
dos profissionais do desenho em jornais no auxílio ao combate a pandemia.
O vilão dos
argentinos é a doença, o nosso é o vírus somado ao pior presidente da História
da República. Só com muita boa música, livros, filmes e séries para aguentar,
se indignar, mobilizar, combater e superar esse momento!
Fique
sabendo https://bit.ly/2Yt4W6l
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