Alguns veteranos pioram porque perdem a ambição
Eles devem contar com ajuda psicológica, não precisam ser
eternos heróis; a glória é passageira
Tostão/Folha
de S. Paulo
Um dos motivos da angústia existencial e de
outros problemas emocionais é a consciência da finitude da vida. Porém, como somos
narcisistas, uns mais que outros, criamos a ilusão de que temos uma grande
missão no mundo. Queremos ser eternos e heróis.Os atletas, por ter uma carreira
curta, vivem essas dificuldades com mais frequência. Muitos não sabem o que
fazer depois que encerram, ainda jovens, as suas carreiras. Falcão, craque da
Copa de 1982, disse que os jogadores de futebol morrem duas vezes, primeiro quando param de jogar e
depois quando perdem a vida.
Os três jogadores de mais talento no mundo
durante os últimos 15 anos (Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar)
estão próximos do fim de suas carreiras. Provavelmente, estarão presentes no
Mundial de 2026. O mundo do futebol já se libertou de suas presenças nas
escolhas dos melhores do mundo de cada ano, mas suas seleções ainda contam com
seus talentos.
Cristiano
Ronaldo tem feito muitos gols na seleção portuguesa, e Messi continua jogando
bem na argentina. Neymar é esperado na seleção brasileira. Nenhum dos três atua
hoje em um dos grandes clubes europeus.
Ainda não entendi se Neymar quer jogar no
Santos por cinco meses e poucas partidas para se recuperar fisicamente e em
seguida voltar para a seleção e para um grande clube europeu ou se pretende
atuar pelo Santos até o Mundial de 2026.
Receio que, no Santos, por causa da enorme
diferença de prestígio em relação aos outros jogadores, Neymar se torne apenas
um espetáculo individual desvinculado das exigências táticas da equipe.
Apesar
do grande desenvolvimento da ciência esportiva à disposição dos atletas, são
raros aqueles com mais de 35 anos que são destaques nos grandes times europeus.
A fila anda. O croata Modric é exceção. Provavelmente, ele estará na Copa de
2026. No Real Madrid, Carlo Ancelotti o tem
poupado, mas, quando ele joga desde o início, ilumina o espetáculo com seus
passes precisos, decisões sempre corretas e movimentação por todo o setor de
meio-campo.
Modric joga como se estivesse vendo a partida
de cima, com um megacomputador instalado no corpo para medir todas as movimentações
e velocidades dos companheiros e adversários. Falta, há muito tempo, um craque
como ele no meio-campo da seleção brasileira. No Brasil, valorizam muito mais
os meias-atacantes dribladores, velozes, que fazem gols do que os
meio-campistas organizadores. É a predominância do jogo individual sobre o
coletivo, um espelho da sociedade brasileira.
Existem muitos bons jogadores veteranos nos
times brasileiros, como Hulk, Fábio, Cássio, Thiago Silva e outros, embora haja
ainda muitos preconceitos contra os que passam de certa idade. Bastam algumas
partidas ruins para dizerem que estão decadentes e que deveriam encerrar suas
carreiras. No gol do Athletic contra o Cruzeiro, o jogador chutou, a bola foi
desviada, subiu e, rapidamente, caiu atrás de Cássio. Nem Courtois defenderia.
Trataram como frango.
Alguns veteranos pioram muito mais porque perdem a ambição, a
vontade de se superar a cada jogo, do que por deficiências técnicas e físicas.
Precisam de ajuda psicológica. Eles não necessitam ser eternos heróis. A glória
é passageira. Precisam viver com harmonia, vontade e prazer.
Leia: "Espetacularização, velocidade e o negócio da desinformação" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/dinamica-das-plataformas-digitais.html
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